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CAPÍTULO III – OBJETIVOS E ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS

3.2. Estratégias Metodológicas

3.2.1 Participantes, instrumentos e procedimentos de coleta

Para a efetivação dos objetivos desta pesquisa, foi feita sua divisão em duas etapas. A primeira diz respeito à análise dos relatórios produzidos e disponibilizados pelo Núcleo de Justiça Juvenil Restaurativa nas Escolas (NJJRE) com o intuito de caracterizá-lo, elencar as

ações desenvolvidas e seus resultados, bem como fazer um levantamento das escolas em que atuou e nas quais a pesquisa iria se desenvolver. A etapa seguinte corresponde ao campo propriamente dito, momento no qual foram realizadas entrevistas semiestruturadas nas escolas selecionadas.

O Núcleo foi implantado e inaugurado oficialmente em abril de 2012 (embora a sua organização interna e as primeiras visitas às escolas comecem desde fevereiro/março do referido ano) e atuou de forma contínua até junho de 2013, com a sua efetiva paralisação em julho do mesmo ano. As atividades, entretanto, foram retomadas em janeiro de 2015 e prescindiu de mais uma etapa de reorganização interna. Portanto, de julho de 2013 até dezembro de 2014 o Núcleo teve atividades inexpressivas (no caso de julho) ou nenhuma atividade, tanto que não constam registros desse período. Assim sendo, para efeitos dessa pesquisa, considerou-se o recorte temporal dos anos de 2012 e 2013, portanto, os relatórios analisados se referem a esse período e vão de fevereiro de 2012 até julho de 2013, os quais constam nos relatórios disponibilizados e em que houve atividade contínua, sem interrupção ou paralisação. Vale destacar que a ajuda dos profissionais do Núcleo foi essencial, seja disponibilizando o material pedido, seja na confirmação de informações e atendimento quanto às dúvidas sobre os relatórios e atividades desenvolvidas.

Assim sendo, na primeira etapa, análise dos relatórios, utilizaram-se como documentos os relatórios dos anos de 2012 e 2013, quais sejam: Relatório de Produtividade (fevereiro a maio de 2012); Relatórios Trimestrais de Atividades (junho a setembro de 2012, setembro a novembro de 2012, janeiro a março de 2013, e, abril a junho de 2013); Relatório Geral de Atividades (2012/2013); Relatório Mensal de Atividades de julho de 2013; e Planejamento Anual de Atividades de 2013. Os referidos relatórios foram analisados com o intuito de caracterizar o Núcleo para conhecer seu processo de implantação, funcionamento e divulgação, compreender as atividades desenvolvidas, como e quando aconteceram, bem

como os resultados alcançados e as dificuldades encontradas no percurso. A partir desse processo de leitura e levantamento de dados nos documentos foi possível ter uma dimensão das escolas atendidas pelo Núcleo e eleger critérios para a escolha da amostra de instituições para a pesquisa acontecer.

Como consta nos relatórios, o NJJRE traz em sua implantação uma relação de parceria e vínculo à 58ª Promotoria de Justiça da Educação do Ministério Público do Rio Grande do Norte - MPRN. A partir disso e do trabalho já desenvolvido por essa promotoria com as escolas públicas municipais de Natal/RN, através de reuniões anuais com diretores e coordenadores pedagógicos e o trabalho efetivo com conselhos escolares, foi possível divulgar o Núcleo e suas ações e ser visto como parceiro para lidar com as questões de indisciplina e conflitos no contexto escolar. Assim, a seleção das escolas para receber, primeiramente, a intervenção do NJJRE se deu em virtude da sua participação nessas reuniões, bem como no evento que foi realizado para lançar o núcleo.

Portanto, no ano de 2012, o NJJRE atuou em 30 (trinta) escolas nas quatro regiões administrativas da cidade e, especificamente, trabalhou em 22 (vinte e duas) escolas em 80 (oitenta) casos efetivos, das quais uma é particular e outra estadual. Já no ano de 2013, através do planejamento anual, foram selecionadas escolas municipais a partir das que foram trabalhadas em 2012 bem como poderiam ser incorporadas outras instituições que espontaneamente procurassem o Núcleo. Com isso, estabeleceu-se que, prioritariamente, 25 (vinte e cinco) escolas municipais seriam contempladas com as ações para o referido ano (Ribeiro & Lima, 2013a), além disso, percebeu-se nos relatórios que uma escola municipal não estava nessa lista inicial, mas espontaneamente procurou o Núcleo e também foi contemplada com ações, bem como uma escola estadual, mas que não será considerada aqui. Assim, desse total de 26 (vinte e seis) escolas municipais visitadas em 2013, em 11 (onze) o Núcleo atuou em 24 (vinte e quatro) casos efetivos entre os meses de março e junho de 2013.

De posse dessa lista, retomou-se a análise dos relatórios e se verificou que em algumas delas o Núcleo atuou de forma mais contínua em 2012 e 2013, seja por visitar mais vezes a instituição ou por ter um maior número de casos. Além disso, 4 (quatro) dessas escolas foram contempladas não somente com as práticas restaurativas de mediação de conflitos, mas também com atividades preventivas, chamadas de ambiência restaurativa, através de palestras ou encontros formativos. Cabe destacar ainda que tanto no ano de 2012 quanto em 2013 o Núcleo atendeu pontualmente demandas de escolas estaduais e, mais raramente, de instituições particulares, mas para efeitos desse trabalho não serão consideradas.

Antes de começarmos a coleta, foi feita uma sondagem no fim de 2014 em 4 (quatro) escolas com o objetivo de fazer um levantamento informal sobre as ações que o Núcleo desenvolveu, com o intuito de verificar a viabilidade da pesquisa, uma vez que as ações do Núcleo haviam se encerrado em 2013 e a coleta aconteceria em 2015. Esse momento de sondagem foi importante também para avaliar se de fato o método até então pensado daria conta dos objetivos da pesquisa. Como a pré-coleta mostrou-se efetiva, prosseguiu-se com os passos seguintes da pesquisa, os quais sejam: seleção das escolas, construção do instrumento, realização de piloto do roteiro de entrevistas, ajustes no instrumento e realização das entrevistas.

Diante do conjunto de instituições e informações nos relatórios, foi preciso estabelecer critérios para escolher a quantidade de escolas e realizar a pesquisa, uma vez que seria inviável, com o tempo que se tem em um mestrado, coletar os dados em todas as escolas trabalhadas pelo Núcleo. Desta forma, utilizaram-se os seguintes critérios em ordem de importância: a) ser escola pública municipal, uma vez que é o público prioritário do Núcleo; b) ter tido atuação do Núcleo através de prática restaurativa, e não somente visita institucional, uma vez que do total de escolas visitadas, em algumas o NJJRE apenas divulgou

seu trabalho e se disponibilizou para quando houvesse situação de conflito; c) ter maior número de visitas institucionais e de acompanhamento de conflitos, uma vez que indica que o Núcleo esteve mais vezes na escola; d) de maneira complementar ao critério anterior, a escola deve ter maior número de casos acompanhados; e) ter tido, preferencialmente, atuação do Núcleo tanto em 2012 quanto em 2013; e, f) ter desenvolvido atividades de ambiência restaurativa.

Para integrar a amostra de escolas, as instituições precisaram atender, no mínimo, os quatro primeiros critérios, e os dois últimos seriam complementares. Nota-se que as 4 (quatro) escolas em que aconteceu a ambiência restaurativa estão entre as que tiveram mais casos e, portanto, todas foram consideradas. Chegamos, então, ao número de 16 (dezesseis) escolas. Mas, em função das informações começarem a se repetir quando foram realizadas as entrevistas, optamos por interromper a coleta quando já havíamos realizado 12 (doze) entrevistas e também por já possuirmos uma quantidade considerável de dados.

As entrevistas foram realizadas com um dos coordenadores pedagógicos, diretor ou vice-diretor em cada uma das 12 (doze) escolas, uma vez que o NJJRE atuava diretamente com esses representantes escolares. Assim sendo, em cada uma das 12 (doze) escolas foi realizada uma entrevista com um representante da instituição, totalizando, por conseguinte, 12 (doze) entrevistas semiestruturadas.

Construiu-se um roteiro de entrevistas semiestruturado, que foi testado antes de realizar a coleta para fazer os ajustes necessários, e que se divide em duas partes. A primeira se destina aos dados sociodemográficos sobre a escola (nome, público atendido, bairro onde está localizada, número de alunos e tempo de funcionamento) e sobre o entrevistado (nome, bairro onde mora, idade, cargo atual e na época do Núcleo, tempo no cargo antes e depois da atuação do NJJER, carga horária na escola e se trabalha em outra instituição).

A segunda parte diz respeito à entrevista propriamente dita com 5 (cinco) questões semiestruturadas, quais sejam: sobre a violência na escola (Questão 1 – como você vê a violência na escola?); sobre formas de resolução da violência na escola (Questão 2 - Como você (s) lida (m) com a violência nesta escola?); sobre a ação do Núcleo de Justiça Juvenil Restaurativa nas Escolas (NJJRE) (Questão 3 – Como foi a atuação do núcleo na escola?);sobre as possibilidades e limites das Práticas Restaurativas nas escolas (Questão 4 - Depois da experiência das práticas restaurativas nessa escola, como você avalia a possibilidade de uso delas no cotidiano escolar para resolver os conflitos?); e, sobre estratégias preventivas para a violência nas escolas (Questão 5 - Como você acha que precisa ser uma abordagem (ação, método, meio) para lidar com a violência escolar de maneira mais eficaz?). Para cada seção, e, respectivamente, cada questão semiestruturada, alguns tópicos de discussão foram elencados como expectativas para guiar a discussão, conforme se pode observar no Apêndice dessa dissertação, que trata do roteiro de entrevistas em seu formato completo.

Sobre os procedimentos de coleta, através dos registros do Núcleo foi possível ter acesso à lista com os contatos dos gestores e coordenadores das escolas, além disso, porque a pesquisadora foi estagiária do NJJRE, a comunicação com as instituições foi direta, rápida e sem dificuldades. Assim, os entrevistados foram escolhidos conforme os registros constantes nos relatórios, através da observância de quais representantes atuaram no acompanhamento do Núcleo nas escolas.

Em seguida, foi realizado contato telefônico com cada um deles para informar sobre a pesquisa e indagar a respeito da possibilidade de participarem enquanto entrevistados. Em nenhuma escola houve oposição ou dificuldades de participação, ao contrário, todos prontamente atenderam a solicitação e marcaram um horário na própria instituição para a entrevista ser realizada. Como a entrevista teve o seu áudio gravado, destaca-se que por ser

feita nas escolas, o barulho dos alunos, intervalo, sirenes e a própria ocupação dos profissionais fez com que os áudios tivessem interferências sonoras ou interrupções, mas nada que impedisse o entendimento de uma forma geral. Cabe destacar ainda que todos os procedimentos éticos para a pesquisa com seres humanos foram seguidos e serão descritos mais adiante na seção correspondente.