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CAPÍTULO I SOCIEDADE, VIOLÊNCIA E ESCOLA

1.3 Juventude e violência

As violências apresentadas até então ainda tem uma particularidade. Nesse cenário, alguns atores aparecem como os principais atingidos pela violência: os jovens. A Juventude no Brasil encontra-se delimitada, nos documentos oficiais, em termos de faixa etária, entre 15 e 29 anos, embora não exista consenso no campo teórico quanto a essa delimitação.

Apesar do uso da faixa etária como “definidor” do ser jovem, cabe destacar que embora algumas características possam ser semelhantes aos integrantes desse grupo geracional, existem diversas formas de vivenciar essa juventude, especialmente, a partir de elementos culturais e socioeconômicos que irão determinar como ser jovem em dada época histórica a partir dessas condições já mencionadas, assim, cada juventude exige um olhar atento para a sua conformação na sociedade e, portanto, seria mais conveniente entendê-la não como juventude, mas juventudes (Sposito, 2003).

Os jovens vivenciam uma realidade que os colocam em uma situação particular de vulnerabilidade, que se torna ainda maior quando se pensa em termos de sua quantidade no Brasil. Na Síntese dos Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2014, por exemplo, tem-se que correspondiam, em 2013, a 24, 3% da população geral e estavam presentes em 49,4% dos arranjos familiares em domicílios particulares no

país (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2014). Tal percentual, embora corresponda a aproximadamente um quarto da população, torna-se significativo ao perceber que, em cerca de 50% dos domicílios, possui ao mesmo um jovem. Portanto, esses números somados ao fato de que esses mesmos jovens – e particularmente a juventude que está em uma situação socioeconômica pauperizada – passam por diversos problemas sociais como violência, pobreza, desemprego, etc., que os deixam sem perspectivas de futuro, tornam a pauta da juventude um dos principais assuntos que devem ser pensados em termos de políticas públicas para o desenvolvimento social na América Latina (Abramovay, Castro, Pinheiro, Lima, & Martinelli, 2002). E, compreender os problemas sociais e como afetam a juventude em sua totalidade, significa compreender como se dão as relações no mundo atual que engendra ao mesmo tempo uma globalização acelerada e desigualdades sociais (Almeida, Campos, Santos, & Paiva, 2014).

A violência, nesse contexto, acaba se tornando uma forma de se relacionar, passando, muitas vezes, a ser naturalizada, valorizada e até justificada pela sociedade. Os conflitos fazem parte da condição humana em função da existência das diferenças, porque que cada pessoa possui características específicas que as diferenciam umas das outras, entretanto, em vez dessas divergências serem resolvidas de forma compreensiva, dialógica, dentre outras maneiras, muitas vezes, as pessoas se utilizam de recursos violentos para lidar com esses problemas, contribuindo para a manutenção de um ciclo de violência que precisa ser quebrado (Almeida et al., 2014).

Sobre ciclo de violência e sua reprodução, em pesquisa realizada a partir de levantamento dos dados de homicídios de jovens, registrados pela Coordenadoria de Direitos Humanos e Minorias do Rio Grande do Norte (CODEM-RN), Santos, Oliveira, Paiva e Yamamoto (2012) selecionaram e entrevistaram sete familiares de jovens vítimas de homicídio. Como conclusões, perceberam que a fala dos entrevistados revelaram uma

realidade que contrapõe o senso comum de que os jovens, por diversas vezes, são os responsáveis por diversos “crimes”, considerando-os, inclusive, culpados por sua situação de vulnerabilidade (desemprego, precarização do trabalho, falta de estudo, etc.). A partir da visão dos familiares, entretanto, percebe-se e corrobora-se a literatura que entende as constantes violações de direitos, situações de risco social e vulnerabilidades como uma questão que interfere diretamente no desenvolvimento e formação dos jovens, e, para tanto, foram elencadas situações como: falta de assistência e atuação do Estado nas comunidades, ou quando tem atuação acontece de forma precarizada, e de programas que primem por oferecer novas oportunidades que os desviem dos caminhos da violência. Enfim, todo um contexto que influencia na formação do jovem, na sua maneira de se relacionar e intervir na sua comunidade e na sociedade, de maneira geral.

A partir do exposto, percebe-se que os jovens podem se utilizar da violência para resolver suas formas de se relacionar com os outros e o mundo, entretanto, esse mesmo jovem pode e é vítima de um sistema muito mais amplo, e, como se percebe, reproduz a violência já sofrida. Nesse sentido, os jovens se configuram tanto como vítimas, quanto atores de processos de violência.

Cabe tomar nota, entretanto, que as constantes associações entre juventude e violência a entendem como um binômio pela utilização em grande escala dessa relação, principalmente, no contexto do jovem como algoz da violência. Portanto, precisa de uma análise mais minuciosa, que de acordo com Rodríguez (2011), a grande maioria dos estudos que trata do tema juventude e violência menciona que não seria conveniente usar o termo violência juvenil, mas jovens e violências (no sentido de não ter apenas uma juventude e tampouco uma única forma de violência), uma vez que o primeiro carrega uma carga discriminatória ao colocar a responsabilidade do problema para os jovens. E como já mencionado, os jovens se envolvem com a violência não somente como algozes, mas também como vítimas (basta fazer

uma rápida análise dos altos índices de homicídios contra os jovens) e, nesse ponto, destaca- se o papel da opinião pública, mídia, etc., que tendem a destacar a dimensão do jovem em conflito com a lei. Portanto, os destaques dados aos atos cometidos por jovens somente dispõem um conhecimento parcial da problemática e deixam de lado a complexidade da associação juventudes e violências, que deve ser investigada também na sociedade em seu conjunto, de modo a se compreender a vigência generalizada de uma cultura de violência em que os conflitos não são solucionados por meios pacíficos.

A partir disso, no tópico seguinte será desenvolvida a violência que ocorre no meio escolar, visto que a escola é um dos locais em que crianças e jovens passam a maior parte do seu tempo, é um dos espaços primordiais de socialização e formação (seja técnica, mas também humanística). Portanto, dentro do constructo da violência e tendo a juventude com papel relevante nesse cenário, entender como se processa no âmbito da educação traz reflexões que ultrapassam a simples busca pelos determinantes desse fenômeno, mas qual a função da escola nisso e como pode atuar como instância de prevenção, buscando inclusive reconhecer não somente as suas possibilidades, mas também os seus limites. Para tanto, da mesma forma que procedemos nesse tópico, antes de falar da violência nas escolas, é preciso situá-la dentro do contexto do modo de produção capitalista, uma vez que a escola não se descola desse cenário amplo, ao contrário, faz parte dele e inclusive contribui para sua manutenção, com todas as sequelas que o capitalismo traz.