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109Os autores notam a existência de lacunas no âmbito da investigação sobre a sua articulação com

o setor turístico: “The nature of the networks operating between resource controllers and tourism businesses has not formed the focus of much research” Saxena e Ilbery (2008:236). A presente inves- tigação constitui um contributo efetivo para a colmatação desta lacuna, na medida em que, com re- curso a técnica de análise de redes sociais, estuda as relações entre as organizações turísticas e, en- tre estas e as organizações da sociedade civil, no domínio das artes, cultura e desenvolvimento local. As novas tendências do planeamento apontam para a necessidade de desenvolvimento de pro- cessos de colaboração lateral, para a co-produção e para o trabalho em rede. Neste estudo, embo- ra se adote a perspetiva das organizações da sociedade civil do destino turístico, nomeadamente através do estudo de caso do Algarve, procura-se contextualizar e tipificar a sua participação, ar- ticulada com os restantes stakeholders do destino. Neste estudo, apresenta-se, no capítulo 5, uma caracterização sumária das características do Algarve e dos stakeholders identificados, conducen- te à compreensão da participação das organizações da sociedade civil no desenvolvimento da ati- vidade turística e da definição do seu papel ou formas de participação neste contexto.

Simpson (2008) identifica um conjunto de papéis potenciais, a desempenhar pelos governos e ONG, no contexto de iniciativas ligadas ao turismo nos destinos, que se encontram identificados na figura 2.23. De acordo com o autor, o setor público destaca-se pela sua capacidade de influência sobre a produção de diferentes tipos de benefícios, na medida em que assume papéis ao nível do planeamento do uso do território, da produção de legislação, formação e capacitação, criação de infraestruturas e equipamentos, fornecimento de infraestruturas de apoio (saneamento, energia), responsabilidades na área do marketing e da informação e no âmbito da colaboração com o setor privado (Hall, 1999; UNWTO, 2004; WTO, 1998).

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Figura 2.23 - Papéis potenciais do setor público e das organizações não governamentais no contexto de iniciativas na área do turismo

Fonte: Traduzido de Simpson (2008)

No que respeita ao papel das ONG, o autor entende que estas organizações podem desempenhar papéis com potenciais benefícios para as comunidades, reconhecendo-lhes capacidade em domí- nios como a capacitação das comunidades, o desenvolvimento de processos bottom-up, a identifi- cação de competências e transferência de oportunidades, defesa, condução de projetos de inves- tigação, consultoria, partilha de recursos e networking. O autor salienta que estes papéis são, em algumas situações, partilhados com o setor público, designadamente ao nível da capacitação das comunidades e da transferência de competências, sugerindo a existência de potencial de colabora- ção nestes domínios, com vista a assegurar o melhor resultado para as comunidades. Estes cons- tituem, assim, exemplos de formas de participação do terceiro setor no turismo. A literatura reco- nhece, no entanto, que em algumas situações, as ONG têm sido alvo de críticas, ao nível da falta de transparência nas suas práticas de gestão, e de um foco excessivo na sua auto-promoção (Beeton,

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2006; ; Scheyvens, 1999; Simpson, 2008; Swarbrooke, 1999; Wearing e MacDonald, 2002).

Vários autores defendem a inclusão das ONG, como stakeholders no processo de gestão de inicia- tivas na área do turismo, reconhecendo que esta participação pode trazer benefícios às comunida- des, a longo-prazo (Jamal e Getz, 1995; Murphy, 1988).

Gunn e Var (2002) destacam, de igual modo, o contributo do setor não lucrativo, no contexto do desenvolvimento do turismo, em particular as associações voluntárias nas áreas do lazer, reli- gião, arqueologia e ambiente, na medida em que este setor desenvolve e gere serviços usufruídos pelos visitantes. O autor chama a atenção para o papel que estas organizações podem assumir, em particular, no âmbito do estímulo e apoio a projetos de pequena escala, na área do turismo, crian- do deste modo, um equilíbrio desejável com a presença de empresas multinacionais, que tendem também a implantar-se nos destinos, a partir do momento em que se percebe a existência de opor- tunidades de investimento no turismo.

Esta perspetiva de envolvimento do setor não lucrativo nos processos de desenvolvimento tu- rístico é partilhada por autores como Murphy (1985, 1988), Scheyvens (1999), Simmons (1994), Timothy (2007) e Tosun (2000), contudo, apesar deste reconhecimento, verifica-se que os estudos sobre a ligação entre a área do turismo e as organizações da sociedade civil é relativamente escas- sa, centrando-se na sua participação no âmbito da gestão de atrações turísticas e organização de eventos (Andersson e Getz, 2009; Getz, 2008; McKercher e Du Cros, 2002; Parkinson, 2006; Tur- ner et al., 2001), nas práticas de voluntariado (Benson, 2009; Haywood e Stapenhurst, 2001; Kline, 2009; Turner et al., 2001) e no papel das ONG no contexto dos impactos ambientais e da sustenta- bilidade (Mowforth e Munt, 2009).

A citação que se apresenta de seguida, da autoria de Murphy (1983:97), revela-se extremamente atual e, embora não sendo explícita quanto ao tipo de participação que se espera por parte da co- munidade no processo de desenvolvimento do turismo, aponta implicitamente um caminho para a operacionalização desta ligação, isto é, para uma participação efetiva das comunidades:

“(…) as the tourism market has matured, more tourists are looking for authentic experiences and local flavour, so the conservation and marketing of genuine local or regional characteristics will help to provide the distinctiveness and intimacy that more tourists are seeking. The industry has a res- ponsibility to the community in that “it uses the community as a resource, sells it as a product, and in the process affects the lives of everyone (…) The image of tourism is based on the assets of the local community, including not only the local people but also the natural environment, infrastructure, fa- cilities and special events or festivals; therefore, the cooperation of the host community is essential to access and develop these assets appropriately”.

De facto, muitas das manifestações culturais que decorrem nos destinos, são organizadas pelas associações ligadas às artes e culturais, que desempenham em muitas situações, o papel de guar- diões e promotores da identidade dos locais. É precisamente este caráter genuíno, que contribui e determinada, em grande medida, a atmosfera dos locais, que muitos autores reconhecem como

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constituindo contributos importantes e diferenciadores para a experiência dos visitantes.

Parkinson (2006) reflete sobre as caraterísticas das organizações da sociedade civil e, em parti- cular, sobre a sua ligação ao contexto do desenvolvimento do turismo, entendendo que as mesmas se caraterizam pela não orientação para o lucro e pelo caráter distintivo da sua missão, tendencial- mente ligada a objetivos de educação ambiental e de preservação do património cultural e natural. Contrariamente às empresas privadas a operar no setor do turismo, a sua localização tende a ser de- terminada pela sua história e contexto de criação, e não pelo turismo, o que pode condicionar a atra- ção de turistas, pelo que o turismo se apresenta um desafio para estas organizações, caso as mesmas entendam estabelecer ligações ao sistema turístico.

Andersson e Getz (2009:5) reconhecem esta possibilidade, referindo que a prestação de serviços às comunidades e aos turistas, no domínio da organização de atividades e eventos culturais, pode gerar oportunidades para a indústria turística. Assim, as organizações não lucrativas encontram- -se numa posição que lhes permite cooperar com o setor público e privado, conforme se depreende da citação que se apresenta de seguida:

“In tourism, there may be a similar role for not-for-profit organisations to provide services to the community – services that also generate opportunities for the tourism industry (…) Not-for –profit organisations involved in organising cultural activities may, therefore, receive a part of their finan- cing form public sources and part in the form of business revenue. Therefore, not-for-profit organi- sations occupy a borderline area where they encroach on both public services and private commerce. They are in a position where they can cooperate with both sectors”.

No entanto, os autores reconhecem que esta posição, não se revela fácil, dado que a própria in- dústria pode entender este cenário como uma situação de concorrência desleal, na qual estas or- ganizações passam a assumir o turismo como uma fonte de receitas para a prossecução da sua missão (Andersson e Getz, 2009:5): “Not-for-profit organisations, however, risk being accused of commercialising public services on one hand, and for unfair, publicly-subsidised competition with private firms on the other”.

As estruturas das comunidades, seja sob a forma de grupos informais de cidadãos, seja sob a forma de estruturais mais formais, tais como as associações sem fins lucrativos, existem para pro- duzir respostas ligadas ao desenvolvimento social e cultural dos membros dessas mesmas comu- nidades. Estas desempenham um papel no apoio e estímulo a iniciativas ligadas à cultura local, às tradições e, em última instância, promovem o sentimento de pertença, encontrando-se o seu objetivo principal ligado ao desenvolvimento sustentado das próprias comunidades.

A literatura produzida na área do turismo permite equacionar um conjunto de papéis e de for- mas de participação das organizações da sociedade civil ou organizações não lucrativas, no con- texto dos processos de planeamento e desenvolvimento do turismo, quer seja de forma autónoma, quer seja em articulação com o setor público e privado.

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