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65Segundo o autor, o movimento de turistas entre o local de residência e o de destino, através da

região trânsito, constitui o fluxo principal de energia do sistema. Na zona central e mais densa do modelo, encontram-se predominantemente as empresas turísticas, os stakeholders7 e os turistas e,

nas regiões recetoras, o autor coloca em evidência o papel dos governos e das comunidades. É possível reconhecer a existência de inúmeros fluxos de energia (como a troca de bens e servi- ços no destino, por exemplo) e de múltiplos ambientes externos, com capacidade para influenciar o turismo (envolvente humana, sociocultural, política, legal, tecnológica, económica, entre ou- tras), constatando-se assim que se está perante um sistema dinâmico e aberto, sujeito a influên- cias externas. O sistema turístico global integra ainda um conjunto quase infinito de experiências individuais, fluxos bilaterais e multilaterais, envolvendo milhares de destinos, em constante es- tado de fluxo.

No início da década de 1980, Butler desenvolve um modelo conceptual, mais complexo, conhecido como Tourism Area Life Cycle (TALC) – Ciclo de Vida de uma Área Turística, que procura explicar a evolução hipotética de uma área turística, com base nos contributos anteriores de autores como Christaller (1963), Cohen (1972), Doxey (1975) e Plog (1977) que introduziram aspetos teóricos no âmbito das mudanças verificadas nos tipos de turistas e, consequentemente, relacionadas com as alterações ocorridas nos destinos.

Butler aplicou, pela primeira vez, ao turismo o conceito do ciclo de vida do produto, utilizado até então nas áreas da economia e do marketing, como forma de descrever o desenvolvimento de uma área turística.

A figura 2.5 ilustra graficamente o modelo proposto por Butler (1980), no qual o autor defende a existência de uma relação direta entre a evolução de uma área turística, ao longo do tempo e, a evolução do número de turistas, salientando que esta passa por um conjunto de fases, que se en- contram interligadas, no âmbito do processo de desenvolvimento turístico.

Figura 2.5 - Ciclo de Vida de uma área turística

Fonte: Traduzido de Butler (1980:7)

7 Termo com origem na área da gestão, e no contexto das organizações, que se refere aos indivíduos ou grupos com interesse numa determinada situação e que podem influenciar o resultado de um processo (Gray, 1989).

Nível crítico dos elementos de capacidade N úm ero de t ur ís ta s Tempo Envolvimento Exploração Desenvolvimento Consolidação Estagnação Declínio Rejuvenescimento D E C B A

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A primeira fase de desenvolvimento de um destino, designada por exploração, caracteriza-se

pela chegada de um número reduzido de turistas, com sentido de aventura e interesse particular nas caraterísticas predominantemente naturais do local, sem que se registe a existência de in- fraestruturas e equipamentos para o turismo. O facto do número de visitantes ser ainda reduzido permite a existência de um contacto personalizado e direto com a comunidade de acolhimento e com a cultura e tradições locais, o que potencia a aquisição de bens e serviços neste âmbito (Shar- pley, 1994; Weaver, 2006).

O tipo de turista caraterístico desta fase de desenvolvimento é denominado por Cohen (1979) como “turista não institucionalizado”, explorador, que assume ele próprio a organização da sua viagem, normalmente, para locais pouco ou nada explorados, em busca do autêntico. Por sua vez, Plog (2002) designa-o como turista “alocêntrico”, que se carateriza pelo seu espírito aventureiro e pela capaci- dade de tomar decisões em situações imprevistas, a que Smith (1989) denomina turista off-beat.

Segue-se uma fase de envolvimento, caraterizada pela chegada de turistas com maior regularida-

de, situação potenciada pelo desenvolvimento dos primeiros pacotes de férias, por parte de alguns operadores turísticos, facto que conduz à existência dos primeiros picos sazonais de procura (Weaver, 2000). Este é o momento em que os residentes e os empresários locais começam a perceber o turis- mo como uma oportunidade de desenvolvimento da economia local (Sharpley, 1994). A comunidade assume assim uma atitude proactiva, no sentido de criar pequenos negócios familiares e informais, em particular nas áreas do artesanato, alojamento, transportes e restauração (Cooper, 1994; Weaver, 2000), correspondendo a uma fase de alguma “euforia”, por parte dos residentes (Doxey, 1975).

Neste estádio, o incremento da procura contribui para que se registe um aumento da pressão sobre o setor público, no sentido da criação de infraestruturas e equipamentos de apoio ao turis- mo (Cooper, 1994; Reid, 2000). Uma vez que se trata de um estádio embrionário, os impactos na comunidade são ainda reduzidos, a nível ambiental, cultural ou económico (Weaver, 2000).

Num cenário normal, em seguida, a área de destino entra na fase de desenvolvimento, carac-

terizada pela criação de equipamentos turísticos e desenvolvimento de esforços promocionais. Ao atingir este estádio, a área turística encontra-se já claramente delimitada, passando o desti- no a integrar formalmente o sistema turístico.

O envolvimento da comunidade e o controlo do desenvolvimento turístico, por parte de empre- sas locais, dá lugar à presença de investidores estrangeiros (cadeias internacionais de alojamento) e, em simultâneo, regista-se um aumento rápido do número de turistas, que, em algumas situa- ções, ultrapassa mesmo o número de residentes, acentuando-se uma tendência no sentido da de- pendência da atividade turística, de alguns operadores turísticos e de mercados emissores (Butler, 1980; Haywood, 1988).

Nesta fase, os destinos assumem assim caraterísticas internacionais e próximas da cultura dos visitantes, tendendo a perder os sinais de identidade e tipicidade que os caraterizavam e, em certos casos, foram determinantes para o despertar de interesse nos turistas. Estes aspetos resultam, em grande parte das situações, de erros urbanísticos e de ordenamento, que são reflexo da ausência de uma postura pró-ativa ao nível do planeamento. O caso de alguns destinos situados no sul de Espa-

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