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185dade (empresas na mesma área de negócio) conduz à redução dos níveis de inovação nas organi-

zações. De igual modo, também Uzzi (1996) alerta para o risco de fechamento da rede e para a possibilidade de tal situação conduzir a processos de alienação em relação a novas oportunidades e informações provenientes do exterior. Brandão (2014) nota, no contexto dos processos de ino- vação no turismo, que as interações sociais, quando confinadas a uma região, tendem a seguir as mesmas normas, padrões de referência, encontrando-se inseridos nas relações sociais e, conse- quentemente, no contexto regional de referência.

O posicionamento estrutural e relacional dos atores numa rede assume, desta forma, várias

configurações possíveis. É possível estar presente numa rede densa, na qual se encontram estabe- lecidas relações de longo-prazo e, em simultâneo, participar numa rede difusa, a partir da qual o ator consegue aceder a informações novas. Conforme notam Castells (2010) e Uzzi (1996), as redes constituem estruturas abertas e dinâmicas, que evoluem ao longo do tempo, em função de fatores endógenos e exógenos, com implicações sobre a centralidade dos atores e da rede, na sua globali- dade, bem como na entrada de novos atores.

Gnoth e Jaeger (2007) defendem que cada rede constitui uma estrutura única, criada a partir de uma história específica e em condições particulares, o que faz com que as propriedades acima descritas tenham utilidade e aplicabilidade, na medida em que constituem ferramentas de análise em diferentes destinos turísticos.

É consensual entre os investigadores a noção de que não é a mera existência de uma rede que apresenta o potencial para gerar benefícios, mas sim o uso que se faz da mesma, através de um processo de networking (Lynch e Morrison, 2007:46): “it is not the existence of a network that in itself has the potential to generate benefits, but rather it is the use of that network through the

process of networking that actually brings about the gains for the network`s membership”.

O termo networking é entendido pelos mesmos autores como um processo proactivo, desenvolvi- do pelos membros de uma rede, com vista à mobilização de relações, sendo entendido, em última instância, como um mecanismo para o desenvolvimento de novas redes a partir desse processo de networking: “networks can be seen as result of the networking process” (Lynch e Morrison,

2007:50-51).

A terminologia matemática associada à ARS pode fazer supor, à partida, que os dados qualitati- vos não assumem relevância nesta análise. Contudo, Lazega (1998) entende os dados qualitativos como indispensáveis a qualquer reflexão que se entenda desenvolver sobre as relações entre os atores. São vários os investigadores na área do turismo a partilhar esta perspetiva (Baggio et al., 2010; Saxena e Ilbery, 2008). A secção 4.4 é dedicada à análise do estado da arte no que diz respei- to à investigação na área de conhecimento do turismo com recurso às redes, quer a nível concep- tual, quer a nível empírico, com particular enfase, nas temáticas de investigação que se encontram mais próximas do tema em estudo.

4.4 Contributo dos estudos sobre redes para a área de conhecimento do turismo

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dual. Deste modo, identifica-se a sua presença no estudo da gestão e promoção de destinos tu- rísticos (Jamal e Jamrozy, 2006; Lazzeretti e Petrillo, 2006; Lynch e Morrison, 2007; Pavlovich, 2003), nos estudos sobre inovação no turismo, uma das áreas mais proeminentes no âmbito das redes (Brandão, 2014; Dredde, 2005; Novelli, Schmitz e Spencer, 2006; Paget, Dimanche e Mou- net, 2010; Sørensen, 2007), no estudo das políticas de turismo, governança e parcerias público- -privadas (Bramwell, 2006; Dredge, 2006a,b); Halme, 2001; Pavlovich, 2003, 2008; Pforr, 2002, 2006; Saxena, 2005; Timur e Getz, 2008; Tyler e Dinan, 2001; Wray, 2009), no estudo dos proces- sos de planeamento e desenvolvimento turístico e das dinâmicas do turismo a nível local (Baggio, 2008; Baggio et al., 2010; Costa, Breda, Costa e Minguéns, 2008; Gibson et al., 2005; Lazzeretti e Petrillo, 2006; Pavlovich, 2003; Petrillo e Swarbrooke, 2005; Presenza e Cipollina, 2010; Saxena, 2005; Saxena e Ilbery, 2008; Scott, Baggio e Cooper, 2008; Scott, Cooper e Baggio, 2008).

Deste modo, a delimitação da temática em estudo no presente trabalho leva a que seja adota- do, nesta secção, um enfoque particular nos estudos desenvolvidos no âmbito do planeamento e desenvolvimento de destinos turísticos e das dinâmicas do turismo a nível local, privilegiando a referência e reflexão sobre os aspetos mais relevantes dos estudos das redes com pertinência para os objetivos desta investigação.

Tal como sucede noutras áreas de conhecimento, também no turismo, a profusão de trabalhos com a utilização do termo rede conduz à necessidade de diferenciar os vários usos do conceito de redes, num primeiro momento, entre ARS metáfora, que não aplica medidas da ARS, nem utiliza bibliogafia clássica de redes sociais, entendendo o conceito de redes com fluidez e flexibilidade e a ARS não metáfora. Esta, por sua vez, pode ser dividida entre ARS aplicada e ARS não aplicada.

Na ARS não aplicada é possível encontrar várias situações, nomeadamente:

(i) apresentação e discussão de conceitos de literatura sobre redes em termos teóricos; (ii) a rea- lização de análises empíricas nas quais as relações são transformadas em atributos (ex. inquéri- tos com questões relacionais) sem que se construa uma matriz quadrada, procedendo-se apenas à contagem dos contactos; (iii) análises empíricas sobre redes de relações que se restringe à visua- lização (ex. sociograma à mão). A ARS aplicada consiste numa análise empírica, na qual se apli- cam medidas de redes, quase sempre com uso de software (Varanda, Rego, Fontes e Eichner, 2012, a partir de Wellman, 1998). O presente estudo consiste numa ARS aplicada, na medida em que se procede à revisão de literatura sobre a teoria das redes e são calculadas medidas de ARS.

Nas áreas do turismo e do lazer, há referências à introdução da ARS no trabalho de Stokowski e Lee (1991) que investigam o comportamento de lazer e recreação dos visitantes. Na década de 1990, um dos primeiros estudos sobre redes no turismo foi desenvolvido por Costa (1996), com o objetivo de estudar as questões da eficácia e da eficiência do planeamento e desenvolvimento tu- rístico a nível regional, em Portugal (no âmbito do qual o Algarve constituiu uma das regiões em análise) e que utiliza medidas da ARS (cliques, índices de conetividade individuais e de grupo). Na sua investigação o autor conclui que as redes são percebidas pela larga maioria dos entrevistados, como estruturas organizacionais com capacidade para gerar benefícios mútuos a todos os interes- sados no setor do turismo.

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