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173Saxena Ilbery (2008) distinguem as redes soft das redes hard, entendendo que as primeiras apre-

sentam um caráter mais inclusivo, ao nível dos atores, podendo os mesmos ser provenientes da co- munidade, de empresas, organizações públicas ou indivíduos. As redes hard são associadas pelos autores ao setor privado, com uma forte vocação lucrativa, proximidade geográfica e elevada fre- quência de contacto. É feita ainda referência às redes fechadas que se caracterizam pela existência de valores coletivos, laços pessoais fortes e pela troca de conhecimento tácito. Por oposição, as redes abertas assumem ligações dispersas e caraterizam-se pelas desigualdades de poder entre atores (Co- leman, 1990; Dredge, 2006a,b); Saxena, 2005; Saxena e Ilbery, 2008).

Lynch e Morrison (2007), a partir de Conway (1998) propõem seis critérios relativamente abran- gentes para a classificação das redes: (i) perfil dos seus membros (diversidade de atores); (ii) na- tureza das ligações entre os mesmos (formais versus informais); (iii) tipos de transações e trocas (informação, bens, etc.); (iv) função ou papel da rede (criação de ideias, resolução de problemas); (v) morfologia (dimensão, diversidade, densidade, estabilidade das ligações); (vi) distribuição geo- gráfica (equilíbrio entre membros a nível local, regional, nacional, internacional).

O que parece registar consenso na literatura é a importância assumida pelas relações (ligações) informais no processo de aprendizagem coletiva, com impactos ao nível do contexto organizacio- nal, na medida em que as mesmas tendem a potenciar a partilha de experiências (Baggio, Scoot e Cooper, 2010; Beritelli, 2011; Beritelli e Laesser, 2011; Breda et al., 2005, 2006; Gibson et al., 2005; Pesämaa e Hair, 2008; Saxena, 2005; Saxena e Ilbery, 2008; Tinsley e Lynch, 2001). Encontra-se subjacente a noção de que a existência de um conhecimento prévio, por via informal, aumenta o potencial para a constituição de redes com sucesso. Conforme notam Lynch e Morrison (2007:57):

“The informal networks might be viewed as potential formal networks-in-waiting as they contain the so- cial glue of communication patterns and norms of behaviour that could form the foundations for more for- mal networks, which, might perhaps contribute towards a more advanced stage of economic development”. O presente estudo empírico revela evidências quanto ao reconhecimento, por parte dos inqui- ridos, relativamente à importância assumida pelas redes no reforço do diálogo e da comunicação, encontrando-se efetivamente, entre os aspetos mais valorizados, no âmbito dos objetivos que de- vem presidir à constituição de uma rede entre o turismo e o terceiro setor.

4.2.3 Conceitos fundamentais associados à teoria das redes

As redes constituem uma forma de olhar e analisar a realidade, que se consubstancia numa estratégia passível de ser utilizada à luz de diferentes perspetivas teóricas. Configura-se, efe- tivamente, como um instrumento de análise social, reconhecido no âmbito de disciplinas va- riadas. O uso da análise de redes sociais (ARS) tem vindo a difundir-se significativamente, nas últimas décadas, fruto do aumento da produção científica em variadas áreas de conhecimento, nomeadamente nas áreas da antropologia, da biologia, da economia, da geografia, da gestão e

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dos estudos organizacionais, da psicologia social e da sociologia, que recorrem a esta metodolo- gia (Borgatti, Mehra, Brass e Labianca, 2009; Brandão, 2014; Freeman, 2004).

Fatores tais como o desenvolvimento da tecnologia ao dispor dos investigadores (criação de soft-

ware de ARS que permitiu a uniformização das análises), as melhorias registadas na gestão e aná-

lise dos dados, a constituição, em 1977, de uma associação que agregou os investigadores a nível internacional (Internacional Network for Social Network Analysis) e a criação de publicações espe- cializadas (revistas Social Networks e Connections) contribuíram para a sua expansão, tanto a nível conceptual, como a nível empírico.

Scott (2000:3), embora atribua a Georg Simmel (1908) a origem do pensamento das redes sociais, identifica como percursores da ARS, Émile Durkheim e Ferdnand Tönnies, no final do século XIX:

“Durkheim gave a non-individualistic explanation of social facts arguing that social phenomena ari- se when interacting individuals constitute a reality that can no longer be accounted for in terms of the properties of individual actors. He distinguished between a traditional society – “mechanical solida- rity” – which prevails if individual differences are minimized, and the modern society – “organic soli- darity” – that develops out of cooperation between differentiated individuals with independent roles”. Assim, após um interregno, a aplicação da ARS às ciências sociais iniciou-se na década de 1930 do século XX, nos Estados Unidos (Freeman, 2004), tendo-se assinalado um forte impulso na década de 1970, com um grupo de investigadores da Universidade de Harvard e registado, desde então, um for- te crescimento na aplicação desta metodologia (Freeman, 2004; Scott, 2008). É possível identificar, segundo Scott (2000), três tradições de investigação no âmbito da análise de rede sociais:

(i) a tradição da corrente sociométrica, responsável pelo desenvolvimento da teoria dos grafos1,

liderada por Moreno;

(ii) a tradição de Harvard, pioneira na utilização de modelos inter-relacionais no âmbito do es- tudo das relações interpessoais no trabalho, liderada por W. Lloyd Warner e Elton Mayo; (iii) a tradição de Universidade de Manchester, centrada na análise de estruturas relacionais de poder, liderada por Max Gluckman e Clyde Mitchell.

Mais tarde, Scott, Baggio e Cooper (2008) classifica a evolução histórica das redes sociais em duas escolas, que assumiram importância durante o século XX, a primeira, baseada na matemáti- ca, apresenta contributos no âmbito da representação das redes com recurso a diagramas (grafos), com os seus diversos elementos e respetivas ligações, baseada na teoria dos grafos, a segunda, ba- seada nas ciências sociais que coloca em evidência o papel desempenhado pelos distintos atores no âmbito das redes. Confirma-se, deste modo, que a teoria das redes tem sido utilizada nas várias áreas de conhecimento, tendo-se chegado, no final da década de 1990, à formalização de métodos da análise de redes sociais (Freeman, 2004; Wassermann e Faust, 1994).

1 A origem da teoria dos grafos é atribuída por Scott, Cooper e Baggio (2008), a Leonhard Euler, matemático suíço que, em 1936 defende a importância das caraterísticas estruturais sob as caraterísticas geométricas.

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