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85O modelo produto-espaço revela-se muito importante para a presente investigação, por vários

motivos. Em primeiro lugar, coloca em evidência, no contexto dos produtos estruturais, o poten- cial económico que algumas atividades não lucrativas podem vir a assumir no contexto do turis- mo. No estudo empírico, procurou-se avaliar, em que medida, se encontram evidências desta si- tuação, isto é, identificar atividades não lucrativas com potencial para integrar a fileira produtiva do turismo. Naturalmente, a afirmação destas atividades, pode ser concretizada, por via do traba- lho em rede com os setores público e privado do turismo. Reside nesta dimensão o segundo gran- de contributo deste modelo, para a presente investigação, ao inserir a noção de redes num plano sub-regional, introduz, deste modo, a necessária flexibilidade à operacionalização de propostas identificadas. Costa (2001b:84-85) refere-se ao espaço sub-regional como:

“(…) um espaço livre, cuja organização e estruturação deve depender da capacidade de exploração e di- namização de redes livres de negócios (…) em função das oportunidades de negócios existentes na região (…) o espaço que será ocupado e dinamizado por investidores individuais e pelas organizações não lucrati- vas que assumem uma importância central na composição de produtos oferecidos pelo setor do turismo”. Em última instância, e por via deste processo que associa territórios, produtos, setores, políti- cas, níveis de planeamento, novas estruturas mais flexíveis, é possível estruturar experiências tu- rísticas distintas, únicas e viáveis.

Pine e Gilmore (1999) propõem o conceito de economia das experiências e evidenciam a sua relação próxima com o turismo e, em particular, a hipótese de que o desenvolvimento de experiências únicas e memoráveis constitui a base para a criação de vantagens competitivas, por parte dos destinos turís- ticos. Neste contexto, os territórios assumem-se como cenário central para a operacionalização das experiências turísticas (Morgan, Elbe e Curiel, 2008; Richards e Wilson, 2006; Ryan, 2002).

Os modelos analisados colocam em evidência a necessidade imperiosa de articular as caraterís- ticas físicas, sociais, culturais e económicas dos locais, com a formulação de políticas e estraté- gias, que incluam planos de ação, formas de implementação e de monitorização. O novo paradig- ma de planeamento que emerge a partir da década de 1980 é caraterizado, por um lado, pela noção de que as caraterísticas únicas dos locais assumem papel central em qualquer processo de planea- mento turístico, evidente nos vários modelos de desenvolvidos a partir desta década e, por outro lado, pelo entendimento de que este se deve assumir como um processo participado.

Healey (1992, 1995) é percursora neste entendimento ao defender uma prática do planeamento através do debate (planning through debate), na qual o aumento dos níveis de participação pública pode ajudar a ultrapassar aspetos relacionados com o favorecimento de determinados grupos e, em simultâneo, conduzir ao desenvolvimento de políticas mais criativas e informadas. A perspe- tiva de Healey (1992) aproxima-se da visão de Murphy (1985) em relação ao planeamento turístico participado, que reconhece a importância do envolvimento de todos os interessados (setor público, privado, organizações da comunidade), na medida em que estes se encontram interdependentes.

Assim, ganha expressão, no contexto do planeamento em turismo, durante a década de 1990, a noção de que um envolvimento mais abrangente, por parte dos diferentes stakeholders no proces-

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so de planeamento e desenvolvimento turístico sustentado, se assume como um requisito essencial (Jamal e Getz, 1999; Reed, 1997). Bramwell e Lane (2000) identificam os benefícios de um planea- mento turístico participado, entre os quais destacam o seu potencial para evitar a ocorrência de conflitos entre stakeholders9, e para estimular a partilha e participação, bem como a conciliação de

interesses (temática a desenvolver na secção 2.5).

Pearce (2002:6) salienta a necessidade de tomar em consideração o contexto no qual os proces- sos de desenvolvimento turístico decorrem: “while common features may be identified in terms of processes and impacts, crucial differences are also to be found from one place to another. Suc- cessful tourism development, it is argued, will depend on a full appreciation of contextual factors and the way in which these are incorporated into the development process”.

É neste contexto que emergem conceitos como colaboração10, cooperação, parcerias, redes e

clusters, enquanto instrumentos para o planeamento e desenvolvimento turístico sustentado e

que se encontram presentes de modo muito evidente na investigação académica a partir da déca- da de 1990. Também nesta ótica de análise, Costa (2001) defende que as organizações eficientes no campo do turismo requerem processos de colaboração lateral (e não hierárquica), uma melhor articulação dos stakeholders, e uma maior proximidade entre setor privado, público e organizações não lucrativas (Costa, 1996; Hall, 1999; Healey, 1990; Jamal e Getz, 1999). Esta temática será obje- to de análise detalhada no capítulo 4.

Conforme se evidenciou, o planeamento assume uma dimensão processual e uma dimensão organizacional e administrativa, que constituem a via para a definição e implementação de polí- ticas públicas no âmbito do desenvolvimento turístico. Deste modo, como referem Bukart e Me- dlik (1981), a organização turística consubstancia-se em três níveis básicos de intervenção, o nível nacional, regional e local, cabendo, tradicionalmente, aos Governos a responsabilidade pela de- finição de uma política de turismo e, nesta medida, um papel fundamental na promoção de um desenvolvimento turístico sustentável.

Neste contexto, reveste-se de particular importância a referência aos níveis de intervenção e or- ganização turística, no contexto português. A vocação turística de Portugal é confirmada pela po- sição que ocupa no ranking da UNWTO (2015) como 35.º destino turístico mundial, no que respeita às chegadas internacionais de turistas. No que respeita ao turismo, o Plano Estratégico Nacional do Turismo – PENT, revisto em 201311 estabeleceu as bases da estratégia e ações empreendidas no âm-

bito da atividade turística em Portugal, no horizonte temporal de 2006 a 2015. O governo aprovou a revogação deste plano e aprovou, em 2015, o documento “Turismo 2020 - Plano de Ação para o De- senvolvimento do Turismo em Portugal”, que visa um melhor aproveitamento e utilização dos fundos comunitários no turismo, e que apresenta a visão para o turismo em 2020 e os objetivos estratégicos que o orientam (figura 2.16). Atrair, competir, capacitar, comunicar e cooperar são, deste modo, as palavras-chave neste plano de ação, no qual a qualificação e valorização do território e dos seus re-

9 Termo com origem na área da gestão, e no contexto das organizações, que se refere aos indivíduos ou grupos com interesse numa determinada situação e que podem influenciar o resultado de um processo (Gray, 1989).

10 Jamal e Getz (1995:188) definem a colaboração como um processo de tomada de decisão conjunto, entre stakeholders autónomos, num determinado domínio organizacional, com o objetivo de gerir questões relacionadas com o planeamento e desenvolvimento.

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