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99A dimensão da mobilização de recursos encontra-se relacionada com o uso partilhado, a dis-

tribuição equitativa e a diversidade dos mesmos, a própria capacidade da comunidade para fazer uso de ligações instrumentais com redes sociais, situadas no âmbito da mesma ou externamente. Trata-se de recursos de natureza económica, física, humana e política. Conforme explicado por Aref, Ma`rof e Gill (2010:175):

“The community resource for community capacity in tourism development can be accessed from a va- riety of sources including, private and voluntary sector (…) tourism development as an important part of any community development must be accompanied with resource allocation. The future of any commu- nity development depends largely on local ability to raise or restore their community-based tourism”.

Ashley e Roe (1998) descrevem o poder na comunidade como um processo progressivo que pode

ir de um envolvimento passivo, ao envolvimento ativo, até à participação plena nas políticas de de- senvolvimento turístico e nas decisões que afetam, em última instancia, a sua qualidade de vida.

Segundo alguns autores, o sentido de comunidade contribui para a capacitação das comunida-

des ao permitir que as pessoas se sintam ligadas e motivadas a viver de forma harmoniosa e a tra- balhar em conjunto tendo em vista objetivos comuns (Aref et al., 2010:177): “Sense of community also helps people feel they are a part of something larger than themselves.” Em última instância, um forte sentido de comunidade, tende a potenciar um processo de planeamento e desenvolvi- mento participado, que a longo-prazo, se revela desejável e imperativo (Aref, 2011).

De forma mais particular, é possível afirmar que a temática das comunidades e a sua relação com o desenvolvimento turístico, se consubstancia em duas linhas de investigação. A primeira, que es- tuda os benefícios e custos decorrentes da atividade turística para as comunidades recetoras, en- contra-se ligada à problemática dos impactos do turismo, a segunda, que se debruça sobre a parti- cipação das comunidades nos processos de tomada de decisão e, nesta medida, no próprio processo de planeamento, centrando-se, deste modo, numa componente estratégica e eminentemente ope- racional do turismo. A última linha de investigação assume particular relevância neste estudo, pelo que a análise incidirá, predominantemente, sobre a mesma, o que será feito na secção 2.5.1.

Não obstante, importa mencionar que a complexidade e extensão registada pela atividade turís- tica tem conduzido ao desenvolvimento de estudos, por parte de investigadores e por responsáveis dos destinos, sobre as perceções e atitudes dos residentes dos destinos (Ap, 1992; Ap e Crompton, 1998; Doxey, 1975; Murphy, 1985).

Manifestamente, as teorias e modelos explicativos das perceções dos residentes sobre os im- pactos do turismo surgem, sobretudo, a partir da década de 1990, destacando-se, entre outros, os modelos propostos por Doxey (1975), a teoria do ciclo de vida do produto de Butler (1980), a teoria da representação social (Madrigal, 1993; Pearce, Moscardo e Ross, 1996), a Social Exchange Theory (Andereck et al., 2005; Ap, 1990, 1992; Jurowski, Uysal e Williams (1997), Pearce et al. (1996), Per- due, Long e Allen (1990) e a teoria da dependência (esta última objeto de análise na secção 2.3).

A Social Exchange Theory tem sido utilizada por autores na área do turismo, como contexto de referência nos estudos sobre as perceções e atitudes dos residentes em relação ao desenvolvimento

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do turismo (Ap, 1992). Esta teoria, com origem na sociologia, centra-se na análise das trocas e de recursos entre os indivíduos e os grupos, em contexto de interação. Na sua adaptação ao turismo, esta procura explicar o modo como os residentes percecionam as atitudes, positivas e negativas, em relação ao desenvolvimento turístico (Ap, 1992; Faulkner e Tideswell, 1994; Jurowski, 1994).

Andereck et al. (2005) verificam a existência de uma associação positiva entre as perceções dos impactos económicos positivos nas comunidades e o nível de apoio ao turismo. Contudo, esta teo- ria tem registado algumas críticas, na medida em que parte do pressuposto que as escolhas feitas pelos indivíduos se baseiam apenas numa perspetiva racional. A investigação desenvolvida na área da psicologia sugere que os indivíduos processam, parcialmente, a informação de modo racional. Conforme defendem alguns autores, as perceções são também formadas em contextos sociais e históricos específicos e por via da interação social (Pearce et al., 1996). Para Sharpley (2014), o co- nhecimento individual é socialmente construído, com base nas experiências pessoais, a partir de contextos socioculturais mais vastos. É nesta medida que, alguns autores adotam a teoria da re- presentação social, de modo a ultrapassar as limitações apresentadas pela Social Exchange Theory (Andriotis e Vaughan, 2003; Fredline e Faulkner, 2000). No presente estudo pretende-se verificar se os representantes das organizações da sociedade civil no Algarve reconhecem a existência de diferentes benefícios, numa perspetiva da organização que lideram.

A Teoria da Representação Social defende que as representações sociais, resultantes da interação dos indivíduos, constituem um mecanismo através do qual os mesmos procuram compreender e en- contrar sentido no seu mundo, em relação a um dado acontecimento, pessoa ou objeto, associar um conjunto de explicações e crenças, sendo essas associações comuns a um determinado grupo (Mos- covici, 1981). Assim, embora sem ignorar a individualidade do sujeito, a teoria procura explicar os fenómenos nos quais o ser humano se encontra envolvido, a partir de uma perspetiva coletiva.

Segundo Fredline e Faulkner (2000), a Teoria da Representação Social permite, em certa medida, colmatar as limitações da SET, na medida em que atribui um significado próprio aos quadros de referência cultural, autónomos da experiência individual. Estes autores identificam ainda, entre as possíveis fontes de representação social, a experiência dire- ta com os turistas e com a indústria turística, a interação social com familiares, amigos, colegas ou outras pessoas com quem eventualmente os residentes se cruzam, e ainda os media, que apresentam um forte potencial de influência sobre as perceções individuais e coletivas. A utilidade desta teoria reside no facto de permitir pensar sobre os motivos que podem conduzir a comunidade a percecionar, de modo distinto, os impactos do turismo.

Uma teoria das teorias mais referenciadas nos estudos do turismo, e que adota uma perspetiva de análise distinta, é a apresentada por Doxey (1975), denominada Irridex Model. O autor identi- fica quatro estádios de desenvolvimento do destino turístico, que correspondem a quatro atitudes dos residentes face ao turismo, resultantes da complexidade assumida pelo progressivo desenvol- vimento turístico nos destinos.

Segundo este modelo, num primeiro momento, correspondente à fase inicial de desenvolvimen- to turístico, os visitantes são bem acolhidos e, como são em número reduzido, o contacto que se estabelece entre estes e os residentes carateriza-se pelo entusiasmo e euforia, no qual os residen-

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