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113a necessidade e utilidade da participação destas organizações numa fase crucial dos processos,

relativa à identificação, pesquisa e inventariação sobre os recursos culturais e naturais dos locais. Sendo esta forma de participação consensual, o que parece não se encontrar claramente

identificado são os motivos que justificam o seu envolvimento nestes processos. Avançam-se al- gumas hipóteses quanto às razões para a sua participação. Estas associações possuem, em primei- ro lugar, uma proximidade relativamente às comunidades, pois é das mesmas que as suas estrutu- ras emergem. Em segundo lugar, possuem conhecimento quanto às especificidades culturais dos locais, conhecimento este que tende a decorrer, das próprias atividades levadas a cabo no âmbito da sua missão e objetivos, subjacentes à sua própria constituição e áreas de intervenção, ligadas à pesquisa, a ações de educação informal, à organização de eventos dedicados às temáticas das ar- tes, das manifestações culturais, divulgação das tradições, da gastronomia, do artesanato, entre outros. Estes aspetos posicionam as organizações das comunidades como ativos estratégicos para a identificação das especificidades dos locais.

A literatura reconhece a estas organizações, e em particular às ONG, um papel ao nível da de- fesa e sensibilização em relação aos recursos. Verifica-se que este papel tende a evoluir de um

sentido estritamente ligado à proteção e preservação, para o equacionar de formas de valorização, no sentido do uso efetivo e sustentado desses mesmos recursos, demonstrando uma postura de construção ativa de soluções para a sua dinamização. Esta postura representa uma evolução no próprio espírito com que estas organizações emergiram, no contexto do paradigma do desenvol- vimento alternativo, em que assumem um maior protagonismo nas áreas dos serviços e da defesa. Numa fase posterior à inventariação dos recursos, conforme refere Costa (2001), procede-se à classificação, hierarquização e seleção destes mesmos recursos. Encontra-se implícita a noção de que, também nesta fase, se identifiquem formas de envolvimento e participação da sociedade civil. Esta constitui, de igual modo, uma fase crucial do processo de planeamento e de tomada de decisão, quanto aos recursos que se revestem de potencial para a estruturação de ofertas turísticas, passíveis de se assumirem como diferenciadoras.

A sua participação nesta fase - estruturação de ofertas - pressupõe a identificação e definição de atividades não lucrativas que reúnam condições para integrar a oferta do turismo nos locais. Nes- te domínio, estas organizações encontram-se estrategicamente posicionadas para a apresentação de contributos, no âmbito do lançamento de iniciativas experimentais/ações piloto, na medi-

da em que se encontram, como se afirmou anteriormente, muito próximas das realidades locais, conhecem as suas necessidades e os seus recursos. As organizações não lucrativas no domínio do desenvolvimento local, em particular, apresentam este perfil, conforme se descreve no capitulo 3 (secção 3.5.1), no qual se analisa a questão dos paradigmas do desenvolvimento local e o modo como as próprias políticas e mecanismos de financiamento da União Europeia apontam para um maior protagonismo das associações, na liderança destes processos, sobretudo em áreas de baixa densidade populacional e rurais, como sucede no Algarve. No entanto, a participação destas or- ganizações, ao nível da estruturação de ofertas, não se esgota no espaço rural, encontrando-se de igual modo em condições de o fazer, por parte das próprias associações que desenvolvem ativida-

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des em espaço urbano (ex. experiências de turismo criativo).

Estas formas de participação fazem antever a existência de um papel no âmbito da capacitação das comunidades para o desenvolvimento de projetos que podem assumir relevância no contexto

turístico. Esta forma de participação tem sido reconhecida, em particular, às ONG nos países em desenvolvimento, sendo vários os autores a identificar e defender esta função. Contudo, esta faz também sentido no contexto europeu, e em particular nas áreas geográficas mais periféricas. Ex- cluir estas organizações pode significar excluir do desenvolvimento turístico as comunidades com menos recursos (formação e educação). No contexto europeu subsistem áreas periféricas, com problemas estruturais, tais como o avanço dos processos de desertificação humana das zonas de interior e os índices elevados de envelhecimento. O assumir de novas políticas, no sentido de dar resposta a estes desafios, encontra-se presente em iniciativas comunitárias, tais como o progra- ma LEADER, no qual o turismo tem sido entendido como instrumento de desenvolvimento local. Autores como Andersson e Getz (2009), Gunn e Var (2002), Murphy (1985), Parkinson (2006) e Simpson (2008), reconhecem, de igual modo, um envolvimento operacional por parte das orga- nizações do terceiro setor, que pode ser traduzido na prestação de serviços, salientando, por um

lado, que estas atividades propiciam a criação de experiências turísticas diferenciadoras e, em si- multâneo, podem constituir-se como fontes de receitas que permitem assegurar o cumprimento da sua missão e respetivos objetivos.

Alguns destes papéis assumem uma dimensão estratégica, enquanto outros se apresentam como componentes mais operacionais no âmbito da ligação destas organizações ao sistema turís- tico. Não se conhece, até ao momento, investigação empírica que tenha procurado testar a apli- cabilidade destes papéis a organizações da denominada sociedade civil organizada, no contexto dos destinos turísticos. As organizações com base na comunidade não constituem um fenómeno recente. No entanto, os novos paradigmas apresentados no presente capítulo, e em particular nas secções 2.2 e 2.3, sem o operacionalizar em detalhe, remetem para um aumento do seu protago- nismo nas várias vertentes da sociedade.

É hoje reconhecido que o neoliberalismo deu lugar a cidadãos mais exigentes e ativos, com capa- cidade para se organizarem, em função de interesses específicos, dando origem a novos movimen- tos sociais ligados à defesa do ambiente, da cultura, das tradições, entre outros domínios. Estas organizações possuem know-how e conhecimentos, cujos conteúdos podem e devem interessar ao turismo. As organizações da sociedade civil conseguiram alcançar crescente importância na nova ordem mundial, são responsáveis pela recolha de informação e dados, possuem conhecimentos e competências sobre diferentes questões, reclamando um maior envolvimento nos processos de to- mada de decisão. A este facto, os responsáveis do turismo, não devem permanecer alheios, benefi- ciando o turismo com a integração dos seus contributos no âmbito da definição de políticas e estra- tégias. Este é desafio orienta a presente investigação.

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2.7 Conclusão

Os contributos teóricos e olhares de investigadores provenientes de diferentes áreas de co- nhecimento, sobre o turismo, apontam no sentido de um entendimento das comunidades re- sidentes se constituírem, em simultâneo, comunidades com elementos diferenciados e únicos, suscetíveis de interesse e de atração, podendo, nesta medida, afirmar-se, igualmente, como pro- dutoras ativas do turismo.

Regista-se, de igual modo, um claro consenso entre os autores quanto à necessidade de tomar em consideração, num processo de planeamento, os fatores específicos dos locais, e da importância que os mesmos assumem na definição de uma estratégia que se pretende que seja distintiva face aos des- tinos concorrentes.

O turismo acompanha os contextos culturais, económicos e sociais produzidos pelas socieda- des. Ao mesmo tempo que se avança no caminho da globalização, as correntes teóricas associadas aos novos paradigmas de planeamento e desenvolvimento evidenciam a importância do reforço do papel das comunidades e da participação local nos processos de desenvolvimento, numa lógi- ca de criação de ligações às economias locais, entendendo-se o turismo como um instrumento de desenvolvimento regional.

Em simultâneo, no turismo, inicia-se um caminho orientado para a valorização das caraterísti- cas únicas dos locais e no seu entendimento como caminho para a competitividade. Os desafios li- gados à compatibilização entre as especificidades ambientais e culturais e a dimensão económica mantêm-se presentes na generalidade dos destinos e, em particular, naqueles que baseiam a sua oferta nos recursos naturais, como é o caso do Algarve.

As mudanças ocorridas situam-se ao nível das caraterísticas das comunidades, hoje mais infor- madas e capacitadas, fruto do aumento dos níveis de educação e do acesso à informação, levam a que as mesmas se encontrem-se, no presente, melhor posicionadas para um processo efetivo de participação no sistema turístico. Contudo, a literatura faz notar que o setor do turismo não assu- miu ainda uma consciência efetiva, quanto ao potencial que se encontra ao dispor de uma indús- tria complexa e multifacetada.

Na década de 1990 consolida-se a defesa de um enfoque na compreensão do funcionamento do destino como sistema e do papel ativo que os vários agentes que integram o território de destino assumem, o que fundamenta a análise das redes em turismo, como forma de operacionalização e mecanismo para a implementação de processos participados (temática a desenvolver no capítulo 4).

O capítulo seguinte é dedicado a uma análise detalhada sobre o universo das organizações da sociedade civil, designadas de modo mais consensual na literatura, como organizações do tercei- ro setor (OTS), sua génese, caraterísticas, papéis e funções, bem como o modo como têm vindo a assumir protagonismo, no contexto internacional e em Portugal, elementos sem os quais não se pode compreender e propor a sua ligação ao sistema turístico.

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