• Nenhum resultado encontrado

171O presente estudo, ao pretender analisar as caraterísticas das ligações entre as organizações do

terceiro setor e as organizações turísticas visa, igualmente, compreender a importância atribuída aos diferentes tipos de benefícios, por parte dos inquiridos.

Numa investigação de natureza qualitativa conduzida em áreas turísticas na Suécia e na Escó- cia, Gibson e Lynch (2007:108) estudam os benefícios que a adesão a estruturas em rede produzem para as empresas e para a própria comunidade. Os autores defendem a importância das redes li- gadas às comunidades (community networks) devido à ligação intrínseca entre os locais (geografia) e a história social e cultural que, no seu entendimento, deve que ser tomada em consideração nas estratégias de desenvolvimento do turismo:

“Tourism is connected to geographical places on communities with a social and cultural history that needs to be accounted for in any discussion of a tourism destination`s development (…) being aware of and taking into consideration, the relationship with the wider development of a society”. No âmbito da aprendizagem e troca, os autores identificam como benefícios o reforço da comu- nicação entre as entidades locais e os gestores de atrações, concluindo que as redes contribuem para o desenvolvimento de novos valores culturais e para a valorização do património industrial da região. No âmbito dos benefícios para as empresas foram identificadas evidências de redução da sazonalidade, do aumento no número de visitantes, por via da aposta no turismo de negócios e da diversificação das atividades de lazer:

“Various groups in the networks (artists, constructors, hospitality and activity businesses, science, etc.) are also continuously enhancing the quality of the region`s product and the visitors experience in terms of developing new, complementary elements to the core activities (Gibson e Lynch, 2007:120)”. Nos benefícios para as comunidades, a rede contribuiu para a reinvenção do sentido de comuni- dade, por via do reforço do conhecimento e da valorização do património industrial enquanto pro- duto turístico.

Morrison et al. (2004) procedem à análise de um conjunto de redes formais na área do turismo, ligadas à academia, setor privado e setor público, a nível internacional, concluindo que se verifica a coexistência de diversos tipos de redes, e que estas podem ser classificadas de acordo o tipo de organização, a sua configuração inter-organizacional, níveis de formalidade assumidos, intensi- dade de relações de cooperação entre os seus membros, funções e benefícios esperados.

A partir deste primeiro trabalho, os autores propõem a seguinte definição de rede no âmbito do turismo, evidenciando, contrariamente a outros autores, o seu caráter formal, bem como a sua função ligada à aprendizagem, troca de conhecimento, que devem resultar em benefícios mútuos (Morrison et al., 2004: 202):

“A set of formal, co-operative relationships between appropriate organisational types and configu- rations, stimulating inter-organisational learning and knowledge exchange, and a sense of community

172

and collective common purpose that may result in qualitative and/or quantitative benefits of a business activity, and/or community nature relative to building profitable and sustainable tourism destinations”. Costa (1996) evidencia a importância que as estruturas em rede assumem no presente enquanto novas formas de enquadramento organizacional, na medida em que permitem uma participação mais alargada das diferentes dimensões da comunidade (setor público, privado e não lucrativo) e, consequentemente, a definição e operacionalização de políticas mais informadas e em consonân- cia com a envolvente cultural, económica, natural e social de cada local.

O autor nota que o setor não lucrativo tende a assumir papel periférico no sistema turístico. Nes- ta medida, as redes podem constituir um mecanismo para a operacionalização da sua participa- ção no processo de planeamento, potenciar a tomada de decisões mais democráticas e ajustadas à realidade local, funcionando, em simultâneo, como uma maior garantia de que o desenvolvimento não é entendido apenas a curto-prazo. Por outro lado, a integração do setor não lucrativo em re- des na área do turismo tende a conferir-lhe um acesso mais célere a nova informação e a recursos.

Neste sentido, e considerando o papel periférico que estas organizações podem assumir no de- senvolvimento de estratégias, alerta para a necessidade de criar mecanismos que permitam asse- gurar a participação do setor não lucrativo: “the establishment of agreements on the role of each participant in the network may be seen as a useful strategy capable of avoiding situations of con- trol of the network by a few organizations” (Costa, 1996: 406).

Estes argumentos revestem-se de pertinência, e encontram relação com os aspetos analisados no âmbito do capítulo 3, em particular, no que diz respeito às caraterísticas das organizações do terceiro setor nas áreas das artes, cultura e desenvolvimento local identificadas na literatura, constituindo argumentos com fundamento para a análise das formas de participação que as mes- mas podem assumir nas redes ligadas ao turismo. No capítulo 8 (secções 8.2 e 8.3) são apresenta- das evidências empíricas quanto às formas de participação destas organizações, bem como quanto às caraterísticas das suas ligações às redes em estudo.

4.2.2 Tipos de redes

Os estudos sobre redes permitem constatar a ausência de consenso quanto à classificação dos di- ferentes tipos de estruturas. Segundo Gibson et al. (2005) as redes podem ser: (i) formais - forma- das por atores que se encontram num processo de interação tendo por base objetivos de natureza comercial, previamente identificados e formalizados; (ii) semiformais - constituídas por atores que se encontram num processo de interação tendo por base objetivos previamente identificados, assu- mindo as interações sociais e comerciais entre os mesmos algum nível de importância; (iii) infor- mais - assentam sobretudo em objetivos sociais, sendo também assumida uma vocação de negócios funcionando, por vezes, como mecanismos de compensação relativamente às redes formais.

Grabher and Powell (2004) posicionam as redes de projetos (project networks) entre as redes in- terorganizacionais e as relações interpessoais, destacando a sua função centrada em objetivos es- pecíficos, com um horizonte temporal definido.

173

Outline

Documentos relacionados