• Nenhum resultado encontrado

57de desenvolvimento, fruto de um conjunto de constatações, entre as quais assumem particular

destaque, a consciência quanto ao aumento das disparidades entre os países pobres e os países ri- cos, o reconhecimento quanto à não existência de um terceiro mundo homogéneo, a constatação relativa aos impactos negativos do desenvolvimento económico sobre o ambiente, entre outros aspetos. Neste contexto, apela-se à importância da participação da sociedade civil, face à redução do papel do Estado na sociedade, e à necessidade de se avançar no sentido de um desenvolvimento inclusivo, com capacidade para integrar diferentes visões e perspetivas sobre as realidades locais: “with increased social capital and an engaged civil society there is potential for the Third sector to take an active role in development.” (Telfer, 2015:64). As questões da participação da sociedade civil serão objeto de análise na secção 2.5.1 deste capítulo, bem como no capítulo 3, na medida em que a presente investigação se centra na análise do papel e da participação da sociedade organi- zada, no contexto do desenvolvimento turístico.

O novo paradigma, que se começa a perfilar, embora ainda com contornos pouco definidos, trará também consequências e mudanças nos próprios processos de desenvolvimento turístico, como se discutirá, no âmbito da secção 2.4. No contexto deste mesmo paradigma, assiste-se a um aumento do protagonismo assumido pela dimensão do desenvolvimento local, à atribui- ção de uma maior importância às questões do desenvolvimento endógeno, por sua vez ligado ao modelo territorialista, que serão objeto de uma análise com maior detalhe, na secção 3.5.1, assumindo um destaque particular, a análise sobre o papel desempenhado pelas associações de desenvolvimento local, no contexto das áreas rurais.

Poon (1993, 2003) caracteriza as alterações que se começam a verificar na indústria turística, na dé- cada de 1980, como envolvendo uma mudança do antigo turismo, que pressupunha a padronização, para um novo turismo, mais segmentado e flexível. Os próprios turistas assumem uma maior cons- ciência quanto à importância da qualidade, procurando experiências de viagem mais especializadas, ao mesmo tempo que se assiste a uma crescente variedade de oferta de produtos turísticos. Deste modo, é possível identificar um conjunto de tendências que tendem a estruturar as práticas turísticas da sociedade que se perfila na viragem milénio (Buhalis, 2000; Cuvelier, 2000; Dwyer, Mistills e Scott, 2009; Moutinho, Rate e Ballantyne, 2013):

(i) Aparecimento de novos destinos;

(ii) Aumento da concorrência entre destinos; (iii) Aumento do número de viagens durante o ano;

(iv) Desenvolvimento de viagens temáticas (cultura, natureza);

(v) Prática de atividades diversificadas durante o tempo de lazer (segmentação);

(vi) Maior atenção dispensada ao cliente, que adquire uma crescente cultura e experiência de viagens;

(vii) Emergência de padrões de férias mais flexíveis; (viii) Desenvolvimento das férias de curta duração;

58

como protagonistas, e não apenas como meros espectadores, das suas experiências de viagens; (x) Impacto crescente das novas tecnologias no comportamento dos consumidores.

De acordo com a European Travel Comission (2015), as motivações dos europeus, aquando da es- colha de um destino turístico, centram-se, por ordem de importância, nos produtos sol e mar, nas visitas a familiares e amigos, na natureza, cultura e gastronomia, city breaks, wellness e spa, eventos desportivos, outros eventos e festivais. No que respeita às reservas online, estas representam 65% das viagens realizadas a nível internacional. Nos destinos maduros, o canal online apresenta uma quota de mercado de 70% das reservas.

A tese fundamental de Telfer (2009) é a de que o turismo constitui, efetivamente, um ins- trumento de desenvolvimento regional, com potencial para beneficiar não apenas as empresas multinacionais e as elites locais, mas também as comunidades, sendo para tal necessário, que se crie uma ligação económica a vários sectores da economia local. Por outro lado, entendem também os autores, que os governos dos países recetores, devem posicionar-se de modo ativo, cabendo-lhes desempenhar um papel de regulação do desenvolvimento turístico nas áreas do ambiente e do estímulo ao investimento, inclusive, nas regiões onde o setor privado do turismo se encontra consolidado. Nesta linha de pensamento, Weaver (2000) defende que uma interven- ção pública ativa, conjugada com uma maior participação da comunidade local, potencia um ce- nário de desenvolvimento turístico sustentado.

A análise dos paradigmas de desenvolvimento permite, por um lado, compreender a relação que os mesmos estabelecem com a própria evolução e natureza do turismo e, por outro lado, perceber a ligação estreita que se começa a construir, no âmbito do paradigma de desenvolvimento alter- nativo, entre o turismo e o conceito de sustentabilidade.

Apesar de Bramwell e Lane (1993) situarem as origens do conceito de desenvolvimento sus- tentado em 1973, com a publicação do livro Ecological Principles of Economic Development, o seu reconhecimento formal pode ser identificado com a publicação do Relatório Our Common Futu-

re (WCED, 1987)4, tendo a sua importância sido reforçada mais tarde no Relatório Caring for the

Earth (IUCN,1991). O conteúdo destes documentos serviu de base para a elaboração de estratégias

e definição de princípios com vista à criação de um modelo conceptual sobre o desenvolvimento sustentado. Na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento5, também co-

nhecida por Cimeira da Terra, assistiu-se a um debate intenso sobre esta temática e à chegada a um consenso quanto à necessidade de alargar o próprio conceito a outras áreas, além do ambiente.

A temática da sustentabilidade encontra-se muito presente no contexto dos estudos turísticos (Hall, 2000). Os efeitos não desejados, trazidos pelo desenvolvimento turístico no ambiente e nas sociedades, conduziram a um aumento das preocupações com a preservação dos recursos naturais e culturais e com a viabilidade económica das comunidades, a longo prazo (Choi e Sirakasa, 2006).

4 Relatório preparado pela World Comission on Environment and Development para a Assembleia Geral das Nações Unidas, que vem definir o desenvolvimento sustentado, como “(…) aquele que vai ao encontro das necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”. É de referir, no entanto, que a emergência de uma consciência ambiental pode também ser identificada na Conferência da Nações Unidas que se realizou em Estocolmo, em 1972, e na consequente publicação do estudo Limits to growth que representa uma tomada de consciência em relação aos custos ambientas do modelo de desenvolvimento dominante até então.

59

Outline

Documentos relacionados