• Nenhum resultado encontrado

63Conforme descreve Miossec (1976), numa fase inicial, o desenvolvimento é incipiente, consti-

tuindo o território um local relativamente isolado, sem infraestruturas de acesso e que não des- perta a atenção dos potenciais visitantes. Neste estádio, o desenvolvimento do turismo não se en- contra presente nas preocupações dos decisores, nem das comunidades residentes.

O surgimento de uma primeira área de resort dá origem à criação de uma perceção, por parte dos visitantes, decisores e comunidades. É nesta fase que são criadas as primeiras acessibilidades ao local e, na sequência do interesse revelado pelos turistas, tende a multiplicar-se o número de lo- cais de interesse, dando origem à criação de outras áreas de resort. Em simultâneo, os decisores in- tervêm, através da construção de infraestruturas. Nesta fase, os visitantes percecionam a existên- cia de alguns itinerários e locais no território, fruto do aumento do número de ligações no destino. Miossec (1976) identifica nas fases posteriores (3 e 4), a existência de uma organização do espa- ço turístico, em vários polos, nos quais se desenvolvem fenómenos de concorrência espacial. Nesta fase, são atingidos níveis máximos de ligação no domínio dos transportes, o que potencia o conhe- cimento dos diferentes aspetos da região por parte dos turistas. Assiste-se igualmente, ao registo de níveis de saturação dos espaços e de desintegração da região, podendo-se verificar, inclusive, o desinteresse por parte de alguns turistas. O território “vive” uma realidade de turismo global assis- tindo-se ao desenvolvimento de planos de salvaguarda do ambiente. As atitudes dos residentes face ao turismo podem traduzir-se em situações de rejeição ou de total apoio a esta atividade.

As fases identificadas pelo autor encontram-se empiricamente comprovadas, em estudos desen- volvidos em vários destinos, em fase de maturidade, no contexto geográfico do mediterrâneo. O seu modelo é muito pertinente como quadro geral de enquadramento do desenvolvimento turístico, na medida em que integra um elemento dinâmico, a noção de desenvolvimento da região no espaço e no tempo, essencial para a implementação do planeamento. No entanto, os meios e os agentes lo- cais ou não locais, para o desenvolvimento, não são claramente identificados (Pearce, 1989).

Costa (1996) constatou também num estudo desenvolvido em três regiões turísticas portuguesas, sendo uma delas o Algarve, a existência de evidências empíricas que confirmam os pressupostos do modelo de Miossec, nomeadamente no que respeita à existência de uma correlação entre o nível de desenvolvimento turístico e o envolvimento das organizações turísticas e não turísticas, no setor do turismo. O autor verifica ainda que as organizações ligadas ao planeamento e ao ambiente tendem a assumir uma maior importância em regiões caraterizadas por elevados níveis de desenvolvimento turístico, como é o caso do Algarve.

A adoção de uma perspetiva sistémica sobre o turismo constitui um contributo particularmente útil, por parte de investigadores como Getz (1986), Leiper (1979, 1990), Mill e Morrison (1985) e Pearce (1995). Neste contexto, o contributo de Leiper (1979, 1990) permite a compreensão da com- plexidade do turismo, na medida em que integra, na sua proposta de modelo sistémico, elementos humanos, geográficos e organizacionais, situação que possibilita a abordagem interdisciplinar, que se defende nesta investigação.

O contributo de partida para a teoria dos sistemas foi apresentado por Bertalanffy que, na déca- da de 1930, constatou a necessidade de integrar, além da biologia, novas disciplinas no processo de

64

compreensão dos organismos vivos. Ao fazê-lo, formulou teorias gerais de sistemas, com o objeti- vo de clarificar e organizar fenómenos demasiado difíceis de explicar, de outro modo. Introduziu também a noção de sistemas abertos e sistemas fechados. Os sistemas abertos pressupõem “flu- xos” e “trocas” de energia que muitas vezes envolvem a interação com sistemas externos.

Implícita à noção de sistema encontra-se, de igual modo, a ideia de interdependência, isto é, o reconhecimento de que a mudança numa das componentes afetará necessariamente outros com- ponentes do sistema. Analisar um fenómeno numa perspetiva sistémica é, por isso, adotar uma abordagem integrada ou holística relativamente ao problema em questão, que transcende uma disciplina em particular. Na sua essência, trata-se de uma abordagem interdisciplinar que com- plementa o conhecimento assumido no âmbito da plataforma com base no conhecimento identi- ficada por Jafari (2005, 2010).

Bertalanffy (1972:31) definiu um sistema como: “a set of elements standing in interrrelation among themselves and their environments”. Um sistema é constituído por um conjunto de ele- mentos inter-relacionados, interdependentes e interativos que, em conjunto, formam uma estru- tura funcional única. Desde a década de que 1960 têm vindo a ser desenvolvidas tentativas de aná- lise do turismo a partir de uma abordagem sistémica, com base na constatação de que o turismo se revela um fenómeno complexo, que pressupõe interdependências, trocas de energia e interações (Getz, 1986; Pearce, 1995; Weaver e Lawton, 2006, a partir de Mill e Morrisson, 1985).

Leiper (1979, 1990) defende que, a compreensão das dinâmicas do turismo, requer o conheci- mento dos cinco elementos centrais e interdependentes, que compreendem o sistema turístico global (figura 2.4):

(i) o turista – elemento humano, pessoas e viagens turísticas.

(ii) as regiões emissoras de turismo – elemento geográfico, local onde a viagem se inicia e termina. (iii) as regiões de trânsito – elemento geográfico, locais onde as atividades de viagem decorrem. (iv) as regiões recetoras – elemento geográfico, locais onde as atividades de visita decorrem. (v) a(s) indústria(s) das viagens e do turismo – elemento organizacional, conjunto de organiza- ções geridas no âmbito dos negócios turísticos, que em certa medida, trabalham em conjunto, com o objetivo de fornecer serviços, bens e equipamentos turísticos.

Figura 2.4 - O sistema turístico e o seu meio envolvente

65

Outline

Documentos relacionados