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CAPÍTULO 2: CAMINHOS PERCORRIDOS E OS PROCEDIMENTOS

2.4 Caminhando pelos campi argentinos e brasileiros

Começando pela instituição argentina, o campus da Universidade AR é disperso pela cidade fazendo com que que o acesso a cada grupo de professores demandasse uma viagem entre zonas distantes, nas quais estavam localizadas as faculdades que os abrigavam. Desse modo, o acesso aos representantes dos grupos de professores já dava indícios de características específicas da organização desses grupos. Assim, os professores da Educação estavam alocados no Departamento de Educação da Faculdade de Filosofia e Letras; os da Engenharia estavam no Departamento de Eletrônica da Faculdade de Engenharia. E em ambos os departamentos, os professores são agrupados em cátedras. Quanto aos professores da Odontologia, estavam localizados na Faculdade de Odontologia, agrupados em cátedras dessa área.

Dada essa organização, na Faculdade de Odontologia, a autorização para o acesso ao grupo de professores passava pela diretoria da faculdade. Quanto ao primeiro contato desta pesquisadora com a instituição foi preciso persistir por quase um mês contanto com o apoio

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A ausência de adesão mais ampla por parte dos docentes da Educação foi similar tanto na Argentina quanto no Brasil. No caso da Argentina, essa dificuldade veio das condições institucionais, pois não há um espaço para acessar os docentes de maneira coletiva e a busca por eles foi feita individualmente, em salas de aula e por meio de cooperação diversas conforme relatado mais adiante neste trabalho. No caso do Brasil não há uma justificativa tão evidente, permitindo supor que a baixa adesão tenha sido em função de a pesquisa ter sido no final de um semestre letivo, após um período de greve em que os docentes da educação estiveram bastante envolvidos e a demanda de participação na pesquisa estava competindo com muitas atividades pendentes do cotidiano dos docentes. Essa é uma suposição advinda do contato com os docentes que colaboraram e daqueles que justificavam a não participação devido à falta de tempo.

de uma professora do Departamento de Educação para apresentar a pesquisadora à direção e obter autorização para realizar o trabalho.

Já no Departamento de Engenharia, a primeira visita foi prontamente autorizada, sendo recebida pelo professor que ocupava o cargo de chefe. Ele autorizou a coleta de dados emitindo um comunicado oficial que foi encaminhado a todos os docentes. Além disso, colocou à disposição da pesquisadora, o espaço da secretaria do departamento e todos os funcionários para auxiliarem na difusão e coleta dos dados.

E, no departamento de Educação, depois de uma semana de contatos, obteve-se a autorização da junta departamental mediante a apresentação de um plano de trabalho. Entre a autorização e contato com o grupo de docentes, os desafios foram somando-se: onde encontrá-los? Como encontrá-los? Como organizar o tempo para conciliar as três coletas ao mesmo tempo?

Com efeito, a coleta de dados iniciou-se no Departamento de Engenharia Eletrônica. Os professores foram encontrados com certa facilidade, entre 17 e 19 horas, na portaria do departamento. Nesse horário encerrava-se o turno da tarde e os professores do noturno, que concentravam o maior número de aulas chegavam. Na portaria encontrava-se o caderno de ponto no qual os professores tinham que assinar diariamente.

O contato com os professores foi facilitado pela equipe de funcionários que informava sobre a presença deles e apresentavam a pesquisadora a eles. Isso contribuiu muito para a adesão de todos os docentes contactados.

Além da portaria, os professores foram encontrados nas salas de aulas e laboratórios, isso com a ajuda dos funcionários que encarregaram, ainda, de esclarecer a disponibilidade de horários, dar informações e cuidar das relações interpessoais no âmbito daquele departamento. Nesse departamento, os professores não contavam com uma sala exclusiva de professores para uso individual ou coletivo. Aliás, chamava a atenção a transformação dos espaços dos laboratórios em lugar de reunião e agrupamento de alguns docentes. Também era curioso obervar a grande circulação de docentes na sala do departamento ou para tomar café, ou para uma conversa com os funcionários ou com o chefe.

Observou-se, também, nesse contexto, o carisma dos funcionários técnicos administrativos no atendimento aos professores e a esta pesquisadora. A cumplicidade com a pesquisadora auxiliou-a no processo de pesquisa e contribuiu, de maneira inestimável, para o acesso às informações e à coleta de dados.

No Departamento de Educação, inicialmente, a forma mais eficaz de contatar os docentes foi segui-los até as salas de aula nas quais eles lecionariam. Assim, consultando-se o quadro de horários fixado no mural da faculdade, desvendou-se o mapa de circulação dos professores permitindo uma peregrinação pelos diversos andares e extensos corredores do edifício da Faculdade de Filosofia e Letras para contatar cada docente. Essa estratégia foi penosa e pouco eficaz, pois ora as aulas tinham mudado de sala, ora os professores não atendiam, ou ainda, não os encontrava novamente para recolher o questionário aplicado.

A superação dessa situação só foi possível com o auxílio de um professor que trabalhava em outra universidade e compartilhava trabalho com os docentes da Universidade AR. Assim, por meio de correio eletrônico, o contato com os professores foi estabelecido, dada a apresentação da pesquisadora aos futuros participantes da pesquisa.

O Departamento de Educação contava com uma sala de professores de uso coletivo de toda a faculdade, apesar de insuficiente para atender ao número de docentes. Esse espaço foi útil para pesquisa: era possível ali, acessar internet, encontrar com professores com os quais tinha feito contato via e-mail, organizar material, etc. Percebia-se uma rotina de movimentos na sala, que ficava cheia de professores perto do horário de início das aulas. Normalmente, era o momento de reuniões rápidas das equipes que compunham as cátedras. Passando para a Odontologia, houve uma peculiaridade. A coleta de dados foi intermediada pela direção da faculdade que dirigiu um comunicado a todos os professores titulares de cada uma das cátedras solicitando a participação na pesquisa e com a solicitação, foram encaminhados os questionários.

Por outro lado, o acesso aos professores foi mais restrito e dependente dessa mediação, pois a disposição das cátedras é conformada pelo espaço físico e contam com um aparato organizacional bastante burocrático. O acesso aos professores só ocorreu ao fazer as entrevistas, mesmo assim, com o apoio da diretoria da faculdade que foi mediando o contato com cada professor.

Afinal, na quinta semana de campo, teve início a coleta de dados nas três faculdades ao mesmo tempo, numa rotina de manhã, tarde e noite, cada tempo em uma faculdade, situação essa que já vinha ocorrendo desde a busca pela autorização.

A propósito, eis algumas anotações registradas no diário de campo, relatando as impressões sobre os espaços e contatos:

Na Odontologia a organização dos docentes em cátedras é mais evidente que nas demais faculdades. Elas são identificadas pelas matérias e tem um forte componente físico-arquitetônico que faz com que elas sejam muito delimitadas.

O edifício da faculdade de Odontologia é antigo e tem uma arquitetura robusta, sendo que por dentro divide-se em duas partes lado A e lado B e cerca de 08 andares. Cada lado, a partir do terceiro andar é composto por uma cátedra e esses lados normalmente ficam interligados pelos espaços clínicos, que constituem o hospital odontológico e são as salas de aulas das práticas clínicas.

Os espaços físicos das cátedras são fechados e o acesso só ocorre com autorização, tendo um funcionário que atende e encaminha até o professor Titular.

Dentro das cátedras encontramos variadas organizações dos espaços: salas coletivas ou salas individuais para professores (adjuntos, associados e titulares), sendo que em todas que fui, havia uma sala individual exclusiva para o Titular. Há uma sala de aula expositiva, algumas compostas por tablados e quadro negro com peças que movimentam, há espaços administrativos onde normalmente fica a secretária, há as clínicas ou laboratórios e também uma copa.

As salas dos professores parecem obedecer a uma hierarquia de acessos, sendo que a do catedrático quase sempre está aos fundos, no final do corredor, o último acesso.

Nesses espaços há uma combinação incrível de velho e novo: arquitetura, mobiliário, aparatos tecnológicos e pessoas.

O departamento de Eletrônica fica dentro da Escola de Engenharia e podemos correspondê-lo ao espaço de uma cátedra na odontologia. A diferença é que o acesso ao mesmo é aberto. Somente os laboratórios é que ficam fechados, mas não há laboratórios para todas as equipes de docentes. No caso do departamento de Educação, não há uma delimitação de espaço facilmente identificada como da Educação, há uma dispersão, com exceção da secretaria e do Instituto de Investigação em Educação. Cada um fica em um andar distinto, e a secretaria do departamento fica ao lado de todas as demais secretarias dos departamentos que compõem a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas e o Instituto de Pesquisa fica no quarto andar.

No instituto há uma secretaria e alguns gabinetes reservados para alguns professores.

Como se vê, nesses espaços ocorrem as interações dos professores e o trabalho cotidiano, demonstrando forte influência do ambiente físico na composição da identificação dos docentes e da cultura institucional.

2.4.1 Coleta de dados no Brasil

A Universidade BR tem suas unidades concentradas em três campi, um localizado em outra cidade do interior do Estado no qual está situada. Também possui algumas faculdades isoladas na Região Central da cidade sede.

O acesso ao grupo de professores das três áreas escolhidas ocorreu em um mesmo campus no qual havia maior número de unidades acadêmicas da universidade, entre elas, a Faculdade de Odontologia, a Faculdade de Educação e a Escola de Engenharia na qual está situado o Departamento de Eletrônica.

A estrutura organizacional das três unidades é departamental. O acesso aos professores e a autorização para desenvolver a pesquisa passaram pelas diretorias das respectivas faculdades e departamentos.

Tanto no Departamento de Engenharia, quanto na Faculdade de Educação e de Odontologia, o contato com os professores foi predominantemente individual. Na Odontologia, contou-se com apoio do colegiado, e no Departamento de Engenharia, como a colaboração de um professor facilitando os contatos e recebendo os questionários que seriam aplicados.

A coleta de dados iniciou-se na Faculdade de Odontologia com os professores que dispunham de tempo nos horários das aulas clínicas, pela manhã e à tarde, principalmente entre segunda a quinta-feira. O contato com os professores foi facilitado pelo mapeamento e identificação dos seus horários junto com a equipe do colegiado.

No Departamento de Eletrônica, foi possível encontrar os docentes em seus gabinetes, nos horários que antecediam as aulas do período da tarde e da noite.

Na Faculdade de Educação os docentes foram procurados em seus gabinetes em diversos horários e também nas salas de aulas no período da tarde. Além disso, foram feitos contatos eletrônicos tendo obtidos os endereços por meio da faculdade.

Em termos de espaços físicos, os três grupos de professores gozavam de condições semelhantes, pois situavam-se em edifícios recentemente construídos ou reformados, que ofereciam boa infraestrutura para o trabalho. Somente na Odontologia havia maior número de professores que dividem seus gabinetes com outros colegas.

Em resumo, os três grupos de professores proporcionaram coleta de dados com condições variadas. Assim sendo, procurou-se adequar tempos e flexibilizar os meios para alcançar o máximo de êxito nesse processo, atentando-se nos instrumentos principais – questionários e entrevistas –, observando os espaços, as interações e, ainda, a leitura de documentos diversos que possibilitassem contextualizar a docência, tais como: estatutos, legislações, planos de trabalhos entre outros.