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Percursos formativos e o tempo de docência dos professores da Universidade BR e da

Parte II Da condição ampla da profissão de professor

CAPÍTULO 05: DOCÊNCIA E SUAS CONFIGURAÇÕES NAS UNIVERSIDADES

5.2 Percursos formativos e o tempo de docência dos professores da Universidade BR e da

Para o estudo do percurso profissional dos docentes pesquisados, partiu-se de dados relativos à trajetória de formação e inserção profissional na docência. Nesse sentido, considerou-se importante saber: a formação acadêmica de cada professor; formação específica para o exercício docente, caso possuísse; e o tempo de inserção na docência do ensino superior.

Referente à formação acadêmica dos professores das duas universidades pesquisadas que indicaram sua formação, verificou-se uma discrepância entre os níveis de formação dos docentes da Universidade BR e da Universidade AR. Os professores da Universidade BR possuiam níveis de formação mais elevados que os professores argentinos, ou seja, quase 100% da população com doutorado. Eis os dados na tabela seguinte:

TABELA 14:Formação dos docentes no Brasil e na Argentina

Graduação N. % N. % N. % N. % N. % N. % Uma 11 44% 14 82% 81 91% 27 100% 226 91% 57 100% Duas ou mais 14 56% 3 18% 2 2% 0 0% 18 7% 0 0% Nenhuma 0 0% 0 0% 6 7% 0 0% 5 2% 0 0% Totau 25 100% 17 100% 89 100% 27 100% 249 100% 57 100% Especiauização N. % N. % N. % N. % N. % N. % Uma 14 67% 3 38% 11 14% 3 100% 107 64% 28 64% Duas ou mais 0 0% 5 63% 10 12% 0 0% 26 16% 15 34% Nenhuma 7 33% 0 0% 56 73% 0 0% 34 20% 1 2% Total 21 100% 8 100% 77 99% 3 100% 167 100% 44 100% Mestrado N. % N. % N. % N. % N. % N. % Um 12 57% 17 100% 12 16% 27 100% 13 17% 50 98% Dois ou mais 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 1 2% Nenhuma 9 43% 0 0% 61 84% 0 0% 63 83% 0 0% Totau 21 100% 17 100% 73 100% 27 100% 76 100% 51 100% Doutorado N. % N. % N. % N. % N. % N. % Um 10 56% 17 100% 12 17% 27 100% 42 44% 47 98% Dois ou mais 0 0% 0 0% 1 1% 0 0% 0 0% 0 0% Nenhum 8 44% 0 0% 59 82% 0 0% 53 56% 1 2% Totau 18 100% 17 100% 72 100% 27 100% 95 100% 48 1 Pós-doutorado N. % N. % N. % N. % N. % N. % Um 1 8% 5 63% 4 6% 7 100% 3 5% 4 36% Dois ou mais 0 0% 2 25% 0 0% 0 0% 1 2% 0 0% Nenhum 12 92% 1 13% 68 94% 0 0% 61 94% 7 64% Totau 13 100% 8 100% 72 100% 7 100% 65 101% 11 100%

AR - Docentes Educação BR - Docentes Educação AR - Docentes Engenharia BR - Docentes Engenharia AR - Docentes Odontouogia BR - Docentes Odontouogia

Na Universidade AR, nos cursos de Engenharia e Odontologia havia professores que ainda não haviam concluído a graduação. Trata-se de alunos que assumem o cargo de Auxiliar como Ajudante de segunda. Para além dessas características, na Universidade BR constatou- se maior número de pós graduação lato sensu que em Mestrado e Doutorado.

A desigualdade existente na formação entre docentes da Universidade BR e da Universidade AR pode ser explicada pela distinção histórica da política de desenvolvimento da pós graduação nos dois países. No Brasil, a pós-graduação teve impulso com a Reforma da década de 1960, contando com estabelecimento de agências reguladoras e com a implantação de programas de pós-graduação nas universidades públicas que levou adiante o seu processo de ampliação e consolidação, fomentando a formação dos docentes. Na Argentina não ocorreu um desenvolvimento da pós-graduação nesses moldes. Essa diferença entre os dois países quanto à composição de cursos de pós graduação se evidencia mediante os seguintes dados: no Brasil em 2007 havia 2.062 mestrados e 1.177 de doutorados credenciados e na Argentina, apenas 196 cursos de mestrado e 105 de doutorado. (GAZZOLA, 2011, P.19)

Por outro lado, a oferta dos cursos de pós-graduação – mestrado e doutorado – no Brasil é gratuito nas universidades públicas, contando, ainda, com políticas de incentivo à formação, com concessão de bolsas, além da exigência, para ingresso e progressão na carreira do magistério superior, da pós graduação. Tudo isso, acredita-se, pode explicar essas diferenças nos dois países.

Vale reforçar que na Argentina, os cursos de mestrado e doutorado são pagos e a formação não tem impacto direto na progressão na carreira como no Brasil.

Mas, além da formação acadêmica regular, outro dado importante refere-se à realização pelos professores de algum curso específico para exercer a docência. Prevaleceu, nos dois países, a formação específica entre os docentes da área de Educação, que são licenciados em ensino ou possuem magistério, em termos percentuais, 70%. Essa tendência é esperada porque a formação na área da Educação tem o ensino como uma das opções, embora os docentes possam ser de outras áreas ou provenientes do bacharelado.

Contudo, 53% dos docentes da Universidade AR da Odontologia declararam possuir formação específica para a docência, como mostra o gráfico a seguir:

GRÁFICO 9: Formação específica para a docência Fonte: Dados de pesquisa

Comparando os tipos de formação indicados pelos docentes, pode-se entender esse dado da Odontologia da Universidade AR. Na verdade, os professores referiam-se a uma formação denominada Carrera Docente. Trata-se de uma iniciativa institucional de formação de professores, que é incorporada pela Faculdade de Odontologia da Universidade AR, como uma exigência para os concursos de progressão na carreira. Assim, os docentes realizavam esse curso que era equivalente a uma especialização e com duração de três anos. Ele é ofertado pela equipe pedagógica da faculdade,oferecendo uma titulação com valor legitimado pela Universidade AR e reforçado pela faculdade de Odontologia. Esta atribui peso à apresentação do certificado nos concursos para professores.

Além dessa especificidade, os docentes argentinos apontaram, como formação, cursos de aperfeiçoamentos diversos, oferecidos pela instituição e ainda, formação em licenciatura e magistério50.

50

No caso da universidade estudada, há um espaço de formação docente institucionalizado no âmbito da Pró- Reitoria de graduação, responsável por oferecer cursos, assessorias e apoio didático pedagógicos para os docentes de todos os cursos da universidade. Entre os professores da Odontologia estudados, há grande adesão aos cursos e iniciativas de formação tanto da universidade quanto as desenvolvidas pelo próprio colegiado do curso de Odontologia.

Quanto aos professores brasileiros da Odontologia da Universidade BR possuíam possuir formação por meio de Mestrado e Especialização voltada para o ensino, realizaram cursos de aperfeiçoamento oferecidos pela instituição, disciplinas isoladas da Faculdade de Educação e alguns possuíam formação em magistério do Ensino Médio.

No caso dos docentes de Engenharia da Universidade AR, houve predominância de cursos de aperfeiçoamento da instituição, de especialização e formação em licenciatura. Entre os docentes da Universidade BR, prevaleceram os cursos de aperfeiçoamento e disciplinas isoladas.

Com referência à formação para docência, verificou-se em ambas as universidades, tendência à formação na Odontologia. Mas o processo de institucionalização na Universidade AR teve forte repercussão sobre a formação dos docentes. Já a Educação tem uma especificidade: geralmente os docentes são oriundos da própria área e a docência constitui uma das opções da formação profissional inicial.

Voltando à Odontologia, seu perfil diferenciado demonstra certa sensibilidade para os saberes pedagógicos na constituição da docência que vão além das iniciativas individuais. Essa situação leva a inferir a possibilidade de se tratar da cultura dessa área.

Possivelmente, alguns aspectos da formação dos professores também incidem sobre o início da inserção dele na docência, no âmbito das instituições estudadas. Essa inferêcia se deve à constatação de diferença entre as duas universidades estudadas, quanto ao tempo na docência. O gráfico a seguir visualiza esses dados.

GRÁFICO 10: Tempo de docência dos professores da Universidade BR na educação superior

Fonte: Dados de pesquisa

GRÁFICO 11: Tempo de docência dos professores da Universidade AR na educação superior

Fonte: Dados de pesquisa

Como mostram os gráficos, os docentes da Universidade BR, nos três cursos estudados, tendem a ter mais de 15 anos de experiência como docentes na educação superior. No entanto, observando o tempo de docência na instituição atual, os grupos de docente nos três

cursos, verificou-se que a maior parte tinha menos de 15 anos de inserção no ensino, correspondendo a 69% na Educação e Odontologia e 55% na Engenharia.

Entre os docentes da Universidade AR, não se verifica essa diferença entre tempo de docência na educação superior e tempo de docência na instituição, sendo que nas duas variáveis a maior parte dos docentes tinha até 15 anos como docentes, ou seja, o tempo de docência deles corresponde ao tempo de docência na instituição em que atuavam.

GRÁFICO 12: Tempo de docência na instituição atual – Universidade BR Fonte: Dados de pesquisa

GRÁFICO 13: Tempo de docência na instituição atual – Universidade AR Fonte: Dados de pesquisa

A comparação do tempo de docência nas universidades aliada à faixa etária dos docentes e às características da formação, conforme tratado anteriormente, evidencia que o ingresso como docente na Universidade AR e na Universidade BR foi diferente e repercutiu na configuração da docência. Os docentes da Universidade BR tendem a ingressar na universidade mais tardiamente, com mais acúmulo de experiência docente em outras instituições e com mais titulação em relação aos da Universidade AR. Por outro lado, os docentes da Universidade AR tendem a acumular a experiência docente na própria instituição.

Portanto, a configuração dos docentes entre as universidades é distinta em relação ao ingresso e à trajetória de formação na docência.

5.3 As situações funcionais e as condições de trabalho dos docentes das Universidades