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Comercialização do Petróleo

No documento O poder normativo com ênfase na ANP (páginas 136-138)

Bem antes da criação da ANP, entre o ano de 1853 até 1953, as áreas sedimentares brasileiras eram abertas à iniciativa privada, sendo as duas primeiras concessões outorgadas pelo Imperador Dom Pedro II em 1858, para exploração de carvão, turfa, betume,

em Ilhéus, Bahia, no Rio Mauá, onde foram encontrados alguns escoamentos de óleo.304

Em 1859, novos escoamentos de óleo apareceram na construção de uma estrada de ferro no Recôncavo Baiano, e então Thomas Dennys Sargent requereu e recebeu concessão do Imperador para pesquisa e lavra de turfa e petróleo. Em 1867 foram concedidos direitos de exploração de betume nas bacias de São Luís e Barreirinhas. Entre 1872 e 1874 várias concessões foram feitas no interior de São Paulo, seguiram-se outras concessões em 1888, 1889 e 1892, sendo no último ano o marco mais importante, devido a perfuração de um poço

que atingiu 488 metros na Bacia do Paraná, em Bofete, SP.305

Em 1907, foi criado o Serviço Geológico Mineralógico Brasileiro (SGMB), que resultou no grande aumento de perfurações de poços de maneira mais técnica. Em 1933, foi criado o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), mas ainda havia carência de recursos e ausência de um órgão responsável pelo setor de petróleo, que motivaram a criação do Conselho Nacional de Petróleo (CNP), em 1939, para avaliar os pedidos de pesquisa e lavra de petróleo. E o mesmo decreto que instituiu o CNP também declarou a utilidade pública do petróleo e regulou as atividade de importação, exportação, transporte, distribuição

e comércio de petróleo, bem como o funcionamento da indústria de refino.306

Em 1941, começou a expansão dos trabalhos do CNP sobre os outros estados brasileiros, e em 1953, houve a criação da Petrobrás monopolizando a atividade com o objetivo de suprir o mercado interno de petróleo, cuja fase de exploração unicamente terrestre se deu entre 1954 e 1968. A partir de 1969, inicia-se a exploração por mar em áreas rasas até 1984, pois entre 1985 e 1997, ocorrem explorações em águas profundas, quando então a ANP

é quem passa a atuar no controle do setor. 307

304 Disponível em : http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAEhgAF/historia-petroleo-no-brasil, acesso em 16 de abril de 2013

305 Idem 306 Idem 307 Idem

Mas, para explicar o surgimento da ANP é necessário contextualizá-la no momento histórico da época, bem como explicar o crescimento do interesse pelo petróleo no contexto mundial e nacional.

Neste tocante se observa que historicamente o petróleo iniciou seu ciclo comercial

no ano de 1849 nos Estados Unidos308, cujo intuito único era remediar enfermos portadores de

reumatismo. Em 1849, o líquido foi intitulado como “kier rock oil” por conta de Samuel Kier o ter comercializado como óleo medicinal a custo de um dólar por garrafa. Posteriormente, o petróleo foi utilizado como óleo de iluminação, e apenas em 1854 fundou-se a primeira companhia petrolífera dos Estados Unidos, a Pennsylvania Rock Oil Company of New York, com o objetivo de pesquisa e produção de recursos minerais e sal, ocorre que as dificuldades eram muitas em razão das paredes das salinas gerarem desmoronamentos constantes. Assim, em 1859, o Coronel Draker, um dos sócios da empresa, resolveu revestir as paredes internas com tubos de ferro, iniciando a era do petróleo como combustível e o seu desenvolvimento

tecnológico com a indústria do refino. 309

Paralelamente a isto, no Brasil nem se cogitava a possibilidade de buscar petróleo, eis o até então desconhecimento da tamanha fonte de riqueza que este fóssil líquido era capaz de gerar.

Nos EUA, nasceu a medida padrão do barril de petróleo a partir de barris armazenadores de uísques, os quais se encontravam disponíveis como reservatórios, cuja capacidade de 159 litros é até hoje utilizada comercialmente.

Em 1863, houve uma grande expansão dos estabelecimentos de refino. Vários países começaram a produzir petróleo na América, Europa e Oriente Médio, mas o Brasil ainda se encontrava inerte na sua exploração petrolífera.

Apenas entre os anos de 1892 e 1896 se tem registros de que ocorreu a primeira perfuração com fitos petrolíferos no Brasil, no município de Bofete, no estado de São Paulo, por Eugênio Ferreira de Camargo, com uma profundidade exploratória de 488 metros,

conforme relatado acima, contudo não obtiveram nada mais do que água sulfurosa.310

Ao perceber os rumos de sua comercialização, o poder constituinte foi amoldando os interesses estatais sobre os produtos extraídos do solo, conforme posterior análise da retrospectiva constitucional.

308 O petróleo sem cunhos comerciais já havia sido utilizado no antigo Egito para o embalsamento de mortos e também na construção das pirâmides.

309 MENEZELLO, Maria D’Assunção Costa. Comentários à Lei do Petróleo. 2ed., Editora Atlas: São Paulo, 2009, p. 1-25

Mais tarde foi inaugurado o seu transporte por dutos completando a integração industrial do petróleo, com todas as atividades de exploração, produção, refino, transporte e

distribuição, a cadeia ‘do poço ao posto’, incluindo o upstream, midlestream e downstream311,

se completava.

O desenvolvimento da indústria do petróleo se deu devido ao emprego deste e de seus derivados nas diversas áreas da indústria e nos motores de combustão, gerando uma dependência econômica e social no século XIX, cujos reflexos são claramente percebidos no século XX. Em meio a guerras viu-se o petróleo e seus derivados atrelados às questões estratégicas e políticas dos países.

Os movimentos nacionalistas cresciam, pois os países hospedeiros percebiam que as rendas advindas desta riqueza proporcionavam benefícios à população. Em 1960, foi criada a OPEP(Organização dos Países Exportadores de Petróleo) em Bagdá formando um cartel de exportadores de petróleo, o que mudou para sempre as relações de força entre hospedeiros e compradores. Hoje a dignidade da pessoa humana se vê associada ao acesso ao Direito de

Energia.312

No documento O poder normativo com ênfase na ANP (páginas 136-138)