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Estes conceitos estão relacionados mais diretamente – mas não exclusivamente – às competências e habilidades do eixo da Investigação e Compreensão, descritas na página 135 dos PCNEM. Aquelas competências implicam:

1. Analisar e interpretar no contexto de interlocução. 2. Reconhecer recursos expressivos das linguagens.

de tradição e de ruptura.

4. Emitir juízo crítico sobre essas manifestações.

5. Identificar-se como usuário e interlocutor de linguagens que estruturam uma identidade cultural própria.

6. Analisar metalingüisticamente as diversas linguagens.

Neste eixo, procura-se propiciar condições para que o aluno encare o conhecimento como instrumento para entender e analisar a realidade cotidiana e refletir sobre ela.

Essa competência geral pode garantir a criação de interfaces válidas entre o conhecimento acadêmico e o social, aquelas que utilizamos para analisar situações cotidianas e resolver problemas de diversas ordens.

1. Análise e síntese

As linguagens não são apenas veículo de expressão e comunicação. Têm uma natureza física que lhes garante a opacidade – que permite percebê-las como objeto de estudo em si mesmas. Quando se discute essa opacidade entramos no terreno da natureza e da constituição dessas linguagens, o terreno da metalinguagem.

Os trabalhos escolares voltados para a mera análise gramatical, morfológica ou sintática não garantem a compreensão dos mecanismos das linguagens. O que se espera hoje é que o professor desenvolva a análise do discurso, valendo-se dos conhecimentos e das ferramentas que a gramática normativa, a lingüística e a semiótica tornaram disponíveis.

As competências para analisar e sintetizar podem-se construir a partir desse trabalho com as linguagens. Extrapolando a gramática internalizada que o aluno já detém, sistematizando algumas das infinitas situações discursivas e seus contextos, pode-se estabelecer comparações entre semelhanças e diferenças estruturais das diversas linguagens, analisar a disponibilidade e a adequação contextual de uma ou de outra, assim como avaliar a realização ou não da intenção do interlocutor.

Impossível não trazer para a escola a linguagem da televisão como objeto de estudo, assim como as linguagens que usam o computador como suporte. A compreensão dos processos empregados na mídia e na internet é uma competência exigida para a preparação do cidadão crítico da atualidade. Trabalhos de “tradução” intersemiótica (poema para quadro; quadro para poema; texto narrativo para filme....) podem auxiliar na aquisição e no desenvolvimento dessa competência analítica.

Quanto à síntese, critica-se, por exemplo, desmedidamente a “incapacidade” discente de produzir resumos, como se essa competência fosse automaticamente adquirida com o simples uso da língua. A competência de sintetizar, tão solicitada na escola (e na vida), não tem sido desenvolvida de forma sistemática e científica na escola, onde com freqüência se pede ao aluno para produzir um tipo de texto que deve ser objeto de estudo sistemático.

2, 3 e 4. Correlação, identidade e integração

Estes conceitos representam passos menores na construção da capacidade de analisar, interpretar e sintetizar.

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Ao estabelecer a correlação entre as diferentes linguagens em curso no universo cultural, ao identificar a especificidade de cada uma e ao utilizar as linguagens de forma integrada, visando atingir objetivos claros, o aluno estará dando pequenos passos para a construção das competências assinaladas anteriormente (no tópico Análise e síntese, página 46). Tais conceitos também o ajudarão a avançar no reconhecimento, na compreensão e na utilização – nos contextos de interlocução – dos recursos expressivos das linguagens.

5. Classificação

Grosso modo, este conceito abrange desde a simples arrumação de elementos de um conjunto até a determinação de classes ou categorias em que se divide e subdivide um conjunto. Uma classe é um conjunto formado por um número indeterminado de seres, objetos ou fatos, todos dotados de certas características comuns.

Com freqüência, a escola propõe atividades exaustivas de classificação morfológica e sintática das palavras da língua. Atividades geralmente estanques, obedecendo estritamente aos parâmetros de formação e arranjos sintáticos convencionais, engessados naquilo que a gramática normativa prevê ou prescreve. Com isso consegue-se que o estudante decore as classes de palavras e até seja capaz de identificá-las e incluí-las em classes aparentemente distintas, isoladamente ou em contextos previsíveis. No entanto, basta que um desses contextos transgrida a previsão da gramática normativa para que o aluno se perca e não encontre a solução para o problema proposto: classificar. A atividade torna-se gratuita, sem resposta e, pior, sem sentido para ele. Circunscrito à categoria de dados ou fatos, o conteúdo é pouco relevante, a menos que adquira significado na rede conceitual da disciplina.

A contextualização da língua e das demais linguagens em textos de uso e ocorrência efetiva no dia-a-dia certamente constitui-se no ponto de partida para que os dados adquiram significado. Relacionados a conceitos estruturantes da área, os dados adquirem função no levantamento de problemas e na construção de soluções que podem extrapolar aquelas previstas na gramática normativa de cada uma das linguagens. Analisar um chute a gol, fora do contexto de uma partida, é tão inócuo quanto classificar, fora de contexto, a palavra bonito – que tanto pode ser adjetivo, como substantivo e, por que não?, interjeição!

Os nomes de cada categoria também têm de ser compreendidos pelo aluno, para que não se tornem material a ser decorado. Apenas estudos gramaticais que não se percam em listas, tabelas, mas que partam de situações efetivas do uso da língua podem conferir utilidade a essas classificações.

6. Informação e redundância

Estes conceitos são importantes para que o aluno consiga analisar as diferentes linguagens que utiliza e compreenda a linguagem do outro.

• a rigor, informação é o dado novo que se acrescenta ao repertório do aluno apenas se nele fizer sentido. Isso vale para qualquer tipo de informação, veiculado por qualquer linguagem;

• redundância é a informação contextualmente excessiva, repetida, que representa desperdício de sinais ou de signos. É necessário estar atento ao uso intencional de doses controladas de redundância, quando isso se faz necessário (como no uso oral da língua) para que a interlocução se estabeleça.

O aluno detentor desses conceitos, capaz de identificá-los e de aplicá-los em atos efetivos de comunicação, certamente estará aparelhado para apreender os subentendidos, as entrelinhas e as intenções não-explícitas do falante que com ele entra em situação dialógica. Mais que isso, saberá identificar e utilizar o novo (a rigor, a informação), o elemento surpresa, e opinar sobre sua eficácia em situações determinadas.

A leitura supostamente corriqueira de um cartum pode revelar-se mais complexa do que aparenta, quando o leitor não souber identificar traços de economia do desenho, por exemplo. A própria compreensão dos estilos de época, no campo da cultura visual e da literatura, pode reduzir-se a simples decoreba, caso esses conceitos não sejam solidamente construídos.

Convém lembrar que uma das competências previstas para a área é “identificar manifestações culturais no eixo temporal, reconhecendo os momentos de tradição e os de ruptura”. Diante disso, quais informações novas, em determinado contexto cultural, desencadeiam a ruptura? Que índices de redundância transformaram, por exemplo, o Barroco em Barroquismo? Que nível de redundância a mídia incorpora em seus produtos a fim de garantir o consumo planejado pela economia? Que nível de informação a indústria do entretenimento suporta sem colocar em risco grandes capitais? Que níveis de redundância transformam a moda das elites em produto assimilável pelas camadas ditas populares?

A análise dessas questões pode depender do domínio desses conceitos. O trabalho estruturado em torno deles poderá enriquecer a formulação de juízos críticos sobre as diversas manifestações da própria cultura consumida pelos alunos.

Extrapolando a área, pode-se comparar textos saturados por redundância com situações semelhantes àquelas observadas em muitos fenômenos codificados pela Física, pela Química ou pela Biologia.

7. Hipertexto

Trata-se de um conceito antigo, com nome novo, adequado à linguagem da informática.

A organização de uma biblioteca tradicional pode fornecer base para um primeiro exemplo de hipertexto, já que se orienta por uma ordenação articulada de blocos, permitindo associações diversas, decorrentes do interesse do leitor. Portanto, comparar as técnicas de busca no texto impresso em livros (índice, índice remissivo, índice onomástico, sumário...) com as possibilidades do hipertexto pode ser um exercício eficaz na formação do conceito.

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• entenda que esse tipo de arranjo fornece caminhos e atalhos diversos – por exemplo, para a construção de uma pesquisa, pois não depende mais do encadeamento linear e único, mas de seqüências com infinitas associações (os links);

• adquira e acione mecanismos que impeçam sua dispersão ao pesquisar na mídia eletrônica – e, muito além disso, saiba selecionar, no hipertexto, as informações pertinentes ao problema que procura resolver. O trânsito de um texto para uma imagem associada a ele, por exemplo, se dá em segundos quando se conta com CD-ROM ou com acesso à internet.

O conceito de hipertexto e o exercício freqüente com o mesmo – incluindo-se comparações com o texto verbal e com o visual – permitem, ainda, ao aluno construir ou atualizar uma das competências da área, que se refere a “aplicar tecnologias da informação em situações relevantes”.

8. Metalinguagem

É a propriedade que a língua tem de voltar-se para si mesma, não designando “coisas”, mas a si própria. Dicionários e gramáticas são textos metalingüísticos por excelência.

Atualmente o conceito abrange todas as linguagens: uma música que trate do fazer musical será metalingüística; assim como um filme que trate de cinema ou uma obra de pintura cujo tema seja o ofício de pintar. Também nos quadrinhos e na publicidade ocorre metalinguagem.

Aplica-se com muita freqüência o conceito em todas as disciplinas: a metalinguagem constitui-se instrumento de descrição e análise dos diversos códigos utilizados na cultura.

Na contemporaneidade, o uso bastante expressivo da metalinguagem é um índice de que a arte, por exemplo, volta-se para ela mesma, analisando, interpretando e questionando processos e história.