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Do ponto de vista da estrutura lingüística, um importante aspecto relativo a conteúdos estruturadores diz respeito à análise das chamadas palavras-ferramenta: verbos (tempos e formas verbais); substantivos; conjunções (linkers).

Esses são os três pilares (ou conteúdos estruturadores) que constituem o significado do texto propriamente dito.

Verbos

O ideal é que a análise lingüística (um dos eixos metodológicos que propomos para nortear a seleção de conteúdos) parta da estrutura verbal:

• tempos escolhidos para expressar determinadas idéias;

• formas verbais (afirmativa, interrogativa, negativa, interrogativa–negativa; voz passiva ou ativa; discurso direto ou indireto);

• uso de verbos auxiliares e anômalos.

Todos esses elementos comporão a estrutura textual, permitindo aprofundar a compreensão dos alunos sobre as características comunicativas do texto:

• intenção explícita ou subjacente do autor; • localização temporal e espacial;

• análise e interpretação do texto pelo que está e pelo que não está explícito; • foco narrativo, entre outros aspectos.

Em Inglês, por exemplo, a escolha do simple present em vez do present continuous determina a natureza do que se deseja expressar no eixo temporal (o que ocorre em contraste com o que está ocorrendo ou, ainda, a repetição em contraste com o momento presente).

Do mesmo modo, no Francês, o uso do passé simple ou do passé composé é escolhido conforme intenções comunicativas específicas. O uso do passé composé (j’ai etudié) é mais freqüente e ocorre na língua falada, em emprego mais informal. O passé simple (j’étudiai) é de uso formal e mais encontrado em textos literários.

No Espanhol, o uso do pretérito perfecto compuesto (he estudiado) refere-se sempre a ocorrência da ação em passado recente, tenha essa ação se encerrado ou não; esse tempo contrasta com o pretérito indefinido (estudié), que se refere sempre a uma ação realizada no passado e já encerrada.

A análise estrutural por associação ou antagonismo levará o aluno a reorganizar seu aprendizado quanto a tempos verbais, ao confrontar usos verbais em sua língua materna e outros usos peculiares de outros idiomas. Trata-se de – pela leitura e pela aplicação em atividades variadas – reestruturar de modo lógico e formal a organização do paradigma de pensamento, segundo ações que se sucedem e inter-relacionam no eixo temporal.

Assim torna-se mais fácil para o aluno perceber, por exemplo, as diferentes situações de uso do present continuous, do simple present e do present perfect em diferentes contextos, com base nas quais se fará a organização normativa, do que se o professor operar em sentido inverso e puramente metalingüístico.

Para se apropriar do conhecimento, o aluno deve desenvolver atividades que permitam o uso apropriado dos diversos tempos e formas verbais em contextos e situações de interlocução efetivas, ainda que simuladas para efeito didático. Trabalhos em dupla e em grupos reforçam o aprendizado: o erro é analisado pelo grupo e a correção se torna uma tarefa compartilhada, supervisionada pelo professor.

O contato repetido do aluno com textos de variados gêneros, que abarquem múltiplos temas e situações (de natureza semelhante ou não), estimula-o a mobilizar suas competências de análise, comparação, associação, identificação, reconhecimento e seleção.

Língua Estrangeira Moderna

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A repetição variada de experiências de análise e interpretação das estruturas verbais permite que o estudante se aproprie dos conhecimentos necessários – que, organizados e reorganizados pelos processos de fixação, conservação, evocação, poderão ser aplicados a novas situações.

As novas metodologias de ensino e aprendizagem de língua estrangeira têm criticado justificadamente treinos mecânicos e repetitivos para simples estocagem de informação. Não se deve, todavia, diminuir a importância da memorização que se baseia em processos analíticos, significativos e contextualizados de aquisição do conhecimento, nem as atividades reforçadoras do aprendizado.

Textos de diferentes naturezas permitirão também que o aluno exercite os diversos tipos de memória: visual, auditiva, motora, afetiva, locativa, nominativa. Isso ocorrerá de acordo com a freqüência com que certos aspectos cognitivos são desenvolvidos, o grau de interesse despertado, fatores emotivos implícitos. Tais recursos cognitivos permitirão a construção de significados ao longo do processo. Segundo Mèlich, “o ser humano só pode falar do absoluto a partir do relativo; do infinito, a partir do finito. Somos contextualizados”.

Substantivos

Outra importante classe de palavras-ferramenta, os substantivos constituem apoio fundamental na decodificação do texto, por sua associação com adjetivos e outros determinantes textuais.

A partir dos substantivos, o aluno estruturará semanticamente o texto, extraindo palavras-chave e associando-as por semelhança ou oposição a substantivos da língua materna.

Do mesmo modo, é preciso que o aluno se familiarize com os processos de derivação por prefixação e sufixação (word formation), o que facilita a compreensão por meio da exploração de cognatos ou das chamadas “palavras transparentes”, isto é, aquelas de origem grega ou latina, que se assemelham ao Português.

Também a exploração dos falsos cognatos constitui-se numa etapa importante no estabelecimento de diferenças lexicais entre os códigos lingüísticos.

Conjunções

O terceiro conteúdo estruturador do ensino e do aprendizado da estrutura lingüística é constituído pelas conjunções, outra classe de palavras-ferramenta de que o estudante deve fazer uso de modo a articular com propriedade semântica as orações de um período. A qualidade do discurso oral e escrito depende do uso apropriado de conjunções. Na leitura, seu conteúdo semântico faz delas importantes auxiliares na detecção das intenções contidas nos enunciados.

Numa primeira instância, o trabalho deve voltar-se para o reconhecimento dos conectivos nos contextos em que são utilizados nos textos em análise. A seguir, o professor deve propiciar condições para que diferentes conjunções sejam usadas num mesmo período, de modo a evidenciar as possíveis diferenças semânticas.

Textos de jornais e revistas, bem como textos publicitários fornecem excelente material para o trabalho com linkers.

A simples memorização de listas de conjunções coordenativas e subordinativas não terá valor se não estiver associada às relações que estabelecem entre as orações, por exemplo, de natureza cumulativa, aditiva, alternativa, adversativa, conclusiva, explicativa, concessiva, proporcional, comparativa, temporal etc.