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Conceitos estruturantes e competências gerais

1. Linguagem verbal, não-verbal e digital

A aquisição paulatina do conceito amplo (linguagem) e do mais específico (língua) passa pela compreensão da diversidade textual e da própria ampliação de sua

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abrangência, de modo a abrigar também as manifestações não-verbais, articuladas num todo passível de gerar significados. Por exemplo, o estudo de um outdoor pode levar à identificação das diferentes linguagens em torno das quais se articula o texto publicitário, assim como da configuração de sua intencionalidade.

2. Signo e símbolo

A diferenciação entre a palavra usada em sentido denotativo e o mesmo signo lingüístico empregado de modo simbólico é uma ocorrência comum a todas as linguagens. No trabalho com esse conceito, no caso de nossa disciplina, poderíamos emprestar um exemplo do sistema operacional de computador, o Windows, em cuja página de abertura aparece, além da imagem de uma lixeira, a expressão recycle bin cujo sentido denotativo passa a ser conotativo quando associado à idéia de eliminação de arquivos.

3. Denotação e conotação

Uma das competências de leitura de textos forjados em qualquer linguagem, inclusive em língua estrangeira, deve ser a de captar sentidos não explicitados diretamente pelo texto – o qual se desvela e revela pelo que traz e pelo que não traz escrito. Essa leitura exige que se dominem os conceitos de denotação e conotação.

Trabalhos de transposição de um texto poético (conotativo) para o registro jornalístico (denotativo), ou, ainda, de um texto científico (denotativo) para um texto publicitário (conotativo) podem encaminhar a formação dos conceitos. Por exemplo, elementos de um texto científico que aborde a aids podem ser transpostos, de forma conotativa, para um texto publicitário que aborde a prevenção da doença.

Para ficar em fatos mais recentes, uma foto de bombeiros erguendo a bandeira americana em meio aos destroços do World Trade Center após a tragédia de 11 de setembro foi transposta conotativamente, por associação, à imagem do monumento a Iwo Jima*, símbolo de um momento histórico da 2ª Guerra Mundial. Em ambas as fotos há elementos de denotação e conotação a serem explorados em contextos de uso diverso mas inter-relacionados. A compreensão desse tipo de texto se fundamenta no domínio desses conceitos.

4. Gramática

Como objeto de aprendizagem, a gramática pode ser considerada como o conjunto de noções que devem ser aprendidas pelo estudo das leis que regulam um sistema lingüístico, em seus aspectos morfológico, sintático, semântico e fonológico.

Esses elementos, organizados de forma convencionada, permitem a comunicação, por meio do discurso oral e escrito, entre indivíduos que conhecem e partilham o sistema. A constatação de que a word order do Inglês é mais rígida que a do Português, do Francês ou do Espanhol leva à consciência progressiva de leis reguladoras da comunicação e interlocução, para ficar num exemplo evidente.

* Criado a partir de célebre foto (de Joe Rosenthal) em que um grupo de soldados do 28º Regimento hasteia a bandeira norte-americana no monte Suribachi, no Pacífico, depois de vários dias de combate com o exército japonês.

5. Texto

A análise de textos de diferentes gêneros (slogans, quadrinhos, poemas, notícias de jornal, anúncios publicitários, textos de manuais de instrução, entre outros), vazados em língua estrangeira, permite a consolidação do conceito e o reconhecimento de que um texto só se configura como tal a partir da articulação de determinados elementos, de uma intencionalidade, explícita ou não, e de um contexto moldado por variáveis socioculturais.

A análise textual é uma competência que se adquire com o domínio desse conceito e, ao mesmo tempo, é instrumento para a formação do próprio conceito.

6. Interlocução

Possibilidade de produção e intercâmbio de enunciados em situações de uso, falado ou escrito, segundo intenções dos falantes, num mesmo código lingüístico. Na oralidade a interlocução se processa nos diálogos em situações do cotidiano, como ao se pedir informação e se obter resposta, por exemplo.

Identificar a diversidade do substrato cultural como determinante dos modos de interlocução é uma das tarefas da disciplina.

7. Protagonismo

Ativa-se o protagonismo pela construção da autonomia, seja na produção de textos escritos e orais em língua estrangeira, seja no processo de pesquisa em fontes escritas, em que cabe ao aluno o papel de selecionar informações pertinentes, estruturá-las e organizá-las de modo apropriado e coerente. Esse processo implica a compreensão, por parte de alunos e professores, de que cada indivíduo deve ser capaz de apropriar-se do conhecimento e discernir quanto a maneiras de fazer uso dele.

No caso da nossa disciplina, ao traduzir um texto em língua estrangeira para a língua materna, o aluno deve fazer escolhas lexicais, semânticas e sintáticas que melhor reflitam o texto original, num processo de transcriação lingüística representado pela transposição textual de uma língua para outra.

Competências e habilidades

1. Utilizar linguagens nos três níveis de competência:

interativa, gramatical e textual

O domínio lingüístico de um idioma estrangeiro, ainda que parcial, requer:

• competência interativa, que se desenvolve por meio do uso da linguagem em situações de diálogo entre falantes que partilham o mesmo idioma, pautado por regras comuns e reciprocamente convencionadas;

• conhecimento das regras e convenções que regem determinado sistema lingüístico no âmbito do uso de recursos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos. Por exemplo, no Inglês, dá-se a anteposição de adjetivos a substantivos; no Espanhol, os pronomes reflexivos não são separados do verbo por hífen quando ocorre a ênclise, diferentemente do Português;

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• competência de ler e produzir textos, articulados segundo sentidos produzidos ou objetivados intencionalmente, de acordo com normas estabelecidas nos vários códigos estrangeiros modernos, percebendo contextos de uso bem como diferenças entre os diversos gêneros textuais.

2. Ler e interpretar

A competência primordial do ensino de línguas estrangeiras modernas no ensino médio deve ser a da leitura e, por decorrência, a da interpretação. O substrato sobre o qual se apóia a aquisição dessas competências constitui-se no domínio de técnicas de leitura – tais como skimming, scanning, prediction – bem como na percepção e na identificação de índices de interpretação textual (gráficos, tabelas, datas, números, itemização, títulos e subtítulos, além de elementos de estilo e gênero).

3. Colocar-se como protagonista na produção e recepção de textos

Ser leitor ativo, participante dos processos de interlocução falados e escritos, bem como, em menor escala, ser produtor de textos orais e escritos, constitui a competência última e mais complexa a ser atingida quanto à aprendizagem de códigos estrangeiros no ensino médio. Trata-se da formação do leitor, intérprete e produtor de textos, nessa ordem, capaz de se apropriar do conhecimento e fazer uso autônomo dele – aprendizado que se dá com o domínio de múltiplas competências e habilidades, mobilizadas ao longo do processo iniciado no ensino fundamental e que prossegue, de forma sistemática, no ensino médio.

Investigação e Compreensão

Conceitos

1. Análise e síntese

Conceitos essenciais no processo de análise textual. Esse processo exige o estudo das partes que compõem o texto em qualquer de seus níveis (fonológico, morfológico, sintático, semântico). Por exemplo, o estudo gramatical da causative form do Inglês não tem correspondente na língua portuguesa, e deve ser apreendido pelo aluno exclusivamente no contexto sintático e semântico da língua inglesa.

Ainda que pressuponha uma etapa de fragmentação, todo processo de análise deve remeter novamente para o todo, a síntese, que é a visão integrada do texto como suporte da função comunicativa. Essa dinâmica é responsável pela compreensão do texto como unidade de sentido completo.

2. Correlação

Há elementos textuais em língua estrangeira que podem estar relacionados a seus equivalentes na língua materna ou a outros códigos estrangeiros, no âmbito morfológico, sintático ou semântico. A correlação possibilita a compreensão desses elementos. Por exemplo: as legendas, em Português, de filmes estrangeiros podem ser objeto de estudo quanto ao aspecto da tradução e adequação da transposição lingüística. O estudo de

provérbios também fornece bons índices do processo de correlação, que ultrapassa a questão lingüística e é revelador de diferentes culturas e visões de mundo.

3. Integração

Deve ser objeto de discussão no ensino médio a grande quantidade de empréstimos lingüísticos utilizada hoje no Português falado e escrito. A discussão sobre a validade ou não de alguns desses usos estimulará a postura crítica frente a influências estrangeiras e as diversas maneiras pelas quais certos estrangeirismos passam a integrar o léxico de outra língua.

4. Identidade

Compreensão de que é pela língua que se organizam e se comunicam saberes dos quais os indivíduos devem se apropriar no âmbito social e cultural – para gerar significados e integrar-se no mundo de forma crítica e segundo escolhas pessoais no campo das possibilidades da cultura.

A construção da identidade cultural parte da consciência da necessidade de se construir a identidade lingüística, constituída pelo estudo da conservação e das rupturas, da posição dos interlocutores em dado momento histórico, das negociações de sentido, intenções e expectativas envolvidas.

O estudo das línguas estrangeiras modernas deve levar ainda à reflexão sobre estatutos de indivíduos frente a outros, competência que transcende o domínio das habilidades lingüísticas.

5. Classificação

O processo analítico do estudo lingüístico deve desenvolver no aluno competências e habilidades classificatórias, tais como a identificação de tempos verbais em seus contextos de uso, o reconhecimento do emprego de linguagem técnica e jargão profissional (Business English, por exemplo). Ou ainda o estudo dos phrasal verbs, dos verbos regulares e irregulares do Inglês, de verbos pronominais do Espanhol e do Francês, tanto no discurso escrito como na oralidade.

6. Informação versus redundância

Apreensão do texto sob a ótica da diferenciação de elementos essenciais de informação e de redundância textual ou gramatical. É o caso, por exemplo, da negação na língua inglesa. Por sua intrínseca característica de “economia” lingüístico-estrutural, o Inglês não opera com duas negações na mesma oração, o que não ocorre com as línguas latinas. Perceber redundâncias textuais implica competências sólidas de leitura e interpretação. O estudo de alguns tópicos da gramática normativa do Inglês, se feito comparativamente com a do Português, pode ser um caminho interessante para a construção do conceito de redundância. Por exemplo:

• o aluno pode identificar na concordância redundante de número, em Português (adjetivo e substantivo, e artigo e substantivo), a origem de construções consideradas inadequadas pela norma culta (“meninas bonita”, “as casa”) – algo que não ocorre na língua inglesa, em que essa concordância redundante não existe e, portanto, o adjetivo e o artigo não variam em número;

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• realizar o estudo comparativo das formas verbais como, por exemplo: I eat, you eat... Eu como, tu comes...

Na sintaxe, pode-se analisar a ocorrência do sujeito oculto em Português – possível graças às peculiaridades das desinências verbais de nossa língua – e a inexistência dessa construção em Inglês, decorrente da economia das formas verbais desse idioma.

7. Hipertexto

O estudo de língua estrangeira pode contribuir na construção desse conceito partindo de situações simples; por exemplo, quando, abaixo ou ao lado do texto em língua estrangeira, aparece o vocabulário para auxiliar a compreensão do mesmo.

8. Metalinguagem

A aplicação de recursos nos quais a língua é usada para falar da própria língua é comum nas aulas de língua estrangeira. A sinonímia explorada nos contextos de uso das línguas estrangeiras modernas é um exemplo de recurso metalingüístico, o mesmo ocorrendo com a utilização de outras estratégias, fundadas em linguagem verbal ou não-verbal, empregadas para compensar falhas na comunicação.

Competências e habilidades

1. Analisar e interpretar no contexto de interlocução

Equivale a apreender os sentidos gerados pelos atos de linguagem nos processos de interlocução, em diferentes situações do cotidiano. A construção ou mobilização dessa competência se dá – na leitura e interpretação quer de textos escritos, quer de textos orais – pela inter-relação dos componentes envolvidos no ato comunicativo com um todo coerente, que implica aspectos socioculturais, intra e extra-lingüísticos.

2. Reconhecer recursos expressivos das linguagens

Relacionar textos e seus contextos pela mediação da organização estrutural lingüística e pelo uso de recursos expressivos da linguagem verbal, oral ou escrita. Esta competência implica compreender que intenções comunicativas presidem a escolha de diferentes registros, o uso de gírias, da norma culta ou de variações dialetais.

3. Identificar manifestações culturais no eixo temporal,