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Competências e habilidades associadas aos conceitos

3. Denotação e conotação

Denotação é o significado em sua função meramente intelectiva, ou seja, a representação mental comum e constante evocada pelo signo. O valor denotativo de um signo é mais ou menos comum a todos os usuários de uma língua ou linguagem, refletindo a compreensão solidificada que aquela comunidade lingüística tem do mundo exterior e interior.

A conotação é a parte do sentido de uma palavra (ou de outro signo) que não corresponde ao significado estrito. Resulta da atribuição de novos significados ao valor denotativo do signo e constitui-se de elementos subjetivos, variáveis de pessoa para pessoa, de contexto para contexto. O que chamamos de linguagem figurada corresponde,

grosso modo, à conotação. Qualquer palavra pode ser empregada em sentido conotativo, desde que inserida em contextos específicos; ou mesmo quando, tendo seu sentido forjado num contexto determinado, a palavra é intencionalmente deslocada para outros contextos. Não havendo discurso ou texto neutro, infere-se que todos permitem leitura predominantemente conotativa ou denotativa, dependendo da situação em que se inserem.

Identificar a ocorrência ou predominância da denotação ou da conotação é essencial para garantir a eficiência da leitura das realidades codificadas pela linguagem.

Embora predomine na arte, a orientação para a leitura conotativa pode ocorrer em contextos não relacionados à linguagem artística, como na gíria, no repertório de expressões populares, nos provérbios, nos cartuns, nas charges, na dança, nos jogos... Até frases vazadas em linguagem matemática, por exemplo, solicitam leitura conotativa se intencionalmente deslocadas para contextos estranhos ao campo de conhecimento específico daquela disciplina.

Sendo latentes no discurso, a denotação e a conotação constituem-se conceitos fundamentais para a compreensão dos diversos tipos de texto que circulam pelas diversas áreas do conhecimento. Muitas vezes, a intelecção e a produção eficazes de um texto (lato sensu) dependem da capacidade de identificar e avaliar essas potencialidades das linguagens. A leitura de um quadro da época neoclássica, por exemplo, implica conhecimento do valor conotativo de alguns signos freqüentes na arte da época, cristalizados em alegorias.

Convém não esquecer que o discurso – assim como outras construções simbólicas – situa-se num território heterogêneo e que, ao nos apropriarmos dele, apropriamo-nos também de conceitos, idéias e valores que transitam socialmente e que podem ser denotados ou conotados pelas linguagens.

As competências relacionadas à Representação e Comunicação não se desenvolverão de forma adequada sem o trabalho com esses conceitos. A leitura conotativa de um requerimento devidamente contextualizado pode gerar, no máximo, uma reação de espanto ou provocar o riso. Por outro lado, uma piada compreendida na sua extensão meramente denotativa deixa de ser piada, por não atingir seu objetivo principal: fazer rir. A leitura meramente denotativa de um poema é certamente uma leitura pobre.

4. Gramática

É a descrição dos modos de existência e de funcionamento de uma língua.

Nos PCNEM estende-se o emprego do termo para outras linguagens, além da língua. Assim, pode-se falar numa gramática da linguagem musical, numa gramática da linguagem do corpo etc.

Todo campo de conhecimento apresenta um corpo de dados e fatos e uma estrutura conceitual (sintática), além da metodológica. Essas camadas correspondem, grosso modo, à morfologia e à sintaxe da língua, ou seja, à sua gramática.

A área de Linguagens, Códigos e suas T

ecnologias

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explicitação e a análise das diversas linguagens podem ser feitas por comparação com a estrutura e o funcionamento da língua escrita e falada. Esse conhecimento metalingüístico é valioso quando se deseja desvelar, analisar e ler criticamente o modo específico de que se vale cada campo do saber para codificar e expressar a parcela da cultura mais diretamente relacionada a ele.

Se cada disciplina tem uma maneira própria de organizar e codificar os saberes que abarca, a compreensão do conceito de sintaxe como arranjo, combinação convencionalmente definida, é indispensável para entender a natureza da disciplina, seus recursos fundamentais, a razão de sua inserção em determinada área e suas interfaces com as demais disciplinas.

Por exemplo:

• as noções de erro ou de inadequação podem estender-se da gramática da língua para a gramática de um esporte ou de um momento da história da arte;

• o conceito de estilo, que muitas vezes implica a infração proposital da gramática normativa, pode migrar do campo da arte para a análise de uma partida de determinado jogo. Supondo como viável, em nossa cultura, uma leitura meramente denotativa de uma partida de futebol (passe correto versus falta; chute eficaz versus erro ou desvio sintático não-proposital...), tal leitura excluiria os recursos estilísticos de que os jogadores se valem (finta, folha-seca etc.) ao escrever / inscrever suas frases no texto que é a partida. A exteriorização dessa leitura pela língua falada certamente resultaria em uma narrativa empobrecida. As dezenas de adjetivos e a entonação característica de nossos locutores esportivos – especialmente os das rádios – expressam a leitura de arranjos formais que ultrapassam a gramática meramente normativa do jogo, arranjos esses que, na partida, instauram o estilo. A existência do termo futebol-arte endossa essa possibilidade.

O conceito de gramática é o articulador de outros conceitos da área, susten-tando a própria noção de linguagem ou linguagens.

5. Texto

Emprega-se aqui o termo em sentido amplo, para designar também unidades básicas de outras linguagens além da verbal. Assim, um quadro, um balé, um ritual podem ser considerados como textos, conforme já vimos.

A unidade básica da linguagem verbal é o texto, compreendido como a fala e o discurso que se produz, e a função comunicativa, o principal eixo de sua atualização e a razão do ato lingüístico. O aluno deve ser considerado como produtor de textos, aquele que pode ser entendido pelos textos que produz e que o constituem como ser humano. O texto só existe na sociedade e é produto de uma história social e cultural, único em cada contexto, porque marca o diálogo entre os interlocutores que o produzem e entre os outros textos que o compõem. O homem visto como um texto que constrói textos. (PCNEM, p. 139)

A própria produção cultural, nessa perspectiva, é constituída de textos.

linguagens. Sendo ele o elemento mínimo de qualquer situação de interlocução, sua organização segue padrões formais que devem ser compreendidos para que essa interlocução se efetive. Os desvios não-intencionais desse padrão quase sempre configuram erro ou inadequação, e os intencionais podem ser marcas de estilo.

O conceito de texto perpassa todas as disciplinas, de todas as áreas. A lógica interna da disciplina manifesta-se por meio de textos, evidenciando-se neles também as interfaces com as demais áreas.

Em resumo: por meio de textos é possível organizar a lógica da comunicação. Da existência do texto depende a dinâmica da interlocução.