• Nenhum resultado encontrado

A articulação da disciplina de língua estrangeira a outras disciplinas do currículo permitirá que múltiplas competências e habilidades se conjuguem na busca e na elaboração de respostas que possam resolver problemas propostos. De acordo com Meirieu, estamos a caminho de um ofício novo, “cuja meta é antes fazer aprender do que ensinar, isto é, trata-se de criar situações favoráveis que aumentem a probabilidade do aprendizado proposto” (Perrenoud, 1999, p. 53).

Segundo J. P. Astolfi,

[...] uma situação-problema não é uma situação didática qualquer, pois deve colocar o aprendiz diante de uma série de decisões a serem tomadas para alcançar um objetivo que ele mesmo escolheu ou que lhe foi proposto e até traçado. Pragmático não quer dizer utilitarista: pode-se traçar como projeto entender a origem da vida tanto quanto lançar um foguete, inventar um roteiro ou uma máquina de costura. (Perrenoud, 1999, p. 58)

Para J. P. Astolfi, entre as características de uma situação-desafio se destaca o fato de que ela

[...] está organizada em torno da superação de um obstáculo pela classe, obstáculo este previamente identificado; (…) [o qual] deve oferecer uma resistência suficiente que leve o aluno a investir seus conhecimentos anteriores disponíveis, bem como suas representações, de maneira que [isso o conduza] ao questionamento e à elaboração de novas idéias.

O autor salienta ainda que não se deve confundir a noção de obstáculo com a noção de dificuldade. Cabe ao professor oferecer suporte adequado durante o processo para a superação dos obstáculos, evitando, por parte dos alunos, a sensação de impotência e desânimo, causada por uma dificuldade que pode ser intransponível num dado momento, impedindo o aprendizado.

Compete ao grupo de professores de uma escola criar situações-desafio e projetos que sejam mobilizadores e dirigidos para aprendizados específicos variados e estimulantes.

Os professores devem aproveitar oportunidades de construir ligações entre o já aprendido e o novo aprendizado, ainda que aprendizados não previstos no projeto surjam ao longo do processo.

Devem, também, colocar-se no lugar do aluno, de modo a entender suas dificuldades. O que parece óbvio para o professor pode, dependendo da situação, ser um obstáculo praticamente intransponível para o aluno.

O trabalho por projetos e situações-desafio pressupõe objetivos claros e planejamento cuidadoso. É necessária a competência de

• gerir processos complexos de trabalho individual e de grupo; • prever a duração das atividades nas diversas etapas;

• articular os conhecimentos afins a mais de uma disciplina; • administrar imprevistos que possam ocorrer.

Tudo isso implica uma boa dose de improviso planejado e flexibilidade por parte dos professores envolvidos.

O trabalho por projetos envolve ainda o estímulo ao desenvolvimento de competências e habilidades para a pesquisa por parte dos alunos – o que inclui desde o emprego adequado de dicionário até o recurso a outras fontes além das bibliográficas, como o uso de informação arquivada em formatos digitais (lembrando que o acesso à internet, por exemplo, não garante uma boa pesquisa).

Deve-se esclarecer que pesquisa não é cópia ou transcrição de textos de livros ou enciclopédias; do mesmo modo, o aluno deve observar que vários endereços na internet (sites) podem não trazer elementos para uma boa pesquisa. Em suma, o aluno deve ser orientado para que não tenha a impressão de que quaisquer caminhos podem levar ao objetivo proposto.

A pesquisa bem orientada deve:

• levar à aquisição significativa de novos conhecimentos;

• fazer uso adequado de citações e créditos, sempre que pertinente; • utilizar fontes de informação variadas;

• ter etapas bem definidas de trabalho;

• levar em conta o processo bem como o produto final.

O apoio a ser oferecido pelo(s) professor(es) pressupõe orientação para a seleção e o uso adequado das informações disponíveis, emprego de metodologia de pesquisa, citação adequada de fontes, entre outras.

Toda e qualquer atividade a ser desenvolvida, seja teórica ou prática, requer procedimentos adequados. Todos os trabalhos por projeto envolvem, em última análise, a mobilização de um conjunto de competências e habilidades de alunos, professores e de outros profissionais da escola, articuladas para um determinado fim, pactuado entre todos.

No desenvolvimento dos conteúdos estruturadores (os aqui sugeridos ou outros que o professor julgar pertinentes), o profissional não pode perder de vista aspectos relevantes da disciplina, tais como:

• valorizar a aquisição da língua estrangeira como meio de acesso a distintos contextos socioculturais, conhecimentos e informações;

• criar condições de aproximação de seus alunos a outras culturas e diferentes saberes;

Língua Estrangeira Moderna

123

• ensinar a língua estrangeira conforme o enfoque das quatro habilidades (ouvir, falar, ler e escrever), nos níveis formal e informal, valorizando as funções comunicativas e o caráter prático de uso dos códigos estrangeiros;

• desenvolver habilidades de leitura e interpretação textual, selecionando materiais que ofereçam estímulos variados, favorecendo sistemas diversificados de leitura; • valorizar a interdisciplinaridade como meio eficaz para a aquisição e o

desenvolvimento de múltiplas competências e habilidades;

• entender a aquisição de habilidades lingüísticas como um dos recursos para o desenvolvimento global do aluno – isto é, considerar que o estudo da estrutura gramatical e a aquisição de vocabulário constituem suportes para a compreensão, não sendo, portanto, o objetivo final da aprendizagem;

• dar destaque a temas culturais de âmbito universal que, ao mesmo tempo, estejam próximos do universo dos alunos;

• planejar atividades diversificadas que permitam perceber o caráter dinâmico da língua, seu uso formal e informal, bem como transgressões, uso de gírias e empréstimos lingüísticos, segundo contextos de uso e escolhas realizadas pelos autores dos enunciados.

O trabalho por projetos envolvendo mais de uma disciplina pode ser o caminho mais curto para uma reflexão cooperativa quanto à seleção de competências, conteúdos e estratégias que melhor atendam às necessidades dos alunos diante de situações-desafio.

Avaliação

Considerando que a avaliação é um tema amplo e complexo, é necessário fazer algumas observações preliminares que nos ajudem a compreender melhor as etapas desse processo. Todo fazer humano sempre envolveu, ainda que de forma empírica, processos de avaliação. Ao longo dos tempos, o homem teve de avaliar as conseqüências de suas ações, já que de muitas delas dependia sua sobrevivência como indivíduo e como espécie. Nossa evolução nos levou a não só fazer avaliações a posteriori mas também a priori, fazendo-nos antever, refletir e planejar sobre resultados, conseqüências e sobre os próprios processos de trabalho.

Nosso escopo abrange, portanto, uma avaliação prévia, que direciona ações educativas anteriores ao começo do processo de ensino e aprendizagem, permitindo dar-lhe início e seqüência, assim como formas de reflexão, avaliação e replanejamento simultâneas – não apenas o produto final desse processo.

Atualmente, espera-se de todo profissional, ligado ou não à educação, que saiba avaliar não somente os resultados de seu trabalho, mas também o processo e seus métodos de ação. No caso dos docentes, a tarefa é extremamente complexa pois abrange o próprio trabalho, o da instituição e o dos alunos. Não é concebível que, dentro e fora da sala de aula, trabalhemos segundo métodos e processos atualizados de conduta, estimulando a construção autônoma do conhecimento, levando em conta competências e habilidades assim como conteúdos estruturadores dessas competências e, ao mesmo tempo, continuemos avaliando como há décadas.