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2. O percurso pessoal e profissional

2.5. Complementando a formação

Tiago pensa que, como professor, tem evoluído de ano para ano como consequência da actualização de conhecimentos que vai obtendo, nomeadamente, através da frequência de acções de formação contínua. Recorda, com particular entusiasmo, a frequência, no ano que veio trabalhar para Bragança, de umas acções de formação em diversas áreas disciplinares disponibilizadas e dinamizadas pela Escola Superior de Educação, sem a preocupação de “andar à procura de créditos” mas com o intuito principal de aprender e de se valorizar mais:

“não consigo esquecer (…) quando abriu aqui a ESE. Nessa altura (…) havia umas acções de formação e passei ali sete ou oito meses que me ajudaram, mas sobremaneira (…) eu passava ali [na ESE] as tardes… um dia era Estudo do Meio, outro dia a perspectiva histórica, outro dia já era a Matemática, outros dias era Expressões. Durante a semana, eu passava praticamente ali as minhas tardes” (EntT.147).

Especificamente na área da Matemática, essas sessões de trabalho com outros professores foram muito úteis tendo-o ajudado, muitas vezes, a compreender “o sentido das coisas, o sentido da Matemática” (EntT.147) para além de, evidentemente, ter podido contactar e discutir outras formas e estratégias para ensinar.

Por isso, Tiago faz o contraponto dessas acções de formação com muitas existentes actualmente resultantes da obrigatoriedade legal da obtenção de créditos para a progressão na carreira docente, considerando que, tal como aponta o estudo da Associação de Professores de Matemática (1998), há uma notória desvirtuação da intenção principal da formação contínua:

“[neste momento] essas acções de formação estão um bocado desvirtuadas. Isto é uma questão de voluntariado. Quando as pessoas fazem algo de uma forma voluntária acho que o trabalho é muito mais proveitoso. Quando se faz algo que não é voluntário, é voluntário à força, vai-se por causa dos créditos. Porque eu vejo, por exemplo, esse

grupo com que trabalhei, que estava sempre comigo nessa altura, éramos pessoas que estávamos interessados em saber. Quem ia lá não era só para estar na conversa com os colegas, ia lá porque queria formação” (EntT.148).

No entanto, apesar de já não se preocupar com o número de créditos dado que vai passar para o décimo e último escalão da carreira docente, Tiago continua a frequentar acções de formação procurando perceber “outros campos que me possam ajudar na minha valorização pessoal e, principalmente, na valorização profissional” (EntT.149) e estando agora “mais preocupado com uma formação acrescida em termos de currículo, ou melhor, numa autoformação”. Por exemplo, neste ano lectivo, vai “frequentar uma acção de formação sobre violência, violência no meio escolar, porque acho que é um tema em que é preciso uma pessoa estar atenta” (EntT.148). Já frequentou acções de formação em “praticamente, quase todas as áreas”, sendo a informática, nos últimos anos, uma forte área de interesse embora considere as propostas de formação que vão aparecendo neste domínio bastante básicas e muito orientadas para aspectos procedimentais:

“neste últimos três, quatro anos, tenho frequentado acções de formação na área de informática. Mas também cheguei à conclusão… acho que é uma formação muito básica e depois chego à conclusão que já não vale a pena. Porque a nível de informática os conhecimentos que os formandos têm são muito variados, desde aquelas pessoas que têm medo de tocar nas teclas, até pessoas que já dominam aquilo. Portanto, eu sou um utilizador normal, não sou um especialista em informática, mas acho que, para a minha utilização normal, já passei aquela fase inicial de ter medo de mexer nas teclas. Sei o essencial, já sei construir uma página…” (EntT.149).

Outra fonte importante para a sua (auto)formação tem sido a leitura, e algumas aquisições, de livros e outras publicações escritas, embora a Educação Matemática não tenha sido um campo muito contemplado. Ultimamente, tem consultado livros da área das Ciências Sociais com o intuito de aprofundar o estudo das relações interpessoais entre o professor e o aluno ou entre o professor e a comunidade. Este é um assunto que gosta de estudar e a que reconhece grande importância resultante da sua experiência docente feita, em grande parte, em meios rurais. Entende que, especialmente nestas comunidades, “tem que se saber lidar com as pessoas porque é assim que se consegue ter o apoio e ter nas mãos as pessoas, porque tendo nas mãos as famílias, temos nas

mãos a comunidade. E acho que isso é extremamente importante” (EntT.150), pois o professor tem de assumir também um papel “institucional e inter-institucional”.

Também importante no percurso formativo de Tiago tem sido a sua ligação a associações profissionais, tendo estado ligado mais activamente durante alguns anos a um sindicato de professores. Pensa que foi uma boa experiência profissional dado que lhe permitiu conversar e discutir temas importantes para a profissão docente com muitos professores ouvindo opiniões muito diferenciadas:

“quando estive ligado ao Sindicato, nós tínhamos os mais diversos encontros, não só a nível sindical, como a nível de formação. E conheci o mais variado leque de professores com quem discutia muitos e muitos assuntos. Ao contrário do que muita gente possa pensar não se discutia só sindicalismo. Discutia-se a profissão em si… Conheci muita gente, houve muita troca de experiências… às vezes com a tendência para a lamúria, do dizer que estamos mal, mas foram tempos extremamente interessantes e jeitosos” (EntT.151).

Igualmente, e provavelmente como fruto da participação e colaboração com este estudo, Tiago decidiu ligar-se à Associação de Professores de Matemática, organização profissional de professores de Matemática de todos os níveis de ensino, com o intuito de estar mais informado e prestar mais atenção às questões ligadas à aprendizagem e ao ensino da Matemática.

Sempre que pode e “os assuntos me interessam, desde que haja oportunidade e não colidam com outros interesses profissionais” (EntT.008), gosta de participar em encontros de professores, dos mais diversos formatos. Considera essencial a sua participação nestes encontros, pois “tenho uma certa avidez de saber e de procurar fazer o melhor possível” (EntT.009). Devido à grande oferta que actualmente se verifica, entende que deve fazer uma escolha criteriosa pois se “fôssemos a responder a todas as solicitações praticamente não passávamos tempo nenhum dentro da sala de aula. É preciso saber gerir também um pouco esse tempo” (EntT.152).

Do mesmo modo, considera muito importante o trabalho colectivo que desenvolve com outros professores na linha do defendido na literatura (Menezes, 2003). De um modo geral, acha que estas experiências colaborativas, para além das mais directamente relacionadas com a prática lectiva, têm sido boas e muito proveitosas principalmente quando é um trabalho que motiva. A nível de projectos, “sou mais um

aderente a projectos do que propriamente um promotor de projectos” (EntT.153). Mas, apesar de continuar a participar em projectos que lhe são propostos e que considera interessantes, “já houve tempos em que ‘pegava’ em tudo… talvez pela vivência de leccionar em escolas isoladas fosse levado a aderir aos projectos que me eram propostos” (EntT.007), Tiago entende que, cada vez mais, “devemos ser nós professores a apresentar os nossos próprios projectos”. De sua iniciativa, no conselho de docentes, já desenvolveu projectos “com alguns frutos” que, geralmente, são projectos interdisciplinares que envolvem as áreas curriculares e se centram num tema, por exemplo, ligado ao meio envolvente ou à história das próprias localidades, que possa motivar os alunos e os professores. Reconhece que uma das grandes dificuldades na concretização destes projectos é a gestão do trabalho a desenvolver por todos os intervenientes, pois “às vezes não é fácil, porque uma pessoa quando se envolve, quando pensa que vai trabalhar com quatro, cinco, seis ou sete colegas, e depois só um ou dois trabalham, acaba por desmotivar”.

Na procura de uma maior valorização profissional, Tiago também recorreu à formação complementar mais formal que tinha possibilidade de frequentar em Bragança, nomeadamente, na Escola Superior de Educação. Fez uma primeira tentativa, em meados da década de noventa, iniciando a frequência do Curso de Professores do Ensino Básico, variante de Educação Física, um interesse antigo, que abandonou no segundo ano de formação. Posteriormente, em 1999, candidatou-se à frequência do Curso de Estudos Superiores Especializados em Ensino do Francês no Primeiro Ciclo do Ensino Básico, que viria a concluir com sucesso em 2001.