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2. O percurso pessoal e profissional

2.4. Os anos seguintes

Depois, no ano seguinte, regressou ao continente e foi colocado na região centro do país, tendo aí permanecido durante quatro anos lectivos. Tiago trabalhou, muitas vezes em regime de substituição, em várias escolas inseridas em meios urbano-rurais próximos de uma grande cidade. Entretanto, durante este período, contraiu matrimónio com a sua esposa, também professora, e assistiu ao nascimento da sua primeira filha.

Nos primeiros dois meses, Tiago passou por uma povoação em que a generalidade da sua população, para além de trabalhar em fábricas na grande cidade, também se ia dedicando à agricultura em pequenas explorações familiares complementando, assim, os respectivos orçamentos. A escola estava sempre muito bem cuidada onde “os miúdos deixavam os sapatos no átrio da escola, tinham lá os chinelos de agasalho para entrar na sala, porque a sala estava encerada, sempre a brilhar” (EntT.140). Tiago, reconhecendo que uma pessoa “tem que se adaptar às circunstâncias, tem que se adaptar às situações, ao próprio condicionalismo da escola”, inseriu-se bem nessa comunidade onde, ainda hoje, mantém algumas relações de amizade.

Já não gostou tanto de uma experiência de acompanhamento docente, especialmente na área das Expressões, que era feita por professores “de fora” que iam circulando pelas diversas escolas da região. Na generalidade das vezes, Tiago considerava que essa ajuda, por não ser combinada e articulada entre si e os professores que davam o apoio, interferia negativamente com a planificação que tinha preparado e com o trabalho que pretendia desenvolver:

“por exemplo, eu tinha planificado e estava a dar uma aula de Língua Portuguesa ou de Estudo do Meio ou de outra área… depois [os alunos] tinham quarenta e cinco minutos de Educação Física [com esse professor], seguido de um intervalo… Se depois ia dar Matemática, era um desastre. (…) Nem era só uma questão de interferir no meu trabalho, era às vezes a inoportunidade. Era serem inoportunos” (EntT.141).

Embora, nesta fase inicial da sua carreira, fosse mais habitual trabalhar com alunos com grandes dificuldades de aprendizagem, Tiago também teve oportunidade de leccionar em turmas de crianças com bons desempenhos escolares, como aconteceu no seu terceiro ano de serviço com uma turma do segundo ano de escolaridade que foi “uma experiência extremamente interessante, foi das melhores turmas que eu tive” (EntT.141). Nesse ano, foi substituir uma professora, entretanto aposentada, que era uma “sumidade em Matemática”, com grandes conhecimentos, e que dava um grande destaque a esta área disciplinar. Verificou, por isso, que quase todos os alunos estavam mais “avançados” que o normal revelando bons desempenhos nas tarefas matemáticas, embora noutras áreas curriculares tal não se verificasse. Esta situação levou-o a reflectir, e ter essa consciência desde muito cedo, sobre a necessidade de seleccionar as

estratégias tendo em conta os ambientes e as capacidades dos alunos concretos com que se trabalha:

“eu utilizei sempre estratégias de acordo com as capacidades dos miúdos. As estratégias foram sempre utilizadas conforme as capacidades dos miúdos porque não há, acho eu, não há estratégias padrão. Pronto, há um determinado conjunto de linhas gerais para dar um determinado assunto, mas não se podem estandardizar a todo um universo. (…) Aí as estratégias é que teriam de ser bem diferenciadas porque havia aqueles miúdos que tinham todo o apoio e aqueles que não tinham nenhum” (EntT.143).

Depois, Tiago regressou ao distrito de Bragança, onde entretanto viria a nascer a sua segunda filha, e onde se tem mantido até ao momento. Tem trabalhado especialmente em escolas do primeiro ciclo do meio rural, mas também já leccionou no Ensino Recorrente e no Ensino Básico Mediatizado e, durante um ano, esteve ligado ao Ensino Especial. De uma maneira geral, tem mudado de escola anualmente como resultado dos concursos de colocação de professores, pois, apesar de se encontrar já em plena segunda metade do seu percurso profissional, ainda não conseguiu vincular-se permanentemente a uma escola.

Se, por um lado, é verdade que estas sucessivas mudanças de escola não lhe têm permitido aproveitar completamente o trabalho desenvolvido com os alunos no ano anterior, por outro, também é verdade que lhe tem sido possível experimentar diferentes condições de trabalho e desenvolver a sua actividade docente em ambientes sócio- culturais diferenciados. E, por vezes, tem tido algumas surpresas positivas pelas terras por onde tem passado contrariando informações menos abonatórias sobre as pessoas, os locais ou o desempenho dos alunos. Para reforçar esta situação, recorda, como exemplo, uma povoação em que os seus habitantes não eram muito bem vistos socialmente:

“foi numa aldeia (…) em que as suas pessoas não eram muito bem vistas. Mas se uma pessoa, principalmente quem vai de fora, não ligar a isso pode ter surpresas pela positiva… surpresas pela positiva, que foi o que me aconteceu a mim. Acho que foi um ano óptimo em que consegui chegar ao fim do ano com um bom aproveitamento, principalmente nas áreas curriculares disciplinares como Língua Portuguesa, Matemática ou Estudo do Meio” (EntT.145).

Ao longo deste período, também como seria de esperar, já trabalhou com alunos de todos os anos de escolaridade por diversas vezes. Embora goste de trabalhar com

todos os anos de escolaridade, prefere acompanhar o primeiro ano, pois é o ano em que melhor se pode sentir e ver a evolução dos alunos podendo já recorrer a estratégias bem definidas e uniformes.