• Nenhum resultado encontrado

3. Metodologia do estudo

3.4. Tratamento e análise dos dados

A análise dos dados foi feita tendo em conta os principais objectivos do estudo, as categorias estabelecidas na construção do guião da entrevista e na caracterização do conhecimento profissional do professor (ver Anexo I), e as interpretações entretanto surgidas durante a recolha e também na análise dos dados. Globalmente, Bogdan e Biklen (1994: 205) consideram que o tratamento e a análise dos dados envolve “o trabalho com os dados, a sua organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese, procura de padrões, descoberta dos aspectos importantes e do que deve ser aprendido e a decisão sobre o que vai ser transmitido aos outros”.

O modo de relacionar a recolha e a análise dos dados pode seguir um modelo mais sequencial, começando com a recolha de todos os dados e depois efectuando a respectiva análise, ou adoptar um modelo mais interactivo, tentando realizar as duas tarefas a par. No estudo, começou-se, naturalmente, com a recolha de dados, tendo a sua análise sido feita, muitas vezes, em sobreposição, pelo que podemos considerar que o modelo seguido teve um carácter mais interactivo. Nesta perspectiva, teve-se presente o modelo apresentado por Huberman e Miles (1994), cujo desenvolvimento segue quatro fases inter-relacionadas entre si: (i) a fase da recolha de dados; (ii) a fase da selecção e condensação de dados, correspondente a um primeiro nível de análise; (iii) a fase da organização e síntese da informação, correspondente a um segundo nível de análise; e (iv) a fase do estabelecimento de conclusões e resultados.

No estudo presente, para realizar este processo de tratamento e análise dos dados, recorreu-se, predominantemente, à análise de conteúdo (Bardin, 1995; Vala, 1986). Começou-se com a delimitação dos objectivos e a clarificação do quadro de referência teórico (que continuou a ser feito à medida que o estudo se ia

desenvolvendo). Depois, constituiu-se o corpus da análise formado por todos os materiais recolhidos e estabeleceram-se categorias de análise a priori que foram refinadas ou complementadas com outras durante o processo de análise; essas categorias tiveram já uma grande expressão na elaboração do guião da entrevista biográfica. No final, foram estabelecidos diversos níveis de abstracção para permitir o estabelecimento de inferências.

Essa análise iniciou-se com uma aproximação “flutuante” (Bardin, 1995), orientada por impressões e orientações, resultante do primeiro contacto com os dados recolhidos através da audição, do visionamento e da leitura dos registos. Esta análise revelou-se bastante útil, permitindo uma visão global dos dados e sugerindo linhas de reflexão. Depois, seguiu-se uma cada vez maior sistematização, procurando dar aos diversos materiais uma ordenação coerente, completa e lógica e levando, consequentemente, ao estabelecimento de “classificações e categorias” (Bogdan e Biklen, 1994).

As entrevistas biográficas, transcritas integralmente, foram ouvidas e lidas várias vezes tanto horizontal como verticalmente, ou seja, por categoria e por professor. O mesmo procedimento foi seguido para as entrevistas correspondentes à discussão da planificação e da respectiva reflexão das aulas e integradas no ‘relatório da discussão do processo instrucional’. Relativamente à observação das aulas, que deu origem a ‘relatórios de observação’ da qual constava a transcrição da generalidade dos diálogos, também os respectivos registos foram visionados e lidos em diferentes momentos do trabalho.

A análise incidiu, então, sobre o conteúdo dos textos que resultaram das diversas entrevistas, da observação das aulas e da análise documental. Evidentemente, sempre que se tornou necessário, e esta situação aconteceu inúmeras vezes, houve um regresso às fontes primárias da recolha para ouvir ou ver novamente os registos áudio ou vídeo e para reler os documentos produzidos ou utilizados pelos professores participantes. Nos diferentes textos, foram assinaladas e destacadas as passagens consideradas representativas das opiniões e das práticas de cada um dos professores que permitissem caracterizar o seu conhecimento profissional nas diversas dimensões, bem como identificar e categorizar aspectos relacionados com o percurso profissional e as

experiências formativas vivenciadas e com ideias e práticas acerca dos materiais curriculares (em especial, do manual escolar). Posteriormente, esta análise foi contrastada com as indicações e resultados de estudos referidos na revisão de literatura efectuada, motivando, por vezes, pesquisas de novas referências e de outros estudos.

Inicialmente, cada professor foi estudado isoladamente com o intuito de estruturar o respectivo caso, embora a organização dos dados recolhidos, nomeadamente o trabalho de transcrição, tentasse acompanhar o ritmo da sua recolha. A sequência dessa organização seguiu os ciclos de ensino de cada um dos participantes, iniciando-se com Tiago, passando por Marta e concluindo com Sofia. Por isso, algumas referências e comentários resultantes do cruzamento com o marco teórico e metodológico aparecem mais destacadas no caso Tiago mas, naturalmente, podem ser extensivas aos outros casos. Cada caso foi sendo construído considerando a história de vida do professor e caracterizando os principais traços da construção do seu conhecimento profissional. Deste modo, o processo analítico orientou-se para três categorias temáticas principais: “O percurso pessoal e profissional”, “O conhecimento profissional mais geral”, e “O conhecimento didáctico”.

A categoria “O percurso pessoal e profissional” desenvolve a trajectória de cada professor, destacando os aspectos mais pessoais do seu conhecimento profissional. Foi abordada através de algumas subcategorias, nem sempre coincidentes para todos os professores, como ‘a escolaridade básica e secundária’, ‘a escolha da profissão e formação inicial’, ‘passagem pelo mercado de trabalho’ (Marta), ‘trabalho docente antes da formação inicial’ (Marta e Sofia), ‘os primeiros anos na profissão’, ‘complementando a formação’, ‘ser professor(a)’, e ‘ser professor(a) de Matemática’. As vivências relacionadas com as diferentes experiências formativas que cada professor foi desenvolvendo foram incluídas na evolução do respectivo percurso dada a forte relação entre ambos os campos.

A categoria “O conhecimento profissional mais geral” engloba as ideias mais amplas do conhecimento profissional, abarcando as subcategorias ‘o contexto educativo’, ‘a Matemática’ e ‘aspectos gerais do ensino e da aprendizagem’. Resulta da consideração dos dois campos essenciais para a docência, o campo pedagógico e o

campo disciplinar (Matemática), articulados com o contexto educativo onde se desenrolam.

A categoria “O conhecimento didáctico” refere-se ao conhecimento profissional mais próximo da prática lectiva do professor e distribui-se por cinco subcategorias: ‘a Matemática escolar’, ‘os alunos’, ‘currículo e programas’, ‘os materiais curriculares’ e ‘o processo instrucional’.

Após a organização e sistematização de todos os dados, redigiu-se uma primeira versão (disponibilizada a cada um dos professores participantes) de cada relato (caso) estruturado pelas categorias temáticas principais que orientaram o trabalho e por novas indicações realçadas pela análise.

Após esta análise mais individualizada, foi construída uma tabela com três colunas, uma por cada caso, em que, para cada categoria ou subcategoria definida, foram assinalados os aspectos mais relevantes verificados para cada professor. O preenchimento da tabela permitiu confrontar e analisar os três casos, simultaneamente, fazendo realçar quer aspectos mais comuns ou convergentes quer situações mais singulares ou divergentes.

Como se referiu, o caso correspondente, tal como os restantes documentos produzidos, foi disponibilizado a cada um dos professores com o intuito de possibilitar um processo de negociação de significados. Esta negociação tinha por base, para além do texto proposto, possíveis clarificações, correcções ou complementos a efectuar pelo professor. No final, após as respectivas leituras, os professores Tiago, Marta e Sofia concordaram com as referências que os envolviam, revendo-se no que estava escrito, no seu “retrato”, não tendo proposto qualquer sugestão de alteração significativa. Apenas Marta completou alguns dados referentes à sua escola actual e clarificou aspectos relacionados com o seu percurso pessoal e com a componente da Matemática na sua formação inicial.

Capítulo 3

O professor Tiago

Introdução

Este capítulo apresenta o caso correspondente ao professor Tiago, professor generalista do primeiro ciclo do ensino básico, que foi construído atendendo à sua história de vida e aos principais traços da construção do seu conhecimento profissional.

O capítulo está estruturado em quatro secções: (1) apresentação; (2) o percurso