• Nenhum resultado encontrado

3. Metodologia do estudo

3.2. Participantes no estudo

Para o desenvolvimento do estudo, pretendíamos trabalhar com professores com bastante experiência de ensino a leccionar numa escola pública do distrito de Bragança que permitissem abarcar todo o espectro curricular da escolaridade básica e secundária dado que as realidades a enfrentar e os problemas a resolver nos diversos níveis de ensino podem orientar-se, em cada um deles, para diferentes domínios do conhecimento profissional. Pretendíamos também que esses professores tivessem realizado a respectiva formação inicial num curso que habilitasse profissionalmente para o trabalho docente na área da Matemática dadas as naturais repercussões na construção do conhecimento profissional de diferentes amplitudes de envolvimento e de relação com a Matemática. É reconhecido que, dada a natureza muito diversificada dos cursos, o trabalho com a Matemática e a consequente formação matemática oferecida na etapa da formação inicial é muito díspar, variando desde níveis muito incipientes nos cursos de professores do primeiro ciclo até níveis muito fortes nos cursos de professores do ensino secundário. Por isso, a escolha recaiu num professor generalista do primeiro ciclo, num professor do ensino básico com a variante de Matemática e Ciências da Natureza que trabalhasse no segundo ciclo, e num professor do ensino secundário com

uma licenciatura em ensino, que correspondem, actualmente, às situações mais habituais na formação inicial de professores de Matemática. Os convites pessoais a potenciais participantes que aceitassem colaborar no estudo começaram a ser feitos no início do primeiro período do ano lectivo de 2003/2004 e ficaram concluídos em Dezembro, no final do período.

Os participantes no estudo são professores de Matemática do ensino básico ou do ensino secundário com uma larga experiência de ensino, embora em momentos diferenciados dos seus percursos profissionais. Os nomes que os identificam, Tiago, Marta e Sofia, são pseudónimos, mas respeitando o sexo, embora qualquer um dos professores não tivesse apresentado reservas à utilização do seu próprio nome ou contexto de trabalho, e a respectiva ordem de apresentação no estudo segue os ciclos de ensino onde trabalham.

Tiago é professor do primeiro ciclo do ensino básico. Tem quarenta e cinco anos de idade e encontra-se já na segunda metade do seu percurso profissional, tendo, por isso, uma grande experiência de ensino desenvolvida, especialmente, em escolas do meio rural do nordeste transmontano. Neste ano lectivo, continua ligado ao meio rural e exerce a sua actividade docente numa escola do primeiro ciclo (pertencente a um agrupamento de escolas com sede na cidade) que dista cerca de trinta quilómetros da sua residência habitual, trabalhando com cinco alunos que frequentam o terceiro ou o quarto ano de escolaridade.

Tiago, juntamente com Leonor, outra professora do primeiro ciclo, havia participado no estudo que desenvolvemos no âmbito do Trabalho de Investigação Tutelado (Pires, 2003), mostrando já, nessa altura, vontade para continuar a colaborar. Da nossa parte, também mostrámos interesse, através de um contacto realizado em Outubro de 2003, em que um destes dois professores pudesse continuar ligado a este estudo, permitindo alguma continuidade ao trabalho já desenvolvido. Como, nesse ano lectivo, Leonor não estava muito disponível devido à grande exigência de tempo e trabalho requerida pelos alunos da escola onde foi colocada, ficou então decidida a participação de Tiago que aceitou com um grande agrado.

Marta é professora do segundo ciclo do ensino básico. Tem quarenta e dois anos de idade e dezanove de serviço docente, estando sensivelmente a meio da sua carreira

profissional, embora só nos últimos onze anos, após a conclusão da sua licenciatura em ensino da Matemática e das Ciências da Natureza, esteja ligada à disciplina de Matemática. Já leccionou a disciplina de Francês e fez incursões no mercado de trabalho em outros ramos de actividade, chegando a emigrar para um outro país. É professora efectiva numa escola básica de uma vila do distrito da Guarda situada a cerca de vinte quilómetros da sua residência e, neste ano lectivo, trabalha com duas turmas, quer em Matemática quer em Ciências da Natureza, cada uma com cerca de vinte alunos do quinto ano de escolaridade, sendo a directora de turma de uma delas.

Não foi fácil a integração no estudo de um professor do segundo ciclo com os requisitos previstos, pois os quadros das escolas do distrito de Bragança estão bastante consolidados com professores de Matemática que adquiriram a sua habilitação profissional por outras vias. Para além de haver poucos professores nas condições definidas, também os contactos entretanto feitos não foram bem sucedidos.

Deste modo, a ligação de Marta ao estudo surge um pouco por acaso. Marta havia sido nossa aluna na formação inicial e, embora de forma irregular, íamos mantendo contactos esporádicos que permitiam a discussão de alguns assuntos relacionados com a vida profissional. Em Dezembro de 2003, num desses contactos a propósito da realização de um encontro de professores de Matemática na localidade onde reside, sugerimos a possibilidade de poder vir a colaborar no estudo, tendo Marta concordado nessa participação de forma espontânea e com um grande entusiasmo.

Sofia é professora do ensino secundário. Tem trinta e cinco anos de idade e encontra-se ainda na primeira metade do seu percurso profissional, apresentando dez anos de serviço docente. Exceptuando o primeiro ano de profissão, Sofia tem trabalhado sempre numa escola secundária da capital de distrito, na qual é professora efectiva, e, no presente ano lectivo, para além assegurar funções de coordenação, lecciona uma turma do décimo primeiro ano de escolaridade constituída por vinte e dois alunos.

Já conhecíamos Sofia desde os finais dos anos noventa na sequência de uma colaboração que esta professora havia desenvolvido com a nossa escola, assegurando a leccionação de algumas disciplinas no curso de formação inicial, e na qual foi notória a sua preocupação e interesse pelas questões relacionadas com o professor de

Matemática. Por isso, de uma forma natural, em Novembro de 2003, fizemos um primeiro contacto para perceber a sua disponibilidade para participar no estudo, tendo Sofia aderido imediatamente com entusiasmo e expectativa.

Tiago, Marta e Sofia demonstraram, desde a primeira abordagem, uma grande abertura, vontade, expectativa e disponibilidade para participarem neste estudo quer para exprimir (e reflectir) as suas opiniões e experiências sobre o objecto de estudo quer para ‘abrir’ a sua sala de aula e partilhar o trabalho lectivo.

Com cada um dos professores, após aceitar o convite para participar, foram explicitadas as respectivas expectativas e clarificados os papéis propostos para cada um dos intervenientes, tentando articular e integrar os interesses de todos. Do ponto de vista do investigador, apoiado nos pressupostos teóricos e metodológicos do estudo, foram explicitados, entre outros aspectos, os principais propósitos, o contexto da investigação e as principais etapas da recolha de dados, nomeadamente, a realização de entrevistas e a discussão do processo de instrução (planificação do trabalho a realizar, condução da aula, reflexão sobre o que foi feito), tendo sido proposta uma calendarização das acções a realizar. Cada um dos professores traçou um quadro da organização da sua escola de modo a permitir um primeiro contacto com o seu contexto de trabalho. Destacou-se ainda o carácter dinâmico de todo o processo que se ia iniciar, bem como a intenção declarada de dar a conhecer aos professores e de discutir com eles todos os produtos que os envolvessem com o intuito de fazer eventuais clarificações, reelaborações ou aperfeiçoamentos. Estes processos de negociação permanente são fundamentais para que os professores sintam, ainda mais, que são participantes activos e que a investigação possa, com maior confiança, revelar os pensamentos e as actuações dos participantes e o significado que lhes atribuem.

Os conselhos executivos das escolas a que os professores pertenciam foram informados, pessoalmente e por escrito, da participação de cada um deles no presente estudo. A cada escola foi ainda solicitada autorização para utilizar as respectivas instalações e para desenvolver o processo de recolha de dados. Como este processo envolvia registos áudio ou vídeo do ambiente da sala de aula, foi assumido da nossa parte que a recolha de som ou imagem se destinava apenas e exclusivamente a apoiar o desenvolvimento do estudo, garantindo-se toda a sua confidencialidade. Esta solicitação

para autorizar a recolha de som ou imagem foi também alargada aos pais e encarregados de educação dos alunos. Todas estas autorizações foram concedidas. A este propósito, salienta-se o espírito de abertura e colaboração por parte das instituições ao longo de todo o processo.