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Dois grupos compuseram o então OP, tais sejam o Conselho de Opinião122, um grupo ad hoc de aconselhamento, e a estrutura permanente conhecida como Secretariado Técnico. As tarefas deste último consistiam em, entre outras, assegurar as necessidades logísticas do OP, coordenar o trabalho dos ministérios e outros agentes, efetuar coleta e análise de dados, propor pesquisas sobre a pobreza e desenvolvimento em Moçambique123.

Figura 5. Composição do então Observatório da Pobreza.

Figura 4.1. Composição do observatório da pobreza. Fonte: MPD (2006)

122 O conselho de opinião foi constituído por 60 membros, divididos em 20 representantes do governo, 20 dos

paceiros internacionais e 20 organizações da sociedade civil.

123 O PNUD, através do projeto “Support to PARPA’s Monitoring and Evaluation System” assistiria o secretariado do OP nas atividades de capacitação institucional do secretariado técnico para monitoria da pobreza e seguimento do desempenho dos objetivos de desenvolvimento do milénio (ODM); estabelecimento/reforço do sistema de informação da monitoria da pobreza ao nível provincial; definição de estratégias relativas a pobreza e estudos de avaliação de impacto; sensibilização e disseminação do PARPA e ODM a nível nacional; revisão e atualização do PARPA com o foco nas questões transversais como o HIV/SIDA, Género, tecnologias de informação e comunicação, desminagem, prevenção e gestão de calamidades, entre outros.

Governo Moçambicano Observatório de Pobreza Conselho de Opinião Secretariado Técnico Representantes do governo Sociedade civil Parceiros de cooperação

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4.1. Representantes do Governo

O governo tem sido representado no observatório por ministérios encarregues pelo processo de desenvolvimento como o então Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD), ao nível central, e pelos governadores provinciais, ao nível das províncias. Para além do MPD, outras instituições do Estado participam nos observatórios, de acordo com as apresentações a serem feitas e os temas em debate na sessão plenária124. Como vimos, a coordenação dos diversos ministérios é levada a cabo pelo secretariado técnico do observatório, que igualmente articula o governo com os parceiros de cooperação internacional e a sociedade civil.

4.2. Parceiros de Cooperação Internacional

Os parceiros de cooperação internacional são representados principalmente por embaixadas e outros organismos internacionais que apoiam o governo e os parceiros nacionais tanto nos programas de desenvolvimento como na monitoria e avaliação. O exercício de coordenação com os parceiros de cooperação remonta ao ano de 2000, altura em que o governo assinou um acordo com cinco doadores, no âmbito do apoio direto ao orçamento. O acordo viria a ser substituído em 2004 por um Memorando de Entendimento com 17 parceiros bilaterais e multilaterais – os Parceiros de Apoio Programático (PAP). Em 2006, o número dos PAP subiu para 18, e em 2007 para 19, passando também a ser designado por G19125.

124 Como vimos, por exemplo, na primeira sessão plenária estiveram representados todos os ministérios.

125Os PAP, ou G-19, são um grupo de parceiros (bilaterais e multilaterais) constituído pelos seguintes países e organizações multilaterais: Alemanha, Áustria, Bélgica, Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Banco Mundial, Canadá, Comissão Europeia (CE), Dinamarca, DFID (Reino Unido), Espanha, França, Holanda, Irlanda, Itália, Portugal, Suécia, Suíça, Noruega, Finlândia. Para além destes 19 membros, existem 2 membros que têm a função de observadores não tendo as suas opiniões qualquer poder vinculativo, que são os Estados Unidos da América (EUA) e a Organização das Nações Unidas (ONU). O Governo de Moçambique e os Parceiros de Apoio Programático criaram um quadro comum de diálogo, monitoria e avaliação, alinhado com o ciclo de planificação do Governo, fazendo uso dos instrumentos principais de planificação, orçamentação, monitoria e avaliação do Governo. Este processo está definido no Memorando de Entendimento (MdE) comum e tem dois momentos críticos, a Revisão Conjunta (RC) em março/abril, e a Revisão Semestral (RS) setembro. A revisão conjunta é uma avaliação geral da implementação do PARPA baseada em indicadores no QAD (Quadro de Avaliação de Desempenho) com enfoque nos principais instrumentos de planificação e monitoria do Governo. Esta revisão é também uma avaliação do desempenho dos Parceiros de Apoio Programático (PAP), usando a matriz de avaliação do desempenho dos parceiros (Matriz QAD dos PAP). Acima de tudo a revisão conjunta fará uma avaliação global da implementação do memorando de entendimento e fará recomendações para melhorar a parceria no ano seguinte (Cortês, 2010: 51).

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4.3. Representantes da Sociedade Civil

A seleção de quem deveria representar o conjunto da sociedade civil foi feita através duma concertação interna, que identificou vinte organizações. Estas estabeleceram a plataforma designada por G20 e passaram a participar dos fóruns do Observatório da Pobreza desde a sua primeira sessão plenária. Concretamente, tal plataforma foi constituída por quatro representantes de confissões religiosas (dois cristãos: Conselho Cristão de Moçambique e Conferência Episcopal de Moçambique; dois islâmicos: Conselho Islâmico de Moçambique e Movimento Islâmico de Moçambique); dois representantes das centrais sindicais (Organização dos Trabalhadores Moçambicanos e Sindicatos Livres); três representantes de associações do setor privado (associação comercial, associação industrial e confederação económica – CTA); seis representantes de organizações do terceiro nível (Fórum Terra, Fórum Mulher, União Nacional dos Camponeses, Grupo Moçambicano da Dívida, Link e Teia)126; quatro representantes de organizações de segundo nível (Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade, Kulima, Organização Rural para Ajuda Mútua, Khindlimuka); e um representante de institutos autónomos de investigação (Cruzeiro do Sul).

Figura 4.2. Diversidade dos representantes da sociedade civil

A Plataforma G20 envolve um vasto leque de organizações da sociedade civil com diferentes backgrounds e grande diversidade de ideologias e interesses: organizações de ajuda ao desenvolvimento, instituições religiosas, associações comerciais, culturais, de

126 Esta hierarquização de níveis é feita na base do raio de abrangência das OSC e do tipo de membros que

envolvem. Assim as organizações de 1º nível são constituídas por elementos das comunidades ou trabalhadores; as do 2º nível criam e envolvem grupos de organizações do 1º nível; e as do 3º nível são aquelas que trabalham com redes de organizações de qualquer um dos outros níveis mencionados.

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profissionais, entre outras, o que dificulta a possibilidade dela falar a uma só voz127. Entretanto, os nossos entrevistados afirmaram que a Plataforma G20 estabelecia uma espécie de ponte entre alguns grupos populacionais da sociedade em geral e o governo, e procurava harmonizar os objetivos das organizações constituintes no sentido de apresentar uma posição comum que concorresse para a governação participativa.

Nesse processo, a Plataforma G20 tem, no entender dos entrevistados, a possibilidade de levar a cabo desafios como, entre outros, o escrutínio público ao governo; mobilização popular para a participação ativa nos processos de políticas públicas; desenvolvimento duma cultura democrática de compromisso e tolerância; criação de meios para articulação, agregação, representação de interesses de bem-estar comum.

Com mais ou menos detalhes, os entrevistados são da opinião que a plataforma G20 se assim o entendesse podia controlar o exercício do poder político dos governantes com recurso à mobilização pública de manifestações pacíficas uma vez que a Constituição da República consagra aos moçambicanos tal direito. Eles acreditam que, fosse tal procedimento democrático cultivado, os agentes e instituições estatais sentir-se-iam obrigados a respeitar em nome do interesse público as contribuições dos cidadãos e das organizações da sociedade civil expressas nas sessões plenárias dos observatórios da pobreza/desenvolvimento128.