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O atual observatório de desenvolvimento nacional foi inicialmente designado por observatório da pobreza (OP)110. Este surgiu na sequência do movimento pelo cancelamento da dívida externa, quando em 1996 foi lançada, pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional, a iniciativa HIPC (Heavily Indebted Poor Countries)111 que tinha por objetivo eliminar o que chamaram de “dívida insustentável” dos países mais pobres e mais endividados, categoria na qual Moçambique se enquadrava.

No ano de 2000 Moçambique sofreu as maiores cheias da sua história, que causaram enormes prejuízos, sobretudo, nas zonas sul e centro do país, onde a enchente durou mais de um mês. Face a esta situação, o Banco Mundial e o FMI decidiram acelerar o alívio da dívida

109 Apesar das fraquezas apontadas no contexto do diálogo sobre políticas, sobretudo a nível dos espaços formais, uma sociedade civil bem estruturada e com domínio dos assuntos que defende, tem potencial para influenciar decisões e mudanças nas opções de políticas. A nível do Observatório de Desenvolvimento de âmbito nacional, a plataforma G20, que ressurgiu em 2012, foi determinante para o estabelecimento de um quadro de indicadores de monitoria e avaliação da pobreza e para a aprovação de um novo guião para o Observatório de Desenvolvimento. Este guião permitiu a harmonização dos encontros do Observatório com o ciclo de planificação. Foi neste quadro de diálogo, estabelecido no Observatório de Desenvolvimento, que se conseguiu o aumento do Orçamento do Estado alocado ao setor de saúde de 7% para 10% entre 2013 e 2014. (Salimo, Padil: Estudo de Caso do Projeto do Grupo Moçambicano da Dívida. “Participação informada da sociedade civil nos Observatórios de Desenvolvimento”. Maputo, dezembro de 2014)

110 A designação Observatório da Pobreza (OP) vigorou exclusivamente até os anos 2005, quando foram

estabelecidos os Observatórios de Pobreza ao nível das províncias e numa das sessões plenárias na Província de Nampula sugeriu-se a mudança de nome para Observatório do Desenvolvimento (OD) com o argumento de que assim se salientava não tanto o estado de pobreza como a orientação para o desenvolvimento que de forma otimista tal fórum provincial pretendia. Com o tempo, os dois nomes coabitaram, mas o OP tem caído em desuso. Neste relatório usaremos tanto uma como outra designação em conformidade com a terminologia que constar das fontes de informação consultadas.

111 Moçambique foi um dos países mais beneficiados com a iniciativa HIPC (Países Pobres e Altamente

Endividados), tendo a sua dívida baixado de 5,6 biliões para, sensivelmente, 1,3 bilião de dólares norte- americanos em 1998. Para que a iniciativa fornecesse uma solução de saída para o país, calculou-se que o rácio entre a dívida e as exportações deveria situar-se entre os 200% e os 220%. Os resultados imediatos alcançados foram satisfatórios. Entre 1996 e 2000 a taxa anual de inflação baixou de 47% para 2% e o PIB cresceu a uma média de 10% ao ano (Negrão, 2003: 9).

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ao perdoar a totalidade do pagamento do serviço da dívida nesse ano. O Clube de Paris112 decidiu que o pagamento passasse para quando Moçambique estivesse em condições de o fazer e vários credores bilaterais decidiram no mesmo sentido.

Neste quadro, o país reunia as condições para entrar na segunda fase daquela iniciativa (HIPC-II). Porém, para a aprovação final do HIPC-II, o Banco Mundial e o FMI impuseram condições, onde se destaca a exigência da elaboração de PRSP113, que em Moçambique foi designado por Plano de Ação para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA), com o envolvimento da sociedade civil, setor privado e cidadãos em geral114.

Em setembro de 2001, o Banco Mundial e o FMI concluíram que Moçambique tinha satisfeito as quatro condições apresentadas em 2000 e dado passos necessários para ser aprovado. A dívida externa foi reduzida para 750 milhões de dólares norte-americanos, tendo portanto sido perdoados cerca de 73% do montante inicial. O serviço da dívida passou de 100 milhões por ano em 1988 para uma média anual em torno dos 56 milhões entre os anos de 2002 e 2010, representando uma redução do seu peso nas receitas do Estado, passando de 23% daquelas receitas para 10% (Negrão, 2003: 10).

A poupança realizada com a diminuição do serviço da dívida permitiu o aumento das despesas do Estado no PARPA, passando desta forma a poder disponibilizar para o efeito cerca de 130 milhões de dólares americanos por ano (Idem). Porém, de acordo com Negrão, a

112 O Clube de Paris é uma instituição informal constituída por países desenvolvidos que se identificam com a

missão de “ajudar” financeiramente países com dificuldades económicas. Seus membros permanentes são: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Japão, Noruega, Países Baixos, Reino Unido, Rússia, Suécia e Suíça.

113 Poverty Reduction Strategy Papers (PRSPs) were introduced in 1999 by the World Bank and the IMF as a

new framework to enhance domestic accountability for poverty reduction reform efforts; a mean to enhance the coordination of development assistance between governments and development partners; and a precondition or access to debt relief and concessional financing from both institutions' HIPC Initiative. A PRSP sets out a country’s macroeconomic, structural, and social policies and programs to promote growth and reduce poverty, as well as associated external financing needs. Countries will typically prepare a PRSP every three to five years in a participatory process involving a broad range of stakeholders (Vide: What are PRSPs? In http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/TOPICS/EXTPOVERTY/EXTPRS/0 consulatado em maio de 2015).

114 Estas exigências da comunidade internacional foram mencionadas por vários dos nossos entrevistados como

exemplo de condicionalismos que viabilizaram a canalização da ajuda externa e o envolvimento das OSC no processo das políticas públicas em Moçambique, destaque para os planos de ação para redução da pobreza. Outras três exigências consistiram na i) implementação de um conjunto de medidas relativas ao desenvolvimento social, à reforma do setor público e ao quadro legal e regulador das atividades económicas; ii) a manutenção de um clima macroeconómico estável sob o controlo do FMI; e iii) a confirmação de outros credores quanto à sua disposição em contribuir no alívio da dívida moçambicana.

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requerida participação da sociedade civil, do setor privado e do cidadão em geral, na conceção do PARPA I115, foi reduzida à consulta esporádica e muitas vezes somente para informar o que se estava a fazer ou já tinha sido feito.

De acordo com os entrevistados, sejam membros do governo, da comunidade internacional, da sociedade civil, analistas políticos, académicos e cidadãos em geral, o convite para o envolvimento da sociedade civil no processo do PARPA I foi tardio e disperso. Assim, as organizações da sociedade civil não tiveram tempo para se prepararem devidamente, facto que só veio a acontecer, posteriormente, no processo do PARPA II.

Entretanto, como veremos adiante, contrariamente a tal entendimento, o documento oficial do PARPA I afirma ter contado com ampla contribuição da sociedade civil, dos parceiros internacionais e dos cidadãos em geral, que aceitaram o convite para sua participação no processo. O documento acrescenta que obedecia um caráter dinâmico por forma a salvaguardar possibilidades de seu aperfeiçoamento com base nos resultados da monitoria e avaliação de que seria alvo ao longo da sua implementação.