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Desde o contexto de seu surgimento, com a exceção da conceção de Hobbes (1999) que defende uma sociedade civil onde os indivíduos têm as liberdades cerceadas na medida em que devem se sujeitar literalmente aos desígnios do monarca absoluto, os demais autores clássicos e contemporâneos procuraram, pelo contrário, relacionar a sociedade civil com a busca de liberdades.

Nos seus trabalhos, Locke (1988), Kant (1991), Rousseau (1966), Hegel (2000), Marx (1976), Gramsci (2007), Paine (2000), Ferguson (1789), Gellner (1995), Keane (2001), Alexander (1998), entre outros autores que veremos adiante, trataram a sociedade civil como um conceito que pressupõe o gozo de liberdades e bem-estar pelos seus membros. Por exemplo, na obra Condições da Liberdade. A Sociedade Civil e seus Rivais, Gellner define a sociedade civil como o conjunto de diversas instituições não-governamentais cuja força de atuação contrabalança o poder do Estado, facto que leva o autor a considerá-la condição fundamental da liberdade dos indivíduos (Gellner, 1995: 15-16).

Diamond (1994) nota que a sociedade civil busca controlar tal poder do Estado através do escrutínio público; participação política dos cidadãos; cultura democrática de compromisso e tolerância; meios de articulação, agregação e representação de interesses fora dos partidos políticos, especialmente a nível local; mitigação de conflitos com recurso aos interesses transversais e coincidentes; reforma de procedimentos e instituições que não satisfaçam princípios de bem-estar social; disseminação do direito de informação para o vasto público de modo a pô-lo a par dos acontecimentos relevantes, entre outros.

Keane (2001), por sua vez, trata a sociedade civil como uma categoria que descreve todo um conjunto complexo e dinâmico de instituições não-governamentais legalmente protegidas. Tais instituições, auto-organizadas, autorreflexivas e que tendem a não pautar pela violência nas suas ações, caracterizam-se por permanentes tensões umas com as outras e com as instituições estatais que enquadram, constringem e facilitam as suas atividades. Entendemos que estas tensões permanentes fazem parte do processo de disputa pela influência e afirmação de suas visões não raras vezes divergentes.

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No processo dinâmico e de disputa pela influência, a sociedade civil dá um tratamento preferencial à liberdade diária dos indivíduos; procura defender a importância de permitir aos grupos particulares que, com liberdade e nos limites da lei, definam e exprimam as suas diversas identidades sociais; reivindica cada vez mais os direitos dos governados, as possibilidades de gozo do bem-estar dos cidadãos, o direito de resistência às leis injustas, o reforço da necessidade da separação dos poderes, da liberdade de imprensa, domínio da lei, entre outros princípios importantes para a convivência dos indivíduos em sociedade17.

A ideia que enforma o conceito de sociedade civil impede-a de falar em sentido universal. As divergências entre os diferentes organismos da sociedade civil são por vezes deveras complexas, difíceis de ultrapassar e, por isso, a teoria da sociedade civil é entendida como uma condição implícita e uma consequência prática do pluralismo filosófico e político baseado na lógica da ocasião. Isto significa que ela se vê a si própria simplesmente como uma teoria tendencialmente normativa, entre outras, pressupondo assim que os diversos grupos e indivíduos possam expressar seus pensamentos, convicções, solidariedades e, se for o caso, oporem-se uns aos outros de forma aberta, pública mas não violenta (Keane, 2001).

Keane critica a posição dos que consideram a sociedade civil como uma categoria aplicável apenas ao contexto ocidental pois, para ele, o resto do mundo pode conhecê-la e experimentá- la. Aliás, como observou Haberson (1994), embora a noção de sociedade civil tenha raízes na filosofia política ocidental e corresponda a um estilo de organização dessa sociedade, ela é um instrumento conceptual com capacidades heurísticas para compreender situações do contexto africano. De facto, estudos empíricos têm demostrado que o conceito de sociedade civil é passível de operacionalização em países africanos, e que tal exercício levanta questões práticas e de capital importância para o estudo aprofundado das relações entre o Estado e a sociedade no processo de desenvolvimento.

O panorama teórico sobre a sociedade civil destaca, grosso modo, duas grandes correntes conceptuais. A primeira, que na falta de melhor termo a designamos por “jusnaturalista”, define a sociedade civil, em contraposição ao “estado de natureza”, como todo o sistema de organização dos indivíduos visando o seu bem-estar. Nele se inclui a organização estatal, político-partidária, mercantil e familiar. No entanto, como veremos detalhadamente no

17 Para além de Keane (2001), esta matéria foi igualmente tratada em Diamond, Larry (1994), Toward

Democratic Consolidation, Journal of Democracy, Volume 5, Number 3, pp. 4-17; Locke, John (1988), Two Treatises of Government, Cambridge University Press; entre outros.

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segundo capítulo, as conceções de seus autores, Hobbes (1999), Locke (1988), Kant (1991), Rousseau (1966), entre outros, não foram homogéneas nem sempre convergentes.

Na segunda corrente, baseada em pressupostos “hegelianos”, a sociedade civil remete para organizações diferentes do Estado, mercado e família, nas quais os indivíduos se juntam deliberadamente visando a busca de sua liberdade e bem-estar. Autores como Hegel (2000), que de forma pioneira se destacaram nesta abordagem, e posteriormente Gramsci (2007), Gellner (1995), Keane (2001), entre outros, avançaram diferentes conceções neste plano. Esta linha de raciocínio tem predominado atualmente ao se defender que a conceptualização científica da sociedade civil exige sua diferenciação com outras esferas sociais que tendem a confundir-se com ela (Alexander, 1998). Todavia, tal exigência conceptual não é de fácil execução dada a ambiguidade e complexidade das relações entre a sociedade civil e outras esferas sociais (Estado, família, mercado), como se nota na definição elaborada pelo Centre for Civil Society, de acordo com a qual,

Civil society refers to the arena of uncoerced collective action around shared interests, purposes and values. In theory, its institutional forms are distinct from those of the state, family and market, though in practice, the boundaries between state, civil society, family and market are often complex, blurred and negotiated. Civil society commonly embraces a diversity of spaces, actors and institutional forms, varying in their degree of formality, autonomy and power. Civil societies are often populated by organizations such as registered charities, development non-governmental organizations, community groups, women’s organizations, faith-based organizations, professional associations, trade unions, self-help groups, social movements, business associations, coalitions and advocacy groups.

http://www.centroedelstein.org.br/PDF/Report/ccs_london.htm (acedido a 21/05/14)

Esta definição ao reconhecer que o conceito de sociedade civil envolve uma diversidade de espaços, atores e tipos institucionais cuja formalidade, poder e autonomia apresentam graus variáveis reforça a nossa discordância em relação à ideia de que a sociedade civil moçambicana não tem autonomia.

Na análise do nosso objeto de estudo articulamos particularmente perspetivas teóricas da filosofia política, economia política e sociologia política. Nesta última buscamos o approach do “campo político” por verificarmos que oferece elementos adequados para analisar relações de poder entre agentes envolvidos no jogo político, onde procuram, duma ou doutra forma, influenciar o processo de tomada de decisões em defesa de interesses consubstanciados nas respetivas posições e visões do mundo.

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Na perspetiva do campo político, a autonomia dos intervenientes é sempre relativa e a manutenção ou mudança de agendas, projetos e visões de mundo são sempre possíveis dependendo das circunstâncias e da força de mobilização de apoio que as partes envolvidas no jogo político conseguem obter. Como afirma Bourdieu,

A razão e a razão de ser de uma instituição (ou de uma medida administrativa) e dos seus efeitos sociais não está na ‘vontade’ de um indivíduo ou de um grupo mas sim no campo de forças antagonistas ou complementares no qual, em função dos interesses associados às diferentes posições e do habitus dos seus ocupantes, se geram as ‘vontades’, se define e redefine, continuamente, na luta – e através da luta – a realidade das instituições e dos seus efeitos sociais, previstos e imprevistos (Bourdieu, 1989: 81).

De acordo com o autor, na perceção do mundo social e da luta política, a teoria mais acentuadamente objetivista tende a integrar não só a representação que os agentes têm do mundo social, mas também, de modo mais preciso, a contribuição que eles dão para a construção da visão desse mundo e, assim, para a própria construção desse mundo, por meio do trabalho de representação, nos mais diversificados sentidos do termo, que continuamente realizam para imporem a sua visão do mundo ou a visão da sua própria posição nesse mundo, a visão da sua identidade social.

Assim, a perceção do mundo social é produto de uma dupla estruturação social – “objetiva” e “subjetiva”. No plano objetivo, a perceção do mundo social está socialmente estruturada porque as autoridades ligadas aos agentes ou às instituições não se oferecem à perceção de maneira independente, mas em combinações de probabilidade muito desigual dependendo da posição ocupada no espaço social18.

Por seu turno, a nível subjetivo a perceção do mundo social está estruturada porque os esquemas de perceção e de apreciação suscetíveis de serem utilizados no momento considerado, e sobretudo os que estão sedimentados na linguagem, são produto das lutas simbólicas anteriores e exprimem, de forma mais ou menos transformada, o estado das relações de forças simbólicas.

Neste prisma, os mais aptos do ponto de vista das categorias de perceção em vigor são os que estão mais bem colocados para mudar agendas, projetos e visões de mundo a partir da mudança das categorias de perceção. No entanto, as evidências empíricas indicam que, salvo exceções, tais atores aptos, pela sua posição social e a correspondente defesa de seus interesses, são também os menos inclinados a operar tais mudanças (Bourdieu, 1989: 139/45).

18 Na obra “A Construção Social da Realidade”, Berger e luckmann (2010) apresentam com detalhes os

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Se a estrutura do campo social é definida em cada momento pela estrutura da distribuição do capital e dos ganhos característicos dos diferentes campos particulares, é certo em todo o caso que em cada um desses espaços de jogo, a própria definição daquilo que está em jogo e dos vários trunfos pode ser posta em jogo. Assim, de acordo com Bourdieu, todo o campo é lugar de uma luta mais ou menos declarada pela definição dos princípios legítimos de divisão do campo. A questão da legitimidade surge da própria possibilidade deste pôr-em-causa, desta rutura com a doxa que aceita a ordem corrente como coisa evidente.

Nesta ordem de ideias, a força das partes envolvidas na luta nunca é completamente independente da sua posição no jogo político e os constrangimentos da necessidade inscrita na própria estrutura dos diferentes campos pesam nas lutas simbólicas que têm em vista conservar ou transformar tal estrutura. Neste plano, parece ficar claro que o mundo social é, em grande parte, aquilo que os agentes fazem em cada momento. Porém, “eles não têm probabilidades de o desfazer ou de o refazer a não ser na base de um conhecimento realista daquilo que ele é e daquilo de que nele são capazes em função da posição nele ocupada” (Bourdieu, 1989: 150; Cf. Berger e Luckmann, 2010).

Se atribuirmos, como expeditamente faz o funcionalismo, os efeitos de dominação a uma vontade única e central ficamos impossibilitados de apreender a contribuição própria que os agentes (incluindo os dominados) dão, quer queiram quer não, quer saibam quer não, para o exercício da dominação por meio da relação que se estabelece entre as suas atitudes, ligadas às suas condições sociais de produção, e as expectativas e interesses inscritos nas suas posições no seio desses campos de luta, designados de forma estenográfica por palavras como Estado, igreja, partido ou sociedade civil (Bourdieu, 1989: 86).

Com base no conhecimento do espaço das posições no campo político, podemos observar conjuntos de agentes que ocupam posições semelhantes e que, colocados em condições semelhantes e sujeitos a condicionamentos semelhantes, têm, com toda a probabilidade, atitudes e interesses semelhantes, logo, práticas e tomadas de posição semelhantes. Em suma, apesar de não se tratar já de grupo mobilizado para a luta, pode-se dizer que, em casos de necessidade, este conjunto de agentes oporá menos obstáculos objetivos às ações de mobilização do que qualquer outro conjunto de agentes (Idem).

Todavia, se a probabilidade de mobilizar, efetivamente, um conjunto de agentes é tanto maior quanto maior é a sua proximidade no espaço social, é importante notar que a aproximação dos mais chegados não é necessariamente um dado adquirido visto que os efeitos da concorrência imediata podem fazer barreira. Por outro lado, a aproximação dos mais afastados não é impossível. De facto, se há mais probabilidade de mobilizar indivíduos do

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mesmo grupo real pode-se, contudo, na base duma causa abrangente conseguir a mobilização de indivíduos doutros grupos que, apesar de suas diferenças, podem desencadear uma luta conjunta visando a realização de interesses comuns19.

Para uma análise sociológica da questão da autonomia e dependência no âmbito das relações de poder que se estabelecem entre a sociedade civil, o governo e as agências doadoras da comunidade internacional há que buscar o conhecimento adequado não só do espaço das relações objetivas entre as diferentes posições constitutivas do campo, mas também das relações necessárias estabelecidas entre essas posições e as tomadas de posição correspondentes, que influenciam a realidade social e seu devir. Noutros termos, procuramos compreender o princípio e a eficácia das estratégias pelas quais os agentes se constituem em grupos organizados com o objetivo de assegurarem a defesa de suas posições e interesses.

Neste quadro, entendemos que as diferenças de posição das organizações da sociedade civil no campo político moçambicano não somente conduzem às diferenças no poder que elas adquirirem, mas também às diferenças nas práticas associativas e “lógicas de ação coletiva”20 através das quais tanto elas como o governo e as agências doadoras tentam melhorar sua posição respetiva umas em relação às outras. Mais interessante é o caso em que os mais poderosos e os menos poderosos se juntam com outros integrantes de suas respetivas categorias sociais a fim de conduzir o conflito de forma organizada e coletiva. No entanto, como nos adverte Olson (1998), a situação pode, eventualmente, não vir a ser mudada dramaticamente por essa coletivização do conflito.

A razão, de acordo com Olson, é que o poder superior também significa habilidade superior para defender e reproduzir o poder e seus interesses. Os poderosos são menos numerosos, mais dificilmente se dividem uns contra os outros, têm uma visão mais clara do que querem defender e têm maiores recursos para agir concertadamente, tal o caso das agências doadoras e do governo que em Moçambique detêm maiores recursos e, por conseguinte, mais probabilidades de exercer eficiente e eficazmente o poder e a defesa de seus interesses no processo das políticas públicas de desenvolvimento.

Como se explica então a existência de casos de mudança nas relações de poder?

19 A Plataforma Inter-religiosa para a Governação Participativa em Moçambique é disso um exemplo pois,

congrega membros de diferentes religiões (católicas, protestantes, muçulmanas) e mobiliza também instituições seculares interessadas em unir esforços na luta pelo desenvolvimento humano.

20 No artigo “Duas Lógicas de Ação Coletiva: Notas Teóricas sobre a Classe Social e a Forma de Organização”,

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Essa questão nos conduz à possibilidade de emprego de estratégias coletivas de conflito que não somente agregam recursos individuais dos membros da associação para articular os interesses comuns desses indivíduos, mas que também superam a individualidade desses recursos e interesses, bem como os obstáculos à organização efetiva, na medida em que se define uma identidade coletiva, na base da qual a possibilidade de mudar as relações de poder existentes se torna potencialmente exequível.

Isso quer dizer que aqueles em posição de poder inferior precisam de aumentar o seu potencial de mudança por meio de superação dos custos comparativamente mais altos da ação coletiva, através da mudança dos padrões de acordo com os quais esses custos são subjetivamente avaliados dentro da sua própria coletividade. Noutros termos, somente na medida em que as associações dos relativamente sem poder conseguirem formar uma identidade coletiva, de acordo com os padrões nos quais os custos de organização estão subjetivamente esvaziados, poderão elas esperar mudar a relação de poder original. Por outro lado, são os relativamente sem poder que mais precisam de agir na base de uma noção de identidade coletiva, simultaneamente gerada e pressuposta por suas associações (Offe e Wiesenthal, 1984). Nesta linha de raciocínio, retomando Bourdieu (1989), o mais importante do ponto de vista do problema da rutura do círculo da reprodução simbólica das relações de poder está no facto de que, na base das homologias de posição21 no interior do campo político,

se podem instaurar alianças mais ou menos duradoiras e sempre com fundamento em possíveis mal-entendidos mais ou menos conscientes.

A homologia de dis/posição entre, por exemplo, os intelectuais e os simples membros duma OSC – os primeiros ocupam no seio do campo do poder, isto é, em relação aos “poderosos”, posições homólogas das que são ocupadas pelos segundos no espaço social tomado no seu conjunto – está na origem de uma aliança ambígua, na qual alguns intelectuais, dominados entre os dominantes, oferecem aos dominados (membros comuns das OSC), mediante uma espécie de desvio do capital cultural acumulado, os meios para constituírem objetivamente a representação dos seus interesses numa teoria explícita e em instrumentos institucionalizados, tais como tecnologias sociais de mobilização, lobby, manifestações, protestos, entre outros, que podem ser usados na arena pública.

21 Homologia de posição caracteriza, segundo Bourdieu (1989), a situação em que indivíduos de posição social

diferente (um intelectual e um iletrado, por exemplo) podem se identificar e criar alianças entre si dada a sua “identidade comum” de dominados face aos grupos mais poderosos dum Estado, por exemplo. E como entendemos ser igualmente necessária uma “disposição” comum para tal interação nos convém adaptar esta noção passando a ser designada por nós como homologia de dis/posição.

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Como vimos, neste estudo, o approach sociológico do campo político se articula com a filosofia política e a perspetiva da economia política que ligam autonomia (ownership) com a disputa social pela influência das dinâmicas do desenvolvimento humano como processo de busca e usufruto de liberdades substantivas. Neste quadro, as organizações da sociedade civil, o governo e as agências doadoras da comunidade internacional não terão apenas diferentes perceções de autonomia, mas essas perceções, também, só farão sentido dentro de interações específicas entre eles num determinado contexto político, económico e sociocultural. Daqui decorrem três premissas de estudo e o argumento central sobre a autonomia e dependência da sociedade civil que sustentam o nosso trabalho, tais sejam:

i) A sociedade civil é um conceito que remete para a luta pela conquista, usufruto e defesa das liberdades individuais e/ou coletivas nos mais diversificados âmbitos como o social, o político e o económico, entre outros. Esse processo é dinâmico e envolve relações de poder caracterizadas por tensão, conflito, disputa, alianças e negociações em torno de interesses em jogo na arena pública. Nela, a sociedade civil tem poder negocial e, portanto, um sentido de autonomia na prossecução de estratégias que visam alcançar seus próprios interesses. Tais interesses podem ser ou não coincidentes com os de outros membros da sociedade civil, do governo e das agências doadoras;

ii) Negar ou subestimar a capacidade autonómica da sociedade civil é reduzir ou não perceber o alcance analítico do conceito de autonomia. Quando se sabe que a autonomia é sempre relativa e enfrenta diversos condicionalismos seja no plano material, das leis naturais, convenções sociais, entre outros, percebe-se que a sua observância remete para graus variáveis que resultam de processos de negociação e consentimento entre as partes envolvidas. Nestes termos, nenhum dos intervenientes em processos dinâmicos de disputa pelo poder de decisão escapa às capacidades de influência dos outros. Assim, a prevalência dos interesses de um grupo em relação a outros depende das circunstâncias e do poder de negociação e não da posse de autonomia absoluta;

iii) Neste prisma, todas as organizações da sociedade civil têm autonomia mesmo quando