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2 A ATIVIDADE DE POST-CONFLICT PEACEBUILDING (PCPB) DA ONU E SEU DIÁLOGO COM AS TEORIAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

2.4 CONCLUSÃO PARCIAL

A correta compreensão dos termos da presente tese não poderia prescindir de uma análise da evolução do conceito de peacebuilding (PCPB) dentro da estrutura da ONU. O que se pôde observar é que este conceito, muito embora enunciado nos anos 70, apenas se popularizou a partir do fim da Guerra Fria, dentro de um novo paradigma de valorização do Conselho de Segurança da ONU e de seu consequente aumento quantitativo e qualitativo da OPs.

Como se percebe, o viés qualitativo foi determinante para a evolução do conceito, uma vez que trouxe consigo a percepção de que desenvolvimento e paz seriam processos interdependentes. As atividades de PCPB, resumidamente, seriam aquelas em que a Organização tomaria as iniciativas necessárias ao estabelecimento de um ambiente político/social saudável e sustentável, em um ambiente pós-conflito, ao lado de medidas de

caráter econômico com igual teor. Tudo visando a não ocorrência de outro conflito ou a recorrência de um já findo.

Em relação às diversas teorias da disciplina de Relações Internacionais, capazes de explicar a atuação institucional (ONU) em termos de PCPB, verificou-se que estas não estudam de maneira direta o tema, fazendo-se necessária a abordagem indireta da questão pela análise de como as teorias vislumbram a atuação das Organizações Internacionais (OI) na política mundial, dado que a ONU é a Organização Internacional de caráter universal por excelência.

Foram abordadas as principais teorias de Relações Internacionais, procurando-se destacar que, em regra, as teorias normativas (que propõem como as coisas devem ser) são aquelas que melhor recebem a concepção de emprego da Organização para a promoção da paz e da segurança internacionais.

Podem ser citadas as teorias Liberal e Neoliberal de Relações Internacionais como aquelas que enxergam as OI como indutoras de cooperação, paz e desenvolvimento, na medida que igualam os Estados (diferentes por natureza) e estabelecem regras conhecidas a priori. A teoria Construtivista, na medida que as OI, fruto da lógica e da razão humana, promovem melhoras na maneira e na qualidade das relações entre as sociedades. A teoria Normativa, que preconiza o cosmopolitismo como vínculo primário a unir os seres humanos em contraposição ao comunitarismo estatal e a teoria do Funcionalismo de Mitrany, quando assume que os problemas pelos quais passa a Humanidade são de uma magnitude técnica tal que somente técnicos qualificados, e não políticos, seriam capazes de lhes dar o devido encaminhamento, cabendo esse papel às agências especializadas da ONU.

Não obstante, ideologicamente, se identificou, pela narrativa de Seitenfus (2008), que o padrão ideológico que melhor justifica as ações de PCPB é o do desenvolvimentismo, onde o desenvolvimento econômico é um fim em si próprio e as OI são o veículo de promoção, nos moldes liberais da economia, das condições de atração dos investimentos internacionais para um dado território.

Em todas essas teorias, é possível identificar e justificar a atuação da ONU no Timor- Leste. Ao momento da primeira intervenção, em 1999, Timor era um território pobre, instável politicamente e que necessitava de desenvolvimento por intermédio de um autogoverno. A ONU ali se apresentou para suprir essas carências, agindo em nome de questões humanitárias, respaldada por um sistema de segurança coletiva, que tinha como compromissos primários a promoção da liberdade e da democracia (Liberalismo e Neoliberalismo). A mudança de atitude (ideias) em relação ao papel da ONU, logo após o fim da Guerra Fria, permitiu uma maior

liberalidade em relação ao seu emprego nas OPs. Timor é consectário dessa política (Construtivismo). Em nome de ideais cosmopolitas, que enxergam na Humanidade nosso vínculo primário (e não nas comunidades estatais), a ONU “passou por cima” dos interesses soberanos indonésios e interveio militarmente no território do Timor-Leste, a fim de prestar socorro a uma população cuja segurança era ameaçada por quem lhe deveria proteger (teoria Normativa). Por fim, o padrão da intervenção, com uma atuação mais técnica (promoção de capacitação governamental pela via institucional e desenvolvimento econômico nos moldes liberais) do que política e sociológica, revelou um forte viés desenvolvimentista levado a cabo pela instituição dentro de um padrão funcionalista.

Por outro lado, as teorias de cunho mais empírico (baseadas mais na observação de eventos do que em proposições a priori) são aquelas que menos legitimidade emprestam à atuação da ONU no desiderato das OPs. O Realismo, o Neorrealismo, a teoria Crítica e o pós- Modernismo possuem em comum a observação de que as OI nada mais são do que estruturas tendentes à manutenção do status quo internacional, dado o seu domínio pelas nações mais poderosas que, pela via parlamentar, nelas apenas projetam a sua diplomacia e os seus interesses nacionais.

Da mesma forma, a visão marxista exacerba o lado calculista das nações mais poderosas, considerando que o seu interesse em agir coletivamente (PCPB) é condicionado, em última análise, por interesses econômicos escusos, que não costumam aparecer em um primeiro momento e se concretizam pela atuação desses países em instituições internacionais por eles dominadas. Este foi, em certa medida, o padrão de atuação da Austrália.

Em todos os casos, igualmente, se poderia enquadrar a questão timorense. Embora não seja o objeto primário da presente tese, posto que essas motivações são mais explícitas nos momentos que antecedem a intervenção (objeto da dissertação de mestrado), é bastante verossímel que Timor tenha sido palco de interesses diversos da Austrália, dos Estados Unidos, de Portugal e da Indonésia. No caso australiano, acrescente-se o seu nítido interesse econômico na questão petrolífera, o que vai ao encontro dos pressupostos teóricos marxistas.

3 A UNITED NATIONS TRANSITIONAL ADMINISTRATIONS IN EAST TIMOR: A

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