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O parágrafo 22 menciona que o sistema judicial do país continuaria a demandar auxílio internacional, mesmo após a independência, especialmente no setor de perícias judiciais. Sem esse auxílio, o relatório considerava que haveria comprometimento para o regresso de refugiados e para a reconciliação, haja vista que se prejudicaria a aplicação efetiva de justiça.

Nos parágrafos 39 e 40, que tratam especificamente do tema da reconciliação, o Secretário Geral ressalta que a UNTAET seguia preparando as comunidades distritais para o retorno dos refugiados, a fim de que a reintegração fosse pacífica e houvesse reconciliação a longo prazo. Todavia, ressalvava que, embora houvesse o medo de represálias contra alguns retornados, os relatos dos casos de violência haviam sido mínimos.

O parágrafo 40 foi redigido especificamente para a Comissão para a Recepção, Verdade e Reconciliação, informando que se encarregaria dos acusados de delitos menores e que investigaria os fatos ocorridos entre 25 de abril de 1974105 a 25 de outubro de 1999. A Comissão teria um mandato e dois anos, receberia ajuda técnica de servidores internacionais, mas seria

105 Data da Revolução dos Cravos em Portugal, a partir da qual a sociedade timorense passou a arquitetar a sua

composta predominantemente por cidadãos timorenses. Seria financiada por contribuições voluntárias internacionais que ainda não alcançavam a soma prevista para o seu funcionamento.

Em 17 de janeiro de 2002, o Secretário Geral publicou o relatório S/2002/80.

Ainda que o objetivo “g” trate de processos autóctones de reconciliação, a sua efetividade passava, necessariamente, por uma boa relação com a vizinha Indonésia, de onde provinham ainda inúmeros refugiados e único país a fazer fronteira com o Timor-Leste.

Por essa razão, o parágrafo 11 cita que negociações de alto nível estavam agendadas na Indonésia para o final de fevereiro de 2002. Os assuntos que seriam tratados eram de suma importância para a resolução de questões pendentes e para que a boa vontade imperasse entre os dois vizinhos, repercutindo paralelamente no processo de reconciliação interna no seio da sociedade timorense. Dentre eles: “o retorno dos bens culturais, arquivos e registros, mantendo o acesso dos estudantes timorenses a Institutos de ensino superior na Indonésia, um protocolo sobre cooperação policial e disposições para o estabelecimento de ligações postais, passagens de fronteira por razões tradicionais e regulamentação de mercados”. Não obstante, os dois países concordaram em “fazer um reconhecimento conjunto da fronteira em fevereiro de 2002 para estabelecer princípios e técnicas de demarcação”.

Em relação à Comissão para a Recepção, Verdade e Reconciliação o tom do relatório era pessimista, na medida que noticiava a falta de doações internacionais para o seu funcionamento (parágrafo 38).

O último relatório que faz referência ao objetivo “g” é o relatório S/2002/432, de 17 de abril de 2002.

O parágrafo 33 menciona a Comissão para a Recepção, Verdade e Reconciliação, trazendo como informação nova apenas o fato de que seus membros haviam prestado juramento em 21 de janeiro de 2002 e que já se encontravam trabalhando (apesar das restrições orçamentárias mencionadas). Essa comissão tinha o encargo de apresentar ao governo, ao final de seu mandato de dois anos, um relatório com suas recomendações para a proteção dos direitos humanos.

Nos parágrafos 34, 35, 36, 37 e 38 se mencionam dois aspectos muito importantes para a promoção de uma verdadeira reconciliação autóctone, que são a questão dos delitos graves (ficaram de fora da análise da Comissão de Recepção, Verdade e Reconciliação) e dos processos penais que corriam na Indonésia pelos fatos ocorridos em 1999. Em resumo, o relatório menciona que, apesar da sobrecarga de trabalho e da falta de juízes, seguiam os processos no Timor-Leste, mas que, em contrapartida, os processos julgados na Indonésia padeciam por vício

de jurisdição (limitada temporalmente) e pelas penas extremamente brandas. Esse último aspecto gerava uma sensação de impunidade que levava a UNTAET a reconhecer, textualmente que: “é forçoso considerar as decisões do Tribunal (de Jacarta) inadequadas e desalentadoras”.

3.3.12 “j) Coordenar a assistência ao Timor-Leste” (2,5%)

Este é um objetivo relacionado a aspecto político externo, relativo à ajuda econômica externa e de suma importância para o sucesso de uma operação de paz. Sem a devida captação de recursos, o trabalho da ONU fica comprometido e o “sucesso” de uma operação de paz, já tão sujeito a uma série de fatores alheios à vontade política da instituição, pode se ver limitado. A primeira menção ao objetivo “j” aparece no relatório A/54/654, de 13 de dezembro de 1999.

Nesse relatório, conforme já mencionado da análise do objetivo “c”, o parágrafo 40 anunciava a realização de uma conferência em Tóquio, entre os dias 15 e 16 de dezembro de 1999, onde a ONU e o Banco Mundial apresentariam aos doadores um chamamento consolidado que faria menção a todas as necessidades de doações financeiras para a missão.

Em 26 de janeiro de 2000, o Secretário Geral publicou o relatório S/2000/53.

O parágrafo 11 mencionava que duas missões de avaliação teriam sido realizadas no Timor-Leste, entre o final de outubro e meados de novembro de 1999, as quais teriam tido como objetivos “elaborar importantes propostas para a reconstrução, desenvolvimento e administração do território”. Essas missões foram encabeçadas, respectivamente, pelo Banco Mundial e pelo FMI106.

Essas avaliações, antes de serem transformadas em estimativas concretas de necessidades de apoio externo, foram novamente discutidas com o povo do Timor-Leste e apresentadas aos doadores na reunião de Tóquio mencionada na descrição do parágrafo 40. O parágrafo 12 menciona que um total “de 522,45 milhões de dólares foi comprometido, dos quais 148,98 milhões destinam-se a atividades humanitárias e 373,47 milhões à administração civil, construção e desenvolvimento”.

No parágrafo 13, informa-se que “a UNTAET estabeleceu uma estrutura para garantir a

106 O apoio de instituições internacionais estava previsto no Mandato da missão (Resolução 1272) (ONU, 1999,

tradução nossa) em seu parágrafo 5, conforme se segue:

“5. Reconhece que, para desenvolver e desempenhar as suas funções de acordo com o seu mandato, a UNTAET terá que basear-se na experiência e na capacidade dos Estados-Membros, das agências das Nações Unidas e de outras organizações internacionais, incluindo instituições financeiras internacionais;...”

coordenação geral de todos os programas financiados com fundos do exterior”. O parágrafo também noticia a criação de uma força tarefa na sede da ONU para a coordenação “entre os departamentos da Secretaria, agências, fundos e programas relevantes, bem como com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial”.

No parágrafo 72, o Secretário Geral fazia uma avaliação panorâmica sobre a captação de recursos para o Timor-Leste, elencando que a conferência de Tóquio havia obtido a promessa de arrecadação de 31,52 milhões de dólares, sendo que os custos estimados da administração do Timor-Leste, para o ano de 2000, eram de 28,3 milhões, com receitas próprias (impostos, taxas, etc) estimadas em 15 milhões de dólares. Este dinheiro, que advinha de contribuições voluntárias de governos estrangeiros, fazia parte do Fundo Fiduciário da UNTAET, que era apenas um dos fundos que compunham o complexo sistema de captação de recursos externos para o país, o que será melhor esclarecido na análise crítica dos relatórios da UNTAET. No mesmo parágrafo, se anunciava que, em Tóquio, ficou decidido que outra reunião com o mesmo objetivo seria realizada em junho de 2000 em Lisboa. O Secretário Geral também relatava que era compreensível a apreensão demonstrada pelo povo timorense dada a situação “desesperadora” em que se encontrava e que a ONU faria “todos os esforços para manter a excelente cooperação estabelecida entre as Nações Unidas e suas agências, fundos e programas, instituições de Bretton Woods, organizações não governamentais e doadores”.

Em 16 de janeiro de 2001, o Secretário Geral publicou o relatório S/2001/42.

O único parágrafo a mencionar o objetivo “j” foi o parágrafo 18, que noticiava que o Conselho Nacional havia revisado o orçamento para o biênio 2000-2001 e que esta revisão havia sido bem recebida na reunião de doadores que se realizou em Bruxelas, em dezembro de 2000. É importante lembrar que o relatório S/2000/738, de 26 de julho de 2000, não mencionou em seus parágrafos informações sobre o objetivo “j”. O mesmo parágrafo chama a atenção para o aumento da arrecadação interna, a qual compunha um dos fundos administrados pela UNTAET e, no futuro, deveria se transformar na principal fonte de recursos do país.

Em 24 de julho de 2001, publicou-se o relatório S/2001/719.

No parágrafo 15 se relata, pela primeira vez, uma preocupação com a sustentabilidade fiscal do país em virtude da previsão de expansão da atividade governamental no período pós- independência. Esse possível desequilíbrio entre receitas e gastos é relatado como óbice que poderia vir a condicionar o auxílio financeiro internacional.

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