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O relatório traz uma importante notícia em relação à questão petrolífera. No seu parágrafo 12, se relata a conclusão das negociações entre a UNTAET e o governo da Austrália sobre os termos do “Acordo do Mar do Timor”, o que teria ocorrido após 16 meses de

93 Segundo Kingsbury (2009, p. 39, tradução nossa), a presença japonesa (predominantemente) e a aliada

(australianos e holandeses), no Timor-Leste, durante a II Guerra Mundial, levaram à morte aproximadamente 60.000 (sessenta mil) timorenses. Este fato teria gerado uma espécie de “dívida moral” dos japoneses em relação àquele país, da qual tentaram se redimir por ocasião da presença da ONU após 1999.

negociações entre uma equipe do Gabinete do Timor-Leste (sob orientação da UNTAET) e o governo australiano, na data de 5 de julho de 2001.

A informação mais importante sobre este tratado era a reversão de uma cláusula extremamente prejudicial aos timorenses, acordada pelos indonésios e os australianos, com a celebração do “Tratado do Timor Gap, em 1989 (ainda durante a vigência da jurisdição indonésia no território). Conforme já mencionado, o antigo tratado previa uma repartição de 50% para cada uma das partes em relação aos lucros obtidos pela exploração de petróleo nas chamadas “zonas de cooperação”, zonas essas localizadas, presumivelmente à luz do Direito Internacional, em águas territoriais timorenses. Com a intermediação da UNTAET, a cláusula de exploração conjunta previa uma repartição na proporção de 90% dos lucros para os timorenses e 10% dos lucros para os australianos, o que era amplamente favorável em relação às condições anteriores. Além disso, as negociações definiam que o regime fiscal sobre as explorações ocorridas na chamada “Área de Desenvolvimento Conjunta de Petróleo” (antigas zonas de cooperação) seria definido pelos timorenses (pelo acordo de 1989 a questão do regime fiscal ficaria “congelada”). O relatório também deixava claro que o tratado somente entraria em vigor quando fosse devidamente “aprovado, assinado e ratificado” pelo governo eleito do Timor-Leste, o que de fato ocorreu em maio de 2002. Para uma melhor visualização da questão do petróleo, acrescenta-se, a seguir, um mapa obtido no artigo intitulalo “Timor’s Oil” (CLARKE, 2014). Como se pode observar, as jazidas de petróleo com interesse em se explorar encontram-se dentro da área mais próxima ao Timor-Leste, definida pela linha mediana entre as duas costas (Austrália e Timor-Leste). De acordo com o Tratado do Direito do Mar (ONU, 1982), essas águas pertenceriam ao Timor, haja vista que a linha mediana deveria definir os limites entre os dois países pelo fato de distarem entre si menos de 400 milhas náuticas (o que tornaria impossível definir uma Zona Econômica Exclusiva de 200 milhas náuticas para cada um) e terem suas costas adjacentes94. Conforme já mencionado, a Austrália “cedeu” em relação à proporção de repartição dos lucros, concedendo ao Timor 90%, em troca da não definição imediata dos limites fronteiriços. Para o Timor, cuja necessidade de obtenção de receitas era

94 Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (ONU, 1982, tradução nossa):

ARTIGO 15

Delimitação do mar territorial entre Estados com costas adjacentes ou situadas frente a frente:

Quando as costas de dois Estados são adjacentes ou se encontram situadas frente a frente, nenhum desses Estados tem o direito, salvo acordo de ambos em contrário, de estender o seu mar territorial além da linha mediana cujos pontos são eqüidistantes dos pontos mais próximos das linhas de base, a partir das quais se mede a largura do mar territorial de cada um desses Estados. Contudo, este artigo não se aplica quando, por motivo da existência de títulos históricos ou de outras circunstâncias especiais, for necessário delimitar o mar territorial dos dois Estados de forma diferente.

premente, especialmente pela já planejada diminuição progressiva da presença da ONU em seu território, também se tornou conveniente a aceitação desses termos.

Figura 2 – Questão do petróleo timotense

Fonte: Clarke, 2014.

A agricultura volta a ser tema de preocupação no parágrafo 18, onde se demonstra que o objetivo de retornar a produção aos níveis anteriores ao da crise de 1999 era uma questão de segurança alimentar, posto que se visava a autossuficiência. Não obstante uma série de esforços em programas de apoio à agricultura, o Secretário Geral relata dificuldades com relação a deficiências da infraestrutura local (estradas ruins) e com relação a fatores externos, como a competição com preços mais baixos de arroz de outras áreas da Ásia e a baixa do preço do café ocorrida naquele ano (2001).

Os parágrafos 19 e 20 mencionam alguns aspectos relacionados à exploração de recursos naturais, destacando a aprovação, por parte do Gabinete, de uma Declaração Política e um Programa Florestal Nacional (com base em normas internacionais) que reconhece as comunidades locais como capazes de gerenciar seus recursos naturais de forma sustentável.

O parágrafo 20 menciona, ainda, com grande ênfase, o Programa de Pequenas Empresas do Banco Mundial. Esse programa teria gerado um total de 1.296 (mil duzentos e noventa e seis) empregos diretos, sendo um terço ocupados por mulheres, além de ter proporcionado crédito a mais de 300 timorenses a cifras aproximadas de 4 milhões de dólares. Um segundo

programa de empréstimos a pequenas empresas estaria em avaliação pela UNTAET e o Banco Mundial, com valores aproximados de 7,5 milhões de dólares. Ao todo, desde abril de 2000, 4.500 empresa teriam sido inscritas no programa sendo que, deste total, 80% das empresas seriam de propriedade de timorenses.

Com relação às capacidades econômicas geradas pelo incremento da infraestrutura, o parágrafo 21 menciona a importância da recuperação do aeroporto e do porto de Dili para o país. Quanto a este último, especialmente, o relatório salienta que já era capaz de despachar 40 (quarenta) navios, 1.800 (mil e oitocentos) containers e 370 (trezentos e setenta) veículos ao mês. No mesmo parágrafo, há uma referência ao Serviço de Fronteiras, cuja a arrecadação para o período teria superado em 40% o planejamento inicial, sendo que a arrecadação com “sanções” seria suficiente para cobrir todo o orçamento de salários dos funcionários públicos do Timor-Leste.

O trabalho de outras agências da ONU e de outras organizações internacionais é enfatizado no parágrafo 22. Ali se menciona a participação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e dos Estados Unidos em um programa para a melhoria das relações laborais no país e o trabalho conjunto das Nações Unidas com as organizações do sistema de Bretton Woods para a avaliação da pobreza e o posterior planejamento nacional. Nesse último aspecto, é importante destacar que foi produzido um documento fundamental para o país que é o “Marco de Assistência das Nações Unidas para o Desenvolvimento” (MANUD)95. Segundo o relatório, a avaliação “proporcionou o primeiro cálculo completo da situação de desenvolvimento” do país. Mais adiante, em separado, serão abardados os trabalhos desenvolvidos tanto pelo Banco Mundial quanto pelo PNUD no Timor-Leste.

A situação da educação é descrita no relatório nos parágrafos 23 e 24. Além de importantes informações numéricas sobre reformas de salas de aula, aquisição de mobiliário e aquisição de material didático, os artigos ressaltam que as principais dificuldades relacionadas ao setor, apesar do grande aporte orçamentário que recebia, seriam:

a) a necessidade de constante treinamento dos professores, b) a carência de equipamentos das escolas e

c) a introdução do português e do tetum como línguas de ensino nas escolas primárias. Nos parágrafos 25 e 26, o Secretário Geral descreve os aspectos relacionados à saúde para o período do relatório. As áreas que receberam destaque foram:

a) políticas para saúde reprodutiva,

b) programas de vacinação, em especial o programa de vacinação para a poliomielite (abarcando 80% da população que deveria ser vacinada) e

c) programa de prevenção para doenças sexualmente transmissíveis, particularmente o de prevenção à AIDS.

O relatório também faz um mapeamento da oferta de assistência de saúde. Após ter herdado um sistema colapsado, com mais de 77% das clínicas do país destruídas, a UNTAET noticia que, desde o início da missão, a população recebia cuidados médicos graças a uma rede de “64 centros comunitários de saúde, 88 dispensários e 117 clínicas móveis”. Também se noticiava a transferência da administração do Hospital Nacional de Dili do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para a Administração Transitória do Timor-Leste, além da recuperação de quatro outros hospitais. O relatório menciona que o programa de saúde dispunha “agora” de todo o financiamento necessário.

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