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de janeiro de 2002, o Secretário Geral publicou o relatório S/2002/80, que traz em sua segunda parte, conforme mencionado anteriormente, um “planejamento detalhado de

uma missão integrada das Nações Unidas que se desdobraria no Timor-Leste após a independência” (parágrafo 2).

A situação de segurança tem seus primeiros comentários no relatório a partir do parágrafo 28, onde se eneuncia que a estabilidade no Timor, como condição de segurança, é fundamental não apenas ao país, mas também ao entorno regional.

Nos parágrafos 29 e 30 o relatório prossegue a análise de segurança, com a persistente ênfase na situação fronteiriça. Resume-se que, mesmo diante de um considerável declínio das incursões milicianas ao território timorense, as atividades de comércio ilegal, quando patrocinadas por milicianos, dão a si contornos políticos indesejáveis e capazes de provocar desequilíbrios nas relações entre os dois países. Desta forma, o relatório sugere a adoção de um “regime transfronteiriço geral” entre os dois países a fim de que haja estabilidade a longo prazo nessa região. Por derradeiro, o parágrafo 30 também comenta a necessidade de que tais medidas não se limitem à fronteira oeste do Timor, mas que também sejam adotadas em relação ao enclave de Oecussi, para o qual se previa um regime especial na nova constituição, com medidas administrativas e econômicas diferenciadas.

No que diz respeito à segurança interna, o parágrafo 44 informa que as taxas de delinquência no país seguiam baixas, entretanto, um aspecto chamava a atenção, que era a criação de grupos não oficiais de segurança local, desde a eleição de agosto de 2001 (eleições para a Assembleia Constituinte). Esses grupos eram compostos, em sua maioria, por ex- combatentes das FALINTIL não acolhidos nas FDTL. O relatório não comenta sobre a sua finalidade e nem sobre o motivo pelo qual a criação desses grupos suscitaria preocupação por parte da ONU, mas se supõe que a preocupação fosse oriunda do tipo de atividade que poderia

ser exercida e, até mesmo, o seu crescimento em números, haja vista que a absorção de ex- combatentes pelas FDTL seria limitada, como se abordará mais adiante.

Na abordagem do problema relacionado no parágrafo anterior, a UNTAET informava que estudava a possibilidade de adotar medidas restritivas, proibindo as atividades de segurança não autorizadas, alegando que velava “por melhorar as condições de vida dos antigos membros das FALINTIL (parágrafo 45).

Outra preocupação era a questão da violência doméstica (parágrafo 46), que aparece nos relatórios da ONU pela primeira vez neste relatório (S/2002/80), após chamar a atenção das autoridades da pelo aumento substancial de denúncias pela sua prática. As principais vítimas seriam as mulheres e as crianças e a ONU relata que este seria um “grave problema social” e que era necessário que, por intermédio de programas educacionais, a polulação fosse orientada e compreendesse a “magnitude do problema” a fim de encontrar soluções na comunidade local. As questões sociológicas/psicossociais foram muito pouco contempladas nos relatórios da ONU no Timor-Leste. Este fato é uma das poucas abordagens a esse respeito ao longo de toda a análise dos relatórios da UNTAET e será recobrado quando da “conclusão parcial” deste autor sobre o capítulo em questão.

No item III. do relatório, “Missão Sucessora”, em seu subitem “A”, Transição a um governo independente, o relatório retoma o tema do “downsizing” (redução de efetivos), informando que a estabilização das condições de segurança permitiu à ONU começar a reduzir seus efetivos68 nos termos do que relatou o parágrafo 70.

Dada a constatação de que a declaração de independência geraria um status diferenciado às tropas da ONU, em relação ao que tinham durante o período da UNTAET, o parágrafo 71 chama a atenção para a necessidade de se criarem meios jurídicos em parceria com o governo local sobre o status da força e suas relações com as FDTL. Esta era uma medida que não visava tão somente à questão das imunidades jurídicas que as tropas deveriam possuir, mas também a

68 70 Em Novembro, o ambiente de segurança estável permitiu à UNTAET começar a reduzir o seu componente

militar e, na altura da independência, a força de manutenção da paz das Nações Unidas terá cerca de 5.000 soldados. Actualmente, a UNTAET tem 7.212 tropas, mais de 1.700 abaixo do número autorizado de 8.950 tropas. À medida que a redução avança, a força foi reconfigurada para que possa continuar a promover a estabilidade na fronteira e internamente em todo o território de Timor Leste. Os contingentes que anteriormente estavam baseados em Ermera e Manatuto foram repatriados e as tarefas militares nesses distritos estão agora sob o contingente estacionado em Dili. No final de janeiro de 2002, o batalhão atualmente baseado em Lautem será responsável pelas tarefas em Oecussi, e o batalhão atualmente estacionado em Baucau expandirá suas operações atuais para incluir Lautem. Espera-se que até maio de 2002 um único grupo de engenharia assuma as responsabilidades dos dois batalhões de engenharia atualmente na área da missão. Da mesma forma, atualmente a polícia civil cuenta con 1.273 oficiales, número. Tem 1.273 oficiais, um número que será reduzido para 1.250 no momento da independência. (ONU, 2002, tradução nossa)

questão da coordenação de comando, haja vista que as FDTL estariam subordinadas ao governo local após a independência. O mesmo reaciocício deveria ser aplicado às forças policiais.

A terceira parte do relatório, “III. Missão Sucessora”, também contempla o item “B. Plano para a missão sucessora”, onde aborda em seu subitem 2 as considerações que a ONU julgava pertinentes ao componente militar.

Os parágrafos de 86 a 90 são aqueles em que se inserem as observações sobre o componente militar da ONU em um cenário de uma Operação de Paz no pós-independência.

O parágrafo 86 cuida da finalidade do componente militar a quem incumbia “prestar apoyo constante al mantenimiento de la seguridad externa y la integridad territorial de Timor Oriental y también de transferir sus responsabilidades a la Fuerza de Defensa de Timor Oriental y a los correspondientes departamentos de administración pública en forma oportuna y coordenada”. Além disso, em coordenação com outros componentes da missão, o componente militar também deveria seguir “facilitando las negociaciones sobre la delimitación de fronteras, que son cruciales para desarrollar las estructuras y políticas regionales de seguridad y control fronterizos”.

O parágrafo 87 tratava da composição tática da futura PKF. Em termos de inovação ao que se previu em relatórios anteriores, destaca-se apenas o acréscimo de um batalhão de Infantaria ao setor Central e Oriental, que anteriormente seriam contemplados apenas com um batalhão móvel. Nos demais setores, seguiu-se a mesma previsão já descrita nesta tese. A segunda parte do parágrafo 87 confirma a presença da PKF na região de fronteira até que o Timor-Leste desenvolva “plenamente la capacidad de seguridad y control fronterizos” e assevera, mais uma vez, a responsabilidade da ONU em relação à proteção de seus funcionários e bens.

O parágrafo 88 menciona que seria possível reduzir ainda mais os efetivos da PKF no contexto da missão sucessora e essa redução se daria em duas etapas. A primeira delas ocorreria quando a situação nas fronteiras se normalizasse, a partir da sua demarcação definitiva e a criação de um sistema adequado de controle fronteiriço69. A segunda etapada de redução é descrita no parágrafo seguinte, parágrafo 89, e elenca como condição para a total retirada das tropas da ONU do território, que as FDTL se tornassem totalmente capazes de responder às ameaças externas, fato este que só se tornaria possível após a implementação do segundo batalhão das FDTL, cuja previsão de inauguração, otimista, era o fim de 2003.

69 “88... o que implicaria uma redução de dois batalhões, isto é, entre 2.500 e 3.000 soldados.” (ONU, 2002,

O parágrafo 90 confirma o planejamento anterior da presença de 120 observadores militares para a futura estrutura militar da ONU, informando apenas que este número poderia sofrer pequenas variações de acordo com sua capacidade de supervisionar a situação em matéria de segurança.

O último relatório que contempla observações pertinentes ao objetivo “n” foi o último relatório produzido pela UNTAET antes da independência do Timor-Leste: o relatório

S/2002/432, de 17 de abril de 2002.

Os parágrafos 23, 24 e 25 são os que descrevem os avanços alcançados pela criação das FDTL. Primeiramente, se destaca o fato do primeiro batalhão já se encontrar em plena fase de instrução, com um efetivo de 500 (quinhentos) homens, funcionando na localidade de Los Palos, distrito de Lautem. Para o segundo batalhão, prosseguia o recrutamento que era realizado no Centro de Instrução de Metinaro, distrito de Dili. Relata-se que o Contingente Naval também seguia com a sua formação e que teria como base o porto de Hera, também no distrito de Dili.

No parágrafo 24 se faz menção ao planejamento do orçamento do “Ministério da Defesa” que teria como tarefas o assessoramento normativo das FDTL em matéria de defesa e a sua supervisão civil, essencial para a gestão a longo prazo daquelas forças. Logo em seguida, o Secretário Geral trata de agredecer àqueles que celebraram acordos bilaterais com o Timor- Leste e foram doadores para o estabelecimento das FDTL, ressalvando, porém, que a continuidade desse apoio era fundamental para que estas forças alcançassem sua autonomia operacional até janeiro de 2004, conforme se previa.

Os artigos 26, 27 e 28 resumem a situação do “ambiente de segurança” considerando-o estável ao fim da missão e ratificam a preocupação da UNTAET, para a próxima missão, em relação a presença de milicianos no lado oeste da fronteira, o exercício de comércio ilegal por parte desses e o fato de não haver uma linha demarcatória de fronteira perfeitamente definida, fatos estes que considera potencialmente perigosos para a futura situação de estabilidade do Timor-Leste.

Corroborando informações anteriores, o relatório demonstra um certo grau de preocupação com a situação dos “grupos de segurança” oficiosos nos distritos e a sua coexistência com a polícia. Ocorre que a Constituição70 do Timor-Leste autorizou o funcionamento de ditos grupos juntamente com a polícia e estes grupos eram formados, em

70 Artigo 147.º da Constituição do Timor-Leste: (Polícia e forças de segurança) 1. A polícia defende a legalidade

democrática e garante a segurança interna dos cidadãos, sendo rigorosamente apartidária. 2. A prevenção criminal deve fazer-se com respeito pelos direitos humanos. 3. A lei fixa o regime da polícia e demais forças de segurança.

grande parte, por ex-combatentes das FALINTIL. Estes combatentes se sentiam discriminados e sem reconhecimento público por não terem sido aceitos nas FDTL e suas atividades como constituintes desses grupos de segurança, àquela data, não se constituíam em ameaça, mas eram inspiradoras de vigilância para o futuro. A ONU relata que cuidava da situação por intermédio da prestação de apoio a esses ex-combatentes. Este apoio seria prestado por outros órgãos e, a teor da leitura do conteúdo do relatório, dá a entender que ocorria meramente no campo da retórica, o que denota um certo descaso da organização em relação ao tema.

3.3.3 “h) Estabelecer instituições não discriminatórias e imparciais, em particular no sistema judicial e de polícia, para assegurar o estabelecimento do império do Direito e proteger os Direitos Humanos” (12,9%)

O terceiro objetivo da ONU mais citado em seus relatórios, que é um objetivo político e diz respeito à capacidade estatal, aparece pela primeira vez no relatório A/54/654, de 13 de dezembro de 1999. Neste relatório, conforme já mencionado na análise dos outros objetivos, o Secretário Geral faz um apanhado histórico da situação do Timor Leste, informando que, desde 16 de novembro daquele ano, o Sr. Sérgio Vieira de Melo havia assumido a função de Representante Especial do Secretário Geral (RESG) e que este teria muitos desafios pela frente, haja vista o estado geral de destruição do Timor-Leste.

O parágrafo 42 é a única menção do relatório que diz respeito ao objetivo “h”. Nele se relata que não apenas uma solução duradoura do conflito como também o estabelecimento do império da lei dependia de uma necessária apuração das violações dos direitos humanos ocorridas após o plebiscito de 1999. No mesmo sentido, o relatório informa que duas comissões da ONU71 e uma comissão do governo indonésio visitaram o território a fim de apurar as violações do pós-plebiscito e enfatiza que os responsáveis pelas “graves violações de Direitos Humanos” cometidas no território “deveriam responder por suas violações”.

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