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No item III. Desenvolvimento Econômico e Social, o parágrafo 41 traz um balanço positivo das atividades, enunciando que, no período de transição, havia se “progredido consideravelmente” em matéria de desenvolvimento econômico e social. Muito embora haja esse relato, não há qualquer comparação com dado anterior que ateste esse “progresso considerável”.

No parágrafo 42, se menciona que os dados de desenvolvimento só seriam disponibilizados no início de 2002, quando as contas nacionais e as pesquisas domiciliares estivessem concluídas. Segundo o mesmo parágrafo, as avaliações macroeconômicas preliminares do Banco Mundial e do FMI indicavam a continuidade do crescimento e um baixo índice de inflação, muito embora se mantivesse um cenário de pobreza da base econômica.

A recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) foi associada ao aumento dos gastos públicos, à grande demanda de serviços em Dili e à recuperação da agricultura, cujo índice de crescimento ainda se mostrava inferior ao da economia urbana. Esse crescimento da atividade rural em descompasso com o crescimento das atividades econômicas no meio urbano era fonte de preocupação para a UNTAET, tendo em vista que, segundo estimativas do PNUD96, 75% da

96Segundo o relatório do PNUD (2001, tradução nossa) - East Timor, United Nations Development Assistance

Framework (2003-2005) - ... “Cerca de 75% da população vive em áreas rurais. Quase metade (48%) da população como um todo é inferior a idade de 17 anos. Isto é acompanhado de uma alta taxa de crescimento populacional de 2,5%. Como veremos abaixo, há poucas perspectivas de emprego para os jovens. Os padrões de educação e acesso são baixos. Eles possuem algumas das habilidades necessárias para lidar com os desafios da vida...” (tradução nossa)

população do país vivia em áreas rurais. Desta forma, o relatório endossa que deveria se seguir a política de investimento público desproporcionalmente alto nas zonas rurais para compensar os altos investimentos privados na capital (parágrafo 43).

Mais uma vez se menciona o impacto que a saída dos servidores da ONU poderia trazer à economia, reduzindo o volume de gastos e de demanda por serviços na capital. Além disso, o Secretário Geral retoma como grandes obstáculos ao crescimento a falta de regulação para o direito de propriedade e a falta de uma legislação que estabelecesse um sólido marco para o comércio (parágrafo 44).

A agricultura é abordada no presente relatório em seu parágrafo 47, onde se menciona que a população é bastante dependente dos cultivos de subsistência e que esse tipo de produção ainda é calcado em um estreito apoio governamental, seja pela implementação de medidas concretas (fornecimento de fertilizantes e de sistemas de irrigação) ou pelo fornecimento de treinamento. O Secretário Geral ainda menciona que se estavam tomando providências para a obtenção de certificação orgânica para o café.

O balanço do setor de educação é feito nos parágrafos 51 e 52. O relatório traz informações positivas sobre a recuperação do sistema (86% das salas de aula recuperadas e 100% do material didático adquirido) e sobre o aumento das matrículas (o que ensejou a contratação de mais 1.000 professores), rumo a um processo de universalização.

Para o setor de saúde, o relatório deixa clara a intenção de que a totalidade do setor fosse destinada a restabelecer o acesso da população aos serviços básicos de saúde e para a necessidade de se desenvolver um sistema sanitário sustentável. São citados diversos cursos de capacitação oferecidos na área médica e sanitária, cujo foco segue sendo o da capacitação de mão-de-obra local. A única menção à contratação internacional especializada se faz em relação ao Hospital Nacional de Dili, que agora já se encontrava sob gestão governamental timorense. Mencionam-se, ainda, o estado adiantado de construção de um armazém médico central (uma espécie de depósito central de medicamentos) e a execução de um programa de avaliação para a verificação das reais necessidades de reconstrução e reabilitação de hospitais (parágrafos 53 e 54).

Em 17 de janeiro de 2002, o Secretário Geral publicou o relatório S/2002/80.

Nesse relatório, o objetivo “i” tem sua primeira aparição nos parágrafos 47 e 48, a partir do item D. Desenvolvimento Social e Econômico, onde, pela primeira vez nos relatórios da UNTAET, se menciona que o desenvolvimento econômico e o estabelecimento de um ambiente seguro seriam interdependentes. A partir do parágrafo 48, se faz um balanço por estimativa dos

indicadores econômicos, prevendo-se que a inflação, em 2001, não teria passado dos 3% e que o crescimento do PIB, no mesmo período, chegaria aos 18%. O mesmo parágrafo, no entanto, assinala que seria provável uma contração econômica no ano de 2002 devido à diminuição do contingente internacional, incluído aí o contingente da ONU.

O Secretário Geral ressaltou o tom da Conferência de doadores realizada em Oslo, entre 11 e 12 de dezembro de 2001, onde se chamou a atenção para a necessidade de prudência fiscal para a aplicação do orçamento para o biênio 2002-2003. Essa preocupação talvez ocorra pela consideração de que, a partir de 2002, Timor-Leste teria um governo independente a gerenciar as contas do CFET, conta esta que cuja composição advinha prioritariamente das doações internacionais (parágrafo 49).

No parágrafo 50 se menciona a criação de um Plano Nacional de Desenvolvimento, que deveria ser ultimado até a data da independência. Este plano, que deveria se basear em uma ampla consulta nacional, tinha como objetivo a adequação dos propósitos de desenvolvimento a um marco fiscal de médio e longo prazo.

A questão do petróleo foi retomada no parágrafo 51. Após as eleições, se realizou uma avaliação por uma equipe de especialistas jurídicos e financeiros sobre as consequências orçamentárias da incorporação das receitas do petróleo na economia. Mais uma vez, o mote da preocupação era a adequação entre gastos e receitas no médio e longo prazo. O mesmo parágrafo enuncia uma previsão de crescimento econômico do país na casa dos 5 a 6% ao ano, durante 25 (vinte e cinco) anos, com a incorporação das receitas petrolíferas.

Seguia sendo relatada como óbice ao investimento estrangeiro no país (elevado à categoria de maior óbice agora) a ausência de uma legislação sobre propriedade. O relatório,

ipsis litteris, assim mencionava: “viável a longo prazo e que permita harmonizar as

reivindicações dos governos de Portugal e da Indonésia em Timor Leste com os direitos de Propriedade tradicional” (tradução nossa) (parágrafo 52).

No campo da educação (parágrafo 53) o relatório faz um balanço otimista, destacando que mais de 240.000 (duzentos e quarenta mil) alunos, sob a tutela de 6.000 (seis mil) professores, haviam sido matriculados no ensino primário e secundário a partir de outubro de 2001. Relata também a reabertura da Universidade Nacional do Timor-Leste, a contar de novembro de 2000, contando com 5.000 (cinco mil) estudantes. Segundo o relatório, Timor contava, àquela época, com “700 (setecentas) escolas primárias, 100 (cem) escolas secundárias, 40 (quarenta) escolas secundárias e 10 (dez) faculdades técnicas”. Um total de 99% das escolas que necessitavam de reformas em suas salas de aula foram contempladas e o desenvolvimento

do ensino de formação normalista (voltada ao ensino primário) foi elencado como crucial para o desenvolvimento da educação no país.

No que concerne à saúde, o parágrafo 54 menciona, prioritariamente, a assunção progressiva de servidores timorenses, em substituição aos servidores internacionais, de funções de maior responsabilidade, tanto no plano nacional como nos distritos.

Em um item denominado “Fomento de Recursos”, que abarca os parágrafos 61, 62 e 63, o relatório novamente ressalta a importância do petróleo para o aumento das receitas do país, descrevendo que técnicos timorenses e as empresas petrolíferas que trabalhavam no campo de Bayu-Undan chegaram a um acordo em relação às medidas tributárias que permitissem o início da exploração de gás natural no referido campo. Este entendimento prévio foi respaldado pelo Conselho de Ministros e, posteriormente, foi submetido à análise do governo australiano.

O parágrafo 62 faz uma primeira menção ao ecoturismo, atividade de grande potencial para o país.

Logo em seguida, o parágrafo 63 ressaltava a necessidade de que se realizasse uma avaliação do impacto ambiental das atividades petrolíferas e de turismo a fim de que se regulassem os investimentos vindouros no país, estabelecendo uma primeira ligação entre atividades sustentáveis e atração de investimentos.

Do ponto de vista da agricultura e da pesca, o relatório afirma que a agricultura continuava “a ser o principal fator na economia de Timor-Leste para mais de 90% da população” (parágrafo 64). Sendo assim, o apoio a esse setor era estratégico para o desenvolvimento do país. O relatório não faz menções relevantes a resultados obtidos, contudo, ressalta quais seriam os objetivos do Ministério ds Agricultura do novo governo, provavelmente expondo aquilo que considerava ser as maiores deficiências no setor97. A preocupação com a agricultura e a população rural refletia o entendimento das Nações Unidas de que, além de ser a principal atividade econômica do país àquela época, o meio rural era, em grande medida, menos desenvolvido que o meio urbano. O quadro a seguir, obtido no documento “Timor-Leste Human Development Report (ONU, 2006) bem demonstra que a pobreza no país era muito maior dentre aqueles que viviam da agricultura de subsistência do que entre os que obtinham sustento por outras atividades.

Figura 3 – Pobreza e ocupação

97 Parágrafo 64 do relatório S/2002/80, de 17 de janeiro de 2002:

“...Os objetivos básicos do Ministério da Agricultura e Pescas são restaurar ativos produtivos, reabilitar sistemas de irrigação em ruínas, fornecer aos agricultores ferramentas agrícolas simples, realizar campanhas de vacinação de gado e melhorar as atividades de pesca e silvicultura...”. (ONU, 2002, tradução nossa)

Fonte: ONU, 2006

A atividade de pesca, por sua vez, era descrita no parágrafo 65, trazendo de relevante a informação de que era necessário se preservar a costa timorense da atividade pesqueira superexploratória, comum de ocorrer pela presença de navios indonésios de pesca, haja vista a não demarcação de fronteiras marítimas com aquele país. O relatório, por essa razão, chamava a atenção para a necessidade de definição dessas fronteiras o mais cedo possível.

Por fim, o parágrafo 66 mais uma vez ressalta a preocupação da UNTAET com a redução dos níveis de atividade econômica pela saída progressiva de seus servidores do país.

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