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O parágrafo 2 deste relatório, mais uma vez, destaca o papel do CCN como porta-voz da sociedade timorense junto à UNTAET no período de abrangência do relatório, entretanto,

sua análise mais esmiuçada já foi realizada quando da análise do objetivo “c”, onde se destacou a substituição do CCN pelo CN a fim de dar mais representatividade ao colegiado em relação à população timorense.

Um importante meio de diálogo e participação da população nos processos políticos é a atividade partidária. O parágrafo 4 relata que, até o estabelecimento da UNTAET, “não havia registro de atividade política aberta e democrática em Timor-Leste”. O parágrafo menciona a criação de novas organizações políticas, além do CNRT (FRETELIN como maior componente) e das partes que o compunham. Dentre elas: o Partido Socialista de Timor-Leste, o Partido Trabalhista, o Conselho de Defesa do Povo da República Democrática de Timor-Leste (CPD- RDTL) e o Partido Unido da Democracia Cristã.

Um dos maiores fatores de litígios entre os timorenses, e que por sua vez dificultava o diálogo no seio da própria população, era a questão da terra103. O parágrafo 28 do relatório informa que “Timor Leste herdou um regime complexo e muitas vezes contraditório de propriedade da terra”, sem, no entanto, adentrar em detalhes sobre a origem desse problema e da questão do direito de propriedade104. Mesmo assim, a UNTAET informava a criação de uma Comissão de Terras e Títulos, cujo objetivo era o de restaurar e manter o registro de terras, resolvendo os problemas por mediação ou arbitragem.

Nas considerações finais do relatório (parágrafos 65 e 66), o Secretário Geral chama a atenção para o trabalho desenvolvido pelo RESG, atribuindo a ele, pessoalmente, apesar da outorga de autoridade exclusiva pela Resolução 1272, um grande mérito na promoção de um diálogo com a sociedade timorense, pela criação de canais políticos viáveis e representativos.

103 A questão do direito de propriedade da terra só teve uma solução legal em 2017, com a promulgação da Lei N.º

13/2017, de 5 de junho de 2017, extemporameamente à presença da ONU no território do país. (PARLAMENTO NACIONAL, 2017)

104 Assim dispõe um extrato da Lei Nº 1/2003, de 10 de março de 2003, que versa sobre “REGIME JURÍDICO

DOS BENS IMÓVEIS:

...Das várias medidas temporárias tomadas pela UNTAET relativas à propriedade de imóveis, destaca-se o Regulamento n.° 2000/27, que visou congelar a situação jurídica de determinados bens. Essa administração transitória foi confrontada com numerosas situações de apropriação ou ocupação ilegítima de imóveis, conforme o testemunham as Ordens Executivas n.os 2002/5 e 2002/7, das quais a grande maioria não foi solucionada. Actualmente não existe qualquer registo predial de bens imóveis, públicos ou privados, na sequência da destruição

do país e da estrutura da sua Administração Pública, ocorrida durante o período do terror organizado que se viveu em 1999, mas a elaboração de um cadastro predial nacional já foi iniciada.

Inúmeros imóveis, que constituem agora património do Estado de Timor-Leste, foram ilegitimamente ocupados ou apropriados. Da mesma forma, inúmeros imóveis de propriedade de cidadãos, designadamente cidadãos nacionais ausentes no estrangeiro e cidadãos estrangeiros, foram também ilegalmente ocupados ou apropriados. Art 1º 1.

Bens imóveis, para os efeitos da presente lei, são os prédios urbanos e rurais, bem como as suas partes integrantes. (GOVERNO DE TIMOR-LESTE, 2003)

Em 16 de janeiro de 2001, o Secretário Geral publicou o relatório S/2001/42.

Nesse relatório, se descreve uma intensa atividade partidária nos parágrafos 6,7 e 8. Ainda que haja registros isolados de dissenso, como a manutenção de uma posição de não reconhecimento do mandato da ONU por parte do CPD-RDTL, as demais atividades são sinais evidentes da existência de diálogo político no país.

O parágrafo 33 foi redigido especificamente para tratar de “questões relativas à propriedade de terras”. Nesse parágrafo, se indica o adiamento da criação da Comissão de Terras para depois da independência. Essa medida é descrita como protelatória dos trabalhos da “Dependência de Terras e Propriedades”, impedindo a ocupação temporária de determinadas terras e a consecução de assistência na solução de conflitos. Ainda assim, o parágrafo menciona que haviam sido acordados temporariamente mais de 200 (duzentos litígios), o que já permitia a reforma e construção de alguns prédios públicos pelo aluguel dessas propriedades. Esperava- se um ingresso aproximado de 1 milhão de dólares pelo aluguel dessas propriedades.

O último relatório a mencionar algum aspecto relacionado ao objetivo “d” foi o relatório

S/2002/432, de 17 de abril de 2002.

A questão da terra prossegue sendo relatada como uma questão sensível, para a qual não se parece esboçar um mecanismo de diálogo capaz de solucioná-la a curto prazo. Conforme mencionado,o problema só veio a ser definitivamente enquadrado em um marco legal em 2017. Nesse sentido, o parágrafo 20 do relatório parecia profético ao mencionar que a falta de um marco legal inibiria os investimentos estrangeiros.

3.3.9 “k) Estabelecer instituições administrativas que prestem contas, sejam transparentes e eficientes” (2,8%)

Este é um objetivo relacionado à capacidade estatal e tem sua primeira aparição nos relatórios da UNTAET no relatório S/2000/738, de 26 de julho de 2000.

No referido relatório, o parágrafo 66, já nas observações finais do relatório, relata que, nas semanas anteriores à finalização do documento, foram observados indícios de intolerância em outros grupos políticos que não os que compunham o CNRT. Nesse sentido, o Secretário Geral exorta ao CNRT que “defenda a liberdade política pela qual havia lutado e aceite e encoraje a participação mais geral no processo político que se espera que a criação do Conselho Nacional promova”. Este parecia um claro recado de que o modus operandi do Conselho Consultivo Nacional, dotado de um número pequeno de membros e ainda composto, em parte,

por estrangeiros, não parecia ser abrangente e representativo o suficiente para que fosse dotado de transparência e eficiência.

Em 16 de janeiro de 2001, o Secretário Geral publicou o relatório S/2001/42.

A incorporação de um gabinete misto (timorenses e internacionais) à Administração de Transição do Timor-Leste (ATTL ou ETTA em inglês), em 14 de julho de 2000, foi um importante passo para o estabelecimento de uma instituição administrativa transparente e eficiente, na medida em que integrou os timorenses ao Gabinete da Administração, que, naquele momento (16 de janeiro de 2001), tinham 5 das 9 carteiras: relações exteriores, administração interna, infraestrutura, assuntos econômicos e assuntos sociais (parágrafo 16).

No parágrafo 34, se menciona a criação de um “Registro Civil” com apoio da Alemanha. O Registro Civil tinha como tarefas o registro de nascimento, casamento e óbitos. Se previa para fevereiro e 2001 a expedição de carteiras de identidade e comprovantes de residência aos maiores de 16 anos. O registro eleitoral seria obtido por intermédio do registro civil.

O Serviço de Controle de Fronteiras é citado no parágrafo 35 e sua atuação foi elogiada pela arrecadação, até dezembro de 2000, de mais de 6 milhões de dólares em impostos. Essa atuação era considerada acima da média e altamente eficiente.

No parágrafo 38, o Secretário Geral noticia a criação do escritório do Inspetor Geral em julho de 2000. Uma de suas funções, além de controlar e de fiscalizar a Administração Pública seria a de justamente “criar uma mentalidade de responsabilidade e transparência no novo governo”. No mesmo parágrafo se mencionam algumas investigações sobre corrupção já em curso pelo Inspetor Geral, marcando a sua atuação como chefe do órgão de controle externo.

Em 24 de julho de 2001, o Secretário Geral publicou o relatório S/2001/719.

Nesse relatório, a única menção ao objetivo “k” aparece no parágrafo 63, onde, textualmente, o Secretário Geral, já no epílogo do relatório, afirma que “É claro que muitas dificuldades e problemas ainda estão por resolver neste país em construção. Uma tarefa essencial é o estabelecimento de instituições públicas efetivas que possam ser sustentadas com as receitas fiscais.”

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