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A primeira menção ao objetivo “h” nesse relatório ocorre no parágrafo 44. Nele, o Secretário Geral relata o estabelecimento da “Comissão Judicial para a Transição”, em 5 de janeiro de 2000. Esta Comissão seria a responsável pelo recrutamento inicial de profissionais

71 Segundo o relatório A/54/654 (1999), as Comissões da ONU que visitaram o território a fim de apurarem as

violações de direitos humanos no Timor-Leste foram a Comissão de Direitos Humanos e a Comissão estabelecida pelo Conselho Econômico e Social. Nenhuma das Comissões havia finalizado seus relatórios até a data da publicação do relatório.

da área do Direito aptos ao exercício das funções de juiz, Promotor de Justiça e Defensor Público. A Comissão já teria selecionado um corpo inicial de 10 (dez) juízes e procuradores e havia proposto uma lista de 6 (seis) advogados, dentre 20 (indicados), para a função de Defensor Público. O Secretário Geral fez um chamamento à necessidade urgente que havia de se promover treinamento para magistrados, promotores e advogados. Além disso, informou que haviam sido identificados 60 candidatos, os quais já participavam de programas iniciais de treinamento, para o preenchimento dos cargos elencados. Contudo, relatava que as deficiências para a promoção do treinamento eram enormes e se deviam à falta de infraestrutura, textos legais, instalações e equipamentos básicos. Na verdade, os problemas relacionados ao estabelecimento de um sistema judicial eficiente iam muito além dos relatados pela ONU. Como se verificará na análise crítica dos relatórios da UNTAET, questões muito mais profundas emolduravam as dificuldades de institucionalização de um sistema judicial que se pretendia eficiente. Por ora, apenas para se ter uma ideia, além da absoluta falta de profissionais qualificados, podem ser citados: a competição entre dois sistemas jurídicos associados às diferentes formações dos operadores de Direito residentes na ilha (Common Law versus o Civil Law), a eleição do Português como idioma oficial dos tribunais e a carência de intérpretes e leis editadas em Português (as leis indonésias teriam vigência até a sua substituição por leis aprovadas pelo parlamento72) e a não consideração de um sistema de solução de conflitos informal associado a hábitos de vida das comunidades locais, das vilas.

No prosseguimento, o relatório menciona uma série de visitas (parágrafo 46) realizadas por membros do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), do

72 Segundo a Regulamento da UNTAET 1999 No.1, de 27 de novembro de 1999, sobre os Poderes da

Administração Transitória em Timor Leste, em seu artigo 3º: Artigo 3º

Lei vigente em Timor Leste

3.1. Enquanto não forem substituídas por regulamentos da UNTAET ou posterior legislação de instituições timorenses democraticamente criadas, as leis vigentes em Timor Leste antes de 25 de Outubro de 1999 manter- se-ão válidas neste território desde que não entrem em conflito com as normas evocadas no Artigo 2º, nem com o cumprimento do mandato conferido à UNTAET à luz da resolução 1272 (1999) do Conselho de Segurança das Nações Unidas ou com o presente e outros regulamentos e directivas emitidas pelo Administrador Transitório. 3.2. Sem prejudicar a possibilidade de rever as outras leis, as leis que se seguem, que não observam as normas

evocadas nos Artigos 2º e 3º do presente regulamento, assim como quaisquer posteriores emendas às mesmas e seus regulamentos administrativos, deixarão de vigorar em Timor Leste:

Lei das Organizações Sociais; Lei da Segurança Nacional;

Lei da Protecção e Defesa Nacional; Lei da Mobilização e Desmobilização; Lei da Defesa e Segurança;

Lei da Polícia.

Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH), à época Comissão de Direitos Humanos, de uma Comissão Especial sobre a questão da tortura e de uma Comissão Especial sobre a violência contra a mulher. Todas essas visitas levaram à aprovação do informe A/54/660, de 10 de dezembro de 1999, onde se rogava pelo estabelecimento de uma corte penal internacional caso a Indonésia não aprofundasse “as medidas necessárias para o esclarecimento dos feitos ocorridos” e “fizesse os culpados comparecer ante a justiça”.

Não obstante a atuação dos órgãos de direitos humanos ligados à ONU, a UNTAET também acabou por facilitar a atuação paralela da “Comissão Indonésia de Investigação das Violações de Direitos Humanos cometidas no Timor-Leste”, conhecida pela sigla de iniciais KPP-HAM, referente a sua denominação na língua indonésia. O grande problema era a imprecisão das informações referentes ao número de mortos, sua localização devido às chuvas, e ao nível de destruição do patrimônio público. Até aquele momento, 200 (duzentos) cadáveres haviam sido identificados em todo o território e, tão logo terminasse a estação das chuvas, novas escavações seriam realizadas. Havia dificuldades em relação à existência de peritos forenses o que obrigou a Comissão de Direitos Humanos a contar com a ajuda de peritos da UNPOL e da Polícia Militar da INTERFET. Em janeiro de 2000, começou a funcionar em Dili um depósito de cadáveres e um local de serviços forenses (parágrafos 47,48 e 49).

Os parágrafos 50, 51, 52 e 53 encerram os comentários sobre o objetivo “h” no relatório S/2000/53 e dizem respeito à estruturação do serviço de polícia no território, trazendo como informação relevante a distribuição da UNPOL por todos os 13 distritos do Timor-Leste, que contava, até aquela data, com a participação de 400 (quatrocentos) integrantes da polícia civil de 29 (vinte e nove) países diferentes. O relatório enfatiza que a UNPOL andava desarmada e baseava seus serviços em uma política voltada à comunidade, havendo estreita cooperação com o Escritório de Direitos Humanos da UNTAET e com membros da INTERFET para a investigação das atrocidades cometidas tanto no período pós-eleitoral como no período anterior ao plebiscito. Uma das principais investigações relativas ao período anterior ao plebiscito teria sido a do massacre promovido em uma igreja em Liquiça, onde 61 (sessenta e uma) pessoas foram mortas por milicianos indonésios em 6 de abril de 1999. No relatório, o Secretário Geral também enfatiza aspectos relativos à nova polícia do Timor-Leste, que teria, em fevereiro de 2000, a formação de seus primeiros 50 (cinquenta) policiais com um curso básico de duração de três meses, seguidos de seis meses de experiência nas ruas.

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