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A Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD)

4 DAS PERSPECTIVAS PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO DO DIREITO DA

4.1 A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL COMO INSTRUMENTO PARA A

4.1.2 As iniciativas em foros multilaterais

4.1.2.2 A Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD)

fornecimento de assistência aos países em desenvolvimento na formulação e implementação de políticas econômicas, auxiliando-os a se integrarem positivamente na economia mundial. Ademais, é um foro no qual são estudados e discutidos vários temas de comércio internacional, sua agenda sendo focada nas necessidades dos países em desenvolvimento464.

Sob esse prisma, a UNCTAD desenvolve o programa de políticas de concorrência e do consumidor, máxime através do Grupo Intergovernamental de Especialistas (GIE) em Política e Direito da Concorrência, composto por representantes das autoridades antitruste nacionais, bem como por membros da sociedade civil e da academia. Anualmente, o GIE se reúne para realizar discussões e trocas de experiências sobre temas como a relação entre a política da concorrência e o desenvolvimento, a capacitação das agências antitruste, bem como a cooperação internacional, produzindo-se diretrizes que são disseminadas entre os vários Estados. Além disso, desde 2005, são também realizadas revisões pelos pares (peer reviews) das políticas da concorrência de seus membros, em especial aqueles sem tradição antitruste. A UNCTAD presta, ainda, assistência técnica para países em desenvolvimento implantarem ou aperfeiçoarem seus sistemas antitruste. Nesse sentido, a organização dispõe de uma lei modelo

459 ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD). Executive Summary of the Hearing on Enhanced Enforcement Co-Operation. DAF/COMP/WP3/M(2014)2/ANN3/FINAL, 07 November 2014. Paris: OECD, 2014. Disponível em: <http://www.oecd.org/officialdocuments/publicdisplayd ocumentpdf/?cote=DAF/COMP/WP3/M(2014)2/ANN3/FINAL&doclanguage=en>. Acesso em: 23/11/2016. Vide demais documentos em: <http://www.oecd.org/daf/competition/enhanced-enforcement-cooperation.htm>. 460 ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD). Summary of Discussion of the Roundtable on the Use of Markers in Leniency Programs. Vide demais documentos em: <http://www.oecd.org/daf/competition/markers-in-leniency-programmes.htm>.

461 ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD). Big Data: Bringing Competition Policy to the Digital Era. Roundtable realizada entre 29 e 30 de novembro de 2016 (ainda sem relatório final). Vide documentos de trabalho em: <http://www.oecd.org/daf/competition/big-data-bringing- competition-policy-to-the-digital-era.htm>. Acesso em: 15/12/2016.

462 ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD). Competition and Sanctions in Antitrust Cases. Discussões realizadas no OECD Global Forum on Competition, em 02 de dezembro de 2016 (ainda sem relatório final). Vide demais documentos em: <http://www.oecd.org/competition/globalforum/ competition-and-sanctions-in-antitrust-cases.htm>. Acesso em: 15/12/2016.

463 Para as demais recomendações e mesas-redondas, vide <http://www.oecd.org/competition/>. Acesso em: 23/11/2016.

de defesa da concorrência, periodicamente revisada, a qual já serviu de inspiração para a adoção de um direito nacional da concorrência em mais de trinta países465.

O produto mais relevante da atuação da UNCTAD, no que tange à defesa da concorrência, é o Conjunto de Princípios e Regras equitativos multilateralmente acordados para o Controle de Práticas Empresariais Restritivas466, adotado em 1980 pela Assembleia Geral da ONU, através da Resolução n.º 35/63467. Tal documento objetiva eliminar as práticas comerciais restritivas, sobretudo de empresas transnacionais, que afetem adversamente o comércio internacional, de modo a contribuir para o desenvolvimento e o aprimoramento das relações econômicas mundiais numa base justa e equitativa. Dentre os comportamentos referidos no documento, há menção aos acordos de fixação de preços, de repartição de mercados ou de clientes e de estabelecimento de quotas de produção ou de venda, ou seja, práticas de cartel. Além disso, acolhe-se a teoria dos efeitos para a repressão das aludidas condutas, reconhecendo-se a necessidade de se aperfeiçoar as legislações domésticas nesse sentido. Ademais, para além de uma convergência das políticas de defesa da concorrência nacionais, é indicado que os países implementem e aprofundem a cooperação bilateral e multilateral. Dessa forma, sugere-se o fortalecimento dos mecanismos de intercâmbio de informações referentes às práticas restritivas, além do desenvolvimento de consultas multilaterais sobre as políticas antitruste. Apesar de o documento em comento não ter caráter vinculativo, ele é, até hoje, o único instrumento multilateral sobre política e direito da concorrência, exercendo influência, ao menos como referência, para vários países em desenvolvimento468.

Outros recentes destaques na atuação da UNCTAD referem-se a estudos sobre o uso de programas de leniência como ferramenta para a aplicação do direito antitruste contra cartéis

465 SOKOL, Daniel. op. cit. p. 199/200; SOUTY, François. CNUCED: Le Groupe intergouvernemental d’experts du droit et de la politique de la concurrence poursuit le mouvement impulsé à Doha par la Ministérielle en avril 2012 et montre que les organismes de l’ONU n’hésitent pas à concurrencer d’autres organismes internationaux. Concurrences – Revue des Droits de la Concurrence, Chroniques – Politique Internationale, nº 4, 2012. p. 195; OLIVEIRA, Gesner; RODAS, João Grandino. op. cit. p. 368/369; KESKIN, Ali Cenk. op. cit. p. 161/163. 466 UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT (UNCTAD). The Set of Multilaterally Agreed Equitable Principles and Rules for the Control of Restrictive Business Practices. TD/RBP/CONF/10/Rev.2, 2000. Disponível em: <http://unctad.org/en/Pages/DITC/CompetitionLaw/The- United-Nations-Set-of-Principles-on-Competition.aspx>. Acesso em: 24/11/2016.

467 A cada cinco anos, ocorre a Conferência de Revisão do documento em análise (Conference to Review All Aspects of the Set of Multilaterally Agreed Equitable Principles and Rules for the Control of Restrictive Business Practices), a última tendo sido realizada em 2015. Todavia, até hoje, ainda não foram operadas mudanças significativas.

468 OLIVEIRA, Gesner; RODAS, João Grandino. op. cit. p. 367/368; WEBBER, Marianne Mendes. op. cit. p. 103/105; CARVALHO, Leonardo Arquimimo de. op. cit. p. 160/167; KESKIN, Ali Cenk. op. cit. p. 154/161; DABBAH, Maher. The Internationalisation of Antitrust Policy. p. 254/255; BENSON, Stuart. Code on Restrictive Business Practices: an International Antitrust Code is Born. The American University Law Review, Vol. 30, Iss. 4, 1981. p. 1031/1048; FOX, Eleanor; ARENA, Amedeo. The International Institutions of Competition Law: The Systems’ Norms. In Fox, Eleanor; TREBILCOCK, Michael. The Design of Competition Law Institutions: Global Norms, Local Choices. Oxford: Oxford University Press, 2013. p. 480/481.

hard core em países em desenvolvimento469, os desafios de práticas anticompetitivas transfronteiriças para os países em desenvolvimento e economias em transição470, os impactos dos cartéis para os pobres471, as modalidades e procedimentos de cooperação internacional em casos envolvendo mais de um país472, os efeitos econômicos dos cartéis em países em desenvolvimento473 e a cooperação informal entre agências antitruste em casos específicos474. Além disso, em 2016, foram adotadas diretrizes sobre os programas de leniência475.

Cabe ressaltar, por fim, que a relevância da UNCTAD diz respeito principalmente aos países em desenvolvimento, o que reflete a própria origem e objetivos da organização. Por outro lado, ela exerce um papel apenas marginal para as grandes potências, como os Estados Unidos e a União Europeia, as quais não se envolvem, com profundidade, nos trabalhos da UNCTAD. Dessa forma, no que toca à internacionalização do antitruste, a organização em análise possui uma função secundária476.

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