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4.3 Da Luta Interparadigmática à Escolha Técnica

Ainda que o percurso histórico seja relativamente recente, tal como pudemos verificar no início do presente capítulo, o empreendimento das ciências sociais apresenta-se com uma diversidade e riqueza interna, no que respeita aos procedimentos metodológicos, que outros grandes domínios científicos não alcançam, rivalizando mesmo com outros domínios, com percursos históricos e de maturação científica bem mais longos, como são os casos das ciências exatas. Imbuídos do espirito “kuhniano” da obra “A Estrutura das Revoluções Cientificas” (1961/2009) onde Thomas Kuhn defende a existência de luta entre paradigmas, podemos desde já considerar a seguinte questão: em que consistem estas lutas?

O desenvolvimento e sofisticação metodológica e teórica das diferentes ciências, faz-se, de acordo com este autor, através da sucessão por vezes não pacifica, de formas de perspetivar determinado fenómeno. O clássico e convencional caso identificado como ilustrativo desta sucessão é o da Física. Neste caso em particular da Física (enquanto domínio científico), o

paradigma de Copérnico foi sucedido pelo paradigma de Newton que, realizando uma síntese dos contributos de Kepler e Galileu, operou a mudança do paradigma dominante, a partir fundamentalmente de uma refutação teórica e empírica do primeiro.

Nas ciências sociais, ao longo de muito tempo os dois paradigmas, qualitativo e quantitativo, “viveram de costas voltadas”, realizando investigações, qua apenas faziam uso de um tipo de abordagem. Todavia, mais recentemente tem existido um esforço que leve a uma crescente integração de ambas as posturas metodológicas.

Neste sentido, e considerando a presente discussão devemos desde já, antes de começar com a discussão, avançar com a definição de paradigma, pelo que entendemos: “(…) conjunto articulado de postulados, de valores conhecidos, de teorias comuns e de regras que são aceites por todos os elementos de uma comunidade cientifica num dado momento histórico (Coutinho in Coutinho, 2011:9).

O paradigma na sua aceção, é um conjunto articulado e coerente de premissas, que mapeiam uma investigação. A opção por um determinado paradigma é sempre um momento relevante e de opções por parte do investigador. No caso particular em apreço optámos por realizar uma abordagem integrada. Integrada em termos teóricos, uma vez que operou-se uma tentativa de revisitação das três grandes propostas teóricas (liberal, republicana e deliberativa) e assim potenciar cada uma. Um postulado fundamental no meio de toda esta discussão, diz respeito à existência de diferentes graus de exigência de recursos, quer sejam eles simbólicos, quer materiais, como anteriormente tínhamos já adiantado.

Com efeito, não se pode falar de uma teoria de síntese, porque no fundo o que queremos postular não é mais do que a teoria, tal como ela é – a sua essência. Por outro lado, termos ainda como desafio a “captação” e análise da participação política alternativa no Facebook, a necessidade de observar as dinâmicas participativas e de debate público e o modo como este se processa, quer no plano das Organizações, quer dos seguidores.

Ora, considerando a complexa teia social, cultural, política, bem como dos próprios objetivos enunciados anteriormente, se opta pela implementação de uma abordagem metodológica, que articule, no mesmo “pé de igualdade” elementos qualitativos, bem como elementos de carácter eminentemente quantitativo, para que obtenhamos dados que nos permitam penetrar na dinâmica participativa no Facebook. Por conseguinte, estamo-nos a encaminhar para uma bifurcação de caminho, há muito iniciado, onde ter-se-á de mobilizar recursos metodológicos e técnicos de diferente natureza.

Esta bifurcação, representa não só a opção por um duplo processo de recolha de dados, mas também uma postura metodológica mista, com importantes e relevantes implicações, no plano empírico. Apresentadas e discutidas algumas das premissas paradigmáticas que pautam a presente investigação, devemos realizar a passagem articulada para o plano metodológico.

Foi afirmado anteriormente que se procurarão realizar dois processos de recolha de dados. A presidir a esta simbiose empírica estará a adoção de uma metodologia. A conceção de uma metodologia (Latorre et al. 1996: 87 cit in Coutinho, 2011:22) passa fundamentalmente por “(…) velar pelos métodos, assinalar os seus limites e alcance, clarificar e valorizar os seus princípios, procedimentos e estratégias mais adequados para a investigação” ou de forma mais telegráfica “reflectir sobre os meios que demostraram o seu valor na prática” (Kaplan 1998: 24 cit in Coutinho 2011: 22).

A metodologia surge deste modo como o conjunto de procedimentos metodológicos e técnicos que norteiam a recolha de dados, de forma a permitir almejar os objetivos da pesquisa, tal como foram identificados anteriormente. É neste ponto da discussão, que urge realizar uma opção, ou por outras palavras, uma escolha mista, na qual se inscreve tanto a adoção de uma perspetiva quantitativa, bem como qualitativa, numa clara assunção da designada metodologia mista. Esta, pensamos ser a melhor forma de ensaiar uma análise, que nos permita ter uma profícua visão de um fenómeno ainda pouco abordado, no campo das ciências sociais. É também uma forma de focar um objeto de estudo, com interesse simbólico, mas também carecendo de uma base empírica de caráter quantitativa, que permita um consistente aferir do potencial participativo do Facebook e muito particularmente das Organizações estudadas.

Ora, estamos perante dois tipos distintos de abordagem, que se focam e procuram informação distinta. Em termos gerais as metodologias quantitativas permitem (Bisquerra, 1989; Wiersma, 1995; Creswell, 1994 in Coutinho, 2011: 25) grosso modo: 1º enfase nos factos, 2º basear a investigação na teoria, 3ª plano: de investigação estruturada e estática; 4º investigador externo ao estudo; 5º utilização de técnicas estatísticas na análise de dados. Estes são alguns dos aspetos identificados pela referida autora e que pensamos poder-se vir a adequar à investigação em decurso. Com efeito, pretende-se apurar a tendência de comunicação, organização e participação dominantes dentro das Organizações, pelo que uma abordagem primeiramente quantitativa permite-nos abordar um grande conjunto de factos e assim obter uma importante e relevante “fotografia” deste fenómeno, como mencionado por Ragin e Amoroso (2011: 164) ao admitirem que “quantitative researchers sacrifice in-depth knowledge of each individual case in order to achieve an understanding of broad patterns of covariation across many cases”.

No que toca à implementação de uma metodologia de caracter eminentemente qualitativo, interessa-nos fundamentalmente o estudo das “(…) intenções e situações, ou seja, trata-se de investigar ideias, de descobrir significados nas acções individuais e nas interações sociais a partir da perspectiva dos actores intervenientes no processo” (Coutinho, 2011: 26). No âmbito da presente investigação pretendemos atribuir o mesmo patamar de relevo metodológico, tanto às entrevistas, como à análise de conteúdo. Ambas compõem um articulado metodológico, que nos permitira aferir da riqueza do nosso objeto de estudo e da sua

complexidade. As entrevistas, permitirão dar voz aos atores, bem como captar as perceções dos mesmos, facto que não é acessível, pela aplicação direta e simples de uma grelha de análise de conteúdo.

Fica explícita, a complementaridade existente entre estas duas abordagens, sendo que cada uma detém uma relação de proximidade com determinadas técnicas. Como constata Charles Ragin (1987:9) as ciências sociais confrontam-se com uma realidade, que aliás pretendem estudar, que para além de complexa é dinâmica: “unfortunately, social scientific investigation is rarely this simple”.

Chegados aqui, revela-se de toda a importância aprofundar a relação entre “técnica” e “método” de acordo com Bisquerra (1989:55 cit in Coutinho, 2011:22) “a relação entre método e técnica é semelhante à que existe entre género e espécie biológica”. Estamos portanto na eminência de fazer as derradeiras opções. Se por um lado, queremos abordar as várias Organizações de um modo quantitativo, permitindo-nos a melhor e mais fácil sistematização dos dados e desta forma perceber dinâmicas de utilização do Facebook por parte das Organizações, por outro lado, não podemos descartar um importante nicho de conhecimento, que é o próprio significado e compreensão da participação política e cívica, por parte dos entrevistados, que são os responsáveis das Organizações, permitindo-nos responder à questão: o que os motiva? Esta e outras questões só são, no atual estado da arte, respondíveis através da realização de entrevistas. Por seu lado, a componente quantitativa ficará à responsabilidade da análise de conteúdo. Na próxima secção, faremos uma breve abordagem a cada uma das técnicas.

4.4 - Dois Momentos, Duas Técnicas: a complementaridade de

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