• Nenhum resultado encontrado

5.1.2 Da tentativa de diversificação da informação à emergência de constrangimentos

A informação e o acesso a ela, enquanto recurso primordial para uma participação política e cívica consciente informada, reveste-se da maior relevância. Se juntarmos a este facto, a circunstância de estamos a tratar e analisar Organizações que desenvolvem uma parte significativa da ação política e cívica nas redes sociais, como é o caso bem ilustrativo do Facebook, ficamos com uma visão mais completa da matriz que dá corpo a esta complexa teia, que compõe a realidade.

Ora, comecemos pela abordagem dos dados oriundos da análise de conteúdo confrontados depois com os depoimentos realizados em sede de entrevista pelos diferentes ativistas. O gráfico 3 sintetiza os resultados (absolutos) obtidos nos indicadores 1.2;1.3; 1.4.

Desde já devemos fazer um esclarecimento, acerca do que procurámos perceber: a atualidade e a diversidade de conteúdos informativos – indicador 1.2. Já no indicador seguinte (1.3) procurámos observar a existência de interatividade entre diferentes Organizações. Finalmente, o indicador 1.4 aborda a divulgação e informação de eventos da própria Organização.

É nesta medida, fazendo uma abordagem genérica aos dados contidos no supramencionado gráfico, podemos desde logo, constatar que há várias Organizações, que obtêm avaliações máximas em diferentes indicadores, porém apenas uma (RiseUp Portugal) obtém o pleno, somando nas três avaliações 6 pontos. Esta é uma constatação quantitativa, que corrobora as próprias palavras dos seus ativistas, que foram por nós entrevistados, categorizando-se como fundamentalmente um “canal de informação”: “tu tens de entender que nós não somos um movimento, isto é que é principal” (RU2:39).

Fazendo justiça ao próprio rotulo que os seus membros lhe conferem, RiseUp Portugal assume uma posição cimeira no que corresponde à divulgação de informação e a toda a riqueza, que daí advém para o debate público. Constituindo-se como um vértice de informação entre muitas outras Organizações, o RiseUp Portugal, desempenha um papel de relevo na promoção do capital de conhecimento e político, que em última instância se pode converter num contributo para a opinião pública e para o debate que nela acontece.

A maioria das organizações apresenta elevada avaliação no terceiro indicador em estudo, aquele que se reporta à divulgação dos eventos, bem como o primeiro, o que aborda a atualidade noticiosa e mediática. Neste caso em particular é o indicador intermédio (1.3), que se assume como mais seletivo. Não será alheio a este facto, uma possível falta ou pelo menos défice de articulação entre as diferentes Organizações.51

Uma outra forma de aferir da possível existência de uma agenda programática, passa pela aferição de uma ordem noticiosa e informativa previamente estabelecida. Esta possibilidade foi objeto de escrutínio através da pergunta número 3 do guião de entrevista nos seguintes termos: “Atuam e trabalham de modo regular ou em função de factos que vão emergindo e que são contrários aos vossos objetivos?”

Com efeito, é difícil de apurar nas palavras dos mais diversos ativistas entrevistados, indícios da existência de uma agenda mediática própria, desenvolvendo a publicitação de determinadas questões, ao “ritmo” dos acontecimentos:

“Acaba por ser regular e há alturas em que as coisas estão mais calmas, em que passam uma semana ou duas não falamos e depois acontece qualquer coisa e pronto” (PQMO:230).

Já noutro testemunho foram mencionados os vários e diversificados constrangimentos à existência de uma linha continua, em termos de agenda informativa, ao referir que:

”Começámos por ter uma Agenda e tínhamos as nossas Assembleias abertas nos jardins semanalmente. Depois, começámos a ter quinzenalmente, também tem a ver com as fases da vida das pessoas, porque todas estas pessoas trabalham e têm a sua vida familiar e vida própria” (IL:273).

Ambos os testemunhos têm a pertinência de colocar o “dedo na ferida” no que toca à conceção e prática de uma agenda informativa que expresse uma prévia ordem programática, em face dos variadíssimos obstáculos. Admitindo, a possibilidade de no início até haver uma certa linha orientadora, ainda que esboçada em traços largos, mas que entretanto se vê confrontada entre outros obstáculos, com a falta de disponibilidade dos seus ativistas.

Aliás, há entre ativistas a perceção de que muitas vezes torna-se muito mais imperativo seguir e reagir aos impulsos vindos do agendamento realizado pelos meios de comunicação de

massas, do que estabelecer e seguir uma linha informativa própria e que de certo modo corporize algo de programático. Como é bem explicado numa das entrevistas:

“Idealmente seria ainda mais regular, até porque uma das coisas que nós já entendemos é que temos de criar Agenda, não queremos estar sempre dependentes da Agenda, mas por outro lado, por exemplo temos duas ou três pessoas responsáveis é uma espécie de minigrupo de resposta rápida. Se alguém dá uma calinada, um político, há um grupo que está preparado para pôr um cartaz a circular nas redes sociais ou coisa assim desse género. Portanto às vezes há acontecimentos que nos fazem realmente e temos de fazer qualquer coisa. Há reação, mas cada vez mais e o exemplo da Grândola, foi um bom exemplo disso, tentamos nós criamos Agenda. E funcionou bem, porque realmente queríamos lançar a manifestação de 2 de Março ao contrário de outras grandes manifestações que têm tido grande ajuda dos políticos, com os discursos que eles fazem. No caso do 2 de Março fomos nós que conseguimos criar a Agenda” (QSLT:257).

Estamos perante uma perceção a reter neste âmbito: a de que existe um esforço efetivo para manter um certo agendamento, relativamente autónomo e independente à agenda “mainstream”, mas que constrangimentos internos (insuficiência de recursos humanos) e por constrangimentos externos (a forte pressão mediática resulta em parte da multiplicação e transição dos meios de comunicação de massas tradicionais para plataformas online), levam à emergência de dificuldades adicionais neste domínio em particular.

Este testemunho vai ao encontro dos dados contidos no já referido gráfico 3, que acentuam forte uso de fontes noticiosas extra Organização (barras azuis). Em atalho de foice, refira-se, que as dificuldades descritas anteriormente pelo O Povo é Quem Mais Ordena, encontram aqui um “encaixe” diríamos quase perfeito.

5.1.3 - Das tentativas de estabelecer uma agenda programática e

Outline

Documentos relacionados