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5.1.3 Das tentativas de estabelecer uma agenda programática e informativa: obstáculos e limitações

Ensaiando uma síntese da secção que agora se pretende “rematar” começamos por abordar os dados gerais, quer em termos absolutos, quer ponderados da dimensão Organização e Informação, relativos à análise de conteúdo. Genericamente devemos salientar que há uma clara tendência para uma certa segmentação/estratificação entre as diferentes Organizações. Ora vejamos, temos um primeiro grupo composto por Que Se Lixe a Troika e RiseUp Portugal que descolaram claramente das restantes obtendo respetivamente 26 e 24 pontos em termos absolutos, o que em termos ponderados se traduz em 82 e 76 pontos respetivamente.

Um segundo grupo, o mais numeroso, reúne 15 de Outubro com 22 pontos, seguido de três Organizações que somam 20 pontos (Indignados de Lisboa, Democracia e Dívida e Artigo 21º, neste mesmo patamar O Povo é Quem mais Ordena com 18 pontos. Finalmente, o FLAN Colectivo com 14 pontos.

Apresentados os dados assim, ficamos com uma visão algo superficial da realidade, porque em boa verdade podemos e devemos olhar para os dados a partir de um outro prisma. O que diferenciou ambas as organizações com posições cimeiras?

De facto e abordando a partir da classificação absoluta, temos um grande equilíbrio, ambas conseguem três notas máximas, ainda que em indicadores distintos, com a nuance de que o RiseUp Portugal obtém apenas 2 pontos logo no primeiro, em antagonismo com Que se Lixe a Troika em que as duas notas mínimas são de 4. Estamos perante diferenças, que podemos adjetivar como mínimas, porém introduzindo-lhe o fator de ponderação, este aspeto não é um pormenor da presente análise, dado que repercute empiricamente a herança teórica de distintos paradigmas (liberal, republicano e deliberativo), da participação política, dá-nos a perceber que estas (diferença) aumenta substancialmente em face da ponderação do 5º indicador e da avaliação obtida por cada uma das Organizações em causa.

É precisamente o poder de aprofundamento analítico, que fica espelhado no gráfico 5, nesta opção metodológica. Neste, podemos com mais exatidão, inferir o que realmente diferencia ambas as Organizações. Se atentarmos em particular às barras representativas de cada organização, constatamos que em termos comparativos a Organização RiseUp Portugal saí penalizada no indicador 1.5. Aquele que em termos ponderados tem mais poder é o Que se lixe a Troika, obtendo 30 pontos e o RiseUp Portugal apenas 20. Então, levanta-se aqui uma questão: afinal em termos substantivos o que está em causa?

Fundamentalmente, o que faz a diferença entre ambas as Organizações com melhor avaliação nesta 1ª dimensão – Organização e Informação – é a existência pelo contrário a inexistência de uma ordem programática que norteei minimamente a ação política e cívica da Organização em causa. Claro está, Que se Lixe a Troika distancia-se neste particular recurso, apenas igualada pelo O Povo é Quem Mais Ordena, que entretanto é bastante penalizada nos restantes indicadores, que compõem esta dimensão analítica em particular. Ainda a este respeito, de referir que neste indicador (1.5) apenas o FLAN Colectivo e o Artigo 21º obtêm 10 pontos.

Para além de ficar bem patente a pertinência da já referida opção metodológica, vemos corroborada a perspetiva, até aqui esboçada em traços largos de que existe em termos genéricos, um claro défice programático das Organizações estudadas.

Um outro domínio analisado no âmbito da 1ª dimensão passava pela questão dos recursos humanos. Temos assim, Organizações que não obstante os parcos recursos, inclusive os humanos, têm uma organização interna, que assenta na existência de núcleos especializados em determinadas áreas, como a comunicação, ou ação direta. A verdade é que há no meio de tudo isto, uma forte dinâmica voluntarista por parte dos ativistas, que por seu turno, tendo “vida própria”, a sua atividade como ativistas políticos e cívicos está sempre dependente de contingências pessoais e profissionais.

Dito isto, estamos em posição de poder responder à 1ª pergunta de investigação que consiste: qual o nível de integração programática e organizacional das diferentes Organizações? Sendo que perante a argumentação apresentada e a discussão teórica e também empírica aqui feita temos de corroborar a respetiva hipótese que afirma: as diferentes Organizações apresentam de um modo geral, um nível de institucionalização bastante reduzido, nomeadamente ao nível programático e organizacional.

Uma outra vertente do atual momento da discussão aqui realizada, passa pelo uso da Informação, esse recurso primordial para uma efetiva participação política e cívica. Ora, é neste contexto que recorrendo aos gráficos 4 e 5 observamos que existe um uso e razoável diversidade informativa, entre pelo menos seis Organizações, com exceção de O Povo é Quem Mais ordena e FLAN Colectivo.

Onde se verifica um substancial défice é precisamente no indicador 1.3 – Informação de outras Organizações e Instituições, o que de certo modo, levanta indícios de falta ou diminuta articulação entre as diferentes Organizações.52 Em face destes dados empíricos teremos de

corroborar a segunda hipótese que afirmava: os conteúdos informativos a nível externo são diversificados. Todavia, ao nível interno a produção e consequente divulgação de informação é deficitária. Esta hipótese, decorria da seguinte interrogação: em que medida há diversidade informativa e conteúdos próprios?

Os constrangimentos à ação deste tipo de Organização são de vária ordem, desde o défice de recursos humanos, mas também técnicos, vivendo muito do voluntarismo e disponibilidade do corpo, normalmente restrito, de ativistas. Isto acontece paralelamente a um generalizado défice de linhas orientadoras e/ou programáticas, por parte destas Organizações. De seguida, debruçar-nos-emos acerca da dinâmica Organizativa do Debate.

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