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4.4.1 Da procura da objetividade e sistematicidade: o modelo de análise de conteúdo

Pensar as ciências sociais e a sociologia, é de certa forma também ter em conta as diferentes e diversificadas técnicas de recolha de dados. Neste rol, a análise de conteúdo desempenha um papel charneira, seguindo um percurso quase paralelo, com o próprio desenvolvimento do domínio científico da sociologia. Na sua origem está uma clara associação da análise de conteúdo aos cada vez mais frequentes, estudos em comunicação, que no dealbar do século XX estavam muito em voga, nas sociedades ocidentais, nomeadamente no estudo da receção e propaganda. É precisamente no período entre as duas grandes guerras, que este tipo de estudos, adquire grande notoriedade, entre as várias ciências sociais. Foi neste contexto, que surgiram trabalhos, que de acordo com Jorge Vala (1986/2003:101-102), são identificados como trabalhos bastante relevantes como o de Lasswell (1927) e o de Berelson e Lazarsfeld (1948).

Por conseguinte, é legitimo conceder à análise de conteúdo, enquanto técnica, o relevante papel de ter contribuído de forma decisiva para a consolidação e afirmação da sociologia e demais já antes os inquéritos teriam esse papel nas ciências sociais, como um corpo de conhecimento, que ia muito para além da componente ensaística e teórica dando-lhe caráter empírico e com isso refutabilidade e comparabilidade, para além da sistematicidade e objetividade.

Fazendo uso das palavras de Berelson (1952 cit in Vala, 2003: 103) a análise de conteúdo pode ser definida como “a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação” mais recentemente Krippendorf (1980 cit in Vala 2003: 103) redefine nos seguintes termos: “uma técnica de investigação que permite fazer inferências, válidas e replicáveis, dos dados para o seu contexto”.

Deste modo, com esta definição estamos em posição de considerar a possibilidade de a análise de conteúdo se poder processar por duas vias. Tomando como objeto, o texto ou outros elementos, a partir dos quais realiza uma análise eminentemente qualitativa. Por outro lado, a versatilidade desta técnica, pode permitir um uso de caráter essencialmente quantitativo ou por outras palavras, permite a quantificação do número de frequências de uma determinada ocorrência.

Ora, é neste limbo, que o virtuosismo da análise de conteúdo se joga, permitindo, em separado ou em simultâneo, a descrição de uma determinada realidade ou, por sua vez, a inferência a partir de uma pequena porção, permitindo a extrapolação.

Nesta linha de raciocínio Henri e Moscovici (1968 in Ghiglione e Matalon, 2001:181) distinguem duas tipologias procedimentais na realização da análise de conteúdo. Para os

autores, um procedimento fechado, passa por partir para a análise com um quadro teórico, que norteei a análise. Por seu lado, um procedimento aberto, consiste na análise de textos exploratórios, não havendo lugar a referências teóricas previas. Em qualquer uma, das duas versões, há necessidade de definir com a maior precisão possível o objetivo de estudo e os objetivos que se pretendem alcançar na análise.

Perante esta diversidade de aplicação e uso, fica a cargo/responsabilidade do investigador um conjunto alargado de opções, que permitem a este, adequar às necessidades do seu trabalho de uma forma criativa, o modelo que presidirá à análise de conteúdo. Como frisa Jorge Vala (2003:109) o investigador deverá considerar: 1º a delimitação de objetivos, bem como a definição de um quadro teórico que mapeei e oriente a recolha de dados; 2º a constituição de um corpus de 8 Organizações, 3º a definição de categorias; 4º a definição de unidades de análise; 5º a quantificação.

Adotando este modus operandi para a presente investigação, podemos constatar desde logo, que em termos de enquadramento teórico temos como referência os paradigmas, liberal, (neo) republicano e deliberativo. De forma a contemplar contributos teóricos das três propostas teóricas concebemos desde logo cinco indicadores, para cada uma das quatro dimensões (ver modelo de Análise em Anexo 1). Nestas serão contemplados aspetos teóricos, testáveis, das três teorias. Ao longo das quatro dimensões, os dois primeiros indicadores testaram conceitos de participação e comunicação, para além de outros, oriundos do modelo liberal, os dois seguintes serão dedicados a testar o modelo (neo) republicano e o último com a proposta teórica deliberativa. A existência de ponderação assimétrica, reflete precisamente distintos níveis de mobilização de recurso e envolvimento, como já tivemos oportunidade de destacar nos capítulos anteriores e como está na descrição do modelo de análise (ver anexo 1).

A segunda etapa, que reporta à definição do corpus de análise, que dá suporte empírico à presente análise, consiste num total de oito Organizações objeto de análise. A opção pelas Organizações já anteriormente identificadas, fica-se fundamentalmente a dever em primeiro lugar à própria economia de tempo e de recursos (dai se ter delimitado a outro Organizações), um segundo critério prende-se com o mediatismo alcançado. Um terceiro e último critério prende-se com a diversidade de temáticas, que têm na sua agenda e o modo como fazem a sua participação no Facebook. Pensamos, que em termos quantitativos, o estudo de oito Organizações se coaduna de forma adequada aos horizontes de uma pesquisa de mestrado e considerando ainda os próprios objetivos intrínsecos à investigação.

No que toca ao terceiro aspeto, o da definição de categorias, tal como já foi referido, o modelo de análise tem na sua orgânica quatro dimensões, que esquematicamente podem ser representadas da seguinte forma:

Grelha de Análise de Conteúdo 1ª Organização e Informação

1.1 - Apresentação da Organização e sua dinâmica; 1.2 - Atualidade noticiosa/mediática e política;

1.3 – Informação de outras Organizações e Instituições; 1.4 – Informação de ações da Organização;

1.5 - Informações que revelem objetivos e orientações programáticas.

2ª Dinâmica Organizativa do Debate

2.1 - Possibilidade de correspondência via postal e/ou outras plataformas; 2.2 – Bloco de Notas;

2.3 – Complexidade do enquadramento dos posts da administração;

2.4 – Existência de comentários na própria página aos seus posts e aos dos seguidores; 2.5 – Correspondência por mensagem privada.

3ª Iniciativa e pró-atividade dos seguidores

3.1 – Número de seguidores;

3.2 – Existência de posts e comentários dos seguidores;

3.3 – Uso de fotos/vídeos/gráficos e outros elementos nos posts dos seguidores; 3.4 – Tom dominante dos posts e dos comentários dos seguidores;

3.5 – Complexidade argumentativa dos posts dos seguidores.

4ª Persuasão, Humor e Estética

4.1 – Imagem de perfil e capa e uso de slogans;

4.2 – Uso de fotos/vídeos e outros elementos nos posts dos seguidores e administração;

4.3 – Recurso a cartoons e caricaturas nos posts da administração; 4.4 – Recurso a cartoons e caricaturas nos posts dos seguidores;

4.5 – Uso de ironia e sátira no enquadramento nos conteúdos da administração e seguidores.

Podemos observar, que todas as quatro dimensões são constituídas por cinco indicadores. Estes são em última análise a “ponte” para a efetiva operacionalização. Um quarto passo, na construção do modelo da análise de conteúdo, consiste na criação e definição das designadas unidades de análise. Estas são de extrema importância, dado que permitem ao pesquisador perceber os procedimentos dominantes, em termos comunicacionais e participativos. No caso concreto da presente investigação, levou-se em linha de conta a conceção de uma pontuação, que vai desde 1 até 6 em cada um dos indicadores, podendo na máxima pontuação ser obtida

a nota 6 e mínima 1, de acordo com a avaliação feita pelo pesquisador, considerando cada indicador e o conteúdo deste, em cada um das oito Organizações. Acresça-se a esta organização, ainda a existência de ponderação, que multiplica desde 1 (mínimo) até 5 (máximo) o total da pontuação obtida40, dando desta forma pesos relativos e distintos,

considerando o nível de recursos mobilizados. Finalmente, a 5ª quantificação. É neste ponto, que pensamos que o modelo aqui apresentado revela a sua originalidade e contributo para estudos posteriores. Neste âmbito, Jorge Vala (2002: 119) enumera três tipologias procedimentais, a saber: análise de ocorrências, análise avaliativa, análise estrutural. Ora, considerando o modelo adiantado, podemos considera-lo na categoria como avaliativa, uma vez, que se trata de avaliar diferentes aspetos ao longo dos cinco indicadores de cada uma das quatro dimensões. Todavia, esta proposta modelística tem componentes das outras duas vertentes da quantificação. Concretizando, temos a contagem de ocorrências em vários indicadores, em que por exemplo se avalia a existência de várias (cinco) temáticas abordadas, entre outros indicadores. Mas, também temos a componente estrutural dos posts, através da procura da existência por exemplo de enquadramentos meramente descritivos, ou interpretativos.

Com todo este aparato metodológico e técnico pensamos poder garantir a sistematicidade na recolha de dados da análise de conteúdo e com isso, uma profícua e consistente análise de dados.

4.4.2 - Deambulações metodológicas: em busca dos interstícios

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