• Nenhum resultado encontrado

3.3 DIMENSÕES DO DANO AMBIENTAL

3.3.3 Dano ambiental patrimonial

Como visto, uma das principais características do dano ambiental é a sua estrutura bifronte, já que a lesão causada ao meio ambiente tanto pode afetar o patrimônio ecológico e os valores relevantes para uma coletividade quanto atingir o patrimônio e os direitos personalíssimos de indivíduos identificáveis.

Diversamente dos danos morais ambientais, que atingem interesses extrapatrimoniais, prejudicando valores imateriais coletivos ou direitos personalíssimos, o dano patrimonial compromete bens ambientais materiais e seus efeitos podem se restringir ao meio ambiente ou estender-se para alcançar bens de determinados particulares.

Dessa forma, considera-se como patrimonial toda lesão que recai sobre bens ambientais materiais, trazendo uma perda ou a diminuição

das características essenciais dos ecossistemas ou que acarreta, por ricochete, prejuízos ao patrimônio de particulares, atingidos reflexamente pelo dano.

Da feição bipolar ou bifronte do bem ambiental resulta que o regime de propriedade aplicável é variável a depender da perspectiva adotada. Assim, quando tomado como macrobem, a concepção de patrimônio deve se afastar da versão clássica de propriedade, pois o bem ambiental, em sua acepção coletiva, é qualificado como bem de uso comum do povo e, como tal, é unitário, imaterial, indivisível, indisponível, inalienável e imprescritível. Já em sua dimensão de microbem, considerado como conjunto de elementos corpóreos passíveis de apropriação, o meio ambiente orienta-se pelo instituto da propriedade clássica, seja de titularidade pública ou privada.

Além da variação no regime de propriedade que recai sobre o bem ambiental, a diferenciação entre o dano material individual e o dano material coletivo também traz reflexos para o seu sistema de reparação, pois sempre que a lesão compromete elementos do sistema ecológico, haverá a prevalência da restauração natural sobre as demais formas de reparação. Em razão da titularidade difusa deste bem e da sua indispensabilidade para a sadia qualidade de vida, não há qualquer margem de escolha para o magistrado ou para os legitimados para a ação reparatória.

Outro desafio proposto pelo dano ambiental patrimonial diz respeito às dificuldades na determinação da sua quantidade ou extensão.

Embora do Código Civil, em seu art. 944, faça expressa menção à extensão do dano como critério para fixação da indenização, a importância da valoração do dano ambiental vai muito além, sendo também indispensável para possibilitar a análise da proporcionalidade das medidas de restauração natural e para permitir a compensação dos usos humanos afetados durante o período da restauração natural. No entanto, em razão da incerteza científica que caracteriza os danos ambientais e da complexidade das interações entre os diversos elementos que integram os sistemas ecológicos, é muito difícil antecipar a amplitude de um prejuízo que poderá ocorrer num futuro próximo ou mesmo mensurar a extensão das lesões já consumadas.

Segundo Hutchinson (1999b, p. 138), somente em casos excepcionais, o juiz é capaz de precisar a dimensão do dano ambiental e isso ocorre, normalmente, em face de degradações remediáveis, passíveis de restauração ecológica. Por isso, constata-se o recurso

generalizado dos juízes à valoração equitativa do dano, onde se considera não apenas o custo necessário para a restauração, como também a gravidade da culpa individual e o benefício conseguido pelo degradador em consequência de seu comportamento lesivo aos bens ambientais.

É certo, porém, que essas dificuldades devem estimular o aprofundamento de estudos e o desenvolvimento de novas metodologias e instrumentos voltados para a valoração destes danos.

De acordo com Sendim (1998, p. 176), o maior desafio está na construção de esquemas metodológicos flexíveis apropriados a cada tipo de dano e de métodos de avaliação sistemática dos bens ecológicos que não acarretem custos demasiado elevados.

Oyarzún (apud PERETTI, 2009, p. 375) classifica os métodos de avaliação econômica do bem ambiental em duas categorias: os métodos indiretos ou observáveis e o método direto ou hipotético.

O primeiro grupo promove a avaliação do bem ambiental por meio da análise do comportamento dos indivíduos, inferindo, por meio dessa observação, a valoração implícita que eles lhe outorgam. Este método, por sua vez, subdivide-se em três modalidades.

De acordo com a primeira delas, o método dos custos evitados ou induzidos, os bens ambientais têm o seu valor inferido a partir do vínculo que apresentem com outros bens que possuem valor de mercado. Considera-se, por exemplo, se este bem constitui insumo no processo produtivo de outro bem ou se integra, ao lado de bens privados, a função de produção ou utilidade (OYARZÚN apud PERETTI, 2009, p. 375).

O método do custo da viagem, por sua vez, tem aplicação para as áreas naturais, que atendem a uma função de recreação ou desportiva e considera, para a valoração, o gasto que uma pessoa ou uma família realizaria para usufruir desse bem ambiental (OYARZÚN apud PERETTI, 2009, p. 375).

Já o método dos preços hedônicos pode ser utilizado quando o bem ambiental funciona como um complemento para um bem privado incluído no mercado (OYARZÚN apud PERETTI, 2009, p. 376). Segundo este critério, uma casa localizada próxima a uma paisagem, por exemplo, tem o valor superior a outra que esteja inserida numa região contaminada.

Por fim, de acordo com o método direto ou hipotético, a quantificação do bem ambiental pode ser alcançada por meio da consulta direta às pessoas a respeito do valor que elas atribuem às

mudanças que a modificação da qualidade ambiental produz sobre o seu bem-estar (OYARZÚN apud PERETTI, 2009, p. 375).

Evidente que as atuais metodologias de avaliação econômica do bem ambiental ainda são bastante insuficientes e apresentam diversas limitações. Para Sendim (1998, p. 176-177) as principais delas são: (a) o fato de sempre se restringirem à capacidade de aproveitamento humano dos bens naturais, sendo incapazes de captar o valor da capacidade funcional ecológica dos bens naturais e (b) a impossibilidade de traduzirem de modo rigoroso os valores não associados diretamente ao consumo do bem natural.

Como consequência disso, torna-se praticamente impossível compensar o dano ambiental de modo integral através da substituição por equivalente em dinheiro, resultando que a única forma adequada para completa reparação do dano é a reparação in natura.