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PARTE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. DESIGN E EDUCAÇÃO

1.3. Conceitos importantes

1.3.3. Design da informação

Mudanças significativas vem ocorrendo em relação às definições de design da informação, e para compreendê-las talvez seja necessário conhecer seus antecedentes e os processos que as acompanharam até chegarem onde estão, com os conceitos mais recentes.

A referência histórica que mais se acerca aos primórdios do campo de design da informação como prática projetual data do início do século XX, com o cientista social Otto Neurath (1882- 1945), por meio do ISOTYPE (International System of Typographic Picture Education), um sistema que tem como base a utilização de linguagem pictórica. Seus reflexos são sentidos até os dias de hoje, ao servir de exemplo e inspiração a novos pictogramas elaborados por designers gráficos e da informação espalhados por todo o mundo. Além disso, por sua proposição que envolvia um método de pesquisa e projeto gráfico com um profissional – caracterizado aqui como designer - responsável pela “transformação” da informação, encarando-o como criador de “conteúdo” e não apenas da “forma” (CUNHA LIMA, 2008, p. 36). Destaca-se ainda os conhecimentos multidisciplinares compartilhados por Neurath e sua equipe na composição do ISOTYPE, princípio este que é fundamental na modelagem do construto informacional:

O Design da Informação é uma área relativamente nova e podemos dizer que é uma disciplina emergente e conjuga conhecimentos multidisciplinares que recebe contribuições provenientes de profissionais de diferentes formações e, como qualquer outra especialidade do Design, nela identifica-se influências de várias áreas do conhecimento. (PORTUGAL, 2013, p.105)

A ideia de envolvimento de profissionais de diversas áreas é também uma questão defendida por Frascara (2011, p. 10). Segundo o autor, o design da informação tem por base, dentre outras áreas, a ergonomia, linguística, psicologia, sociologia, antropologia, design gráfico e ciências da computação, tendo o compromisso a compreensão e utilização, por parte dos usuários, de produtos, serviços, instalações e ambientes. Os estudos de Bonsiepe (2011, p. 86) sugerem algo semelhante ao relatar que, apesar de até o momento não ter se desenvolvido uma teoria coerente da informação, não falta prática por parte do designer de informação “com conhecimentos da psicologia cognitiva, linguística, teoria da percepção, teoria da aprendizagem, semiótica e design visual”.

Ainda quanto à multidisciplinaridade e às áreas correlatas, Pettersson (2012, p. 31) identifica as origens do design da informação como o conhecemos hoje às raízes do design gráfico, educação e ensino, e arquitetura e engenharia. De acordo com o autor, nessas três áreas de conhecimento “as pessoas reconheceram a necessidade de clareza, distinção e credibilidade

em apresentação e interpretação do verbal como informação visual”. Martins & Couto (2008, p. 2) também destacam o papel da multidisciplinaridade, complementando com as distinções entre as metas do Design da Informação e do Design Gráfico: no primeiro vê-se a importância muito maior da construção de informações objetivas para o alcance de resultados precisos. Na busca de tais resultados, as autoras identificam como essenciais para a construção de sentido das mensagens o sujeito e o ambiente em que a informação está inserida, ou seja, a familiaridade do usuário - na interação com a mensagem - e o contexto como aspectos importantes em todo o processo. As ideias de Pettersson (2012) tangenciam as de Martins & Couto (2008) ao sugerir como fator determinante no processo de concepção projetual o contexto social. Ademais, o autor inclui a precisão como aspecto fundamental para o alcance de uma interpretação e compreensão corretas pela maioria das pessoas.

Quando inserido ao tema da pesquisa, especialmente no que diz respeito aos aspectos educacionais, faz-se relevante citar o caso do livro didático: em geral aqueles que incluem ilustrações em suas páginas tendem a atrair uma maior atenção dos estudantes, verificando- se a necessidade de cautela da equipe responsável pela elaboração do projeto editorial, tanto em relação ao conteúdo quanto à forma apresentados. Tais cuidados devem ter como ponto de partida o repertório do usuário, a fim de promover uma relação de identidade com a sua realidade que, quando bem implementados, podem gerar um maior interesse (COUTINHO, 2006, p. 54).

Ao se verificar o oposto, com a deficiência no design da informação, Frascara (2011, p. 11) identifica alguns exemplos que dificultam o processo de assimilação da informação por parte do usuário, dentre eles: formulários que geram erros e perda de tempo; documentos que não convidam à leitura, instruções que não se compreendem, gerando frustração e até perigo; materiais educativos que não ajudam os estudantes; informações técnicas ambíguas; sites difíceis de navegar; etc.

Frascara (2011, p. 9) aponta como objetivo do design da informação a efetividade da comunicação nas relações de interação entre usuário e mensagem, propiciando a facilitação dos processos de percepção, leitura, compreensão, memorização e uso da informação apresentada, tornando-se, necessariamente, design centrado no usuário. Segundo o autor, terminologias como “emissor” e “receptor”, advindas da informática, desconhecem “diferenciais de estilos cognitivos, culturas, expectativas, sentimentos, intenções, sistema de valores e níveis de inteligência”.

Não há, a partir de todos os dados levantados, recebimento de informações, mas sim interpretação seguida de ações ou atuações a partir delas. Assim, vê-se a importância do design para permitir que tanto ações ou atuações sejam mais eficientes, como destaca Bonsiepe:

O passo seguinte para transformar os dados em conhecimentos consiste em interpretar a informação e usá-la, vale dizer, transformar informações em ações e

metas orientadas (goal-directed behaviour). A maneira como dados e informações

são apresentados tem um papel importante. O design pode facilitar sua recepção e interpretação, permitindo uma ação mais eficiente. (BONSIEPE, 2011, p.84)

Pensando-se na organização e apresentação dos dados, transformados mais tarde em valor e informações significativas ao usuário, há diferentes etapas que podem garantir esse processo, dependendo da designação dada por diferentes autores.

Frascara (2011, p. 9) inclui dois momentos: 1) organização da informação, ou seja, do conteúdo e suas unidades de sentido, textos e ilustrações; e 2) planificação e implementação de sua apresentação visual. Ambas requerem “habilidade e conhecimentos para processar, organizar e apresentar informação em forma linguística e não-linguística”, além de “compreensão dos processos cognitivos e perceptuais, e da legibilidade de símbolos, letras, palavras, frases, parágrafos e textos.”

Por outro lado, Bonsiepe (2011, p. 83) identifica um sistema linear para a organização: 1) dados primários (brutos); 2) dados elaborados (informação); e 3) informação validada (conhecimento). Para o autor, os dados brutos transformam-se em informação relevante quando estruturados, saindo de um estado desordenado para outro ordenado, papel que cabe ao designer ao contribuir na organização dos dados receptíveis e perceptíveis. Há uma abstenção de Bonsiepe em tratar da quarta etapa nesse sistema linear de organização: o da sabedoria. Mas Shedroff (2014) o faz. Segundo o autor “tal como os dados podem ser transformados em informação significativa, a informação pode ser transformada em conhecimento e, ainda mais, em sabedoria”. Para o autor, é possível construir conhecimento para os outros, assim como se pode construir informação a partir de dados. Apesar de suas ideias seguirem uma estrutura linear, como as anteriormente apresentadas quando da referência a Bonsiepe, com dados, informação, conhecimento e sabedoria, Shedroff insere outros fatores relevantes ao processo: público (não-participativo e participativo) e contexto (global, local e pessoal), conforme indica a figura 1:

Figura 1: Esquema linear de Design da Informação.

Dados Informação Conhecimento Sabedoria

Global Local Pessoal

Contexto

Não participativa Participativa Público

Fonte: adaptado de Shedroff (2014)

Segundo o autor, por exigir a criação de relação entre os dados, a informação os faz significativos para o público. A organização dos dados precisa acontecer de forma significativa, apresentando-os de maneira adequada, e comunicando o contexto em torno dele (como visto anteriormente ao se tratar do contexto e da familiaridade do usuário na interação com a mensagem).

O processo de organização dos dados é compreendido de outra forma por Petterson (2012, p. 32), embora não haja um distanciamento relevante ao daqueles autores já apresentados. A finalidade do design da informação seria a satisfação das necessidades dos receptores, conseguida por meio da análise, planejamento, apresentação e compreensão de uma mensagem - seu conteúdo, linguagem e forma. Para o autor, independentemente do meio escolhido, um material de informação bem concebido, com sua mensagem, dará satisfação estética, econômica, ergonômica, bem como os requisitos de matéria de discussão.

Versando em congruência aos demais autores, Horn (1999) define design da informação como sendo “a arte e a ciência de preparar informação” para que seja utilizada com eficiência e efetividade. Os objetivos primários são o desenvolvimento de documentos compreensíveis, rapidamente e com precisão remediável, e fáceis de traduzir em meio a uma ação efetiva.

Por fim, ao identificar em todos esses autores conceitos-chave como “multidisciplinaridade”, “clareza”, “eficiência”, “eficácia” “usuário” e “organização das informações” faz-se importante mencionar mais duas definições, de entidades que são referência na pesquisa acadêmica para esse campo de atuação: a Sociedade Brasileira de Design da Informação – SBDI (2006) e o International Institute for Information Design – IIID (2007). A primeira colocava o design da informação como área do design gráfico com objetivo de “equacionar os aspectos sintáticos,

semânticos e pragmáticos que envolvem os sistemas de informação através da contextualização, planejamento, produção e interface gráfica da informação junto ao seu público alvo”. Abordava ainda a otimização do processo de aquisição da informação em sistemas de comunicação analógicos e digitais. Já o IIID é mais abrangente em sua conceituação, caracterizando o design da informação por meio de “definição, planejamento e modelagem dos conteúdos de uma mensagem e do ambiente em que ela é apresentada, com a intenção de satisfazer às necessidades de informação dos destinatários” (nesta pesquisa identificados como usuários). Em complemento, o instituto conceitua informação como sendo resultado do processamento, manipulação e organização de dados de uma maneira que agregue conhecimento ao receptor.

Com o foco voltado à acessibilidade e à usabilidade, ambos centrados no usuário, parece importante não inferir limitações ao conceito de design da informação como exclusivo à área do design gráfico ou mesmo equipará-los. É possível, por exemplo, criar projetos que envolvam apenas construtos informacionais prioritariamente sonoros ou táteis, sem a necessidade de um meio visual inerente ao processo.

Por fim, com base nas definições supracitadas, a multidisciplinaridade vê-se como aspecto fundamental na elaboração de projetos consolidados. Na educação, por exemplo, acredita-se na importância da participação de professores para a construção de artefatos. Uma capacitação que envolva as tecnologias da informação e comunicação pode parecer urgente, no entanto deve vir acompanhada de estrutura necessária para a produção e distribuição das informações em meio digital aos alunos, e fazer deles também “produtores”. Cabe destacar que quando não há um acompanhamento para a atualização educacional com tais tecnologias (com outras equipes, em áreas de atuação diferentes que provém suporte e troca de informações) no contexto pedagógico elas podem causar muito mais prejuízos que benefícios ao processo de ensino-aprendizagem.