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PARTE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3. TEORIA DA ATIVIDADE

3.4. Princípios básicos da Teoria da Atividade

São dados a seguir alguns dos princípios básicos que norteiam a Teoria da Atividade baseados nos estudos de Engeström (1999) e posteriormente nos de Kaptelinin & Nardi (2006). Cabe destacar que os pressupostos desses pesquisadores foram fundamentados com base no aprimoramento e evolução da teoria ao longo dos anos, passando por seus principais teóricos, como Vigotsky e Lontiev, já destacados nesse capítulo.

3.4.1. Dicotomias de Engeström (1999)

Yrjö Engeström discute seis dicotomias na tentativa de definir ou de ajudar a diminuir as questões acerca das dimensões fundamentais da ideia de atividade. Seus pressupostos surgem de debates em que participou e da coleta de publicações recentes sobre o tema. A seguir temos esses seis temas.

1. Processo psíquico versus atividade relacionada com o objeto

Segundo o autor, uma das questões básicas da teoria da atividade está na relação de atividade, como oposto de passividade, como descrição geral das formas de vida de homens e animais e a ideia específica de atividade como um objeto-orientado e da própria estrutura da formação cultural.

Há aí o questionamento na relação entre a atividade relacionada com o objeto e processo psíquico. A psique agiria por meio de processos, ininterrupta, nunca predeterminada, mas individual e interna, o que contraria e eliminaria o caráter cultural e social da atividade.

2. Ação dirigida a objetivos versus atividade relacionada com o objeto

Para o autor (1999, p.22), por muito tempo se considerou que as ações individuais eram a chave para entender o funcionamento humano, sendo dadas as devidas atenções a questões como função orientadora de objetivos e planos, estrutura sequencial e níveis de regulação de ações. No entanto elas perdiam força quando confrontadas com aspectos coletivos e culturais de comportamento humano intencional. Para a TA, fica claro que o sistema de atividade é coletivo, sendo mediado por artefatos a fim de atingir um objetivo e tem dentro de si ações e operações que a configuram.

3. Produção mediada por ferramenta instrumental versus comunicação mediada por signo expressivo

São discutidas as oposições existentes nas relações entre os elementos que compõem a atividade, principalmente quando o artefato em questão pode ser tanto uma ferramenta instrumental quanto um signo (caracterizado pela comunicação de sujeitos). Mas o autor volta suas atenções aos estudos de Leontiev ao indicar que tanto a mediação por signos quanto as outras relações são importantes para a teoria.

4. Relativismo versus historicidade

Para o autor (1999, p.22), apesar de estar relacionada à Teoria Histórico-cultural, poucos são os teóricos que realmente se engajaram em falar da importância da historicidade, ou seja, da análise histórica concreta de atividades sob investigação, em tal teoria e nas que a sucederam. Dos motivos, o apontado como mais provável é o da rigidez com que se tratou o tema ao tentar associá-lo sempre às ideias de Marx e Lenin. Alguns pesquisadores, inclusive, escaparam da teoria e abordaram as questões de Vigotsky numa visão relativista, de que todas as formas de pensar e agir são importantes, mas se esquecendo de que há julgamento de valor na sociedade. Por fim, é importante mencionar que só se poderia entender os problemas e a complexidade de determinado sistema de atividade com o tempo, compreendendo sua história.

5. Internalização versus criação e externalização

É praticamente de comum acordo que a internalização é a chave do mecanismo psicológico descoberto na escola histórico-cultural. Seus conceitos foram sendo aprimorados dos estudos de Vigotsky iniciado com crianças e se estendendo aos adultos mais tarde. Surge também o conceito de externalização, dos desdobramentos não só de Vigotsky, como de Leontiev e Luria, quando as crianças envolvidas nos experimentos passam não somente a receber os artefatos de mediação como a produzi-los.

6. Princípio de explicação versus objeto de estudo

A dicotomia nesse caso ocorre quando a atividade é tomada apenas como princípio de explicação, ou seja, o foco é dado na teoria, em estudos, sem uma forte sustentação empírica, muito diferente do que defendiam Vigotsky, Leontiev & Luria que eram interessados em atividades humanas reais, visando um objeto de estudo prático.

3.4.2. Princípios de Kaptelinin & Nardi (2006)

São destacados nesta pesquisa os princípios de Kaptelinin & Nardi (2006, p.66-72) pela importância que seus estudos tiveram e vem tendo ao longo dos anos, servindo de referência a muitos outros teóricos e de base para novas investigações e experimentos. É importante perceber que os princípios apresentados pelos autores não devem ser tratados isoladamente, senão em conjunto, pois ajudarão a entender melhor determinadas atividades. A seguir eles são listados.

1. Orientação ao objeto

Está relacionado aos ambientes onde os seres humanos interagem e os objetos ali presentes. Segundo esse princípio, as atividades humanas são motivadas por esses objetos (objetivos), podendo estes ser tanto físicos (tangíveis) quanto mentais (intangíveis).

2. Estruturação hierárquica da atividade

Nesse princípio a atividade está organizada hierarquicamente em três níveis, como visto anteriormente nos pressupostos de Leontiev, sendo: atividade (orientada a motivos), ação (orientada a metas para o cumprimento da atividade) e operação (processos inconscientes orientados pelas ações).

3. Mediação

O princípio provém da escola histórico-cultural, diferenciando-se no fato de que na TA a mediação ocorre entre sujeito e o mundo objetivo de forma intencional quando antes o foco se dava nas funções mentais superiores e no desenvolvimento humano (ALQUETE, 2014, p. 46). Tal mediação é realizada por ferramentas externas (computador, serrote, etc.) quanto internas (conceitos, julgamentos, etc.) que a medida em que são criadas dão origem a uma nova atividade.

4. Internalização e externalização

Este princípio está relacionado aos processos mentais. Segundo ele, não é possível desassociar atividades internas das externas. Na internalização, processos e objetos materiais externos são convertidos para processos executados no plano mental ou da consciência. A externalização, ao contrário, acontece por meio de atos (MARTINS, 2001, p. 300), sendo encarregada de exteriorizar o pensamento e a ação humana (ALQUETE, 2014, p. 45).

5. Desenvolvimento

Trata-se de um princípio dialético, onde entender o contexto histórico de como se desenvolveram as atividades ajuda a conhecer o fenômeno atual e aprimorá-lo. Para Nardi & Kaptelinin (2006, p. 11) é necessário entender a atividade como um processo cíclico, de crescimento e de mudança. Apesar de não ser a única teoria psicológica a considerar o desenvolvimento, a TA não o analisa apenas como objeto de estudo, mas também como metodologia de pesquisa geral, priorizando experiências formativas, práticas.