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PARTE II DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

DIGITAL DUPLA 4 DIGITALDUPLA

6. ANÁLISES E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.4. Sistemas de atividade

Os sistemas de atividade, aqui representados pelo diagrama de Engeström (1987), referem- se, tal qual a exposição dos níveis de atividades, às duas primeiras etapas do experimento: leitura e interação com o artefato e avaliação de compreensão. Optou-se por excluir o grupo focal visto sua discussão mais adiante junto aos dados coletados nas entrevistas com os professores.

Perceber como os elementos do contexto são imprescidíveis para o bom andamento da atividade e seus resultados ideais e/ou esperados faz do diagrama de Engeström uma ferramenta analítica importante em diversos projetos. Aplicá-la a esta pesquisa de design, onde o enfoque está na qualidade dos recursos digitais, aqui ampliado pelo binômio estrutura informacional

(alocação de textos, imagens, recursos audiovisuais, ilustrações, etc.) e compreensão dos usuários (o quão efetiva foi a mensagem ao ser repassada ao leitor/ator que interage com ela), é um desafio que desde o início nos pareceu incerto em ser cumprido. Supõe-se que tal qualidade ajuda no entendimento de temas densos, de difícil compreensão ou até mesmo irreproduzíveis em textos escritos ou imagens em duas dimensões. Outra suposição é a de que eventuais contradições, ou breakdowns, presentes em algumas das relações entre os elementos do diagrama, influenciam diretamente na compreensão dos alunos, cabendo identificá-los e saná-los.

Assim como visto com os elementos dos níveis de atividade, os dados para a composição dos sistemas estão caracterizados em dois diagramas: o primeiro alusivo ao estudo no livro impresso e o segundo ao hiperlivro enriquecido com OEDs, modificando o objeto da atividade com base no dispositivo utilizado. Cabe destacar que para o ponto resultado foi considerado também aquele referente às avaliações de compreensão.

A seguir, na figura 50, é apresentado o diagrama referente ao estudo com o livro impresso:

Figura 50 - Diagrama de Engeström (1987) com base no estudo do livro impresso.

Ferramentas

Sujeitos

Regras sociais Comunidade Divisão do trabalho Objeto Resultado - Livro impresso; - câmeras; - bancadas; - cadeiras; - quadro; - ficha de avaliação. 12 alunos entre 16 e 17 anos do 3º ano do ensino médio.

- Atenção à explicação das etapas do experimento; - Cumprimento no tempo previsto; - Discussão sobre os temas durante a leitura; - Desenvolvimento das etapas propostas; - Entrega da avaliação após a sua conclusão.

- Alunos; - Pesquisador; - Professor.

- Pesquisador:

. explicação sobre a dinâmica do experimento; . filmagem;

. verificação do tempo es�mado. - Alunos:

. atenção/par�cipação;

. estudo e cumprimento da avaliação. - Professor:

. auxílio ao pesquisador quanto à infraestrutura. - Leitura e compreensão

dos conteúdos. a par�r do livro impresso - Bom desempenho na avaliação

- Cumprimento do experimento;

- Resultado sa�sfatório na avaliação de aprendizagem.

Fonte: do autor

Nota-se que não há modificações significativas em relação ao diagrama proposto no estudo piloto com os alunos que também interagiram com o livro impresso. No entanto, como não houve problemas com as câmeras, aqui inseridas no grupo ferramentas, foi mais fácil observar as contradições existentes em alguns dos outros pontos do sistema. Ao decompô-lo, tais contradições ficam mais evidentes, como indica a figura 51:

Figura 51 - Contradições verificadas nas reduções do diagrama de Engeström (1987) na uso do livro impresso. (1) Sujeito Ferramenta Objeto (2) Sujeito regras sociais objeto (3) Sujeito Divisão do trabalho Objeto (4) Comunidade Divisão do trabalho Objeto Fonte: do autor

Em relação à primeira redução (sujeito/ferramenta/objeto) é percebida uma dificuldade de alguns alunos na compreensão dos temas inseridos no livro. O fato se deve não aos conteúdos em si, mas segundo eles, ao modo como os autores os explicam didaticamente: não há um aprofundamento que explicite as razões de se chegar a alguns resultados. Isso é uma problema não apenas dos capítulos estudados no experimento, senão da abordagem dos autores no livro como um todo, tratando com superficialidade, segundo os participantes, toda a disciplina de Física.

Na segunda redução (sujeito/regras sociais/objeto) são destacados três elementos inseridos no ponto regras sociais: 1) atenção à explicação das etapas do experimento; 2) discussão sobre os temas durante a leitura, e 3) desenvolvimento das etapas propostas. A explicação das etapas parece ter sido menosprezada ao início do experimento, sendo esclarecida durante e após o estudo dos conteúdos. Quando feita durante o estudo, motivou os participantes a buscar possíveis questões para a avaliação de compreensão, inserindo e aliando um novo elemento ao objeto da atividade: a obtenção de um bom desempenho na prova posterior. Na discussão dos temas, nota-se pouco contato verbal entre os participantes. Em um caso isolado, optou-se pelo uso individual dos livros o que dificultou a troca de experiências sobre as temáticas ou de observações que poderiam acrescentar maior aprendizado à dupla. Quanto ao desenvolvimento das etapas propostas, percebeu-se que nem todo o conteúdo foi lido pela totalidade dos alunos. Como descrito anteriormente, houve falta de disposição por parte de alguns participantes, que tiveram de ser motivados por seus companheiros para o cumprimento, ainda que parcial, da atividade.

Na terceira redução (sujeito/divisão do trabalho/objeto) encontramos contradições especialmente no item atenção/participação, inserido no ponto divisão do trabalho. O fato da desmotivação dos alunos no estudo do conteúdo é algo relevante para o objeto da atividade. Quando não temos participantes engajados no cumprimento de suas responsabilidades dentro de um contexto em que há mais atores (pesquisador, demais alunos e professor) há grandes chances do objetivo não ser alcançado. Verificou-se, além dos acontecimentos até aqui mencionados, uma interferência negativa daqueles que não estavam dispostos em participar com aqueles que buscaram cumprir as etapas, alterando todo o ambiente que até então se configurara como participativo.

Por último, na quarta redução, temos um pouco da ideia das contradições explicitadas anteriormente: ao haver indisposição na realização da atividade o grupo foi afetado, ora pelas conversas entre duplas, ora pelo barulho excessivo dessas conversas que perturbou o ritmo de leitura das demais duplas (inclusive as que a realizavam o estudo nos hiperlivros). Assim, coube ao pesquisador chamar a atenção daqueles que procuraram comprometer o andamento da atividade, não tendo muito sucesso em tal esforço.

A seguir, é apresentado o diagrama referente ao estudo com o hiperlivro enriquecido com objetos educacionais (figura 52):

Figura 52 - Diagrama de Engeström (1987) com base no estudo do livro digital.

Ferramentas

Sujeitos

Regras sociais Comunidade Divisão do trabalho Objeto Resultado - Computadores; - hiperlivro - OEDs; - internet; - mouses; - so�ware de captura de movimentos em tela e reações dos par�cipantes - webcam; - bancadas; - cadeiras; - quadro; - ficha de avaliação. 12 alunos entre 16 e 17 anos do 3º ano do ensino médio.

- Leitura dos conteúdos do OED; - Execução completa do OED; - Desenvolvimento das etapas propostas; - Entrega da avaliação após a sua conclusão. - Atenção à explicação das

etapas do experimento; - Cumprimento no tempo previsto; - Discussão sobre os temas durante a leitura;

- Alunos; - Pesquisador; - Professor. - Pesquisador: . explicação sobre a dinâmica do experimento; . controle sobre o so�ware de captura das telas; . verificação do tempo es�mado. - Alunos: . atenção/par�cipação; . estudo/interação e cumprimento da avaliação. - Professor: . auxílio ao pesquisador quanto à infraestrutura. -Leitura e compreensão dos conteúdos a par�r do livro digital

- Bom desempenho na avaliação - Cumprimento do experimento; - Resultado sa�sfatório na avaliação de aprendizagem.

Em relação ao diagrama apresentado no estudo piloto, alusivo aos alunos que interagiram com o livro digital, já percebemos mudanças significativas de seus elementos constituintes. Algumas tensões permaneceram as mesmas que as do impresso e notamos novos componentes advindos das melhorias propostas para a fase final de experimentação com usuários, bem como da inserção de novos objetos educacionais digitais. As contradições existentes nesse suporte são mais numerosas que as encontradas no livro impresso, como indica a figura 53:

Figura 53 - Contradições verificadas nas reduções do diagrama de Engeström (1987) na uso do hiperlivro. (1) Sujeito Ferramentas Objeto (2) Sujeito regras sociais objeto (3) Sujeito Divisão do trabalho Objeto (5) Comunidade Regras sociais Objeto (4) Comunidade Divisão do trabalho Objeto (6) Comunidade Ferramentas Objeto Fonte: do autor

A primeira redução (sujeito/ferramenta/objeto) é explicada pelos mesmos motivos encontrados no livro impresso: não se trata de um problema pontual, das temáticas escolhidas para o estudo, mas sim da didática proposta pelos autores na concepção da obra. Cabe lembrar que as páginas encontradas tanto no impresso quanto no digital são as mesmas, tendo no hiperlivro, como diferencial, algumas ferramentas de auxílio ao estudo. No entanto, o que se mostra é uma ineficácia de tais ferramentas: a interface do leitor utilizado é pouco ituitiva. Os participantes tiveram, dentre os problemas mais constantes: dificuldade na aproximação

da página (zoom), relatada nos tópicos anteriores, que acarretou na dificuldade de leitura; e problemas com o tutorial, que não era específico para a plataforma utilizada (computador pessoal), mas sim para o tablet.

Além do hiperlivro foram verificadas contradições em outras duas ferramentas: objetos educacionais digitais e internet. No primeiro caso, os elementos da interface não se fizeram tão evidentes para interação. Os participantes tiveram de descobrir as áreas clicáveis dos itens apresentados, e algumas vezes, nem o conseguiram. Isso ocorreu, por exemplo, no OED Energia elétrica em uma residência, em que as imagens que faziam parte das popups abertas, apesar de terem a representação de uma lupa sobre elas, foram ignoradas por todos os estudantes, conforme assinala a figura 54:

Figura 54 - Destaque para o ícone de lupa, representativo para a visualização da imagem expandida.

Fonte: Editoras Ática e Scipione.

Outros problemas encontrados nos OEDs dizem respeito à dicção da narradora em um dos vídeos, obrigando as participantes a reverem alguns trechos na tentativa de entender o que estava sendo dito; e o alto grau de ludicidade dos objetos que continham animações (relatividade geral e relatividade especial), não condizentes com a faixa etária dos alunos. Quanto à internet, esses mesmos objetos (animações) apresentaram travamentos no momento em que estavam sendo executados, levando os alunos a terminarem a tarefa no computador de outra dupla.

Em um balanço geral, após interagirem com os OEDs, houve pouco acréscimo de informação aos participantes. O conteúdo denso e não tão bem representado não ajudou na compreensão das informações, especialmente naqueles OEDs referentes ao tema os pilares da Física Moderna. A repetição de ações do objeto Energia elétrica em uma residência é exaustiva e pouco motivadora para seu prosseguimento e conclusão. Por fim, o tema do OED

a batalha das correntes serve apenas como curiosidade histórica, sem maiores influências no desdobramento e assimilação dos demais conteúdos.

Na segunda redução (sujeito/regras sociais/objeto) vemos novamente o problema da falta de atenção à explicação das etapas do experimento já relatado no diagrama tocante à interação do livro impresso. Somados a essa contradição temos o não cumprimento das etapas no tempo

previsto, mesmo sendo esperado que a leitura nos computadores demandasse mais tempo, visto a presença de objetos educacionais digitais; a leitura incompleta dos conteúdos dos objetos, especialmente introduções e textos inseridos no infográfico; e a execução incompleta dos OEDs, tendo ainda no infográfico o exemplo mais claro em que nem todos os botões foram acessados e com isso os dados visualizados. Neste último caso, é possível citar ainda o quiz não respondido pela dupla 3 no objeto a batalha das correntes, após ter passado despercebido.

Em relação à terceira redução (sujeito/divisão do trabalho/objeto) é destacada novamente a falta de motivação de alguns alunos na participação da etapa de estudo, no tocante à divisão do trabalho. Não havia engajamento em efetuar a leitura dos textos introdutórios nas páginas do hiperlivro nem tampouco de seus OEDs. Outro fator presente nesse ponto do diagrama e que influenciou em um breve atraso no início do experimento foi a ausência de internet em alguns locais cabeados do laboratório, não sendo garantida pelo professor a infraestrutura adequada. Quase próximo ao fim da apreciação dos hiperlivros os problemas voltaram a aparecer, mas foram rapidamente solucionados pelo pesquisador.

Na quarta redução (comunidade/divisão do trabalho/objeto) vemos a somatória dos problemas já apresentados e seus atores, mais diretamente os alunos. No entanto, faz-se importante relatar os outros dois agentes e suas ações: no que tange as tentativas de solução por parte do pesquisador para os impasses encontrados ao longo do experimento, e a participação pouco regular do professor, estando ele, no mesmo momento em que transcorriam as etapas, em uma reunião de pais. Entretanto, acredita-se que a divisão do trabalho concernida aos alunos teve poucas relações diretas com o professor. A dependência do bom andamento dos trabalhos estava voltada ao entendimento das etapas designadas pelo pesquisador e a autocolaboração para o cumprimento de toda a atividade.

A quinta redução (comunidade/regras sociais/objeto) indica os problemas ocorridos com o tempo estabelecido pelo pesquisador para atividade e o consequente não cumprimento por parte dos participantes. Isso afetou não somente a eles próprios como aos demais colegas, visto que aqueles que terminaram o estudo dentro ou antes do tempo previsto iniciaram conversas paralelas, afetando a concentração de quem precisava apreciar as temáticas.

Por fim, na última redução (comunidade/ferramentas/objeto), temos as tensões identificadas nas relações do pesquisador, professor e alunos com a internet, e ainda desses últimos com os hiperlivros e os OEDs. O acesso, a leitura e a interação com as ferramentas, parcial ou totalmente, foi fator relevante para o cumprimento do objetivo da atividade e os resultados alcançados, assim como todas as outras relações baseadas em três elementos configuradas nas reduções do diagrama vistas neste tópico.

A seguir, são abordadas as discussões sobre a terceira etapa do experimento final, constituída pelo grupo focal com os participantes. São colocadas também respostas referentes ao experimento piloto visto a relevância de alguns pontos abordados. Para confrontá-las,

são debatidas algumas das respostas de professores provenientes de escolas públicas de referência, entrevistados posteriormente ao experimento.