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PARTE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2. OBJETOS EDUCACIONAIS DIGITAIS (OEDs) 1 Definições

2.6. Situação atual

A visualização do conteúdo didático vem se transformado conforme o surgimento de novas tecnologias. Exemplo disso acontece com a inserção de tablets em sala de aula em diferentes níveis escolares. No entanto, a justificativa desses dispositivos só seria aceitável quando da disponibilidade de um material rico em informação que aprimorasse o aprendizado do aluno. Comumente nos lembraremos daquele que já desempenha essa função e ocupa um espaço físico significativo em nossas prateleiras há bastante tempo: o livro impresso. Sem embargo, o perfil dos estudantes e de grande parte da população parece ser outro, com acesso à informação em diferentes mídias. Fato que se comprova na pesquisa da União Internacional de Telecomunicações (UIT) das Nações Unidas em seu relatório anual sobre o uso de banda larga no mundo. Segundo os dados, 57,6% das pessoas no país estão conectadas (UIT; UNESCO, 2015). Para a comumente chamada “geração de nativos digitais” (LIMA FILHO; WAECHTER, 2013b) foi preciso entender que o processo de ensino-aprendizagem deveria adentrar no campo virtual e explorar, de maneira diversificada, várias ferramentas das tecnologias da informação e comunicação com todo o destaque a seus aspectos interativos.

Ressalta-se que ainda são controversos os reais benefícios que o uso de tecnologias em sala de aula traz à aprendizagem dos alunos. De acordo com Bob Harrison (MORRISON, 2014), ex- professor, palestrante e consultor para assuntos educacionais da Toshiba, não há evidências que relacionem uma melhoria de aprendizagem com a utilização de ferramentas tecnológicas, apenas dados que correlacionam a melhores resultados nas escolas e faculdades. Dessa forma a tecnologia não faria a diferença, mas sim os professores. Não teria sentido, segundo o autor, gastar bastante dinheiro em tecnologia onde a aprendizagem se baseia em “prestar atenção”. É necessário fazer o aluno participar e construir junto com os professores suas ferramentas de aprendizagem. No entanto, Harrison estabelece boas práticas no uso desses materias, baseado em Martin Blows, consultor e ex-diretor de aprendizagem online no National College do Reino Unido para Liderança Escolar, que dizem respeito a: 1) mudar: trocar as formas tradicionais

de fazer as coisas com as TICs; 2) enriquecer: os alunos acabam se envolvendo mais quanto maior e mais rica for a mistura de mídias; 3) melhorar: incentivar uma aprendizagem mais profunda através da utilização das TICs; 4) estender: incentivar os alunos a deixar com que sua aprendizagem vá mais além; 5) capacitar: dar aos alunos o controle sobre a própria aprendizagem.

O professor não perderia seu papel nesse novo modelo de educação. Ele seria um facilitador no alcance do objetivo de aprendizagem e também de organização e combinação dos objetos educacionais digitais entre si ou com outros artefatos (incluindo o livro didático impresso). Ele seguiria com o planejamento de melhores práticas do uso desses objetos explorando a fundo todas as possibilidades que eles possam vir a trazer ao processo de ensino-aprendizagem.

Outro desafio dos OEDs e dos livros digitais (hiperlivros) é o efeito de distração proporcionado pela interação ou pelos elementos componentes da interface resultando em um impacto negativo na compreensão das informações com o aumento da carga cognitiva. É o que destaca Tarouco et al. (2006):

Os materiais educacionais digitais e naturalmente os objetos de aprendizagem freqüentemente sobrecarregam a memória de trabalho dos aprendizes e dificultam a aquisição de esquemas que requerem reflexão. Aprender não é somente identificar os conceitos, mas compreender o que foi trabalhado. O indivíduo precisa adquirir informações gerais suficientes (aquisição de esquemas), para que possa aplicar a

muitos textos diferentes. (TAROUCO et al., 2006, p. 7)

As informações que os autores citam podem ser melhor trabalhadas nos livros digitais quando pensadas por toda a equipe de criação dos objetos. No entanto, o hiperlivro tampouco deve ser visto como uma combinação de textos e imagens estáticas (LIMA FILHO; WAECHTER, 2013a). Ele deve ser considerado como uma ferramenta baseada na web, permitindo criação, estruturação e publicação de conteúdos didáticos. Daí a importância do feedback de professores e alunos às editoras e entidades do governo para melhorar esses materiais: com o público-alvo fica mais fácil encontrar, por meio do uso, várias situações problemáticas.

Outro possível suporte aos objetos educacionais digitais que podem sanar os problemas do aumento de carga cognitiva apontados anteriormente são as plataformas adaptativas de aprendizagem que permitem a personalização do ensino. O termo “personalização” diz respeito às estratégias pedagógicas que promovem o desenvolvimento dos alunos de maneira individualizada, levando em conta as distinções de ritmo de aprendizagem, além das limitações e talentos de cada um, partindo do pressuposto que os conhecimentos prévios, competências e interesses são diversos (PORVIR, 2014). Personalizar o aprendizado parte também da premissa de que o modo como “consumimos” informações foi alterado: as pessoas escolhem e filtram o que querem assistir, ler, ouvir, comprar, etc. Na educação poderia acontecer da mesma forma.

O que se percebe, entretanto, é que o ensino insiste em manter uma estrutura que não condiz com a realidade do aluno: é inserida uma mesma metodologia a um número volumoso de estudantes, supondo que os ritmos de aprendizagem são iguais; mantem-se as mesmas faixas etárias em uma mesma turma; estrutura-se a sala de aula em um formato datado dos últimos séculos com cadeiras perfiladas e o professor hierarquica e hegemonicamente à frente e; avalia-se não o que o estudante aprendeu para poder guiá-lo com os próximos assuntos, mas pelo simples ato de provar que ele sabe o conteúdo.

O uso da tecnologia parece encontrar resistência nesse “atual” modelo de ensino. Ainda são poucas as iniciativas de inserção de recursos digitais em sala de aula, especialmente no ensino público. Nem todas as escolas fazem uso dos livros digitais aprovados no PNLD, por exemplo. No momento da aquisição do material preferem investir apenas na obra didática impressa, ora por falta de verba e estrutura física (tablets, computadores, internet, etc.) ora por não ter à disposição uma capacitação docente que propicie a utilização dos materiais.

Outra iniciativa que dá seus primeiros passos no país é o ensino híbrido. Esse termo vem do inglês blended learning e se refere a uma combinação dos aprendizados offline, em que há a interação com professores e colegas, e online, onde o estudante aprimora seus conhecimentos por meio virtual, incluso com o uso de OEDs. Com isso, sua autonomia na aprendizagem é maior e sua postura se faz mais participativa ao trabalhar na construção do conhecimento com a resolução de problemas e criação de oportunidades (OLIVEIRA, 2015).

Pensando-se em personalização no processo de ensino-aprendizagem temos também a utilização de plataformas adaptativas. Nelas são propostas atividades diferentes para cada aluno, conforme suas respostas e reações às tarefas. São incluídos na plataforma múltiplos objetos educacionais digitais bem como são indicadas atividades em grupo. O feedback do desempenho ocorre em tempo real e é ele quem traça uma mapa de conteúdos que cruza as disciplinas permitindo o avanço simultâneo em cada uma delas (FONSECA, 2013). No Brasil a única plataforma de ensino adaptativo credenciada pelo Ministério da Educação é a da empresa Geekie, estando presente em mais de 650 escolas em todo o país. Possui mais de 600 aulas que incluem vídeos e exercícios baseando-se em inteligência artificial capaz de monitorar individualmente o aluno a fim de que professores e toda a equipe da escola possam, de maneira constante, avaliá-los pedagogicamente (INFOGEEKIE).

O pensamento da individualização na educação, apesar de não ser recente, ganha importância graças aos avanços tecnológicos dos últimos anos, principalmente do computador pessoal. O psicólogo cognitivo e educacional estado-unidense Howard Gardner - famoso pela teoria das inteligências múltiplas, onde considera que os instrumentos para medição das competências humanas não podem ser reduzidos a métodos verbais baseados em habilidades linguísticas e lógico-matemáticas, e sim com outras competências como as relacionadas aos aspectos musical, corporal, espacial e até pessoal (PASSARELLI, 1995) - conclui por meio de

seus estudos realizados em todo o mundo, através de sua teoria, duas implicações educativas que considera importantes (YOUTUBE, 2013b). A primeira delas diz respeito ao dever da individualização da educação onde, ao invés de ensinar a mesma coisa da mesma forma para todos, deve-se aprender o máximo a respeito de cada aluno ensinando de maneira particular e com um jeito que faça sentido em seu modo de pensar, variando-se no processo o ensinar, o aprender e a avaliação.

A segunda refere-se à pluralização, ou seja, apresentar um conteúdo de várias formas, independente sobre o que ele verse, pois há diferentes métodos de ensinar. Segundo o autor, duas consequências são esperadas quando isso ocorre: 1) aumento de alcance do público

(jovens e adultos), cada um com suas preferências de recursos para aprendizagem - histórias, filmes, debates, interações; 2) externalização plural do saber, visto que, se um assunto é de fato compreendido é possível pensá-lo de inúmeras maneiras. Ou seja, quando se demonstra de formas diferentes um mesmo conteúdo o entendimento completo sobre aquele tema é demonstrado.

Howard Gardner parece convicto ao afirmar que somente com a individualização e pluralização é possível atrair os estudantes, fazendo com que eles aprendam mais, gostem mais da escola e se tornem aprendizes para o resto da vida. Caso contrário, o sistema continuará a ensinar de uma só maneira, deixando-os todos iguais. Como consequência temos o afastamento da escola decorrente da falta de interesse em aprender.

Como vimos, o aperfeiçoamento de dispositivos e plataformas vem propiciando adequações dos OEDs. Isso garante amplas possibilidades de utilização desses recursos, visto suas características estruturais (reusabilidade, adaptabilidade, granularidade, acessibilidade, durabilidade e interoperabilidade). Apesar da novidade do termo, esses objetos já estavam presentes como suplementos, adotados por muitos professores para fixação de conteúdo, e ainda por alunos ao tentarem conhecer um pouco mais sobre determinado tema, porém sob a terminologia de objetos de aprendizagem. Neste momento, parece-nos interessante entender como se dá sua utilização especificamente em hiperlivros, visto que essa é a grande novidade adotada nas escolas nos últimos anos, e além disso como eles interferem (positiva, negativamente ou se realmente interferem) no processo de ensino-aprendizagem.

Um dos desafios da pesquisa é escapar das conjeturas feitas acerca da utilização das tecnologias nas escolas. Para isso, são necessários instrumentos que busquem apresentar de maneira satisfatória de que maneira o aprendizado dos estudantes vem acontecendo com esses recursos. A fim de contribuir com as pesquisas nas áreas de design da informação e educação optou-se pela utilização de um dos estudos da psicologia, a Teoria da Atividade (TA), seguindo especialmente os pressupostos de Leontiev, orientados segundo a visão da teoria sociocultural de Vigotsky, assuntos que serão tratados no capítulo 3. Nela são considerados aspectos envolvidos na atividade em si (e as motivações para sua realização), e ainda as

ações e as operações no uso dos OEDs introduzidos nos hiperlivros. Além disso, é possível estabelecer relações da TA com outras teorias ligadas à Interação Humano-Computador, discutidas significativamente por Victor Kaptelinin e Bonnie Nardi, por exemplo.

Entender se existe e como se dá a compreensão após a utilização de OEDs, analisando-os a partir de teorias externas ao campo do Design, não é das tarefas mais fáceis. Entretanto, o caráter multidisciplinar de nossa área nos dá certa permissão.