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PARTE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. DESIGN E EDUCAÇÃO

1.1. O Design no ambiente da educação brasileira

Pensar em design no sistema educacional brasileiro é se ater, muitas vezes, à substituição de elementos informativos escritos por outros digitais na comunicação professor/aluno, ou mesmo pelas práticas asssociadas ao ensino de arte em sala de aula.

No primeiro caso, a título de exemplo inicial para o capítulo, é possível destacar o uso da lousa tradicional frente à digital. Salienta-se que as mensagens visuais até então grafadas “à mão livre” por estudantes e professores no quadro tradicional são ainda consideradas como artefatos didáticos apesar de efêmeras, já que podem ser apagadas a qualquer tempo (CADENA & COUTINHO, 2015). O mesmo caráter de efemeridade pode ocorrer no digital, contrapondo-se nesse caso pela utilização de ferramentas tecnológicas para fazê-lo. Segundo Nakashima & Amaral (2006, p. 37), o artefato tem seus atrativos: trata-se de uma ferramenta com tecnologia moderna e inovadora, capaz de auxiliar na criação de novas metodologias de ensino. Ela permite que professor e aluno acessem páginas na internet, escrevam, desenhem, editem, gravem e e compartilhem os conteúdos criados nas aulas. Cabe destacar que se esperava um grande potencial quando do início da adoção de lousas digitais, mas seu uso esbarrou e vem esbarrando segundo alguns professores entrevistados nessa pesquisa (anexo XIV), em, dentre outros problemas, infraestrutura das escolas e capacitação dos professores para um bom aproveitamento dos recursos interativos intrínsecos a essas ferramentas.

Quanto ao segundo caso, referente à associação do ensino de arte, a justificativa ocorre pela orientação dada nos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Brasileira que coloca o design no mesmo nível de outros campos artísticos, como das artes visuais, da música, do teatro e da dança. Para Portugal (2013, p. 14), o design deve utilizar a lei a seu favor, examinando sua correlação com a cultura visual ao inserir um “novo” tipo de alfabetização (que se aproveita da visualidade) nas escolas, com abordagens que permeiem explorações, análises e definições para melhores experiências nessa área. Em complemento às ideias da autora, ressalta-se a capacidade de síntese, planejamento e projeto do designer, premissas que acompanham o profissional desde sua formação.

De acordo com os estudos de Coutinho (2006, p. 49) os aspectos que interligam e medeiam um dos campos do design, o de interação (preocupado essencialmente com a eficácia e eficiência

dos sistemas informacionais), com a educação é o da linguagem gráfica. A autora clarifica suas inquietações tanto no fato das produções acadêmicas pouco tratarem dos artefatos gráficos analógicos (livros didáticos, murais, cartazes, etc.) que ainda fazem parte massivamente do contexto das escolas, quanto ao modo como é explorada a produção imagética e verbal por alunos e professores em sala de aula. No entanto, reconhece a importância das produções científicas que dizem respeito à utilização de novas tecnologias na educação, visto a maneira como elas “vêm modificando o mundo e as relações humanas, impondo um novo modo de pensar, alterando as regras dos jogos científicos e culturais”.

Para Coutinho & Lopes (2011), ao aproximar o campo do design com o da educação, arquiteta-se a construção de uma perspectiva social baseada em aspectos do design gráfico e da informação capazes de fornecer contribuições às práticas educacionais. Segundo as autoras, duas perspectivas associadas ao design são importantes para entender a relação entre essas duas áreas: a primeira se refere à preocupação do design enquanto solucionador de problemas dos artefatos mediadores de aprendizagem; a segunda diz respeito à sua concepção epistemológica e metodológica, visto sua importante característica de participação na formação de indivíduos.

Portugal (2013, p. 15) cita três experiências nacionais relacionadas à inserção do design na educação que tiveram algum êxito, são elas: o Programa de Iniciação Universitária em Design - PIUDesign (PUC-RJ); a Educação através do Design - EdaDe (UFSC) e o Projeto Ensina Design (UFPE). É destacado nesta pesquisa este último, visto ter se passado na mesma universidade onde ocorre esta pesquisa.

O projeto Ensina Design foi dividido em duas fases: a primeira (2008-2011) referia-se ao uso de artefatos mediadores de informação comumente utilizados pelos alunos, como o livro didático, o paradidático e a lousa. Teve como resultados as seguintes constatações (COUTINHO, 2015, p. 10):

1. é necessário formar os profissionais de ensino com conteúdos de design da informação; 2. o design gráfico medeia as relações de ensino aprendizagem visto estar presente nas

mensagens apresentadas;

3. os artefatos escolares são agentes materiais que medeiam a aprendizagem e o comportamento;

4. políticas públicas atuais favorecem a implementação de formação de professores no âmbito do design da informação;

5. o papel do professor como agente construtor de base, de cultura visual, servindo de referência aos alunos em suas expressões; e

6. a linguagem visual efêmera constitui o processo de base da expressão gráfica escolar (como citado anteriormente pela utilização da lousa tradicional).

A segunda fase do projeto (2012-2016) visava a proposição de “diretrizes e parâmetros de conteúdos e metodologias do Design da Informação (DI) para o currículo das Licenciaturas de Ensino Fundamental no Brasil” abordando de forma crítica o uso de artefatos digitais (COUTINHO, 2015, p. 11). Foi constatado que:

1. o professor reconhece o processo criativo característico do design, havendo assim uma disposição social dos docentes em relação ao design;

2. o design precisa se aproximar do professor como conhecimento a fim de ampliar o pensamento gráfico e visual;

3. são necessárias ações na escola frente às mudanças que ocorrem nas tecnologias da informação e comunicação (TIC);

4. o design é um colaborador na formação em TIC, auxiliando também na produção das mensagens visuais que compõem os artefatos didáticos; e

5. é importante a incorporação do ensino de design nas licenciaturas.

A partir do Projeto Ensina Design, uma nova proposta, sob uma perspectiva distinta àquela das pesquisas iniciais, foi criada por investigadores da mesma universidade. Trata-se da RIDE - Rede Internacional de Design/Educação, que consiste na discussão do Design baseado em sua lógica, com suas ações/práticas e discursos/métodos (COUTINHO, 2015, p. 12): ele deixa o papel de mediador, onde atuava sob a perspectiva de suporte à Educação, passando a ser agente, atuando diretamente nela. A rede se sustenta em ações e projetos de pesquisadores que debatem e sugerem respostas às questões relacionadas ao agenciamento do campo Design/Educação e suas contribuições ao ambiente educacional (COUTINHO, 2015, p. 14). Sua atuação se dá tanto na incubação de ações e projetos ligados à formação quanto aos dispositivos educacionais que podem ser ou estão sendo utilizados, dentre eles aqueles que envolvem tecnologias da informação e comunicação. O próximo tópico abordará alguns desses dispositivos.