• Nenhum resultado encontrado

5 OS INCENTIVOS FISCAIS: DEFINIÇÃO, PROPOSTA

5.3 Proposta de Classificação dos Incentivos Fiscais e suas Espécies

5.3.1 Incentivos Fiscais: Conjunto de Normas que interferem diretamente na

5.3.1.3 Alíquota zero

5.3.1.4.1 Diferimento

O diferimento é instituto que já foi objeto de uma série de estudos pela doutrina. Não há um consenso em sua definição.

Em linhas gerais, especialmente quantos aos efeitos que projeta, o diferimento é norma que posterga o cumprimento da obrigação tributária para um momento posterior ao naturalmente previsto pela norma padrão de incidência.

É considerado como uma espécie de incentivo fiscal que desloca a exigência do tributo para momento posterior, com a imputação da responsabilidade de seu recolhimento a terceiro.

352 O ICMS e os Regimes Especiais. Revista de Direito Tributário, v. 8, p. 93-98, 1996, p. 93.

Portanto, o sentido que trabalhamos de diferimento é o de postergação do recolhimento do tributo devido para momento posterior ao previsto na regra-matriz353.

Encontramos classificações do diferimento como espécie de isenção, substituição tributária, mera postergação de pagamento.

Alguns doutrinadores não incluem o diferimento como norma de incentivo fiscal, mas tão somente como uma técnica de tributação, todavia, em se tratando de ICMS.

A Lei Complementar nº 24/75, porém, considera expressamente o diferimento como incentivo fiscal, que poderá ser concedido por meio de Convênio com a autorização de todos os Estados-membro. Assim, podemos dizer que referido instrumento legal confere aos Estados a competência para estabelecer técnicas de diferimento354.

Abaixo, elencaremos alguns dos conceitos já trabalhados pela doutrina sobre o diferimento.

Geraldo Ataliba e Cleber Giardino355 assim definem o instituto: “Diferimento é

a designação de um complexo de normas que fixa um dado regime tributário. […] é instituto que se refere à obrigação tributária.” Referidos autores entendem que o instituto do diferimento não se trata de retardamento, adiamento ou procrastinação de operação, lançamento, pagamento ou não incidência do ICMS, tratando-se de uma exclusão da oneração tributária da operação, cujos efeitos são semelhantes aos

353 Entendimento de Hermano Notaroberto Barbosa: “Sob o ponto de vista jurídico, o diferimento, em

seu sentido mais abrangente, cuja classificação é menos tormentosa, se verifica nos casos em que a legislação, geralmente de forma excepcional, em relação a uma determinada classe de contribuintes ou de fatos econômicos, posterga o recolhimento de um tributo devido para momento cronologicamente posterior àquele em que deveria, normalmente, ocorrer, a se aplicar a regra geral de incidência. O diferimento opera, portanto, seus efeitos no elemento temporal do consequente da regra de incidência tributária. Uma vez ocorrida situação de fato que se subsume ao tipo descrito abstratamente na norma, então produzem-se os efeitos jurídicos da incidência, que incluem a descrição do quantum da obrigação, representado pela combinação da base de cálculo e da alíquota (elemento material), do sujeito responsável pelo recolhido (elemento subjetivo), bem como do momento em que esse deve ocorrer (elemento temporal)”. (O poder de não tributar: benefícios fiscais na constituição. São Paulo: Quartier Latin, 2012, p. 109, grifos do autor).

354 A Lei Complementar nº. 87/96 não dispõe a respeito do diferimento, contudo, por meio da Lei

Complementar 24/75 fica claro que este somente poderá ser estabelecido lei própria do Estado, utilizando a via da ratificação dos Convênio. (BRASIL. Presidência da República. Lei Complementar nº 24, de 7 de janeiro de 1975. Dispõe sobre os convênios para a concessão de isenções do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias, e dá outras providências. Brasília: DOU, 9 jan. 1975).

355 ATALIBA, Geraldo; GIARDINO, Cleber. ICM – DIFERIMENTO – Estudo Teórico-prático, Estudos

e Pareceres n. 1. São Paulo: Resenha Tributária, 1980, p. 119.

produzidos pela isenção ou outras formas de não incidência. Ressaltam que o diferimento não se confunde com a isenção, porém possui efeitos semelhantes.

Por sua vez, Sacha Calmon Navarro Coelho356 coloca que: “O diferimento é a técnica de tributação estribada no feitio polifásico do ICMS. Não se confunde com nenhum tipo de Benefício fiscal”.

Referido autor entende que o diferimento, portanto, não pode ser considerado um incentivo fiscal por ser uma técnica de tributação.

Clélio Chiesa357, por seu turno, se posiciona no sentido de que “a regra do diferimento atinge um dos critérios da regra-matriz para reduzir o seu campo de incidência, configurando-se como uma verdadeira isenção. Portanto, em tudo deverá observar o regime previsto para as isenções”.

A partir de alguns posicionamentos doutrinários, é possível notar a ausência de consenso quanto ao diferimento, que ora é entendido como incentivo fiscal, ora como espécie de isenção, além de grandes doutrinadores defendendo como substituição tributária ou até mesmo a não incidência.

Todavia, embora os respeitáveis estudos empreendidos sobre o diferimento analisando o fenômeno, entendemos que se trata de uma isenção seguida de uma incidência em momento posterior. A norma, então, definirá que numa determinada etapa (geralmente da cadeia de operação, em se tratando de ICMS), não haverá tributo a pagar (isenção), sendo que elege que na ocorrência de um fato posterior e para um outro sujeito da relação é que ocorrerá a incidência, nos moldes delineados pela norma.

Não concordamos com as posições que não acolhem o diferimento como um incentivo fiscal, pois, conforme a definição de incentivo fiscal que adotamos, é certo para nós que a modalidade do diferimento está englobada no conjunto de normas que interfere na regra-padrão de incidência tributária, e, por mais que possa ser considerada uma técnica, certamente esta vem expressa por meio de um conjunto normativo, cujo fundamento de validade vem impresso na Constituição Federal.

Na hipótese dos autos, a saída da produção dos agravantes não é tributada pelo ICMS, pois sua incidência é diferida para a próxima etapa do ciclo econômico. Se nada é recolhido na venda da mercadoria, não há que se falar em efeito cumulativo. […] Distinção

356 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro. Rio de Janeiro: Forense,

2009, p. 598.

357 CHIESA, Clélio. ICMS: Sistema Constitucional Tributário. São Paulo: LTr, 1997.

entre diferimento e isenção. Do diferimento não resulta eliminação ou redução do ICM; o recolhimento do tributo e que fica transferido para momento subsequente. Não há ofensa ao princípio da não cumulatividade do ICM na pratica de seu diferimento. Precedentes do STF. Inviável e a pretensão das impetrantes de creditar-se do ICM, nas operações de compra e venda de soja. Não se faz necessária a celebração de convenio, pelo Estado, em torno de diferimento, tal como sucede com a isenção. Recurso extraordinário não conhecido” (RE 112.098, Rel. Min. Néri da Silveira, Primeira Turma, DJ 14.2.1992). O acórdão recorrido divergiu dessa orientação.6. Pelo exposto, dou provimento ao recurso extraordinário (art. 557, § 1º-A, do Código de Processo Civil e art. 21, § 2º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. Considerando-se a Súmula 512 deste Supremo Tribunal Federal, deixo de condenar ao pagamento de honorários advocatícios de sucumbência. Publique-se. Brasília, 9 de dezembro de 2009. Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora.358