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A norma de competência enquanto norma estrutural dos Incentivos Fiscais

4 A ESTRUTURA NORMATIVA DOS INCENTIVOS FISCAIS

4.4 A norma de competência enquanto norma estrutural dos Incentivos Fiscais

Quando analisamos o acervo de proposições que compõem a Constituição Federal de 1988, no que diz respeito aos incentivos fiscais, podemos construir que estes são normas jurídicas cujas edições são permitidas ao legislador e ao administrador para transformar em realidade289 as projeções do Constituinte contidas em proposições jurídicas.

Em outras palavras, tratam-se das normas jurídicas enunciadas a fim de que os propósitos constitucionais relativos a matérias específicas sejam concretizados, enquanto finalidade do ordenamento jurídico, cujo objetivo é a regulação da conduta intersubjetiva, mediante constantes estímulos e coercitividade.

É certo que não conseguimos construir, a partir da leitura do Texto Constitucional, uma norma jurídica de conduta como: (hipótese): Dado o contribuinte domiciliado em região social e economicamente pouco desenvolvida, deve ser (consequência) beneficiado por meio de tratamento fiscal mais brando.

Ao contrário. A partir do Texto Constitucional, é possível construir normas primárias de competência. Conseguimos construir normas primárias de competência em

287 “Ressalvamos, porém, que as funções indicadas para cada uma das normas de produção normativa são

funções parciais e que, por isso, se complementam sem se excluir. Isoladamente, nenhuma delas prescreve mensagem com sentido completo. Apenas com a reunião de todas as normas de produção normativa é possível saber onde, quando e a respeito do que uma norma jurídica pode ser criada. Daí o porquê de não ser possível identificar em qualquer destas normas sobre produção jurídica uma mensagem normativa que expresse ‘o mínimo e irredutível de manifestação do deôntico’.” (GAMA, Tácio Lacerda. Competência tributária: fundamentos para uma teoria da nulidade. 2. ed. revista e ampliada. São Paulo: Noeses, 2011, p. 51).

288 Ibid., p. 47.

289 “Altera-se o mundo físico mediante o trabalho e a tecnologia, que o potencia em resultados. E altera-

se o mundo social mediante a linguagem das normas, uma classe da qual é a linguagem das normas do Direito”. (VILANOVA, Lourival. As estruturas lógicas e o sistema do direito positivo. 4. ed. São Paulo: Noeses, 2010, p. 4).

todos os modais deônticos, quais sejam, permitido, proibido e obrigatório, vejamos: Iniciando pelo modal permitido, construímos: (hipótese) Dada a existência de órgão legislativo, deve ser (consequência) a permissão do exercício da competência de tal órgão para criar incentivos fiscais que tenham por objetivo reduzir o desequilíbrio socioeconômico entre regiões do País; ou então: (hipótese) Dada a existência de órgão legislativo, deve ser (consequência) a permissão do exercício da competência de tal órgão para criar incentivos fiscais que estimulem a proteção do desporto nacional, a pesquisa e a tecnologia, a absoluta prioridade da criança e do adolescente, a produção de bens e valores culturais (artigos 215, 216, 217, 218 da Constituição Federal).

Podemos também construir, a partir dos enunciados e proposições da Constituição Federal de 1988, normas de competência com modal deôntico Proibido, a saber: (hipótese) Dada a existência de órgão legislativo, deve ser (consequência) a proibição do exercício da competência de tal órgão para criar incentivos fiscais para pessoa jurídica inadimplente com o sistema de seguridade social (Artigo 195, parágrafo 3, da Constituição Federal).

Ainda, da mesma forma, constrói-se norma de estrutura com modal deôntico obrigatório: (hipótese) Dada a existência de órgão legislativo, deve ser (consequência) a obrigação do exercício da competência de tal órgão por meio do instrumento introdutor lei complementar para criar normas gerais para a concessão de incentivos fiscais estaduais relacionados ao ICMS290 (art. 155, XII, g, da Constituição Federal).

Em todos esses exemplos, é possível identificar a estrutura da norma de competência: Njcom = H {[s.p(p1, p2, p3…)].(e.t)}  R (S (s.sp) . m (s.e.t.c.)}. Nota- se que o conectivo interproposicional permanece neutro, isto é, não modalizado291, pois

290 A título exemplificativo, confira-se: “Antecedente: se o Município quiser exercer (querer-fazer) a

faculdade de instituir o IPTU. Consequente: deve-ser a obrigação de observar o procedimento estabelecido para a criação de Lei Municipal. O órgão competente tem o dever jurídico de observar o procedimento para exercer a competência e a comunidade, o direito subjetivo de ver observada essa prerrogativa”. (MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Fontes no direito tributário. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2006, p. 86, grifos do autor).

291 “Kelsen insistiu na diferença entre as leis da natureza, submetidas ao princípio da causalidade física, e

as leis jurídicas, articuladas pela imputabilidade deôntica. Lá, a síntese do ‘ser’; aqui, a do ‘dever-ser’. Nas duas causalidades temos a implicação, o conectivo condicional atrelando o antecedente ao consequente. Entretanto, quando usado e não simplesmente mencionado, o ‘dever-ser’ denota uma região, um domínio ontológico que se contrapõe ao território do ‘ser’, em que as proposições implicante e implicada são postas por um ato de autoridade: D(pq) (deve-ser que p implique q). Falamos, por isso, num operador deôntico interproposicional, ponente da implicação. Não fora o ato de vontade da autoridade que legisla e a proposição-hipótese não estaria conectada à proposição-tese. Daí por que esse operador deôntico seja chamado neutro, visto que nunca aparece modalizado”.

o que se modaliza nas três variantes indicadas é o conectivo intraproposicional da relação jurídica prescrita no consequente, que trata da matéria a ser veiculada.

A partir dos exemplos acima apresentados, podemos, então, dizer que o Texto Constitucional trouxe normas de competência primária para que os incentivos fiscais possam adentrar no sistema do direito positivo, por meio de normas jurídicas, a partir da sua edição, pelos agentes competentes e mediante um determinado procedimento.

Então, podemos considerar que os incentivos fiscais, dentro do Texto Constitucional, são normas de competência que regularão como os entes tributantes poderão emitir a regulação das condutas para a produção das demais normais do sistema jurídico positivo, que carregarão consigo a possibilidade de diminuir ou suprimir o montante de tributo a pagar.

Portanto, a norma de competência é a norma estrutural de incentivo fiscal. De fato, a Constituição Federal traz a norma de competência para que o agente competente enuncie, mediante o procedimento adequado.

Todavia, esta norma estrutural, isoladamente, não é capaz de interferir diretamente na relação jurídica tributária, uma vez que haverá necessidade da integração de outras normas que desempenharão este mister.

Assim, a norma estrutural de incentivo fiscal necessitará estar acompanhada de outras normas que, juntamente com ela, integrarão completamente a relação jurídica de incentivo fiscal.

De fato, a Constituição Federal traz a norma de competência para que o agente competente emita, mediante o procedimento adequado.

É o que demonstraremos no tópico seguinte.

4.5 Analisando a norma de incentivo fiscal a partir da norma jurídica tributária