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Foi diretor vice-presidente administrativo do Unibanco. Participou da implantação de sistema para solução dos problemas da Conta Departamentos no país junto ao Banco Central. Presidente do Conselho da Tecnologia Bancária (TecBan), durante sua implantação e funcionamento. Hoje, é diretor da Biogeração, empresa do Itau-Unibanco, dedicada à transformação de gás metano em energia limpa para uso nas agências e áreas operacionais do Banco.

A

té meados do século XX, a rede bancária exercia praticamente três

funções básicas: 1) Guardava e remunerava o dinheiro depositado por clientes; 2) Emprestava dinheiro; 3) Começava a receber cobran- ças da região próxima das agências.

Nesse período, a operação para fazer o dinheiro entrar em uma agência e ser creditado em outra era lenta e insegura, praticamente não existia. Esse processo consumia um enorme custo para criar débitos e créditos, que representavam a ida do numerário, da origem para o destino. Normalmente, a chamada “área de casa- mento” era uma das maiores áreas que os bancos tinham, onde exércitos de fun- cionários casavam débitos e créditos. E, infelizmente, alguns usavam a precarie- dade desse processo para desviar valores, raramente descobertos em curto prazo. São muitos os casos ocorridos, contabilizados em perdas e hoje já esquecidos.

Nessa época, a operação de compensação de cheques entre bancos de uma mesma cidade era feita durante a noite, com certa rapidez, mas, quando envol- via diferentes cidades, o processo era lento e com alto custo. Até hoje é assim, diga-se de passagem. E nosso país precisava de uma irrigação de numerário para facilitar o comércio. Havia uma contribuição signiicativa dos Correios, que remetiam, sob sua responsabilidade, notas de dinheiro vivo em envelopes transparentes. E cheques eram remetidos através de cartas registradas ou não. Realmente havia uma rede de dinheiro paralela percorrendo o Brasil.

Nas agências, todas as transações eram contabilizadas na retaguarda, em máquinas mecânicas que geravam cartelas para cada conta e para cada cliente. As cartelas dos clientes eram remetidas no inal do mês como extrato de con-

75 ta corrente. Dependíamos das reclamações dos clientes para corrigir os erros.

E hoje também é mais ou menos assim... Consolidar os valores de todas as agências era uma tarefa difícil e onerosa, o que impossibilitava a existência de bancos com muitas agências.

O primeiro grande avanço apareceu quando a eletrônica colocou à disposição computadores que aumentaram a velocidade das máquinas mecânicas de conta- bilidade. Eram caros e precisavam icar em uma região central, recebendo todas as transações. Com isso, era preciso que todos os documentos chegassem a esse lugar e fossem transformados em cartões perfurados, que era o único jeito delas entenderem o que tinha acontecido. As trocas de veículos e os malotes tornaram- se a grande preocupação das atividades de processamento de dados, pois tinham de trazer documentos para processar e levar o produto do processamento.

Nessa época, icou famoso o Listão de Conta Corrente, que era obrigatório para a abertura da agência. Diariamente, quando chegávamos ao banco, quería- mos saber se o Listão tinha chegado e se a gente tinha ganhado ou perdido na compensação. Era essa a vida da manhã em um banco.

A segunda grande contribuição permitiu que a transcrição para cartão ou itas perfuradas fosse eliminada. A digitação começou a ser entendida direta- mente pelos computadores, e um passo do processo foi eliminado. A terceira e grande contribuição foi percebida quando a digitação pode ser descentralizada em subcentros de processamento, mais próximos das agências, com os resulta- dos das digitações recebidos das centrais por transferência eletrônica de dados, com malotes e frotas de veículos muito menores.

Esses locais também recebiam o resultado do processamento de transmissão de dados, imprimiam relatórios e, por malotes, alimentavam as agências. Permi- tiram maior volume de dados processados no mesmo tempo disponível, durante a noite. E os bancos puderam crescer um pouco mais, e a irrigação do dinheiro do país melhorou. Em paralelo, um enorme trabalho de organização e métodos buscava padronização de códigos, criava dígitos veriicadores e procedimentos que permitissem uma digitação sem erros, em busca de um bom serviço pres- tado ao cliente. Percebíamos que o caixa da agência fazia as digitações neces-

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sárias, mas tudo tinha de ser digitado novamente para entrar na contabilidade. E também sabíamos que, se dois bancos estivessem envolvidos na transação, o trabalho seria duplicado, pois ambos teriam de digitar a mesma informação.

Em outros setores de serviços, apareceram os cartões de crédito, consoli- dando diversas compras do comércio em um pagamento único mensal. O pri- meiro Credicard foi uma iniciativa do Itaú, do Citibank e do Unibanco. O uso do dinheiro vivo diminuiu e o movimento de saques nos caixas dos bancos também caiu em pequenas proporções, mas ainda era necessária uma solução para reduzir os custos e evitar ilas nas agências dos bancos. Precisávamos de um serviço melhor, deinitivamente.

Por outro lado, a economia do país criou uma concorrência importante en- tre os bancos. A inlação obrigava um crédito rápido entre contas correntes. O banco que debitasse ou creditasse rápido mostrava um serviço melhor. As operações de cobrança foram símbolos de bons procedimentos, e cada banco adaptou seu serviço em busca de um crédito e de uma informação rápida ao cliente. Porém, faltavam produtos de cobrança entre bancos, pagar em um ban- co e creditar em outro.

O sonho de terminar a digitação de uma transação no próprio caixa começou a ser possível graças aos quatro bits. Pois e foi num trabalho conjunto do Banorte com a recém-criada Digirede, de Arnon Schreiber, que acabou sendo desenvolvi- do um computador de baixo custo, possível de ser instalado em cada caixa.

O Unibanco já havia instalado as primeiras agências online com equipa- mentos IBM, mas foi impedido de continuar seu projeto pela proibição de im- portação de minicomputadores. Aliou-se, então, à Digirede para desenvolver um terminal de caixa de custo baixo compatível com a CPU Digirede/Banorte. Infelizmente, as autoridades daquela época entendiam que era estratégico para o Brasil fabricar computadores, quando, na minha visão, realmente a estratégia vitoriosa seria usar computadores fabricados em qualquer lugar do mundo, mas usar computadores. Com isso, perdemos algum tempo, mas conseguimos implantar as primeiras agências que evitavam digitações sucessivas e concluí- am a transação no caixa.

77 Ainda preocupados com a distribuição do dinheiro vivo fora das agências,

Unibanco, Bamerindus e Nacional criaram a Tecnologia Bancária e a marca Banco 24 horas, buscando a instalação de uma rede de caixas automáticos que permitisse o saque de numerário das contas correntes dos três bancos. Foi cria- do o cartão de débito, que existe até hoje.

A Tecnologia Bancária foi o primeiro produto bancário compartilhado entre três bancos com custos distribuídos, envolvendo saque de numerário fora das agências. A empresa foi montada de modo a receber outros bancos, tanto como sócios quanto como compradores de serviços. O Banco 24 Horas cresceu e é uma solução boa até hoje.

Uma nova vitória foi conquistada na busca de um bom serviço com bai- xos custos. A solução de transações interbancos foi a última conquista. DOCs, TEDs e a linha digitável para pagamentos praticamente chegaram juntos com a internet e tornaram a maioria das transações bancárias possíveis de serem feitas de casa ou do escritório do próprio correntista. E os bancos, desde então, não tinham mais limitação estrutural de trabalho.

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