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Formado em Engenharia Eletrônica pelo ITA e pós-graduado em Administração de Empresas pela FGV, possui 45 anos de experiência no setor de TI. Foi presidente da HP do Brasil e da Tesis Informática, diretor geral da TecBan, gerente de sistemas da Promon Engenharia e gerente de sistemas do Banco Comind. Atualmente é presidente da DIB & Associados, que atua em consultoria em Gestão de TI e com eventos de tecnologia.

45 havia os sistemas operacionais, e as máquinas eram monoprogramáveis, basea-

das em cartões. Não existia multitasking, como hoje. O principal computador do mercado era o IBM 1401. Quando comecei, ele tinha só 4 KB de memória.

Na segunda metade da década de 60, eu estava trabalhando na Burroughs – ninguém sabia falar o nome dessa empresa. Não era nem a Olivetti, nem a IBM, que eram os titãs desse mercado. Era realmente um concorrente diferen- te no mercado. Utilizava itas de papel perfurado, que saíam das máquinas de contabilidade. Nem cartões perfurados esse fornecedor tinha. Nossos compu- tadores eram máquinas Burroughs B-200, de 4,8 KB de memória. Nosso mote de vendas é que a nossa máquina tinha 4,8 KB de memória, a da IBM tinha só 4 KB. A memória era de núcleos de ferrite. Você podia ver cada bit da memó- ria isicamente! Para saber se aquele bit era 1 ou zero era necessário primeiro desgravar e em seguida gravar de novo. A programação dos computadores era feita em Assembler. Uma linha de código equivalia a uma linha de instrução de máquina. Uma por uma. A compilação era feita em cartões, e eram necessá- rios vários passos. Punha-se na leitora primeiro o deck do Assembler, passava o segundo que era o fonte, e o sistema perfurava o terceiro com a tabela de endereços, passava-se o terceiro, surgia o programa objeto, que era um deck ininho de cartões. Para rodar as aplicações, primeiro colocava-se o deckzinho do programa, depois os dados. Imaginem o que era isso. Mas era assim naquele tempo, na década de 60. A briga do pessoal de programação era com a produção, que não dava tempo de máquina para os programadores...

Trabalhei de 1965 a 1969 na Burroughs. Meu começo foi justamente treinar os bancos em programação. Bradesco e Itaú já eram líderes naquele tempo, e tudo o que acontecia era orientado pelas iniciativas deles. Então, eu treinei três bancos nesse período. Treinava em quê? Não ensinava como se administra o negócio, mas como se fazia a programação. Treinei o Banco Indústria e Comér- cio de Santa Catarina, que foi comprado pelo Bradesco pouco depois. Treinei o BCN, que foi comprado pelo Bradesco depois. E treinei o Banco Mercantil de São Paulo, que também foi comprado pelo Bradesco depois. Ou seja, acabei ajudando o Bradesco a pegar os bancos que já estavam preparadinhos.

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Em 1969, saí da Burroughs e fui para a IBM, onde trabalhei durante um ano dando suporte em sistemas operacionais. A maior diversiicação na minha car- reira proissional foi trabalhar em diversos fornecedores. Trabalhei na Burrou- ghs, na IBM e, mais recentemente, na HP, onde fui presidente da ilial brasileira. Até esse momento eu tinha mais experiência e visão como fornecedor. Em 1970 iniciei meu período proissional como cliente. O Banco Comind, como era conhecido o Banco de Comércio e Indústria do Estado de São Paulo, me cha- mou para um projeto apaixonante, que era desenvolver o pregão online da Bolsa de Valores de São Paulo. O Comind tinha um convênio com a Bolsa e queria um “Iteano” para dirigir esse projeto. Foi quando me acharam e eu fui trabalhar no Comind, no período de 1970 a 1976. Hoje posso dizer que esse Projeto Bolsa foi uma das experiências proissionais mais fantásticas que tive.

Voltando à Automação Bancária, como eram os bancos nesse tempo, na dé- cada de 60? As agências eram o único canal para atender o cliente. Tudo acon- tecia no espaço detrás do balcão, que por muito tempo foi conhecido como retaguarda da agência. As pessoas se apresentavam no balcão, entregavam e recebiam coisas. Para pagar um cheque, por exemplo, você deixava o cheque no balcão, eles te davam um número, uma icha, você icava esperando, andando na frente do caixa, que não tinha nada de executivo. Então, o caixa chamava o seu número, você ia lá receber o dinheiro ou fazer o depósito. Todo o serviço acontecia na retaguarda, onde havia máquinas de contabilidade. A Burroughs, naquele tempo, tinha uma boa participação nesse mercado com máquinas, que evoluíram até tornarem-se verdadeiros minicomputadores.

Era interessante porque tudo acontecia nessas máquinas. Você entregava o cheque, o cheque ia lá para trás, na retaguarda, os operadores achavam a cartela da conta, punham na máquina, veriicavam se tinha saldo, se podiam fazer o lançamento. Então, viam que tinha saldo e podiam fazer o pagamento. Soltavam o cheque. Ou seja, o processamento era “real time”, tudo estava na cartela, não precisava de mais nada. Aliás, o cliente tinha o direito de pedir para ver a cartela. E eles davam a cartela e você veriicava o seu saldo. Era assim que funcionava. Como se fosse hoje um extrato pela Internet, só que era tudo lá, na agência...

47 Depois disso, juntavam-se os documentos na retaguarda, faziam-se os lo-

tes, remetiam-se todos os documentos para a Central, perfuravam-se os dados, os operadores colocavam os cartões nas leitoras e as itas magnéticas, e proces- savam. Um programa por vez. Era assim que nós vivíamos.

Qual era o desaio naquele tempo? O maior problema que nós, analistas, tínhamos não era técnico. Aliás, problemas técnicos temos até hoje e sabemos resolver. Naquele tempo, como ainda hoje, o maior problema era descobrir o que o sistema deveria fazer. O problema era o levantamento de dados, a análise, como desenvolver as aplicações, como tratar o usuário, quem é o usuário, de quem é o sistema e qual o papel do analista.

Naquele tempo, os funcionários dos bancos sentiam-se ameaçados pelos analistas, que eram contratados fora dos bancos. Para tratar desse negócio de computador, precisava ser técnico e não funcionário de carreira. Em muitos ca- sos, era assim que acontecia. Isso gerava uma situação de conlito enorme dentro do banco. Vivi muito essa situação de enfrentar o usuário que reclamava, não gostava, resistia. Hoje a metodologia evoluiu e há maior clareza nessas questões.

No Banco Comind, onde eu fui trabalhar na década de 70, havia uma ver- dadeira guerra. Quando entrei para trabalhar na Bolsa, iquei inicialmente um tempo no banco. O banco havia decidido implantar o sistema de carteiras na raça. Não estava pronto o sistema, mas a pressão era muito grande. Então, es- tourou tudo, deu problema, teve intervenção da área de sistemas no departa- mento do banco porque o pessoal de carteiras do banco “não conseguia” fazer. Esse era o grande desaio, a gestão do processo de automação.

Na década de 70 começou, na minha visão, a grande fase da automação bancária. Quando entramos nessa década já existiam sistemas operacionais, não era mais monoprogramável, a IBM tinha o DOS, que na verdade ia ser o OS. Partições ixas, background, foreground, fazia-se a geração de sistemas, era um negócio complicadíssimo. Como estava na Burroughs, eu tinha outro sistema operacional, o Master Control Program (MCP), muito mais simples de usar. Que, aliás, ajudou a gente a vender. Depois, apareceram situações fantásticas, já com o online, o chamado OLTP. Já existiam discos, bancos de

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dados, data-entry, que inicialmente era feito via mainframe, e depois vieram as DE. E reconheço que a Olivetti era campeã, sem dúvida nenhuma.

Nesse tempo, eu era gerente de análise do Comind e nessa fase a automa- ção começou realmente a mudar os bancos. Tivemos os caixas-executivos nas agências. Como a operação na retaguarda ainda não era boa, surgiu o Listão. O caixa precisava ir ao Listão, folhear, achar o correntista, marcar à mão naquelas listas o cheque que estava saindo, o valor, veriicar o saldo anotado. As ilas se formavam no caixa-executivo, e eram enormes, mas pelo menos andavam. Após o expediente todos os lançamentos iam para o data-entry, para o proces- samento noturno e daí para a emissão dos Listões que iam para as agências. Ufa! Era um processo melhor nas agências, mais rápido, mais fácil, mas a pres- são sobre os CPDs era enorme. O caminho era partir para a agência online, o que começou de fato a ocorrer já na década de 70. As discussões nessa fase, ob- viamente conduzidas pelos dois líderes, Bradesco e Itaú, eram sobre centralizar ou distribuir o processamento. O Itaú decidiu centralizar e o Bradesco decidiu distribuir. Essa diferença perdurou pelas décadas seguintes.

Um avanço pioneiro que serviu de semente a avanços posteriores deu-se na área de autoatendimento, já na década de 70. Dediquei-me muito a essa área posteriormente, na TecBan na década de 80, mas o interessante é que em 1970, quando estava trabalhando na IBM e recebia meu salário pelo Itaú, o Itaú já usa- va um sistema de autoatendimento, que se chamava Itaú-Cheque. As máquinas fabricadas pela Chubb eram acionadas por um cartãozinho perfurado. A gente chegava a uma dessas caixas, botava o cartãozinho, digitava uma senha, o car- tãozinho icava retido, e ela pagava um valor ixo. E você tinha de buscar o cartão na agência no dia seguinte. Assim operavam os “caixas automáticos” em 1970. Tentei descobrir como funcionava a senha naquele tempo e não consegui.

O Bradesco foi mais inteligente do ponto de vista de marketing do que o Itaú, porque Itaú-Cheque não queria dizer nada, mas o Bradesco criou a ex- pressão SOS Bradesco, que é perfeita para aquele modelo de saque de emer- gência. O cartãozinho icava retido, mas pelo menos você tirava dinheiro para emergências. Essa foi a origem das ATMs. Em 1970! As aplicações importan-

49 tes naqueles tempos eram contas correntes, carteiras, contabilidade, fundo

de garantia, emissão de extratos. Ah, e o fechamento do balanço, que era um sofrimento danado.

Havia grandes desaios, e cerca de 380 bancos no Brasil. Desses 380, os dois maiores, Bradesco e Itaú, e o Banco do Brasil, claro, estavam numa outra fase da automação. Os bancos médios, com os quais eu trabalhei muito, como o Unibanco, não apareciam muito. Tanto que tiveram de se juntar, Unibanco, Bamerindus e Nacional, para poder concorrer nos ATMs com os dois líderes. Os bancos estatais eram muitos.

Daí para a frente, a informatização começou a correr. A partir do inal da década de 70, começa efetivamente a grande corrida: a agência online, com a reserva de mercado vigorando, tinha poucas soluções. Houve o surgimento da indústria nacional, que trouxe contribuições maravilhosas. Era uma fase de empreendedorismo, e de correr riscos. O destaque da automação bancária bra- sileira surge dos desaios. A própria reserva de mercado, a inlação, os planos econômicos, que exigiam mudança da noite para o dia. Programas tinham de ser refeitos e os bancos se prepararam, conseguiam enfrentar tudo graças à sua iniciativa, criatividade e informatização, que já estava em andamento naquele tempo, como o exemplo da compensação – campeã mundial talvez até hoje.

Essa é minha visão, muito rápida, de uma fase que eu chamo de heroica por- que a fase posterior foi muito mais estruturada. Era uma fase de descobertas, uma fase em que o ingrediente fundamental era muita coragem e, muitas vezes, verdadeira teimosia.

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unca fui funcionário de bancos. Sempre trabalhei como fornece-

dor de tecnologia, especialmente para bancos. Entrei na IBM em 1975, um pouquinho depois dessa fase do 1401. Ainda temos na IBM o Luiz Fadel, que vocês devem conhecer, e que fez parte desse início da automação bancária nos anos 60. Até hoje ele inluencia a evolução dos mainframes da IBM, pois vive em nossos laboratórios apresentando e dis- cutindo os requerimentos de nossos clientes com os desenvolvedores de sistemas operacionais.

Sou físico e matemático formado pela USP e acompanhei bastante esta parte de automação bancária pelo lado de fornecedor. Eu sempre trabalhei na IBM, me apaixonei desde o primeiro dia. Não tenho dúvidas da importante participação da IBM nesse processo de automação. Toda a criatividade dos bancos, toda esta demanda que os bancos sempre requisitaram dos fornece- dores foi de extrema importância para o desenvolvimento de produtos e de nossos proissionais técnicos.

É inegável que não só no Brasil, mas no mundo todo, a tecnologia teve um avanço signiicativo gerado pela demanda dos nossos clientes e do mercado. Após o 1401, que foi considerado o primeiro mainframe da IBM, izemos um anúncio muito importante em abril de 1964, que foi o sistema 360. A história da IBM e dos mainframes tem um marco importante no sistema 360. Como não poderia deixar de ser, o primeiro mainframe desse tipo instalado aqui no Brasil foi exatamente para um banco. Era um modelo 30, uniprocessado, só existia um processador, e que tinha 64 KB de memória, um marco na época.