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Engenheiro Mecânico pela UFRGS, com treinamento em eletrônica no Japão, e extensão em Administração em Harvard. Na área de tecnologia trabalhou cerca de 30 anos, basicamente, em Edisa e HP. Hoje, é membro de conselho de empresas na área de tecnologia, consultor e professor de MBA na FAAP. Também vive parte do tempo no Canadá, onde desenvolve projetos de consultoria relacionados ao Brasil.

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ntrei na Edisa vindo da Springer, da área de eletrodomésticos, justa-

mente por causa dessa minha experiência industrial. O idealizador da Edisa, que nasceu em 1977, foi o Flavio Sehn, que era presidente da Pro- cergs - Empresa de Processamento de Dados do Rio Grande do Sul, na época, e queria levar para o Rio Grande do Sul uma fábrica de computadores. Foi ele quem fez todo o contato com a Capre, com o Ricardo Saur, na ocasião, para tra- zer um projeto desses. Negociou tudo, logicamente apoiado pela Fiergs e pelo banco de desenvolvimento local (BRDE). Cheguei logo depois, porque precisa- vam de alguém que entendesse de fabricação, e logo fui mandado para o Japão para ver como se fazia computador. Para um proissional como eu, que tinha feito geladeira, ar-condicionado, construído fábrica de televisores em Manaus, era um desaio muito interessante.

A Edisa foi marcante nessa atividade, uma vez que entrou inicialmente com a tecnologia da Fujitsu, que atuava com automação bancária. Estive em Mina- mitama, numa fábrica da Fujitsu, para estudar todo o processo deles. Lá estava também o pessoal do Bradesco, logo depois chegou o Lino Rolo, representando a Itautec. Em 1979, nós queríamos oferecer a tecnologia da Fujitsu ao Bradesco porque o Celso Mellon Raggio, que era o diretor de TI do Bradesco, estava atrás de ATM, e por conta da reserva de mercado a Fujitsu não conseguiria exportar isso, embora ela fabricasse ATM em Minamitama. O Japão todo funcionava na base de transação eletrônica naquela ocasião, através de ATM. O caixa era mui- to pouco usado, até porque não existia o costume de ir à agência. Mas a coisa não prosperou. Tivemos discussões incríveis com a SEI à época, a respeito de

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como trazer isso, como viabilizar o negócio, mas não conseguimos. Porém, a ideia icou e começamos a nos apresentar frente aos bancos.

Surgiu, então, uma oportunidade com o Banco Mercantil de São Paulo, o Mercapaulo. E aconteceu uma coisa extremamente curiosa. O que eles queriam não era uma ATM, e sim um sistema que pudesse atender ao cliente muito rapidamente. Nós tínhamos desenvolvido um servidor baseado em Z80, que fazia uma divisão de memória muito interessante e podia fornecer esse tipo de sistema que eles queriam. Faltava o caixa, o terminal de automação bancária. Apanhei um avião em Porto Alegre e vim falar com o Arnon [Schreiber] na Digirede, o escritório na ocasião era na Avenida São Luís. O Arnon foi muito claro: “Não te forneço porque, se for para entrar, eu entro com tudo.”

Voltei naquela tarde, chamei o pessoal de desenvolvimento e falei: “Nós va- mos fazer um terminal bancário.” Na época, o gerente de pesquisa e desenvol- vimento era o Sergio Bordini, que considero um gênio. Ele saiu à cata de com- ponentes e disse: “Deixa que eu faço, vou para casa, só não me pergunta quando volto com isso pronto.” Oito dias depois, ele voltou com uma linguagem de terminal, obviamente proprietária, um software para o terminal e com o básico do hardware do terminal. Oito dias, uma coisa incrível. E izemos a proposta ao Banco Mercantil de São Paulo.

Então, ocorreu outra coisa curiosíssima. O Vidigal nos convocou para uma reunião. É bom lembrar que o Mercantil era um banco muito tradicional. Muitas das suas agências tinham um balcão de mármore de determinado tamanho. E ele queria ter um terminal que coubesse nesse balcão. E era um tamanho extre- mamente reduzido. O terminal que a Digirede fazia para os bancos não caberia ali. Nós chamamos os designers que na época trabalhavam para a Zivi-Hercules e dissemos que eles tinham de projetar um terminal que coubesse naquele es- paço. Eles projetaram um que era uma belezinha, só que tinha de ser injetado em plástico. Então, valeu a minha experiência anterior de eletrodoméstico. Co- nhecia esse negócio bem, injeção de plástico, ferramental de injeção. Um mês depois, foi colocado na mesa da diretoria do Banco Mercantil de São Paulo um protótipo desse terminal, claro que não injetado, era feito com plástico colado,

173 mas era um protótipo funcionando. A lenda conta que o presidente disse: “É

isso aí, pode fechar o acordo. Assim, ganhamos o primeiro projeto.”

Começamos, então, a implantar o sistema no Banco Mercantil, que tinha en- tre 200 e 300 agências naquela época e era o quarto ou quinto banco e foi, mais tarde, adquirido pelo Itaú. Coisas curiosas aconteceram: a lenda conta também que a família tinha uma agência do Mercantil no edifício da Dacon, em São Paulo, e eles iam lá para ver o tamanho da ila e marcavam quanto tempo demorava a transação. Queriam que qualquer transação demorasse, no máximo, três segun- dos. Foi criada essa história dos três segundos. Obviamente a gente sabe que isso depende de várias coisas, inclusive do que se tem de backofice. Então, tivemos que convencê-los a fazer algumas modiicações em tudo. E como fomos conse- guindo uma redução substancial de tempo, tanto pelo lado dos equipamentos da agência quanto dos outros equipamentos de backofice, do mainframe, foi uma festa. Porque foi uma vitória coletiva. Nessa época, a Edisa tinha uns 500, 600 funcionários, cerca de 300 em fábrica e P&D, uns 200 na área de suporte.

Aconteciam muitos problemas básicos porque o avanço foi muito rápido. Havia coisas que nem americanos nem japoneses, estavam preparados por- que era o tipo de problema que não existia lá. Em outro banco, por exemplo, não mais no Mercantil, foi mandada uma atualização de software para todas as agências, através de um disquete de oito polegadas, em que o gerente não sabia nem mesmo tirar do envelope. O desaio era fazer com que o funcionário, e até o próprio gerente da agência, tratasse aquilo de forma positiva. Até então, o máximo que esse pessoal tinha era um terminal de mainframe na agência, onde eles não podiam mexer. Então, de repente, ela passa a ter na frente dele um cliente que está com pressa, quer fazer uma operação eletrônica, e começam a acontecer os problemas de início de adoção de tecnologia: o sistema não grava, tem de atualizar o software, não saiu a impressão corretamente, mas não pode imprimir uma segunda vez. Isso forçou uma situação muito importante para todos os fabricantes. Eu diria que a partir daí, sob o ponto de vista de pesquisa e desenvolvimento, se deu um grande salto de qualidade, que possibilitou, mais adiante, realizações como o supermíni e software muito mais soisticados.

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Também ocorriam coisas estapafúrdias. Durante o Plano Cruzado, por exem- plo, com inlação de 3% ao dia. A montadora de veículos Volkswagen pede que se instale um terminal de consulta bancária junto à linha de montagem. Nunca tinha passado pela cabeça de ninguém colocar um terminal de consulta ali, na- quele ambiente fabril. Eles acabaram icando bastante populares porque as pes- soas queriam consultar a conta, e todo mundo tinha uma aplicação de overnight, seja o funcionário da linha de fabricação de veículos ou o proissional liberal. As pessoas estavam muito ligadas em quanto valia o dinheiro, porque dava para sentir a desvalorização. Ou seja, de repente, estávamos fazendo um terminal de aço inoxidável para colocar na linha de montagem, em 1983, 1984.

Foram se conquistando várias coisas, mas o fundamental foi ligar o pessoal de pesquisa e desenvolvimento, que até esse tempo ou recebia uma coisa pronta, para ser nacionalizada, ou era acadêmico demais para entender o dia a dia. Esse pessoal todo, não só a Edisa, cresceu a uma velocidade muito grande durante um período de cinco ou seis anos e foi capaz de desenvolver muitas coisas.

Quem também teve um papel muito importante foi a Caixa Econômica Fe- deral, porque chamou três fornecedores e obrigou os três (Edisa, Digirede e Sid) a aderirem a um padrão único. Obviamente que, sendo o padrão aceito por uma instituição desse tamanho, ele se tornou abrangente. Incluía padrão de atendi- mento, de transações, de tal forma que tanto fazia se na agência A tivéssemos equipamento Digirede; na agência B, equipamento Sid, e na agência C Edisa, a transação era a mesma. E o formato dela, o tipo de gravação, essas coisas eram todas iguais. Talvez a Caixa tenha sido a primeira a ter mais do que um forne- cedor. Isso foi em 1984, sob liderança do João Rizzo, e foi um ponto crucial no processo de automação bancária no Brasil.

Isso propiciou que se começasse a ter certa padronização e as coisas começa- ram a se falar. A padronização foi um grande ganho, permitiu a formação dessa rede enorme que tivemos desde a década de 80. E que não era uma coisa co- mum. Quando se falava para um americano que você podia enxergar sua conta, que era baseada em São Paulo, se estivesse na Paraíba, a princípio, eles tomavam como piada. Nos Estados Unidos, tudo é regional e não tinha a compensação de

175 cheque overnight, que eram milhões e milhões, nem intrabancos. Então todas

essas coisas não andaram sozinhas. Teve toda uma questão de adaptação do nosso sistema bancário, das pessoas que dirigiam os bancos e das que faziam o dia a dia, a familiaridade que existia entre um gerente de agência, um funcioná- rio ou um caixa. Chegaram a existir agências com mais de cem caixas, isso na época pré-internet, porque todas as transações eram feitas em caixa.

O salto para a HP ocorreu no início da década de 90. Nessa época, isso foi um ponto fundamental, a Edisa tinha desenvolvido o seu Unix e o seu super- micro. Ela foi a primeira a ter, logo depois veio o da Digirede. Isso propiciou uma facilidade maior em termos de processamento. O tamanho dos servidores passou a ser maior, a capacidade também, você podia usar um processamen- to desses regionalmente; então, começaram a existir os concentradores regio- nais, que eram os subcentros. Isso facilitava. Em vez de investir no aumento do mainframe, eles faziam esses subcentros regionais, os concentradores, e a partir daí cada concentrador desses controlava um determinado número de agências, não precisava ter servidor na agência.

O foco da Edisa estava em automação comercial e em clientes de indústria, com os supermicros, principalmente na área de manufatura. O que também ajudou na aproximação com a HP, que tinha como um dos focos o segmento de manufatura. Quando a HP entrou, toda a alavancagem foi feita em cima do Unix. Houve uma migração do supermicro, baseado em Motorola, para o PA- Risc. Teve um grande projeto que foi o Bamerindus, em 1995. O Banco Nacional antes e o Bamerindus, já como HP-Edisa, e os servidores foram PA-Risc. A empresa se chamou Edisa Informática entre 1989 e 1992, depois que a reserva de mercado caiu, em 1992, era HP-Edisa, e depois icou só HP.

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